terça-feira, 16 de agosto de 2016

Explanação 4 - Os Cinco Festivais Sazonais

Budismo do Sol

Escrito 4: Os Cinco Festivais Sazonais

Brasil Seikyo, Edição 2334, 06/08/2016, pág. B1-B3 / Encontro com o Mestre

A luta conjunta de mestre e discípulo — o caminho da honra eterna

Escrito 4

Os Cinco Festivais Sazonais

Considere os fatos desse modo e recite Nam-myoho-renge-kyo. Não pode haver dúvida sobre as palavras “desfrutarão paz e segurança na presente existência e boas circunstâncias nas existências futuras”.

A passagem do sutra esclarece perfeitamente que todos os seres celestiais, sem a mínima dúvida, protegerão com afinco os praticantes do Sutra do Lótus. O quinto volume do Sutra do Lótus declara: “Os seres celestiais os guardarão e os protegerão constantemente, dia e noite, em prol da Lei”. Novamente, expressa: “Os jovens filhos dos seres celestiais irão apoiá-lo e protegê-lo. Não será tocado por espadas nem por bastões, e o veneno não lhe causará dano (...)”.

Você (...) afirma que se tornou meu discípulo quando lhe disseram que o Sutra do Lótus infalivelmente se propagaria nos primeiros quinhentos anos dos Últimos Dias da Lei. A relação de mestre e adepto leigo resulta de um laço que se estende pelas três existências. Jamais busque os benefícios da semeadura, maturação e colheita com mais ninguém. Não há possibilidade de esses ditos dourados estarem errados: “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” e “Se as pessoas permanecerem ao lado dos mestres da Lei, elas entrarão rapidamente no caminho do bodisatva. Quem segue esses mestres e aprende com eles verá budas tão numerosos quanto os grãos de areia do Ganges”. (WND, v. II, p. 374-375)

Introdução

“Por que se tornou escritor?”, “O que é mais importante para você?”, “Como podemos prevenir a violência?” Ao lerem alguns de meus livros infantis em sala de aula, alunos de uma escola de ensino fundamental da Argentina decidiram me escrever formulando essas e muitas outras perguntas (em 1997).

Como sempre acontece quando se trata de crianças, as questões eram francas e diretas. Uma indagou sobre o que faço no dia a dia. Respondi-lhe que dedico a maior parte do meu tempo para incentivar e apoiar os outros. Ajo dessa forma por estar convicto de que a base para a paz reside na felicidade de cada indivíduo, e incentivar pessoas é um sólido primeiro passo para a paz.

Além disso, expressei honestamente que escrevo com a esperança de que minhas palavras possam servir de fonte de encorajamento a alguém em algum lugar.

Outro estudante me perguntou quantos anos eu tinha quando comecei a trabalhar pela paz mundial. Eu lhe respondi contando a história do encontro com meu mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, aos 19 anos. Expliquei que meus esforços em prol da paz se iniciaram no momento em que encontrei meu verdadeiro mestre na vida, que me ensinou o nobre caminho de contribuir com a humanidade.

Fazendo do coração do mestre o meu, devotei incansavelmente a minha vida a essa causa, determinado a construir uma era de paz para deixá-la como legado à próxima geração — o tesouro do futuro.

Quando encontramos um mestre verdadeiro e nos empenhamos como discípulos genuínos, podemos trilhar o curso correto na vida, com transbordante alegria e realização.

Há incontáveis exemplos inspiradores de luta conjunta de mestre e discípulo durante a existência de Nichiren Daishonin — os esforços dele para propagar seu ensinamento correto e os dos discípulos que fervorosamente buscavam e seguiam esse ensinamento.

Vamos estudar, nesta parte o escrito de Daishonin Os Cinco Festivais Sazonais e ratificaremos os profundos laços cármicos que unem mestre e discípulos.


Encontrar-se com o mestre que propaga o ensinamento correto nos Últimos Dias da Lei

Trecho 1 do Gosho

Considere os fatos desse modo e recite Nam-myoho-renge-kyo. Não pode haver dúvida sobre as palavras “desfrutarão paz e segurança na presente existência e boas circunstâncias nas existências futuras” [LSOC, cap. 5, p. 136].

A passagem do sutra esclarece perfeitamente que todos os seres celestiais, sem a mínima dúvida, protegerão com afinco os praticantes do Sutra do Lótus. O quinto volume do Sutra do Lótus declara: “Os seres celestiais os guardarão e os protegerão constantemente, dia e noite, em prol da Lei” [LSOC, cap. 14, p. 245]. Novamente, expressa: “Os jovens filhos dos seres celestiais irão apoiá-lo e protegê-lo. Não será tocado por espadas nem por bastões, e o veneno não lhe causará dano (...)” [Ibidem, p. 249].
Você (...) afirma que se tornou meu discípulo quando lhe disseram que o Sutra do Lótus infalivelmente se propagaria nos primeiros quinhentos anos dos Últimos Dias da Lei. A relação de mestre e adepto leigo resulta de um laço que se estende pelas três existências. (WND, v. II, p. 374-375)

O escrito Os Cinco Festivais Sazonais é uma carta que Nichiren Daishonin enviou a um discípulo chamado Akimoto Taro,1 que vivia no distrito de Imba, província de Shimosa (atual cidade de Shiroi, na província de Chiba).

Pelas observações iniciais de Daishonin neste escrito, podemos concluir que Akimoto Taro enviara uma carta a Nichiren Daishonin na qual descreve sua alegria por encontrar um mestre correto e um ensinamento correto,2 e depois inquire sobre o significado dos cinco festivais sazonais3 realizados costumeiramente naquela época.

Alguns desses tradicionais festivais ainda são celebrados no Japão atualmente, incluindo o Festival das Bonecas (ou o Dia das Meninas), em 3 de março; o Dia das Crianças (ou Dia dos Meninos), em 5 de maio; e o Tanabata (ou Festival das Estrelas), em 7 de julho.

Todos os países possuem suas celebrações. Tais tradições não diferem somente de país para país, mas também mudam com o passar do tempo. O budismo não rejeita festividades acolhidas como parte integrante da vida da localidade; ensina o preceito de se adaptar aos costumes locais4 que afirma que os costumes e as convenções sociais devem ser respeitados e seguidos, contanto que não contradigam os ensinamentos do budismo ou interfiram na consecução do estado de buda.

Com base nisso, Nichiren Daishonin escreve: “Em primeiro lugar, ao ponderarmos sobre a ordem dos cinco festivais sazonais, verificamos que correspondem à ordem dos cinco ideogramas do Myoho-renge-kyo” (WND, v. II, p. 374).

A essência dos cinco festivais sazonais está contida nos cinco ideogramas do Myoho-renge-kyo, a Lei que permeia todos os fenômenos. Quando baseamos nossa vida na Lei Mística, podemos desfrutar e celebrar eventos sazonais, inclusive o Ano-Novo, da maneira mais positiva e significativa possível e passar a ter naturalmente a vida mais feliz e saudável. Essa é a forma de desfrutar plenamente nossa existência presente e experimentar um estado de vida maravilhoso também na próxima.

Os seres celestiais protegerão os praticantes do Sutra do Lótus

Nichiren Daishonin garante que aqueles que abraçam os cinco ideogramas do Myoho-renge-kyo sempre serão protegidos e apoiados, durante todas as quatro estações, dia e noite, por essas grandes divindades celestiais, como Brahma e Shakra.

Nessa parte, ele cita duas passagens do capítulo “Práticas Pacíficas” (14º) do Sutra do Lótus. Primeira, “Os seres celestiais os guardarão e os protegerão constantemente, dia e noite, em prol da Lei” (LSOC, cap. 14, p. 245). Isso foi demonstrado inquestionavelmente durante a existência de Daishonin, e é um fato que os membros da Soka Gakkai desde os primórdios da organização vêm experimentando e evidenciando de forma efetiva na própria vida.

Segunda, “Os jovens filhos dos seres celestiais irão apoiá-lo e protegê-lo. Não será tocado por espadas nem por bastões, e o veneno não lhe causará dano” (Ibidem, p. 249). Essas palavras atestam que por mais que os praticantes do Sutra do Lótus possam ser atacados ou perseguidos, as forças positivas do universo os protegerão integralmente.

Ao concluir sua resposta, Nichiren Daishonin incentiva Akimoto Taro a recitar Nam-myoho-renge-kyo no ensejo de cada um dos cinco festivais sazonais, assim como faz em outras ocasiões, e a “alcançar o caminho” (WND, v. II, p. 375), ou seja, consolidar um estado de total realização.6

Mestre e discípulo — laço que se estende pelas “três existências”

“A relação de mestre e adepto leigo resulta de um laço que se estende pelas três existências” (WND, v. II, p. 375), escreve Daishonin, afirmando que o vínculo entre mestre e discípulo é eterno. Eles não se tornaram mestre e discípulo pela primeira vez nesta existência; estão ligados por um juramento que abarca as “três existências” — passado, presente e futuro. Ao tomar conhecimento desse laço eterno, Akimoto Taro deve ter se emocionado e se alegrado profundamente.

O presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, sublinhou essa passagem em seu exemplar dos escritos de Nichiren Daishonin. Ela é extremamente importante por enunciar um conceito que representa o âmago do Budismo de Nichiren Daishonin e o espírito da Soka Gakkai.

O budismo é um ensinamento de mestre e discípulo. Sem a relação mestre-discípulo, a realização do kosen-rufu, a concretização da felicidade de toda a humanidade, seria impossível. O mestre está determinado a transmitir aos discípulos o estado de vida do Buda, o de ajudar a libertar as pessoas do sofrimento. Os discípulos assumem para si o modo de vida do mestre, buscando atingir nesse processo o mesmo elevado estado.

Quando surgir um grupo de pessoas comuns que lutem unidas ao seu mestre como um só corpo, elas abrirão o caminho para elevar não apenas o estado de vida de cada uma, mas para transformar o destino da humanidade.

O mestre se empenha para guiar os discípulos ao mesmo estado de vida que ele alcançou; os discípulos tentam viver de acordo com o exemplo do mestre. Lutar juntos com um compromisso comum constitui a essência da unicidade de mestre e discípulo.

E esse laço entre mestre e discípulos não se limita a esta vida. O Sutra do Lótus ensina claramente que esse vínculo perdura pelas “três existências”.

O Sutra do Lótus se concentra particularmente em ajudar os seres vivos a atingir a iluminação durante os Últimos Dias da Lei, uma era de conflito7 na qual as pessoas se tornarão alienadas do ensinamento correto do budismo, levando-o a se obscurecer e se perder na escuridão e fazendo a escuridão e a ignorância predominarem. No entanto, numa época como essa, ainda existem aqueles que buscam sinceramente o ensinamento correto. Encontrando um mestre correto que exponha o ensinamento correto, eles dedicam a vida ao lado do mestre com o mesmo juramento e compromisso abnegado.

O laço que esses discípulos compartilham com o mestre não se limita a esta existência, mas perdura do distante passado ao eterno futuro. Incorporando o mesmo comportamento compassivo do Buda em suas ações, eles cumprem sua missão fundamental como bodisatvas da terra. Consequentemente, ativam nas profundezas de sua vida um estado originalmente inerente nas três existências — o estado de buda. Não há modo de vida mais nobre ou mais maravilhoso.

Publicado em agosto de 2015 na revista Daibyakurenge.

Notas

1- Akimoto Taro: Também conhecido como Akimoto Taro Hyoe-no-jo. Seguidor leigo de Nichiren que vivia no distrito de Imba, província de Shimosa, Japão. Pouco se sabe sobre ele, mas aparentemente mantinha amizade com Soya Kyoshin e Ota Jomyo, seguidores leigos de Daishonin e moradores da mesma região. Nesta carta, Daishonin afirma: “Quanto aos detalhes, expliquei a questão a Soya; portanto, converse com ele quando tiver oportunidade” (WND, v. II, p. 374). E outra carta para Ota Jomyo, Daishonin expressa: “Expliquei questões referentes à doutrina em detalhes na resposta que escrevi para Akimoto Taro Hyoe-no-jo. Por favor, leia o que apontei lá (Ibidem, p. 874).

2- Nichiren Daishonin escreve: “Analisei cuidadosamente a sua carta. Nela você afirma que estava preocupado acerca de que ensinamento seria melhor propagar nos primeiros quinhentos anos do Últimos Dias da Lei. E que, ao encontrar a instrução do venerável Nichiren e ouvir que se deve propagar somente o daimoku do Sutra do Lótus, decidiu se tornar um de meus discípulos” (WND, v. II, p. 374).

3- Os cinco festivais sazonais: Festividades adotadas pela corte imperial japonesa em épocas antigas, incorporando costumes da China e refletindo tradições sazonais japonesas. Ocorriam na primeira semana do primeiro mês, no terceiro dia do terceiro mês, no quinto dia do quinto mês, no sétimo dia do sétimo mês e no nono dia do nono mês. Nesses eventos, realizavam-se cerimônias e preparavam-se pratos especiais na celebração. No calendário moderno acontecem no dia 7 de janeiro (Festival de Ano-Novo), no dia 3 de março (Festival das Meninas), no dia 5 de maio (Festival dos Meninos), no dia 7 de julho (Festival das Estrelas) e no dia 9 de setembro (Festival dos Crisântemos).

4- Preceito de se adaptar aos costumes locais (zuiho bini, em japonês): Um preceito budista que afirma que, no tocante a questões que o Buda não permitiu ou proibiu expressamente, a pessoa pode agir segundo os costumes locais, contanto que os princípios fundamentais do budismo não sejam violados. O preceito de se adaptar aos costumes locais foi empregado quando o budismo seguiu para várias regiões com diferentes culturas, usos e costumes, climas e outros aspectos humanos e naturais. Embora essa orientação não proíba nem prescreva nenhum comportamento específico, é descrita como preceito.

5- Explicando o significado da passagem “Os jovens filhos dos seres celestiais irão apoiá-lo e protegê-lo. Não será tocado por espadas nem por bastões, e o veneno não lhe causará dano” (LSOC, cap. 14, p. 249), Daishonin escreve nesta carta que os “seres celestiais” indicam Brahma e Shakra; os Deuses do Sol e da Lua, os quatro grandes reis celestiais e outros semelhantes a eles. A “Lei” refere-se ao Sutra do Lótus. Os “jovens filhos” indicam os sete corpos luminosos, as vinte e oito constelações, Marichi [em sânscrito; Marishiten (em japonês) — deus considerado originariamente como personificação dos raios do sol] e semelhantes. As palavras “Aqueles que se juntam à batalha estão todos nas linhas de frente” correspondem à passagem “Não será tocado por espadas e bastões” (WND, v. II, p. 374-375).

6- Daishonin escreve: “O que estou transmitindo é excepcionalmente importante. Certifique-se de refletir cuidadosamente sobre esses fatos. O sexto volume do Sutra do Lótus expressa: “Nenhuma questão da vida ou do trabalho jamais contraria a verdadeira realidade’. Portanto, mesmo ao comemorar os cinco festivais sazonais, simplesmente recite Nam-myoho-renge-kyo e se empenhe para alcançar o caminho. Explicarei em detalhes em outra ocasião” (WND, v. II, p. 375).

7- Uma era de conflito: Também descrita como uma era de brigas e disputas. Referência à descrição do quinto período de quinhentos anos após a morte do Buda apresentada no Sutra da Grande Compilação, que diz que nesta era — que corresponde aos Últimos Dias da Lei — as escolas budistas rivais brigarão incessantemente entre si e o ensinamento correto de Shakyamuni ficará obscurecido e se perderá.


Budismo do Sol
Escrito 4: Os Cinco Festivais Sazonais

Brasil Seikyo, Edição 2335, 13/08/2016, pág. B1 / Encontro com o Mestre

A luta conjunta de mestre e discípulo ­— o caminho da honra eterna

Continuação do escrito 4

Trecho 2 do Gosho

Jamais busque os benefícios da semeadura, maturação e colheita com mais ninguém. Não há possibilidade de esses ditos dourados estarem errados: “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” e “Se as pessoas permanecerem ao lado dos mestres da Lei, elas entrarão rapidamente no caminho do bodisatva. Quem segue esses mestres e aprende com eles verá budas tão numerosos quanto os grãos de areia do Ganges” [cf. LSOC, cap. 10, p. 208] (WND, v. II, p. 375).

Os três benefícios da “semeadura, maturação e colheita”

Nichiren Daishonin explica a grande profundidade da relação mestre-discípulo por meio do ensinamento dos três benefícios da “semeadura, maturação e colheita” (WND, v. II, p. 375).1

No Sutra do Lótus, a partir do capítulo “Meios Apropriados” (2º), Shakyamuni apresenta as doutrinas do “verdadeiro aspecto de todos os fenômenos”2 e a “substituição dos três veículos pelo veículo único”3, e também emprega várias parábolas para elucidar seu ensinamento. Em seguida, em benefício de seus discípulos ouvintes da voz, explana a ligação que eles compartilham e por que e como expusera a Lei para eles não apenas naquela existência, mas desde o passado incalculavelmente remoto. Em outras palavras, ele plantou as sementes da iluminação na vida de seus discípulos há incontáveis aeons, cuidou delas por um longo período, ensinando-os e guiando-os de várias maneiras para levá-los à maturação para que agora, por meio de sua pregação do Sutra do Lótus, atinjam a iluminação idêntica à sua, colhendo o fruto do estado de buda e se libertando completamente de todo sofrimento.

Em Carta para Akimoto, também enviada a Akimoto Taro numa ocasião posterior, Daishonin escreve: “A doutrina da semeadura, maturação e colheita compõe o coração do Sutra do Lótus" (WND, v. I, p. 1015). Os três benefícios da “semeadura, maturação e colheita” descrevem um processo vital para se atingir o estado de buda exposto somente no Sutra do Lótus.

Por meio desse ensinamento, Shakyamuni tenta transmitir que seus discípulos não podem esperar atingir o estado de buda por intermédio dos ensinamentos de outro mestre a não ser daquele com quem mantêm uma ligação cármica mais profunda, o mestre que pregou o Sutra do Lótus e plantou a semente do estado de buda na vida deles. Esse mestre é como um habilidoso agricultor que conhece a forma apropriada de cuidar das sementes que ele plantou e zelar por elas até a época da colheita.

Como prova documental do laço eterno de mestre e discípulo apresentado no capítulo “Parábola da Cidade Imaginária” (7º) do Sutra do Lótus, Daishonin cita a passagem: “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” (LSOC, cap. 7, p. 178).4 Como esse fato demonstra, os mestres da Lei continuam instruindo e guiando seus discípulos pelas “três existências”. Os discípulos buscam e seguem incessantemente o ensinamento de seus mestres, e os mestres apoiam e auxiliam incessantemente seus discípulos. A relação mestre-discípulo do budismo é o laço humano mais belo de todos.

De sua parte, os discípulos não percebem simplesmente que têm estado “na companhia” de seus mestres. Mais que isso, despertam para a luta conjunta — a prática de bodisatva — que vêm empreendendo ao lado de seu mestre existência após existência. Os discípulos passam a adotar um modo de vida fundamentado no reconhecimento de seu verdadeiro eu — distanciando-se da postura passiva de buscar a salvação a partir do mestre e passando a se empenhar ao lado do mestre pelo bem-estar de toda humanidade. Esse é o significado de lutar para cumprir o juramento como bodisatva.

Despertarmos para nossa missão eterna

O presidente Josei Toda nos ensinou sobre o juramento firmado pelos bodisatvas da terra. No processo de sua luta de vida e morte, ele compreendeu nas profundezas de seu ser a passagem “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” (LSOC, cap. 7, p. 178).

Durante a Segunda Guerra Mundial, o presidente Toda foi perseguido pelas autoridades militaristas japonesas e preso junto com seu mestre, Makiguchi. Dando continuidade à sua luta destemida, na prisão ele leu o Sutra do Lótus com todo o seu ser e despertou para as verdades profundas do budismo. Uma de suas constatações foi a de que buda é a própria vida. Também, durante a recitação de daimoku num momento de ponderação profunda despertou para o seu verdadeiro eu de bodisatva da terra. Também poderíamos dizer que ele despertou para a missão eterna de mestre e discípulo — a missão de realizar o kosen-rufu ou a ampla propagação da Lei Mística. Além disso, obteve a profunda percepção de que o laço de mestre e discípulo é eterno.

Essa é a essência da convicção da Soka Gakkai, o próprio espírito da organização.

Por volta da mesma época em que Toda sensei vivenciava o seu despertar, o professor Makiguchi, que perseverara em sua prática budista na prisão, sem poupar a vida, morria de desnutrição e pela fragilidade decorrente da idade avançada. Ele dera a vida à luta incansável para sustentar o ensinamento e princípios corretos do Budismo de Nichiren Daishonin.

Na terceira cerimônia em memória (segundo aniversário de falecimento) do professor Makiguchi, Josei Toda afirmou:

Em sua vasta e ilimitada compaixão, o senhor permitiu-me acompanhá-lo até mesmo à prisão. Em virtude disso, pude ler com todo o meu ser a passagem do Sutra do Lótus “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” (LSOC, cap. 7, p. 178). O benefício resultante disso foi vir a ter conhecimento de minha existência anterior como bodisatva da terra e absorver, com a totalidade de minha vida, mesmo uma pequena fração do significado do sutra. Poderia haver felicidade maior do que esta?5

Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, mestre e discípulo, eram unidos como se fossem um em seu poderoso compromisso na fé de dar até mesmo a vida pela realização do kosen-rufu, o desejo acalentado pelo mestre original deles, Nichiren Daishonin. Toda sensei sobreviveu à provação na prisão, jurou dar continuidade ao trabalho do seu mestre e, ao ser libertado, iniciou a reconstrução da Soka Gakkai e se lançou a uma luta plena e total em prol da expansão do kosen-rufu com base no espírito de unicidade de mestre e discípulo.

A ligação entre mestre e discípulo é eterna. Toda sensei disse que estaria junto do presidente Makiguchi novamente nas existências futuras, e que nós — Josei Toda e seus discípulos — também estaríamos juntos.

Modo correto de vida

No período turbulento que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, tive um encontro decisivo em minha vida com meu extraordinário mestre, Josei Toda.

No dia 14 de agosto de 1947, aos 19 anos, participei da minha reunião de palestra na Soka Gakkai. Um amigo havia me convidado alegando se tratar de uma atividade para discutir “filosofia de vida”.

Fazia dois anos desde o fim da guerra. Eu pertencia a um grupo de leitura no qual quase todas as noites meus amigos e eu debatíamos questões como “qual o modo correto de vida?”. Dizíamos uns aos outros que, se houvesse alguém capaz de responder todas as nossas indagações, acataríamos essa pessoa como mestre.

Na reunião de palestra, um homem usando óculos de lentes grossas estava proferindo suas palavras com voz cheia de vida, convicta e animada: “Seja no âmbito individual, familiar ou como nação, a menos que solucionemos nossos problemas em sua essência, com base nesta filosofia budista, não realizaremos progresso algum”. Ele também afirmou: “Quero eliminar a miséria da face da Terra!”.

Esse homem era Josei Toda, e ele estava explanando o tratado de Nichiren Daishonin Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra. Depois de sua preleção e da sessão de perguntas e respostas que se seguiu, ele se dirigiu a mim com uma intimidade calorosa de um velho amigo.

Perguntei-lhe com a franqueza típica dos jovens: “Poderia dizer qual o modo de vida correto?”.

Respondendo com um sorriso de que eu havia feito a pergunta mais difícil de todas, ele abordou a questão com total sinceridade, concluindo: “É excelente meditar sobre qual seria o modo correto de vida, mas empregaria melhor o seu tempo se tentasse praticar o Budismo de Nichiren Daishonin. Você é jovem. Se o fizer, um dia com certeza constatará que está seguindo o caminho correto na vida. Posso lhe dar a minha palavra de que isto é verdade”.

Formulei outras questões que meus amigos e eu estivéramos debatendo, como “o que é um autêntico patriota?”. Também lhe perguntei sobre o Nam-myoho-renge-kyo, que ele havia citado durante a explanação.

Ele respondeu a todas as minhas perguntas com clareza e segurança. Apesar da minha pouca idade, ele falava comigo de igual para igual e era gentil e paciente em suas respostas. Fiquei profundamente comovido e senti intuitivamente que poderia depositar confiança nele.

Dez dias depois, em 24 de agosto de 1947, associei-me à Soka Gakkai. Desde aquela data, 68 anos se passaram até hoje [2015], e pude trilhar um caminho correto e genuíno na vida, exatamente como Toda sensei ensinou.

A gratidão que sinto pelo meu mestre não tem tamanho. Projetando em minha mente a imagem do seu rosto, ainda converso com ele em meu coração todos os dias.

“Seguir os mestres da Lei e aprender com eles”

Retornando à carta que estamos estudando, Daishonin cita em seguida, uma passagem do capítulo “O Mestre da Lei” (10º) do Sutra do Lótus que expressa: “Se permanecer ao lado dos mestres da Lei, entrará rapidamente no caminho do bodisatva. Quem segue esses mestres e aprende com eles verá budas tão numerosos quanto os grãos de areia do Ganges” (LSOC, cap. 10, p. 208).

“Seguir os mestres da Lei e aprender com eles” — isso indica encontrar um mestre na fé e seguir esse mestre e aprender com ele. A relação mestre-discípulo reside na consciência do discípulo.

Sempre pratiquei exatamente como o presidente Toda me instruiu e declarei, sem hesitação, que sou seu discípulo. Quando os negócios dele estavam com problemas, eu o apoiei e o auxiliei, decidido a compartilhar do seu destino. Então, ao assumir como segundo presidente, Toda sensei anunciou seu objetivo de expandir o número de associados da Soka Gakkai para 750 mil famílias durante a sua existência.

Estou certo de que nossa luta conjunta de mestre e discípulo naquela época produziu uma onda crescente de benefícios — nenhum esforço permanece sem recompensa no âmbito da Lei Mística — e abriu o caminho para a Soka Gakkai se tornar uma organização budista realmente mundial.

Quando nos empenhamos como discípulos ao lado do nosso mestre, conseguimos ampliar nosso estado de vida ilimitadamente.

Na luta conjunta de mestre e discípulo, os discípulos se esforçam para desafiar a si mesmos no caminho de sua missão, para triunfar e relatar em seu coração as vitórias ao mestre. Sempre me dediquei seriamente com essa determinação sob a liderança do presidente Toda, e essa determinação se mantém inalterada até hoje.

Distância física não importa na relação mestre-discípulo. Nichiren Daishonin não pôde se encontrar com muitos de seus discípulos pessoalmente em sua existência, inclusive os discípulos camponeses de Atsuhara [dentre os quais três sacrificaram a vida durante a Perseguição de Atsuhara].

Mesmo que mestre e discípulo possam estar distantes fisicamente, o coração deles está sempre ligado e a vida deles vibra em perfeita sintonia, transcendendo o tempo. Nem tempo nem espaço são barreiras que separam mestre e discípulo.

O grande caminho do compromisso compartilhado que brilhará eternamente

Na beleza do laço de mestre e discípulo existe o esplendor da vitória como ser humano. Se o nosso coração estiver unido ao do mestre, podemos alcançar a revolução humana. Se o nosso coração estiver unido ao do mestre, conseguimos realizar o kosen-rufu.

Pelo fato de o nosso coração estar unido ao do mestre, podemos avançar eternamente pelo grandioso caminho da paz e da justiça.

“Se o mestre tiver um bom discípulo, ambos obterão o fruto do estado de buda” (WND, v. I, p. 909), escreveu Daishonin.

O movimento para propagar o ensinamento correto implementado pelos mestres e discípulos do Budismo de Nichiren Daishonin — que prossegue pelas “três existências” — ampliou-se agora para 192 países e territórios. Com certeza, Nichiren Daishonin está aplaudindo nossos esforços de todo coração.

Entramos numa nova era, na qual pessoas do mundo inteiro, de todas as esferas, estão expressando confiança e alta expectativa em relação à nossa nobre rede Soka, alicerçada no espírito de mestre e discípulo.

Aqueles que possuem um mestre na vida jamais ficam num beco sem saída. Eles sempre conseguem abrir o caminho para a vitória. Não existe vida mais honrada.

A epopeia da unicidade de mestre e discípulo perdurará por toda a eternidade. O laço de mestre e discípulo provém do juramento de travar uma luta conjunta pelas “três existências”.

Somos eternos companheiros que, desde o tempo sem início, vêm sustentando a Lei que expressa as ações de todos os budas e bodisatvas. Juntos, continuemos trilhando a grandiosa estrada dos discípulos, dos sucessores e do compromisso conjunto — um caminho que resplandecerá para todo o sempre.

Publicado em agosto de 2015 na revista Daibyakurenge.

1- “Semeadura, maturação e colheita”: Referência às três fases do processo por meio do qual um buda conduz as pessoas à iluminação e que correspondem ao crescimento e desenvolvimento de uma planta. Em primeiro lugar, o Buda planta as sementes da iluminação no coração das pessoas, depois nutre-as de iluminação ajudando as pessoas a praticar a Lei e, por fim, habilita todas as pessoas a manifestar plenamente a condição de vida do estado de buda.

2- “Verdadeiro aspecto de todos os fenômenos”: Verdade ou realidade suprema que permeia todos os fenômenos e não está, de modo algum, separada deles. Por meio da explanação dos “dez fatores”, o capítulo “Meios Apropriados” (2º) do Sutra do Lótus ensina que todas as pessoas são dotadas inerentemente do potencial para ser tornar buda, e esclarece a verdade de que elas podem ativar e manifestar esse potencial.

3- “Substituição dos três veículos pelo veículo único”: Referência à declaração de Shakyamuni no Sutra do Lótus de que os três veículos não são fins em si, embora outros sutras provisórios aleguem o contrário, mas meios apropriados mediantes os quais ele conduz as pessoas ao veículo único do estado de buda. Os “três veículos” são os ensinamentos expostos para os ouvintes da voz, aqueles que despertaram para a causa e bodisatvas, respectivamente. O “veículo único” do estado de buda indica o ensinamento que possibilita que todas as pessoas atinjam o estado de buda e corresponde ao Sutra do Lótus.

4- Nesse capítulo, Shakyamuni revela a relação que ele formou com seus discípulos no passado remoto, quando ele foi o 16º filho, o caçula, de um buda chamado Excelência da Grande Sabedoria Universal. Shakyamuni descreve a vasta extensão de tempo que se passara a partir de então; um período denominado kalpa de partículas de pó de um grande sistema de mundos. Ele narra que há muito tempo ele e cada um de seus quinze irmãos expuseram o Sutra do Lótus que o pai lhes havia ensinado. Os discípulos atuais, explica Shakyamuni, estavam entre aqueles a quem ele havia ensinado o Sutra do Lótus e convertido na ocasião. E aqueles a quem os outros dezesseis filhos ensinaram o Sutra do Lótus também nasceram com seus respectivos mestres em várias terras do buda, onde praticaram o budismo sob instrução deles.

5- Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Coletânea de Orientações de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha.