quinta-feira, 10 de agosto de 2017

EXPLANAÇÃO X - Fé, prática e estudo

Fé, prática e estudo: os princípios fundamentais do Budismo Nichiren

Brasil Seikyo, Edição 2370, 06/05/2017, pág. B1-B4 / Encontro com o Mestre

A prática da fé da Soka Gakkai é a porta de acesso a imensuráveis benefícios e boa sorte

No dia 20 de abril de 1951, em meio à confusão e ao tumulto da sociedade japonesa pós-guerra, foi anunciada a significativa primeira edição do Seikyo Shimbun, o jornal da Soka Gakkai. Hoje, decorridos mais de 65 anos e 19 mil edições, o veículo continua transmitindo esperança e coragem a seus leitores.

Meu mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, desejava que todas as pessoas do Japão e do mundo lessem o Seikyo Shimbun, e eu compartilho o mesmo sentimento.

A palavra escrita constitui um meio poderoso para abrir novas fronteiras ao kosen-rufu. Em particular, jamais me esquecerei da energia e paixão que Toda sensei devotou em redigir seus textos para a primeira edição do Seikyo Shimbun, entre eles partes do romance Revolução Humana, a serem publicadas em série no jornal, uma coluna intitulada Epigramas e outras matérias de destaque. Além disso, escreveu um artigo principal apresentado na primeira página da edição inaugural com o título "O que é convicção?". Nele, o Sr. Toda declarou: “Este é realmente o tempo do kosen-rufu. Devemos ser corajosos”.1 Para agir com coragem, salientou ele, devemos possuir convicção absoluta no que estamos fazendo.

Na época, a sociedade japonesa estava cada vez mais caótica. A Soka Gakkai englobava um pequeno número de associados e ainda precisava se consolidar na sociedade. No entanto, Toda sensei possuía uma convicção absoluta, e esta foi a razão pela qual a organização conseguiu prosseguir e alcançar um desenvolvimento extraordinário.

“Fé, prática e estudo” são a base da Soka Gakkai

Nesse artigo sobre convicção, Toda sensei enfatizou: “‘Fé, prática e estudo’ são um pré-requisito vital para nós, seguidores do Budismo de Nichiren Daishonin, e ensinar a Lei Mística aos outros (shakubuku) é uma condição essencial para todos os praticantes que firmaram o juramento de concretizar o kosen-rufu. Uma vez que abraçamos o Gohonzon, devemos nos lembrar de que o Buda nos confiou essa missão há incontáveis eras passadas”.2

De fato, “fé, prática e estudo” são a força propulsora do crescimento e da vitória de todos os membros da Soka Gakkai, bodisatvas da terra do “tempo sem início”. Consistem em diretrizes eternas para nossos esforços para cumprirmos a missão que nos foi consignada pelo Buda.

No escrito O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos, Nichiren Daishonin registra: “Empenhe-se nos dois caminhos da prática e do estudo. Sem prática e estudo não pode haver budismo. Deve não só perseverar como também ensinar aos outros” (CEND, v. I, p. 405).

Empenhar-nos na fé, na prática e no estudo e sustentar o ensinamento correto ligados diretamente a Daishonin têm sido a tradição da Soka Gakkai desde os primórdios da organização. Hoje, a vibrante pulsação do Budismo Nichiren reside somente dentro dos esforços dos associados da Soka Gakkai para propagar a Lei Mística com compaixão, alicerçados na “fé, prática e estudo”.

Neste momento em que a SGI avança a passos ainda mais largos como religião mundial, gostaria de reiterar aos nossos membros de todas as partes do globo a importância da fé, da prática e do estudo, analisando diversas passagens dos escritos de Nichiren Daishonin. Nesta oportunidade, vamos nos concentrar no primeiro dos princípios fundamentais do Budismo de Nichiren Daishonin: a “fé”.

“Nós, da Soka Gakkai, temos fé!”

O Aspecto Real do Gohonzon

Este Gohonzon também se encontra só nos dois ideogramas com os quais se escreve “fé”.3 É a isto que se refere o sutra [do Lótus] quando diz que se pode “obter acesso somente por meio da fé”. [LSOC, cap. 3, p. 110].

Visto que os discípulos e mantenedores leigos de Nichiren creem no Sutra do Lótus com exclusividade — descartando honestamente os meios apropriados [cf. LSOC, cap. 2, p. 79] e não aceitando uma única estrofe dos demais sutras [cf. LSOC, cap. 3, p. 115], tal como o Sutra do Lótus ensina —, eles poderão entrar na torre de tesouro do Gohonzon. Que tranquilizador! Esforce-se ao máximo pelo bem de sua próxima existência. O mais importante é que, somente com a recitação do Nam-myoho-renge-kyo, a senhora poderá atingir o estado de buda. Sem dúvida, isso dependerá da força de sua fé, pois a fé é a base do budismo. (CEND, v. II, p. 92-93)

Na Reunião Nacional de Líderes da Soka Gakkai realizada em novembro de 1957, quando já se podia avistar a concretização do juramento de sua existência de alcançar 750 mil famílias, Toda sensei proclamou: “Nós, da Soka Gakkai, temos fé”.4

Muitos representantes da mídia estavam presentes na atividade. Ciente das especulações superficiais tecidas por eles sobre a razão do desenvolvimento descomunal obtido pela Soka Gakkai, o Sr. Toda declarou de modo explícito e contundente que havíamos vencido por meio da fé. O seu rugido de leão ainda ressoa em meus ouvidos.

Ele poderosamente acrescentou: “A fé é primordial! Nossa missão é praticar o Budismo de Nichiren Daishonin. Contanto que se lembrem disso, nunca se surpreenderão com o que alguém escreva ou diga a nosso respeito”.5

Fé significa possuir o coração de um rei leão, que nos permite superar quaisquer adversidades. Pessoas de forte fé não têm medo de nada, pois uma convicção inabalável emana delas. A fé sólida assegura uma vida plena e realizada. Se persistirmos em nossa prática budista, infalivelmente alcançaremos a felicidade e a vitória na vida.

Por meio de seu discurso na reunião nacional de líderes, Toda sensei conclamou aos membros da Soka Gakkai que se mantivessem imperturbáveis diante dos caprichos da sociedade e prontos a avançar com base na fé.

A fé é nosso alicerce e ponto de partida — esta é a essência do Budismo Nichiren.

“O Gohonzon encontra-se somente na fé”

Em O Aspecto Real do Gohonzon, Nichiren Daishonin elucida o significado de fé e os benefícios que podem ser obtidos por meio dela. Ele endereçou esta carta à monja leiga Nichinyo para agradecer os oferecimentos dedicados ao Gohonzon enviados por ela.

Nessa carta, Daishonin explica que inscreveu o objeto de devoção, o Gohonzon, como o “estandarte da propagação do Sutra do Lótus” (CEND, v. II, p. 91). Ele o denomina “grande mandala nunca antes conhecido” (Ibidem, p. 92), dotado do poder para habilitar todas as pessoas a atingir a iluminação, e “concentração de benefícios”6 (Ibidem), fonte de infinitos benefícios.

Este magnífico Gohonzon, afirma Daishonin, encontra-se somente na fé (cf. CEND, v. II, p. 92).

A fé é o caminho supremo para se atingir o estado de buda. O Sutra do Lótus expressa que só podemos “obter acesso somente por meio da fé”7 (LSOC, cap. 3, p. 110). Até mesmo Shariputra, um dos dez principais discípulos de Shakyamuni, aclamado como o “mais notável em sabedoria”, só conseguiu penetrar no ilimitado mundo do estado de buda por meio da fé, não pela sabedoria.

De modo semelhante, mesmo que o Gohonzon esteja diante de nós, sem fé não conseguiremos ativar o poder dele.

Daishonin alcançou o estado de buda perseverando em sua grandiosa luta, “o desejo único e ardente de contemplar o Buda... não hesitando mesmo que isso custe a própria vida” (LSOC, cap. 16, p. 271).8 Então, ele inscreveu seu estado de vida iluminado em forma de mandala — o Gohonzon. Por meio da fé fundamentada na profunda consciência de que “O Gohonzon existe apenas dentro do corpo de pessoas como nós, mortais comuns, que abraçam o Sutra do Lótus e recitam o Nam-myoho-renge-kyo” (CEND, v. II, p. 832), podemos gerar benefícios imensuráveis.

Quando convocamos fortemente o poder da fé e da prática, oramos fervorosamente ao Gohonzon e nos dedicamos à concretização do grande juramento pelo kosen-rufu, conseguimos revelar dentro de nós o mundo do estado de buda — que é uno à Lei Mística —, manifestar o poder do Buda e da Lei, e desfrutar e fazer pleno uso de grandiosos benefícios.

Toda sensei observou a respeito disso: “Quando reunimos o poder da fé e o poder da prática e o multiplicamos por 1, obtemos o poder da Lei e o poder do Buda nessa proporção. De forma análoga, multiplicando por 100 temos um resultado 100 vezes maior; multiplicando por 10 mil produz-se uma reação 10 mil vezes maior”.9

Tudo deriva de nossa fé. Como Daishonin afirma na carta Resposta à Monja Leiga Nichigon, outra de suas discípulas, “Se sua oração será ou não respondida, isso dependerá de sua fé; [caso não seja] de maneira alguma deverá me culpar” (Ibidem, p. 347).

Pessoas de forte fé nunca se estagnam nem ficam num beco sem saída. Aqueles que perseveram na fé experimentarão o poder de perceber dentro da própria vida o mesmo grandioso estado de buda alcançado por Daishonin e serão capazes de direcionar tudo rumo à felicidade. E os que “obtiverem acesso por meio da fé” jamais serão vencidos pelos infortúnios.

Acreditar exclusivamente no Sutra do Lótus é o caminho direto para a felicidade

Em seguida, no escrito O Aspecto Real do Gohonzon, Daishonin cita duas passagens do Sutra do Lótus — “descartando honestamente os meios apropriados (cf. LSOC, cap. 2, p. 79) e “não aceitando uma única estrofe dos demais sutras” (Ibidem, cap. 3, p. 115). Ele o faz para enfatizar a importância de se “crer no Sutra do Lótus com exclusividade”. “Com exclusividade”, neste contexto, pode ser interpretado “como único e exclusivo” e também como “determinação”.

Acreditando exclusivamente no Sutra do Lótus — descartando honestamente os meios apropriados e sem aceitar uma única estrofe dos outros sutras —, declara Daishonin, a pessoa pode “entrar na torre de tesouro do Gohonzon” (CEND, v. II, p. 92). Em outras palavras, por abraçar o Gohonzon do Nam-myoho-renge-kyo e nos dedicar sinceramente ao kosen-rufu, entramos no palácio da felicidade, no mundo do estado de buda, não obstante onde estejamos ou quais sejam nossas circunstâncias.

Referindo-se à nossa atitude em relação ao Gohonzon, Toda sensei dizia que devemos orar com uma fé determinada, ou seja, acreditando exclusivamente na Lei Mística.

Ao persistirmos com tal fé, poderemos acumular benefícios imensuráveis. Abraçando a Lei Mística e se esforçando ardentemente na prática budista, qualquer pessoa poderá trilhar com orgulho a grandiosa estrada da revolução humana, da conquista da condição de felicidade absoluta.

Nichiren Daishonin prossegue em sua carta: “O mais importante é que, somente com a recitação do Nam-myoho-renge-kyo, a senhora poderá atingir o estado de buda” (Ibidem). E afirma também que o fato de a pessoa atingir ou não o estado de buda depende da força de sua fé (Ibidem).

Nossa felicidade não é definida pela extensão do tempo que praticamos o Budismo de Nichiren Daishonin, muito menos por nossa posição na organização ou na sociedade. É determinada pela força ou profundidade da nossa fé.

Um princípio essencial do Budismo Nichiren é que tudo começa com a fé, independentemente de quem seja ou de quais forem suas circunstâncias.

Palavras de incentivo que tocam o coração dos discípulos

O Significado da Fé

O que chamamos de fé não é nada fora do comum. Fé significa depositar nossa crença no Sutra do Lótus, em Shakyamuni, em Muitos Tesouros, nos budas e bodisatvas das dez direções, nas divindades celestiais e nas divindades benevolentes, e recitar Nam-myoho-renge-kyo do mesmo modo que uma mulher ama seu marido, que um homem sacrifica a vida por sua esposa, que os pais se recusam a abandonar seus filhos ou uma criança se nega a deixar sua mãe.

E não é só isso; as pessoas deveriam ponderar sobre as passagens do sutra que dizem “Descartando honestamente os meios apropriados” [cf. LSOC, cap. 2, p. 79] e “Não aceitar uma única estrofe dos demais sutras” [cf. LSOC, cap. 3, p. 115] sem o menor pensamento de descartá-las, assim como uma mulher se recusa a largar seu espelho, ou como um homem porta sempre sua espada. (CEND, v. II, p. 304)

No escrito O Significado da Fé, endereçado à monja leiga Myo­ichi, Nichiren Daishonin esclarece aspectos importantes, aos quais devemos prestar atenção.

Myoichi praticava os ensinamentos de Nichiren Daishonin ao lado do marido. Em meio à opressão aos seguidores de Daishonin após a Perseguição de Tatsunokuchi,10 o casal teve suas terras confiscadas em virtude de sua fé. Então, o marido de Myoichi faleceu antes de Daishonin ser perdoado e receber permissão para regressar da Ilha de Sado.

Myoichi ficou sozinha com dois filhos para criar, um deles estava doente. A saúde dela também não era boa. Entretanto, ela se recusou a ser derrotada por suas árduas circunstâncias e continuou a praticar os ensinamentos de Nichiren Daishonin com fervor, mesmo depois da morte do marido. Apesar da situação econômica difícil, ela apoiou Daishonin enviando um serviçal para auxiliá-lo enquanto ele estava em Sado e depois no Monte Minobu.

Foi para essa sincera “mãe do kosen-rufu” que Daishonin dedicou sua imortal mensagem de esperança: “O inverno nunca falha em se tornar primavera” (CEND, v. I, p. 560). Como essas palavras de incentivo do seu mestre devem tê-la inspirado e fortalecido!

Aqueles que mais sofrem merecem se tornar as pessoas mais felizes de todas — este é o espírito do genuíno empoderamento propiciado pelos ensinamentos do Budismo de Nichiren Daishonin, a essência do coração de Daishonin, e a grande filosofia humanista da Soka Gakkai.

A expressão de nossa autêntica e singela humanidade

Tempos depois, Nichiren Daishonin endereçou à monja leiga Myoichi a carta intitulada O Significado da Fé, que se inicia com a afirmação: “O que chamamos de fé não é nada fora do comum” (CEND, v. II, p. 304).

Para esclarecer seu ponto de vista, Daishonin compara à forma como uma mulher preza o marido, o homem ama e protege sua esposa, os pais cuidam dos filhos, e um filho se agarra à mãe (cf. CEND, v. II, p. 304).

O afeto entre marido e mulher ou entre pais e filhos é uma expressão espontânea da vida, uma manifestação natural da nossa humanidade intrínseca. Devemos recitar Nam-myoho-renge-kyo ao Gohonzon com a mesma espontaneidade e com o coração aberto. Fé é isso, afirma Daishonin.

Depois de ficar viúva, Myoichi seguiu em frente empenhando-se ardentemente na fé, não apenas por ela mesma, mas por seu falecido marido. Ela também deu o máximo de si para criar os filhos para que se tornassem excelentes jovens. Sem dúvida, as palavras repletas de compaixão vindas de Daishonin ecoaram nas profundezas do seu coração.

A fé sempre deve ser honesta e despretensiosa. Como escreve Nichiren Daishonin: “Sofra o que tiver de sofrer, desfrute o que existe para ser desfrutado. Considere tanto o sofrimento quanto a alegria como fatos da vida e continue recitado Nam-myoho-renge-kyo, independentemente do que aconteça” (CEND, v. I, p. 713).

Nos momentos de sofrimento ou de alegria, devemos simplesmente levar tudo ao Gohonzon, expressando, ao orar, aquilo que estiver em nosso coração.

Praticar com liberdade e naturalidade

Nichiren Daishonin inscreveu o Gohonzon em prol da felicidade de todas as pessoas. Ao recitarmos Nam-myoho-renge-kyo ao Gohonzon e entrarmos em contato com o estado de vida iluminado de Daishonin incorporado nesse objeto de devoção, sem falta nos tornamos felizes. O buda dos Últimos Dias da Lei infalivelmente protegerá aqueles que empreendem ações, como emissários dele, para promover o kosen-rufu.

A força ou profundidade da fé não pode ser mensurada por parâmetros superficiais. Daishonin, por exemplo, não nos instrui especificamente sobre quanto tempo devemos orar etc. Sem dúvida, é importante estabelecermos metas pessoais referentes à quantidade de daimoku que desejamos recitar. Isso não quer dizer que devamos cometer exageros e nos forçar a recitar quando estivermos muito cansados ou sonolentos demais para isso apenas por alguma cota arbitrária que estipulamos para nós mesmos. Seria mais produtivo e válido se descansássemos um pouco e recitássemos na manhã seguinte, quando estivéssemos bem física e mentalmente.

Daishonin também ensina que recitar Nam-myoho-renge-kyo, mesmo uma única vez, produz benefícios incomensuráveis.

Em outro escrito Rei Rinda, ele expressa: “O relinchar dos cavalos brancos [que revitaliza o rei Rinda] é o som de nossa voz recitando Nam-myoho-renge-kyo”11 (CEND, v. II, p. 256). Evidenciemos uma poderosa energia vital recitando um daimoku vibrante e vigoroso, ritmado como o galope de magníficos corcéis correndo livres por vastas planícies.

Lembrem-se de que estamos praticando o budismo para concretizar a nossa felicidade e a das outras pessoas.

Dissipando a escuridão fundamental

Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente

O ato de aceitar e manter esta Lei original [Nam-myoho-renge-kyo] é expressa pela simples palavra “acreditar” ou “fé”. A simples palavra “acreditar” [ou “fé”] é a espada afiada com a qual se enfrenta e vence a escuridão ou a ignorância. O comentário [de Tiantai, em Palavras e Frases do Sutra do Lótus] diz: “Acreditar significa não duvidar”. Deve refletir sobre isso. (OTT, p. 119-120)

Há mais um ponto importante com relação à nossa atitude na fé, ou seja, acreditar sem duvidar.

Em Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Daishonin diz que a fé é a “espada afiada” para dissipar a ilusão profundamente arraigada da escuridão ou ignorância fundamental (cf. OTT, p. 119). Para explicar o que é fé, ele cita a definição oferecida por Tiantai em Palavras e Frases do Sutra do Lótus: “Acreditar significa não duvidar”.

“Não duvidar” quer dizer crer no Gohonzon (Nam-myoho-renge-kyo) com fé absoluta, sem se deixar abalar por nenhum obstáculo. É o oposto de compreender os ensinamentos mas carecer de fé. Daishonin adverte: “‘Conhecimento sem fé’ refere-se aos que têm conhecimento sobre as doutrinas budistas mas que carecem de fé. Essas pessoas jamais atingirão o estado de buda” (CEND, v. II, p. 298). Mesmo que uma pessoa consiga entender os ensinamentos budistas complexos intelectualmente, isso não será suficiente para atingir o estado de buda nesta existência.

O que significa então “não duvidar”? É acreditar de todo o coração, possuir convicção absoluta. Contudo, devo frisar que existe uma diferença crucial entre não duvidar [depois de inquirir e buscar respostas] e simplesmente nunca duvidar.

Se uma religião rejeitasse a existência de dúvidas, estaria repudiando a liberdade inerente ao espírito humano [de questionar e pensar de forma crítica]. Essa religião se alienaria da sociedade e incorreria no risco de resvalar para o dogmatismo e o fanatismo.

A fé para a construção de um eu inabalável

Ingressei na estrada da fé aos 19 anos. Embora tivesse acabado de conhecer Toda sensei, ele me concedeu respostas claras para cada uma de minhas francas perguntas. As palavras dele reverberavam incontestável sabedoria e humanismo. Depois, fiquei sabendo que ele mantivera suas convicções mesmo ao ser preso pelas autoridades militaristas da época da guerra.

Percebi, intuitivamente, que poderia acreditar no que aquele homem dizia, e decidi me associar à Soka Gakkai. Depositando, em primeiro lugar, minha fé em Toda sensei como meu mestre, comecei a aprofundar minha fé na Lei Mística e no Gohonzon.

Como jovem iniciante na prática do Budismo de Nichiren Daishonin, obviamente eu tinha muitas indagações. Mas ao me encontrar com o Sr. Toda, meus dias passaram a ser dedicados à profunda ponderação e reflexão sobre as respostas do budismo às questões existenciais e filosóficas fundamentais.

Ele costumava dizer: “A fé busca a compreensão, e a compreensão aprofunda a fé”. “Compreensão”, no contexto, poderia ser traduzida como “lógica” ou “razão”. Com base em minha experiência pessoal­, a fé se aprofunda mediante esclarecimento de questionamentos e dúvidas, e a reflexão contínua e intensa sobre tais indagações no curso da prática budista, até finalmente obtermos uma resposta satisfatória que possamos aceitar de todo o coração.

Em Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Daishonin enuncia: “Sem fé não pode haver compreensão, e sem compreensão não pode haver fé” (OTT, p. 54-55).

Em outras palavras, aprofundando nossa fé, o espírito de procura para compreender os ensinamentos aflora, e estudando os ensinamentos e aplicando-os na vida, fortalecemos nossa convicção à medida que experimentamos o poder da prática budista. E consolidar uma convicção absoluta nas profundezas do nosso ser significa “não duvidar”.

Voltando à passagem que estamos estudando, Nichiren Daishonin declara que a escuridão ou ignorância fundamental pode ser dissipada com a “espada afiada” da fé — a fé livre de dúvidas (cf. OTT, p. 119-120).

A escuridão ou ignorância fundamental constitui o tipo mais básico de ilusão ou negatividade — a incapacidade de acreditar que a natureza de buda é inerente à nossa vida. Equivale essencialmente a não ser capaz de acreditar na própria dignidade. Se não conseguirmos acreditar em nossa própria natureza de buda, também não seremos capazes de acreditar na natureza de buda dos outros.

A ciência e a tecnologia, por maiores que sejam os avanços conquistados, não podem solucionar esse problema. No mundo de hoje, onde o ódio e a desconfiança predominam de forma disseminada, o Budismo Nichiren nos ensina como fazer resplandecer esse estado de vida imanente supremamente nobre dentro de nós, ajudar os outros a fazer o mesmo, e edificar a genuína alegria de viver. A fé na Lei Mística é a “espada afiada” que subjuga a escuridão fundamental intrínseca a cada um de nós.

“Nam-myoho-renge-kyo é sua própria vida”

Toda sensei afirmou: “Devem ter a decisão de que Nam-myoho-renge-kyo é a sua própria vida!”12 e que “Propagar a Lei Mística nos Últimos Dias da Lei significa acreditar firmemente que sua vida não é nada a não ser Nam-myoho-renge-kyo!”.13

Essa é a conclusão do Budismo de Nichiren Daishonin. Estou certo de que as palavras de Toda sensei incorporam a convicção inabalável que representa a essência da “espada afiada” da fé capaz de dissipar toda escuridão ou ignorância.

Praticando o Budismo Nichiren, nós, como membros da Soka Gakkai, podemos atingir uma condição na qual percebemos profundamente que nós próprios somos entidades da Lei Mística, e que possuímos um potencial ilimitado.

Kosen-rufu não é nada além da construção de uma era de revolução espiritual na qual cada pessoa atue alicerçada na crença profunda na natureza de buda infinitamente nobre inerente a todos os seres humanos. Estamos liderando o movimento para efetuar uma grande mudança no destino da humanidade.

Como membros da Soka Gakkai, empenhamo-nos na fé consagrada à concretização do kosen-rufu, visando à nossa felicidade e também à das outras pessoas. Essa é a expressão perfeita do importante espírito da fé ensinada por Daishonin.

Muitos pensadores eminentes externaram admiração pelas ricas experiências compartilhadas por nossos membros em todos os cantos do mundo — comprovações obtidas por meio da fé e da prática budista.

Nichiren Daishonin escreveu: “Eu e meus discípulos, ainda que ocorram vários obstáculos, desde que não se crie a dúvida no coração, atingiremos naturalmente o estado de buda” (CEND, v. I, p. 296).

A Soka Gakkai é um agrupamento de campeões que internalizaram essa passagem. Sem se deixarem vencer por nenhuma adversidade, nossos membros vêm agregando experiências e mais experiências do poder invencível da fé. Eles acumularam o infinito “tesouro do coração” e conquistaram uma fé ilimitada, pura, profunda e sólida.

Os associados da Soka Gakkai possuem uma fé imbuída de sabedoria para viver com base na verdade suprema da Lei Mística, de coragem para erradicar toda forma de miséria e de compaixão transbordante de convicção de que todas as pessoas são budas. Trata-se de uma fé firmemente estabelecida, que permite alcançar um estado de vida de felicidade eterna.

A Soka Gakkai sempre será uma organização de fé

Como associados da Soka Gakkai, temos um puro compromisso com a verdade e a justiça. Possuímos uma firme convicção fundamentada em claras provas documentais, teóricas e reais, e uma crença poderosa e invencível.

A Soka Gakkai sempre será uma organização de fé.

Juntem-se a mim de mãos dadas com os companheiros do mundo todo, trilhando com orgulho e confiança a grandiosa estrada da fé — ligados pelo espírito de unicidade de mestre e discípulo e em conexão direta com Nichiren Daishonin.

Este é o momento de construir uma base eterna para a Soka Gakkai.

Publicado em setembro de 2016 na revista Daibyakurenge.
Notas:

1. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Coletânea de Obras de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 3, p. 72, 1983.

2. Ibidem, p. 72-73.

3. A palavra “fé” em japonês é composta por dois ideogramas chineses.

4. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Coletânea de Obras de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 4, p. 582, 1984.

5. Ibidem, p. 583.

6. Nichiren Daishonin escreve: “Mandala’, palavra sânscrita, que se traduz como ‘dotado de perfeição’ ou ‘concentração de benefícios’” (CEND, v. II, p. 92).

7. No Sutra do Lótus, Shakyamuni declara: “Até você, Shariputra, no que diz respeito a este sutra, foi capaz de obter acesso somente por meio da fé. Isso deve ser ainda mais válido para os outros ouvintes da voz! Quanto aos demais ouvintes da voz — é por terem fé nas palavras do Buda que eles podem agir em conformidade com este sutra, e não em virtude de alguma sabedoria que possuam” (LSOC, cap. 3, p.109-110).

8. A expressão “o desejo único e ardente de contemplar o Buda... não hesitando mesmo que isso custe a própria vida” consta no trecho do capítulo “A Extensão da Vida” (16º) do Sutra do Lótus. A passagem explica que o Buda aflora em resposta a esse espírito determinado. Pode ser interpretado como despertar para o mundo eterno do estado de buda dentro da própria vida. Em outras palavras, o estado de buda emerge na vida daqueles que se devotam incansavelmente à concretização do grande juramento pelo kosen-rufu com inabalável espírito de procura em relação ao Buda e fé na Lei Mística.

9. Traduzido do japonês. TODA, Josei, Toda Josei Zenshu [Coletânea de Obras de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 1, p. 149, 1981.

10. Perseguição de Tatsunokuchi: Tentativa fracassada, instigada por personalidades poderosas do governo, de decapitar Nichiren Daishonin sob o manto da escuridão na Praia de Tatsunokuchi, nas cercanias de Kamakura, no dia 12 de setembro de 1271.

11. No escrito Rei Rinda, Daishonin afirma que quando o rei Rinda ouvia o relinchar dos cavalos brancos, “A pele do rei recobrou a cor, como o Sol que ressurge de um eclipse, e sua força física e suas faculdades mentais tornaram-se centenas, milhares de vezes maiores do que antes” (CEND, v. II, p. 252).

12. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Coletânea de Textos de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 2, p. 467, 1982.

Cf. Ibidem, p. 466-467.




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Soka Gakkai: a prática atual de bodisatvas

“Fé, prática e estudo” - Princípio fundamental do Budismo Nichiren

Brasil Seikyo, Edição 2374, 03/06/2017, pág. B1-B4 / Encontro com o Mestre
Continuação da edição 2.370

Certa vez perguntaram a Mahatma Gandhi (1869–1948), líder do movimento da independência da Índia, qual era sua religião. Direcionando o olhar para duas pessoas doentes que repousavam em sua sala, ele respondeu: “Minha religião é servir”.1 Religião, para Gandhi, significava servir àqueles que estavam sofrendo diante dele.

Assim como ele, os membros da Soka Gakkai estão demonstrando a verdadeira acepção da palavra “religião” com suas ações cotidianas.

A construção de uma era da religião a serviço dos seres humanos

O Budismo Nichiren é a própria essência da religião humanística. Ensina que não há prioridade maior que auxiliar as pessoas que estão diante de nossos olhos e guiá-las à felicidade.

O verdadeiro valor de uma religião consiste em estender a mão aos que estão sofrendo, embasada na compaixão. A diferença entre uma religião que põe as pessoas em primeiro lugar e a que as explora em benefício próprio reside no simples fato de motivar a empreender, ou não, esforços para ajudá-las a se tornarem felizes.

Nesse aspecto, acredito que a prática do bodisatva exposta no budismo desempenhe papel importante para determinar o rumo da religião no século 21.

No dia 2 de outubro de 1960, dei meu primeiro passo para o kosen-rufu mundial. Desde o início, não fiz nada fora do comum. Simplesmente continuei incentivando uma a uma as pessoas com quem me encontrei em cada viagem em prol do kosen-rufu. Foi um número incalculável de pessoas, e sempre tratei a que estava diante de mim com o máximo respeito e compaixão.

Compartilhando meu espírito, os associados da organização ao redor do mundo estão fazendo o mesmo. Alguns viajam regularmente cinco ou seis horas, metade de um dia, ou até um dia inteiro apenas para se encontrar com uma única pessoa que necessita de apoio. Esses esforços constantes para estreitar laços humanos alicerçados no encorajamento é que construíram a rede mundial da SGI de hoje.

Pessoas do mundo todo expressam admiração por essa moderna prática do bodisatva realizada pelos membros da SGI. Chegou a época em que pessoas de todos os lugares estão buscando avidamente a filosofia e os ideais da SGI. A base da nossa prática do bodisatva é voltada para si e para os outros, tanto para nossa própria revolução humana como para expandir o movimento pelo kosen-rufu.

Prosseguindo em nossa abordagem sobre o princípio fundamental do Budismo de Nichiren Daishonin “fé, prática e estudo”, discutiremos nesta oportunidade o elemento “prática”.

Um chamado para que sejamos praticantes ativos do budismo

Atingir o Estado de Buda nesta Existência

A mente que se encontra encoberta pela ilusão da escuridão inata da vida é como um espelho embaçado; mas, ao ser polida, tornar-se-á como um espelho límpido, que refletirá a natureza essencial dos fenômenos [natureza do Darma] e o verdadeiro aspecto da realidade. Manifeste profunda fé polindo seu espelho dia e noite. Como deve poli-lo? Não há outra forma senão recitar o Nam-myoho-renge-kyo. (CEND, v. I, p. 4)2

Tsunesaburo Makiguchi, presidente fundador da Soka Gakkai, proferiu uma palestra intitulada “Seguidores, Praticantes e Estudiosos do Sutra do Lótus e Métodos de Investigação” (novembro de 1942). No ensejo, argumentou:

Devemos traçar uma clara distinção entre seguidores e praticantes. Embora uma pessoa seguramente obtenha benefícios pelo simples fato de ter fé e oferecer orações, isto, por si só, não constitui a prática do bodisatva. Não é possível haver um buda egoísta, que só acumule benefícios pessoais e não trabalhe pelo bem-estar dos outros. A não ser que realizemos a prática do bodisatva, não poderemos atingir o estado de buda.3

Essa breve afirmação contém a essência da fé da Soka Gakkai.

Não basta simplesmente ter fé e ser um seguidor. Não basta apenas estudar e ser especialista no budismo. Não seremos capazes de compreender de fato o budismo a menos que sejamos praticantes que empreendem ações em prol da felicidade das outras pessoas.

Makiguchi sensei declarou que os membros da Soka Gakkai são pessoas de prática efetiva — em outras palavras, são praticantes do Sutra do Lótus nos Últimos Dias da Lei e budistas genuínos que rea­lizam a prática do bodisatva.

Como membros da Soka Gakkai, abraçamos a fé no Gohonzon e nos dedicamos a fazer nossas orações todos os dias. Esse exercício budista envolve tanto a prática para si como para os outros. Tais esforços nos habilitam a revelar nosso estado de buda interior e a alcançar um estado de felicidade absoluta, e ajudar os outros a fazer o mesmo.

A prática para si corresponde aos esforços para obter benefícios pessoais e, especificamente, refere-se a recitar gongyo (trechos do Sutra do Lótus e Nam-myoho-renge-kyo). A prática para os outros indica os esforços que efetua­mos para que os demais também possam receber benefícios e, de maneira específica, significa ensinar o Budismo Nichiren às pessoas e continuar a propagar a Lei Mística. Todas as diversas atividades em prol do kosen-rufu, por mais modestas que sejam, consistem em prática para os outros.

Como afirma Daishonin, “Deve não só perseverar como também ensinar aos outros” (CEND, v. I, p. 405). Para os praticantes do Sutra do Lótus, é imprescindível que empreendamos esforços pela nossa própria felicidade e pela felicidade dos outros, ensinou Makiguchi.

A prática para transformar nosso estado de vida

O trecho do escrito Atingir o Estado de Buda nesta Existência, apresentado acima, elucida a função da recitação do Nam-myoho-renge-kyo, a prática concreta para transformar nosso estado de vida. Makiguchi sensei sublinhou essa passagem em seu exemplar pessoal do Gosho (coletânea de escritos de Nichiren Daishonin).

Daishonin inscreveu o Gohonzon e estabeleceu a prática da recitação do Nam-myoho-renge-kyo para habilitar todas as pessoas a atingir o estado de buda. Ele criou uma forma de prática budista universalmente acessível. Essa forma é, de fato, uma revolução religiosa.

O Budismo de Nichiren Daishonin salienta a importância de mudar a essência de nossa mente. De modo geral, as pessoas tendem a pensar que existe um enorme fosso entre os simples mortais e os budas. Entretanto, Daishonin expôs que essa distância não existe — a única diferença reside no fato de ser dominado pela ilusão ou despertar. Recitar Nam-myoho-renge-kyo é o meio para transformar uma condição de vida iludida em iluminada.

Nessa passagem, Daishonin compara uma vida de sofrimento, encoberta pela escuridão ou ignorância fundamental,4 a um espelho embaçado, e uma vida que despertou para a verdade da realidade, a um espelho límpido. Um espelho embaçado que não reflete nada pode se tornar nítido se for lustrado, passando a revelar qualquer imagem.

De modo semelhante, ao darmos continuidade à fervorosa recitação do Nam-myoho-renge-kyo, polimos nossa vida e removemos a ignorância e a ilusão. Ativamos dentro de nós a vasta condição de vida e sabedoria do Buda.

Por meio da prática diária do gongyo — recitação do sutra e do Nam-myoho-renge-kyo — aprimoramos e transformamos nosso estado de vida. Esse trecho do escrito de Nichiren Daishonin enuncia os requisitos para isso. Devemos “manifestar profunda fé” (cf. CEND, v. I, p. 4) e “polir [diligentemente] nosso espelho dia e noite” (Ibidem).

Para combater a escuridão ou ilusão fundamental que obstrui nosso caminho para a iluminação, precisamos ter a coragem de reunir uma profunda fé. Além disso, se quisermos atingir o estado de buda nesta existência, é imprescindível que mantenhamos nossa fé, persistindo assiduamente em nossos esforços. Manter a fé significa jamais regredir.

Em várias partes de seus escritos, Daishonin destaca a relevância de se esforçar com fé inabalável. Por exemplo:

Aquele (...) que recita o daimoku [Nam-myoho-renge-kyo] é o emissário d’Aquele que Assim Chega. Do mesmo modo, aquele que persevera em meio a grandes perseguições e abraça o sutra do início ao fim é o emissário d’Aquele que Assim Chega. (cf. CEND, v. II, p. 207)

Mantenha a fé no Sutra do Lótus. Não conseguirá extrair fogo da pederneira se desistir no meio da tentativa. (CEND, v. I, p. 336)

Conquistar uma vida “feliz e tranquila”

O propósito da nossa prática budista é assegurar um estado de felicidade em que “vivamos felizes e tranquilos” [cf. LSOC, cap. 16, p. 272].5 Em outro escrito, Nichiren Daishonin afirma claramente: “Não há felicidade maior para os seres humanos do que recitar Nam-myoho-renge-kyo” (CEND, v. I, p. 713).

Por mais difíceis sejam os desafios que enfrentamos, permaneceremos invencíveis se ativarmos poderosamente nosso estado de buda interior com a recitação do Nam-myoho-renge-kyo. Com o poder do daimoku, que é como o rugido de um leão, triunfamos sobre qualquer adversidade e desfrutamos uma vida “feliz e tranquila”. Além disso, transformamos uma vida de desespero em relação ao nosso destino numa vida feliz, dedicada a uma missão, na qual incentivamos e ajudamos o próximo. Um número incalculável de membros da Soka Gakkai vem avançando alegremente com essa convicção inquebrantável e comprovações pessoais dessa verdade na própria vida.

Não há ninguém mais admirável que os integrantes da nossa organização, que se empenham, como praticantes do Sutra do Lótus, em prol da própria felicidade e a das outras pessoas.

Meu mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, expressou:

Não importando o que aconteça, vocês vencerão com daimoku. Vão transformar a dificuldade em força, revelar o estado de buda e delinear o próprio destino. Exatamente como são, vocês serão capazes de ajudar todos os tipos de pessoas a se tornarem felizes.

Como praticantes do Sutra do Lótus, a recitação do Nam-myoho-renge-kyo nos habilita não somente a obter uma “vida feliz e tranquila”, mas também a ajudar outras pessoas a conseguir o mesmo.

“Shakubuku é a vida da religião”

Carta para Jakunichi-bo

Aqueles que se tornarem discípulos e seguidores leigos de Nichiren deveriam compreender os profundos laços cármicos que compartilham com ele e propagar o Sutra do Lótus da mesma maneira que ele faz. Ser conhecido como devoto do Sutra do Lótus é um destino amargo, porém inevitável. (CEND, v. II, p. 260)6

A próxima passagem que estudaremos consta de Carta para Jakunichi-bo. Nesse escrito, Nichiren Daishonin recomenda enfaticamente a seus discípulos que despertem para sua missão como praticantes do Sutra do Lótus — ou seja, como bodisatvas da terra — e o propaguem como ele fez.

A missão dos praticantes do Sutra do Lótus nos Últimos Dias da Lei é se empenhar na prática para si e para os outros nesta era maléfica, empreendendo de todo coração esforços para conduzir à iluminação uma pessoa após outra.

Propagar o budismo nos Últimos Dias da Lei consiste no nobre e grandioso trabalho de dominar os “três venenos” — avareza, ira e estupidez7 — e transformar o destino da humanidade.

Na primavera de 1939, Makiguchi sensei viajou para Yame, na província de Fukuoka, em Kyushu, para apresentar os ensinamentos de Nichiren Daishonin à cunhada de um membro de Tóquio. A mulher decidiu se tornar budista e, logo no dia seguinte, Makiguchi sensei lhe disse: “Vamos pôr a fé em prática!”. Então, saiu com ela e seu marido, que já havia decidido iniciar a prática pouco tempo antes, para visitar um casal que o Sr. Makiguchi conhecia em Unzen, na província vizinha, Nagasaki, a fim de compartilhar com essa pessoa o Budismo Nichiren.

Naquela oportunidade, Makiguchi sensei declarou resolutamente: “Shakubuku é a vida da religião”. Essas palavras se tornaram o ponto de partida do movimento pelo kosen-rufu em Kyushu.

Só podemos experimentar a verdadeira grandiosidade do budismo pondo seus ensinamentos em prática. Makiguchi sensei demonstrou essa verdade por meio do próprio exemplo.

Viver o capítulo “Encorajamento à Devoção” do Sutra do Lótus

Em Carta para Jakunichi-bo, num trecho anterior ao que estamos estudando, Daishonin afirma: “Nichiren é o supremo devoto [praticante] do Sutra do Lótus no Japão. Em toda a nação, somente ele viveu a estrofe de vinte versos8 do capítulo ‘Encorajamento à Devoção’” (CEND, v. II, p. 259).

A citada estrofe refere-se à parte conclusiva do capítulo “Encorajamento à Devoção” (13º), que declara que a perseguição dos “três poderosos inimigos” — leigos arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos sábios arrogantes — incidirá sobre aqueles que propagarem a Lei Mística na era maléfica após a morte do Buda.

Na carta, Nichiren Daishonin também diz que ele se levantou sozinho com a consciência de cumprir a missão do bodisatva Práticas Superiores,9 e instou o povo japonês a aceitar e abraçar o Sutra do Lótus, acrescentando que ele não havia abrandado seus esforços nem mesmo após fixar residência no Monte Minobu (cf. CEND, v. II, p. 260).10

No trecho que estamos examinando ele expressa que seus discípulos devem seguir seu exemplo, propagando o Sutra do Lótus assim como ele, empenhando-se firmemente para conduzir as pessoas à iluminação, de acordo com o espírito do Sutra do Lótus de ampla propagação, ou kosen-rufu (Ibidem).

“Profundos laços cármicos”

Nichiren Daishonin indica os “profundos laços cármicos” (CEND, v. II, p. 260) que seus discípulos compartilham com ele. Isso se refere aos laços que os ligam desde existências passadas. Daishonin menciona com frequência os vínculos cármicos que possui com seus discípulos. Por exemplo:

Devem ter sido os laços cármicos do distante passado que o levaram a se tornar meu discípulo numa época como esta. (CEND, v. I, p. 226)

Uma relação cármica originada no passado foi o que permitiu ser meu discípulo. (Ibidem, p. 387)

O senhor deve compreender que, em razão de uma profunda relação cármica do passado, pode ensinar mesmo uma única sentença ou frase o Sutra do Lótus. (Ibidem, p. 33)

Discípulos que possuem uma “profunda relação cármica” com Daishonin também poderiam ser descritos como discípulos que lutam ao lado dele. Não há honra maior do que compartilhar eternamente uma vida de luta conjunta com o mestre visando ao kosen-rufu.

No fim da passagem de Carta para Jakunichi-bo que estamos estudando, Daishonin sublinha: “Ser conhecido como devoto [ou praticante] do Sutra do Lótus é um destino amargo, porém inevitável” (CEND, v. II, p. 260).

Em outras palavras, aos olhos do mundo, ser discípulo de Daishonin e sofrer perseguições em virtude da devoção ao Sutra do Lótus representa um infortúnio, uma calamidade. Porém, ao considerarmos a profundidade dessa relação cármica na perspectiva do budismo, constatamos que não há felicidade maior do que poder trabalhar em prol do kosen-rufu como bodisatva da terra com o mesmo espírito de Daishonin. Enfrentar obstáculos no curso de nossos esforços para propagar a Lei Mística é uma honra inevitável que defrontamos; por isso, precisamos permanecer firmes, com uma fé resoluta.

Empenhamo-nos para compartilhar o budismo com as pessoas com quem temos ligação em exata conformidade com a instrução de Daishonin e “propagar o Sutra do Lótus da mesma maneira que ele faz” (Ibidem).

Ao nascermos neste mundo, nos dedicamos à felicidade do próximo e vivemos de maneira edificante conquistando o apreço de incontáveis pessoas pelos esforços para auxiliá-las. Esse é o modo de vida mais valioso e gratificante que se pode ter como ser humano.

Nossos esforços para espalhar as sementes do estado de buda algumas vezes produzem resultados rápidos e em outras exigem algum tempo até os frutos aparecerem, mas os benefícios são iguais em ambos os casos. Independentemente do fato de as pessoas com quem conversamos iniciarem ou não a prática de imediato, o importante é darmos o melhor de nós para compartilhar o budismo com elas, de modo sincero e convicto, e realizarmos um trabalho persistente e devotado para ajudá-las a compreender os ensinamentos. Se conseguirmos fazer isso, as sementes do estado de buda que plantamos no coração delas infalivelmente acabarão brotando e se desenvolvendo.

Em outro escrito, Nichiren Daishonin salienta: “Recite o Nam-myoho-renge-kyo com atitude resoluta e sincera, e recomende com veemência aos outros que façam o mesmo; isso permanecerá como a única lembrança de sua existência neste mundo humano” (CEND, v. I, p. 66). Como essas palavras indicam, praticar o budismo e ensinar os outros a fazer o mesmo são ações que produzem o bem mais elevado que pode existir.

O estado de buda reside no ato de viver pelo grande juramento

Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente

O “grande juramento” refere-se à propagação do Sutra do Lótus [Nam-myoho-renge-kyo]. (OTT, p. 82)

O desejo sincero de Shakyamuni, fundador do budismo, era que todas as pessoas se tornassem felizes. No capítulo “Meios Apropriados” (2º) do Sutra do Lótus, ele declara: “No início, fiz um juramento na esperança de tornar todas as pessoas iguais a mim, sem nenhuma distinção entre nós” (LSOC, cap. 2, p. 70). O juramento dele consistia em alçar todas as pessoas à mesma condição de vida iluminada que ele possuía.

Nichiren Daishonin devotou-se com o compromisso de conduzir todas as pessoas do Últimos Dias da Lei à iluminação. Demonstrando o espírito contido em sua afirmação de que “Nem uma única vez pensei em recuar” (WND, v. II, p. 465), ele superou todas as dificuldades que se possa imaginar para propagar a Lei Mística. Ao fazer isso, abriu o grande caminho pelo qual podemos alcançar o mesmo estado de vida do Buda, sem nenhuma distinção entre nós.

Nas Vinte e Seis Advertências de Nikko Shonin, discípulo direto e sucessor de Daishonin, verificamos a instrução: “Até o kosen-rufu ser concretizado, propaguem a Lei empregando o máximo de sua capacidade, sem poupar a sua vida” (GZ, p. 1618). Aqueles que se dedicam ao kosen-rufu são os verdadeiros discípulos e sucessores de Daishonin na fé.

A Soka Gakkai se desenvolveu de forma dinâmica como religião mundial precisamente porque seus membros vêm se empenhando de modo incansável para propagar a Lei Mística exatamente como Daishonin ensina, devotando-se com afinco para realizar tanto a prática para si como para os outros.

Consolidarmos a felicidade em nossa vida cotidiana

Em seu exílio na Ilha de Sado, que impunha uma real ameaça à sua própria vida, Nichiren Daishonin redigiu a carta Abertura do Olhos e declarou: “Farei aqui um grande juramento” (CEND, v. I, p. 293). Ele selou o juramento de ser o pilar, os olhos e a grande nau que conduziria todas as pessoas à iluminação, com o desejo único de concretizar o kosen-rufu.11

Na passagem de Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente que estamos discutindo, Daishonin afirma que o “grande juramento” se refere à “propagação do Sutra do Lótus” (cf. OTT, p. 82). Não se trata de nada além do grande juramento de concretizar o kosen-rufu. É idêntico ao juramento dos bodisatvas da terra.

Dia após dia, os membros da Soka Gakkai recitam Nam-myoho-renge-kyo ao Gohonzon e se dedicam aos diálogos com o objetivo de propiciar felicidade tanto para si como para os outros. Nesta era turbulenta dos Últimos Dias da Lei, eles mantêm o grande juramento de concretizar o kosen-rufu realizando a prática do bodisatva pelo mundo todo.

Makiguchi sensei declarou que o budismo é um ensinamento para a vida diária. Trata-se de um ensinamento que nos permite extrair o máximo da vida. Estamos revigorando nossa vida e a de outras pessoas todos os dias com nossos esforços para propagar o budismo. Fazendo uso do diálogo, o método mais básico para interagir com os outros, transmitimos a luz da esperança e da renovação àqueles que perderam o rumo na vida e mergulharam nas profundezas do sofrimento ou não se sentem capazes de ver algum sentido na vida. No decorrer desse processo, ao lado deles, elevamos nosso apreço pelo significado da própria vida. Essa constitui, de fato, a nobre prática de contribuir para uma revolucionária transformação no estado de vida de toda a humanidade.

A Soka Gakkai é a pedra fundamental para a construção da paz mundial

A Soka Gakkai é a organização que age de exato acordo com o desejo do Buda. Ela se levantou na época atual com o compromisso de cumprir o grande juramento de concretizar o kosen-rufu, em perfeita harmonia com o espírito de Nichiren Daishonin. A Soka Gakkai é a única instituição que promove o kosen-rufu mundial. É um grupo dedicado ativamente à propagação da Lei Mística.

Propagar a Lei Mística compartilhando-a com os outros expande ondas de felicidade. Toda sensei dizia: “Divulgar o budismo não deve ser penoso ou desagradável. É algo a ser feito com alegria”. A prática altruísta do bodisatva sempre é transbordante de alegria proveniente da criação de seres humanos de valor fundamentada em nosso juramento pelo kosen-rufu.

Em novembro de 2013, por ocasião da inauguração do Auditório do Grande Juramento pelo Kosen-rufu Mundial (em Shinanomachi, Tóquio), enviei uma mensagem aos nossos membros que dizia:

O ‘grande desejo do kosen-rufu’ e a ‘vida do estado de Buda’ formam um único corpo. Quando se vive em prol deste juramento, a pessoa se torna ainda mais respeitável, ainda mais forte e ainda mais grandiosa.

Quando se vive em prol deste juramento, a coragem do buda, a sabedoria do buda e a compaixão do buda se manifestam de forma ilimitada. Quando se vive em prol deste juramento, transforma-se não somente quaisquer dificuldades e sofrimentos como veneno em remédio, e também o carma em missão.12

Um número cada vez maior de membros, bodisatvas da terra dedicados ao cumprimento do grande juramento de concretizar o kosen-rufu, está surgindo em todos os cantos. Eles estão efetuando a prática do bodisatva em seus respectivos países e conduzindo muitas pessoas ao caminho da felicidade. Pelo diálogo, estão edificando uma rede de pessoas que transcende fronteiras nacionais. Por sua própria existência, a Soka Gakkai tornou-se uma pedra fundamental dos esforços para a construção da paz mundial. Pessoas sensatas e conscientes do mundo inteiro depositam a mais alta expectativa na Soka Gakkai, cujos membros estão consolidando uma rede cada vez maior de paz e felicidade alicerçada numa filosofia de revolução humana interior.

O Dr. Anatol Rapoport (1911–2007), ex-professor de estudos sobre paz e conflitos da Universidade de Toronto, Canadá, disse certa vez:

“Enquanto muitos movimentos pacifistas do mundo inspiram-se no temor às armas nucleares, o movimento de paz da SGI opera num contexto mais profundo, decorrente da convicção positiva dos membros de que paz pressupõe a materialização da satisfação e felicidade para todos. Nesse aspecto, não há no mundo nenhuma outra organização de paz que se compare à SGI.”13

O nobre caminho dos bodisatvas Soka

Um futuro amplo e radiante se estende à nossa frente. Estamos seguindo em direção ao nosso próximo importante marco — o quinto aniversário da conclusão do Auditório do Grande Juramento pelo Kosen-rufu Mundial em novembro de 2018. Depois disso, virão o nonagésimo aniversário da Soka Gakkai em 2020, e o centésimo aniversário em 2030.

Continuemos avançando com os companheiros do mundo todo, unidos no coração e na mente, e sempre para a frente, com os olhos voltados para mais um auspicioso cume. A Soka Gakkai é uma organização de ação. Nossos contínuos esforços são a chave do desenvolvimento e sucesso do nosso movimento.

Nossas atividades como bodisatvas de terra, encorajando as outras pessoas e trabalhando tanto pela felicidade delas e como pela nossa, constituem a expressão máxima da prática do bodisatva. Nós, integrantes da família Soka, somos um magnífico contingente de bodisatvas da terra que brilhará eternamente nos anais da história do povo.

Com o orgulho de trilhar o nobre caminho dos bodisatvas Soka, empenhemo-nos diligentemente na prática em nosso benefício e pelo benefício de outras pessoas, e juntos vivamos uma existência gloriosa e triunfante!

A continuação será publicada posteriormente.

Publicado em outubro de 2016 na revista Daibyakurenge.

Notas:

1. GANDHI, M. K. My Religion. KUMARAPPA, Bharatan. (Ed.). Ahmedabad: Navajivan Publishing House, 1958. p. 51.

2. Escrito em 1255, Atingir o Estado de Buda nesta Existência ensina que recitar Nam-myoho-renge-kyo é o caminho direto para atingir o estado de buda nesta existência.

3. Traduzido do japonês. MAKIGUCHI, Tsunesaburo. Makiguchi Tsunesaburo Zenshu [Coletânea de Obras de Tsunesaburo Makiguchi]. Tóquio: Daisanbunmei-sha, v. 10, p. 151, 1987.

4. Escuridão ou ignorância fundamental: A ilusão inerente à vida mais profundamente arraigada que, segundo se afirma, origina todas as outras ilusões. Incapacidade de enxergar ou reconhecer a verdade, especialmente a verdadeira natureza da vida.

5. No capítulo “A Extensão da Vida” (16º) do Sutra do Lótus, o mundo onde vivemos é descrito como um lugar “onde os seres vivos vivem felizes e tranquilos” [LSOC, cap. 16, p. 272]. Isso mostra que o mundo saha, normalmente considerado um local em que impera o sofrimento, é na realidade a Terra da Luz Eternamente Tranquila, ou o mundo do buda, onde todos os seres vivos podem desfrutar a máxima felicidade.

6. Escrita em 1279, Carta para Jakunichi-bo é endereçada a um dos discípulos de Nichiren Daishonin que, ao que tudo indica, morava na província de Awa (parte da atual província de Chiba); e foi enviada por intermédio de um discípulo chamado Jakunichi-bo.

7. “Três venenos” — avareza, ira e estupidez: Males fundamentais inerentes à vida que originam o sofrimento humano. No Tratado sobre Grande Perfeição e Sabedoria do célebre erudito Mahayana, Nagarjuna, os “três venenos” são apontados como a fonte de todas as ilusões e desejos mundanos. São denominados desse modo por degradarem a vida das pessoas e atuarem para impedir que direcionem seu coração e sua mente para o bem.

8. Estrofe de vinte versos: Parte em versos que conclui o capítulo “Encorajamento à Devoção” (13º) do Sutra do Lótus, na qual uma imensa multidão de bodisatvas juram ao buda Shakyamuni que propagarão o Sutra do Lótus na era maléfica que se seguirá à sua morte, suportando o ataque dos “três poderosos inimigos” — leigos arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos sábios arrogantes. É denominada de estrofe de vinte versos porque a tradução chinesa consiste em vinte versos.

9. Bodisatva Práticas Superiores: Líder dos bodisatvas da terra que surgem no capítulo “Emergindo da Terra” (15º) do Sutra do Lótus. No capítulo “Poderes Sobrenaturais” (21º), Shakyamuni transfere a Práticas Superiores a tarefa de propagar o Sutra do Lótus na era maléfica dos Últimos Dias da Lei.

10. Nichiren Daishonin escreveu: “No sutra consta: ‘Assim como a luz do Sol e da Lua pode dissipar totalmente a penumbra e a escuridão, esta pessoa, em sua passagem pelo mundo, é capaz de erradicar a escuridão dos seres vivos’ [LSOC, cap. 21, p. 318]. Considere com atenção o significado dessa frase. ‘Esta pessoa, em sua passagem pelo mundo’ indica que os primeiros quinhentos anos dos Últimos Dias da Lei testemunharão o advento do bodisatva Práticas Superiores, que iluminará a escuridão da ignorância e dos desejos mundanos com a luz dos cinco ideogramas do Nam-myoho-renge-kyo. De acordo com essa passagem, Nichiren, como emissário desse bodisatva, tem exortado as pessoas do Japão a abraçar e manter o Sutra do Lótus. Seus esforços jamais enfraqueceram, mesmo aqui nesta montanha [Minobu] (CEND, v. II, p. 259-260).

11. Daishonin expressa: “Declaro aqui: Não importa que os deuses me abandonem. Não importa que eu tenha de enfrentar todas as perseguições. Ainda assim, darei a vida em prol da Lei. (...) Seja tentada pelo bem, seja ameaçada pelo mal, se a pessoa abandonar o Sutra do Lótus, estará conduzindo a si própria ao inferno. Farei aqui um grande juramento (...) sejam quais forem os obstáculos que eu deva enfrentar, enquanto as pessoas de sabedoria não provarem que meus ensinamentos são falsos, jamais desistirei! Todos os outros sofrimentos nada mais são para mim que poeira lançada ao vento. Eu serei o pilar do Japão. Eu serei a grande nau do Japão. Este é o meu juramento, e jamais renunciarei a ele!” (CEND, v. I, p. 293).

12. BS, ed. 2.203, nov. 2013, p. A1.

13. Traduzido do japonês. Extraído de um artigo sobre as atividades da SGI-Canadá publicado na edição do Seikyo Shimbun, de 7 de julho de 2001.





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“Fé, prática e estudo” — Princípio fundamental do Budismo Nichiren

Budismo do Sol - Iluminando o Mundo — Continuação da edição 2.374

Brasil Seikyo, Edição 2382, 05/08/2017, pág. B1-B4 / Encontro com o Mestre

Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda

Estudo do budismo da Soka Gakkai para elevar o estado de vida das pessoas comuns do povo

Qual o propósito da religião?

É possibilitar a nossa felicidade e a do próximo — a felicidade de todas as pessoas e a concretização da paz mundial.

Para alcançar esse objetivo, cada um deve se tornar sábio e forte. Essa era a convicção inabalável do presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi.

Em que consiste o bem e qual o caminho correto na vida?

São questões universais que preocupam o ser humano desde os tempos imemoriais.

Makiguchi sensei buscou no Budismo do Sol e encontrou nos escritos de Nichiren Daishonin uma sólida filosofia de valorização da vida que poderia guiar sabiamente as pessoas com respostas a essas indagações.

O dia 18 de novembro, aniversário de fundação da Soka Gakkai (1930), também é a data que Makiguchi sensei faleceu na prisão (em 1944) por suas crenças. Ele se recusou até o fim a ser derrotado pela opressão do governo militarista do Japão, mantendo-se fiel à causa de ajudar as pessoas a obter a felicidade genuína.

Ao ser preso, seu primeiro pedido foi um exemplar do Gosho. Embora as árduas condições da prisão e as refeições escassas maltratasse o idoso Makiguchi, seu espírito de procura continua­va a arder intensamente.

Nas cartas que enviou da prisão à família, ele escreveu: “A fé é o mais importante”,1 “[Estou me] concentrando inteiramente na fé”2 e “O que estou passando não é nada comparado às adversidades que Daishonin suportou em Sado”.3 Suas palavras transbordavam de orgulho de viver com base na fé e nos escritos de Nichiren Daishonin, mesmo que isso significasse dar a vida por suas convicções.

O discípulo do presidente Makiguchi, Josei Toda, que foi preso ao mesmo tempo que seu mestre, também perseverou com o mesmo compromisso inabalável. Continuou lendo o Gosho e o Sutra do Lótus, recitando firmemente Nam-myoho-renge-kyo e se dedicando a uma profunda meditação. Assim, ele despertou finalmente para a verdade de que buda é a própria vida e percebeu sua identidade de bodisatva da terra.

Tanto Tsunesaburo Makiguchi como Josei Toda lutaram resolutamente contra a natureza demoníaca do poder pensando na felicidade humana e na paz mundial. Mesmo na prisão eles se empenharam solene e intrepidamente nos “dois caminhos da prática e do estudo” (CEND, v. I, p. 405).

Esse espírito de dedicação abnegada à propagação da Lei, de lutar incessantemente em prol do kosen-rufu, que eu também herdei, é a essência do espírito de mestre e discípulo que liga os três primeiros presidentes da Soka Gakkai.

Para Makiguchi sensei e para Toda sensei, ler os escritos de Nichiren Daishonin era uma parte inseparável de sua luta incondicional para incorporar a condição de vida do estado de buda. A disposição de acatar com total seriedade e pôr em prática os escritos de Nichiren Daishonin com suas ações continua viva na organização até hoje.

A Soka Gakkai consolidou um grande movimento filosófico que se baseia na autoconfiança e na automotivação. É um movimento no qual pessoas comuns estudam o budismo, compartilham-no com outros e o aplicam nas próprias ações diárias.

Essa “universidade sem paredes”, onde as pessoas se desenvolvem e se lapidam por meio da prática e do estudo do budismo, agora se propagou pelo mundo.

Neste terceiro segmento da série sobre o princípio fundamental do Budismo de Nichiren Daishonin — “fé, prática e estudo” —, examinemos o espírito do estudo do budismo compartilhado pelos mestres e discípulos Soka.

Cartas escritas para cada um de nós

Trecho do escrito — Carta de Sado

Não há papel suficiente aqui na província de Sado e levaria muito tempo para eu escrever para cada um. Além do mais, se uma única pessoa ficar sem receber uma mensagem minha, isso poderá causar ressentimentos. Por essa razão, meu desejo é que as pessoas que possuem espírito de procura se reúnam para lerem juntas esta carta de encorajamento. (CEND, v. I, p. 323 )4

A maioria das cartas de Nichiren Daishonin destinadas a seus discípulos foi redigida após ele ser exilado na Ilha de Sado e, mais especificamente, depois de se mudar para o Monte Minobu — ou seja, numa época em que era muito difícil se encontrar pessoal­mente com eles.

As cartas de Daishonin são uma expressão de sua imensa compaixão; elas transbordam de preocupação e sensibilidade em relação ao sentimento de seus discípulos, que enfrentavam severas perseguições, choravam a perda de pessoas amadas ou amargavam o fardo dos sofrimentos da vida. Precisamente por serem repletas de reciprocidade, de mensagens que reconfortam o coração, num diálogo de vida a vida com seus discípulos, transcendem o tempo e têm o poder de emocionar quem as lê até hoje.

Nichiren Daishonin escreveu Carta de Sado durante o exílio, num período em que sua própria vida estava ameaçada. Em decorrência da escassez de papel, ele registrou seus pensamentos e sentimento numa única carta a ser compartilhada com todos os seus discípulos.

Reunindo-se em pequenos grupos para ler ou ouvir o conteú­do dessa carta na época de perseguições atrozes, eles devem ter se sentido profundamente comovidos pela calorosa preocupação e pelo carinho demonstrado por Daishonin. Ao entrarem em contato com esse estado de vida elevado e esse espírito de lutar pelo kosen-rufu totalmente pronto a enfrentar qualquer perseguição, os discípulos devem ter se imbuído de coragem indomável. Posso imaginá-los, depois de ouvirem a carta, firmando juntos o juramento de se manterem firmes na fé, encorajando-se uns aos outros e dando partida com nova decisão.

Nós também podemos experimentar essa mesma comunicação entre mestre e discípulo atual­mente.

É fundamental lermos os escritos de Nichiren Daishonin com o espírito de que foram endereçados pessoalmente a cada um de nós, de que ele está falando diretamente conosco.

Perseverar no estudo do budismo em meio às adversidades

No exemplar pessoal do Gosho de Makiguchi, muitos trechos de Abertura dos Olhos estão sublinhados em vermelho, e as margens, repletas de anotações tais como “Qual a característica de um genuíno praticante?”, “Shakubuku” e “Grande juramento”, refletindo seu solene espírito de buscar o correto caminho da prática budista.

Ele afirmou certa vez: “Não consigo ler os escritos de Nichiren Daishonin sem me emocionar às lágrimas diante de sua imensa compaixão”. Como sugerem as palavras de Makiguchi sensei, o ponto essencial da leitura dos escritos de Nichiren Daishonin consiste em entrar em contato com o espírito do Buda.

Descrevendo a emoção ao ler a passagem de Abertura dos Olhos e entrar em contato com a força da paixão e a energia vital de Daishonin, Toda sensei em certa ocasião escreveu:

O espírito ardente dele atinge meu coração com a intensidade do sol do meio-dia. Meu peito parece tomado por uma bola gigante de ferro fundido. Por vezes, sinto-me como se uma fonte escaldante jorrasse dentro de mim ou como se uma cachoeira colossal, capaz de sacudir a terra, estivesse despencando sobre mim.5

Recordo-me de que, na juventude, durante o período em que me esforcei de corpo e alma para auxiliar Toda sensei em meio a grandes adversidades, li os escritos de Nichiren Daishonin todos os dias, por mais cansado que eu estivesse.

No meu diário daquela época, expressei minha alegria ao ler o Gosho: “Onde os jovens de sensibilidade podem encontrar as respostas? Quando leio o Gosho estremeço de emoção. O budismo expõe a origem e a essência de tudo, proporciona a verdadeira felicidade”.6

Makiguchi sensei orientou: “Não deve tentar entender o budismo com a mente. Você passa a compreendê-lo com a fé”. Ou seja, ainda que possamos considerar os ensinamentos do budismo difíceis de entender, com sincero desejo e empenho para aprofundar nossa compreensão no decorrer de nossos esforços em prol do kosen-rufu, conseguiremos elevar nosso estado de vida.

Lendo o Gosho todos os dias, mesmo que apenas uma sentença ou um breve trecho, podemos fazer nossa vida resplandecer intensamente.

Leiam o Gosho ao se depararem com um impasse

Quando estamos mergulhados nas profundezas do desespero, ler o Gosho faz o sol da esperança nascer em nosso coração. Ao nos depararmos com um impasse, isso nos ajuda a reunir o espírito destemido de um leão. E quando a doença nos aflige, ler o Gosho faz nossa vida se encher de revigorante vitalidade.

Nos primórdios da nossa organização, os associados sempre levavam consigo o Gosho nas atividades de shakubuku, orientação individual e outros esforços voltados para o kosen-rufu. Antes ou após o gongyo nas reuniões, eles também liam em voz alta trechos dos escritos de Nichiren Daishonin.

Os exemplares que estavam sempre com eles nos bons e maus momentos ficavam gastos e esfarrapados de tanto uso e cheios de trechos sublinhados e anotações. Os membros venciam cada dia lendo o Gosho e entrando em contato com o espírito de Daishonin.

Gravar os escritos de Nichiren Daishonin no coração, ativar a condição de vida invencível do estado de buda e avançar rumo à concretização do grande juramento pelo kosen-rufu ao mesmo tempo que luta para transformar o carma é o caminho do estudo do budismo que conduz diretamente a uma vida de felicidade e vitória.

Tingir a vida com o estado de buda

Trecho do escrito —O INFERNO É A TERRA DA LUZ TRANQUILA

Aquele que, ao ouvir os ensinamentos do Sutra do Lótus, fortalece ainda mais a própria fé possui o verdadeiro espírito de buscar o caminho. Tiantai afirma: “Do índigo, um azul ainda mais forte”. Essa passagem indica que ao mergulhar algo repetidas vezes na tintura de índigo, o resultado será um azul mais intenso que o das próprias folhas da planta. O Sutra do Lótus é como o índigo, e o poder da fé de uma pessoa é como o azul que se torna cada vez mais intenso. (CEND, v. I, p. 478)

Essa passagem de O Inferno é a Terra da Luz Tranquila, carta endereçada à monja leiga de Ueno [a mãe de Nanjo Tokimitsu], que apesar de ainda estar de luto pela morte do marido se esforçava ardua­mente para criar os filhos sozinha.

Na carta, Daishonin se solidariza com sua dor e a encoraja calorosamente, orando para que supere a tristeza e alcance a felicidade. A monja leiga de Ueno havia se empenhado na prática budista com uma fé pura e constante. Entretanto, com o falecimento do marido, que a deixara sozinha para cuidar da família, ela às vezes devia se sentir tomada pelo desespero.

Nichiren Daishonin explica a ela o ensinamento budista sobre a iluminação da filha do rei dragão,7 que no Sutra do Lótus atinge o estado de buda na forma que se apresenta.8 Ao fazê-lo, ele infunde no coração dela a luz da esperança de que ela poderia se tornar feliz infalivelmente.

Para atingir o estado de buda na forma que se apresenta, a pessoa deve dissipar a escuridão ou ignorância fundamental9 que encobre o potencial para o estado de buda. O fator fundamental para isso é “fortalecer ainda mais a própria fé” (cf. CEND, v. I, p. 478).

A luta entre o buda e as funções demoníacas dentro da nossa própria vida não é fácil de vencer. Para suplantarmos as funções demoníacas, precisamos empreen­der esforços incessantes para recitar Nam-myoho-renge-kyo, ensinar outros a fazer o mesmo e fortalecer e aprofundar nossa fé.

Nessa carta, Nichiren Daishonin emprega a metáfora do “azul mais intenso que o das próprias folhas da planta (índigo)”10 para descrever o processo para se aprofundar a fé.

O esforço e o empenho na prática budista, dia após dia, para concretizarmos nossos desejos e objetivos fortalecem nossas orações e aprofundam nossa fé. Ler o Gosho produz o mesmo efeito. Ao lermos o Gosho repetidas vezes em meio a nossas lutas, gravamos na vida as ações corajosas e justas de Daishonin, sua infinita compaixão pelos discípulos e, acima de tudo, seu ardente compromisso com a propagação da Lei Mística. Desse modo, fazemos o estado de buda impregnar ou “tingir” nossa vida. Como Daishonin nos assegura na outra carta A Neve e a Laca, “Aqueles que se imbuem do Sutra do Lótus [Nam-myoho-renge-kyo] invariavelmente se tornam budas” (WND, v. II, p. 675).

Ao perseverarmos na prática budista, buscando nos aproximar do estado de vida de Daishonin e aprofundar a convicção de que somos bodisatvas da terra e a expressão da Lei Mística, alcançaremos uma condição de felicidade absoluta na qual estar vivo constitui em si a maior alegria.

Extrair benefícios inesgotáveis do Gohonzon com o poder da fé

Quando Toda sensei estava reconstruindo a Soka Gakkai após a Segunda Guerra Mundial, ele dizia com frequência que “a razão que levou os outros líderes centrais a abandonar a organização ao serem presos pelas autoridades militaristas da época da guerra foi o fato de eles carecerem da base do estudo do budismo”.

Depois da guerra, ele se devotou de corpo e alma para promover o estudo do Budismo Nichiren, com o intuito de desenvolver discípulos que se mantivessem intrépidos diante de qualquer perseguição ou oposição.

Dirigindo-se aos membros que não viam necessidade de estudar o budismo, Toda sensei declarou:

Soube que alguns de vocês afirmam: “Contanto que eu consiga receber benefícios, estou satisfeito; não ligo para o estudo do budismo”. Isso é um absurdo. O estudo do budismo fortalece e amplia nossa fé, o que gera benefícios.

O Budismo de Nichiren Daishonin expõe os “quatro poderes” [o poder do Buda, o poder a Lei, o poder da fé e o poder da prática].11 O poder do Buda e o poder da Lei aumentam de modo proporcional a força do poder da fé do poder da prática. Portanto, ativar os poderes do Buda e da Lei em sua vida depende dos poderes da fé e da prática de vocês. Por conseguinte, para evidenciar os poderes do Buda e da Lei em sua vida, é necessário ativar seus poderes da fé e da prática. Os dois últimos se fundem para se tornarem os poderes do Buda e da Lei, resultando em benefícios que desafiam a compreensão, parecendo até milagrosos.12

O poder da fé nos habilita a extrair livremente os benefícios grandiosos e inexauríveis do Gohonzon; e o estudo do budismo é o meio pelo qual fortalecemos nosso poder da fé.

Aprofundando nossa compreen­são sobre o Budismo de Nichiren Daishonin transformamos questionamentos e dúvidas em clareza, o que intensifica nossas orações. Quando realmente apreciarmos como é maravilhoso este budismo, nossas orações serão repletas de gratidão. Quando possuirmos a convicção inabalável de que nossos­ desejos serão realizados, nossas orações transbordarão alegria.

Ao fortalecermos nossa fé com o estudo do budismo, nossas orações serão repletas de gratidão e alegria, habilitando-nos a extrair, livre e poderosamente os benefícios do Gohonzon.

Ter espírito de procura é o caminho direto para a felicidade e a vitória

Nas palestras para todos os membros proferidas no Auditório Municipal de Toshima, em Ikebukuro, Tóquio, Japão, Toda sensei costumava dizer: “Suponhamos que o benefício que conquistei seja comparável ao tamanho desta sala. Então, o benefício que vocês obtiveram não são nem do tamanho do meu dedo mínimo”.

Ele queria que os membros da Soka Gakkai experimentassem plenamente os infinitos benefícios do Gohonzon. Seu desejo mais sincero era que cada pessoa, sem exceção, se tornasse feliz. Como seu discípulo, compartilhando seu espírito e compromisso, venho fazendo explanações imbuído desse mesmo intento.

Ter espírito de procura é crucial para o estudo do budismo. Ser uma pessoa dotada de uma fé forte e admirável não se resume simplesmente a possuir alto grau de conhecimento sobre o budismo. Antes, consiste em empreender ações para lutar com seriedade em prol do kosen-rufu, sempre em sintonia com o espírito de Daishonin.

Não há meta final no caminho do estudo. Quanto mais estudamos, mais aprofundamos não só nosso conhecimento, mas também nossa fé e prática. Ao perseverarmos sinceramente na fé, sempre avançando e nos aprimorando, desfrutaremos uma condição de vida de infinita liberdade como pessoas que possuem “o verdadeiro espírito de buscar o caminho” (CEND, v. I, p. 478).

Este também é o propósito das nossas reuniões na Soka Gakkai. Quando lidamos com problemas e dificuldades, algumas vezes nosso coração parece pesado e relutamos em participar das atividades da Soka Gakkai. Entretanto, é exatamente nessas horas que nossa vida ganha uma nova energia ao fazermos um esforço para comparecer a esses encontros de budas, estudar os ensinamentos de Nichiren Daishonin e ouvir as experiências de outras pessoas sobre a prática do Budismo de Nichiren Daishonin. Esse é o caminho para aprimorarmos nossa fé, expandirmos nosso estado de vida e darmos uma nova partida com o coração leve e vigor renovado.

O Gosho expandido por todo o mundo

Trecho do escrito — O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos

Empenhe-se nos dois caminhos da prática e do estudo. Sem prática e estudo não pode haver budismo. Deve não só perseverar como também ensinar aos outros. Tanto a prática como o estudo surgem da fé. Empregue o máximo de sua capacidade ao ensinar os outros, mesmo que seja uma única sentença ou frase. (CEND, v. I, p. 405-406)13

Esse é um trecho de O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos que todos nós, como praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin, devemos gravar no coração.

Em seu exemplar pessoal do Gosho, Makiguchi sensei marcou com destaque especial a página contendo a passagem sobre “dois caminhos da prática e do estudo”. Toda sensei também citou esse trecho no prefácio de Nichiren Daishonin Gosho Zenshu (Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin) editado pela Soka Gakkai, e anotou:

Desde que foi fundada por nosso primeiro presidente, Tsunesaburo Makiguchi, a Soka Gakkai segue a postura de prezar e respeitar as palavras de Nichiren Daishonin, e perseverando “nos dois caminhos da prática e do estudo” com base na fé pura e sólida, vem se empenhando com toda a energia no shakubuku para propagar a Lei Mística exatamente como o Buda ensina. Esse treinamento rigoroso, comparável ao de um mestre espadachim, tornou-se a tradição e marca registrada ostentada com orgulho pela Soka Gakkai.

A Soka Gakkai mantém vivo o espírito solene e sublime de Nichiren Daishonin avançando firmemente com base “nos dois caminhos da prática e do estudo”. Toda sensei conclui seu prefácio afirmando: “Meu infinito e eterno desejo e oração é que este escrito precioso e inigualável [o Gosho] seja difundido por toda a Ásia e pelo mundo inteiro”.

Hoje o Gosho já foi traduzido em mais de dez idiomas e está sendo estudado pelos membros da SGI em 192 países e territórios. O fato de ter transmitido os escritos de Nichiren Daishonin a todos os cantos do planeta constitui uma prova clara de que a SGI está tornando realidade a propagação mundial do Budismo Nichiren. Que imensa alegria Toda sensei deve estar sentindo ao observar isto!

Mesmo que se fale em tradução, costumes e contexto cultural são diferentes em cada lugar. A tradução do Gosho é uma tarefa extremamente desafiadora. Esse trabalho está sendo efetuado mediante esforços dos Kumarajivas14 da era moderna espalhados pelo mundo. Eles se dedicam a traduzir os escritos de Nichiren Daishonin em prol do kosen-rufu mundial e do futuro da humanidade. Para tanto, buscam aprofundar de forma incansável sua compreensão sobre o espírito de Daishonin e oram com fervor para que consigam transmitir fielmente a mensagem dele aos outros. Gostaria de estender meu sincero agradecimento a eles pelos nobres e dedicados esforços para abrir as portas do kosen-rufu mundial.

O Gosho é uma obra repleta de ensinamentos de esperança, ofertados por Daishonin a toda a humanidade. Nele estão contidos sua transbordante compaixão, o grande desejo de conduzir todas as pessoas à iluminação, e seu rugido de leão em defesa da verdade e da justiça. O Gosho possui uma força ilimitada para inspirar, encorajar e revitalizar a vida das pessoas.

Prática e estudo são a alma do budismo

Daishonin aponta: “Sem prática e estudo não pode haver budismo” (CEND, v. I, p. 405). Praticar, estudar e incentivar outros a se empenhar também são o coração do budismo.

No Budismo de Nichiren Daishonin, não basta praticarmos somente para nossa própria felicidade. Não é possível que haja um buda egoísta que se satisfaça com sua iluminação pessoal e não dê a mínima para mais ninguém. A sabedoria do buda existe para conduzir todas as pessoas à felicidade.

Os esforços na prática e no estudo efetuados por Makiguchi sensei e por Toda sensei durante o período em que estiveram presos comprovam de forma clara que a Soka Gakkai está ligada diretamente a Nichiren Daishonin. A Soka Gakkai é uma organização dedicada eternamente ao estudo do budismo convertido em ação, assim como ensina a passagem acima.

Uma filosofia para transformar a vida

Nichiren Daishonin escreveu: “Tanto a prática como o estudo surgem da fé. Empregue o máximo de sua capacidade ao ensinar os outros, mesmo que seja uma única sentença ou frase” (CEND, v. I, p. 406). A fé se expressa em esforços concretos na prática e no estudo.

“O máximo de sua capacidade” refere-se a se empenhar ao máximo. Não há necessidade alguma de se sentir hesitante ao falar aos outros sobre o budismo por não ser muito hábil no estudo do budismo. Você pode, por exemplo, simplesmente citar alguma frase do Gosho que considera comovente ou algo que aprendeu praticando. Ou pode explicar a alguém, mesmo que em breves palavras, que praticar o Budismo de Nichiren Daishonin é agradável e possibilitará que seus desejos se tornem realidade.

Toda sensei declarou:

O estudo do budismo na Soka Gakkai implica ler o Gosho com nossos pensamentos, palavras e ações.15 Como menciona Daishonin: “A voz executa o trabalho do Buda” (OTT, p. 4). Falem aos outros, livremente e sem hesitação, sobre o que aprenderam com o Budismo de Nichiren Daishonin. Agindo assim, com o tempo isto se tornará parte de sua vida.

Ele também afirmou: “O simples fato de assistir a explanações do Gosho ou ler os escritos de Daishonin e alegar que compreende os ensinamentos ainda pertence ao plano teórico; o essencial é se empenhar na fé e na prática de acordo com esses ensinamentos”. Salientou-nos ainda que transformar efetivamente nossa vida é mais importante do que ficar prezo ao conhecimento.

O estudo alicerçado no espírito de mestre e discípulo é tradição da Soka Gakkai. É o estudo da vitória para superar as dificuldades aprendendo o exemplo da conduta de Daishonin e reunindo a coragem do rei leão. Significa estudar para aprofundar a fé.

Fazer shakubuku e kosen-rufu com base no estudo é compartilhar com as pessoas sobre a inspiração e a alegria que aprendemos e sentimos ao estudar os ensinamentos de Daishonin.

Estudo é para a transformação interior e a revolução humana, que resultam do fato de entrar em contato com o espírito de Daishonin e da convicção que nós somos a entidade da Lei Mística.

A prática e o estudo surgem da fé, e a fé se aprofunda ao se perseverar “nos dois caminhos da prática e do estudo”. Esse é o ritmo da revolução humana e do kosen-rufu.

Um “eixo indestrutível”

Na passagem imediatamente anterior à que menciona os “dois caminhos da prática e do estudo”, Nichiren Daishonin declara: “Creia no Gohonzon, o supremo objeto de devoção de todo o Jambudvipa [o mundo inteiro]” (CEND, v. I, p. 405). Isso se refere ao Gohonzon do Nam-myoho-renge-kyo inscrito por Daishonin para habilitar todas as pessoas a atingir o estado de buda. Fazendo da fé absoluta no Gohonzon sua força propulsora, a Soka Gakkai vem trabalhando para concretizar o kosen-rufu mundial.

O Joju Gohonzon da Soka Gakkai,16 consagrado no Auditório do Grande Juramento pelo Kosen-rufu Mundial em Shinanomachi, Tóquio, é o Gohonzon que Toda sensei solicitou para estabelecer como um “eixo indestrutível” para o avanço do movimento da Soka Gakkai, logo após anunciar seu objetivo de alcançar 750 mil famílias (em maio de 1951).

A Soka Gakkai iniciou assim um avanço determinante, ligado diretamente a Nichiren Daishonin, rumo ao kosen-rufu mundial alicerçado nas “duas rodas” — prática e estudo — unidas pela fé absoluta nesse grandioso “eixo indestrutível”.

Como organização que cumpre o desejo do Buda, a Soka Gakkai alcançará infalivelmente o “kosen-rufu da propagação compassiva da grande Lei”, que constitui o grande juramento e desejo de Nichiren Daishonin! De acordo com esse juramento, concretizamos, durante a existência de Toda sensei, o objetivo de 750 mil famílias, e partir de então, nesse período em que venho me devotando como seu discípulo, propagamos a Lei Mística para 192 países e territórios.

Nada pode deter o avanço do nosso movimento Soka, que se baseia na “fé, prática e estudo”, e é permeado por esse sublime juramento de mestre e discípulo.

Abram o portal da felicidade da humanidade!

O Budismo de Nichiren Daishonin se concentra no presente e no futuro.

A fé, a prática e o estudo são diretrizes fundamentais para expandirmos amplamente nosso estado de vida. São a promissora fórmula para moldarmos nosso próprio destino e construirmos um caminho de felicidade eterna.

O compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770–1827) suportou a perda da audição e rompeu as limitações impostas por esse destino doloroso, ofertando alegria para a humanidade. Consta que “ele [frequentemente] fazia alusão ao dever a ele imposto de agir por meio de sua arte ‘para que a pobre humanidade, para a humanidade que virá, recupere a coragem e se livre de sua lassidão e covardia’”.17

Nosso destino é viver com o orgulho de sermos membros da Soka Gakkai e cumprirmos nossa missão como bodisatvas da terra; é dedicarmos a vida ao kosen-rufu: a edificação da felicidade de toda a raça humana.

Com incessantes esforços na fé, na prática e no estudo, vamos romper os grilhões do carma que nos prendem!

Com a vibrante energia da fé, da prática e do estudo, propaguemos felicidade ao mundo todo e elevemos o estado de vida das pessoas!

Com os áureos fundamentos da fé, da prática e do estudo, vamos abrir com ainda mais ímpeto as portas da vitória e da prosperidade do nosso movimento Soka para toda eternidade!

Publicado em novembro de 2016 na revista Daibyakurenge.
Notas:

1. Traduzido do japonês. MAKIGUCHI, Tsunesaburo. Makiguchi Tsunesaburo Zenshu [Coletânea de Obras de Tsunesaburo Makiguchi]. Tóquio: Daisanbunmei-sha, v. 10, p. 278, 1987.

2. Ibidem, p. 276.

3. Ibidem, p. 282.

4. Redigida em 20 de março de 1272, em Tsukahara, Ilha de Sado, essa carta foi endereçada a todos os discípulos de Nichiren Daishonin. Nela, Daishonin procura dissipar quaisquer dúvidas que eventualmente possam ter em virtude da Perseguição de Tatsunokuchi e do subsequente exílio à Ilha de Sado, e lhes oferecer orientações e incentivos.

5. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Coletânea de Obras de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 3, p. 179, 1983.

6. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015. p. 8.

7. Filha do rei dragão: Também conhecida como menina-dragão. A filha de 8 anos de Sagara, um dos oito grandes reis dragões que, segundo a crença, habitavam um palácio no fundo do mar. De acordo com o capítulo “Devadatta” (12º) do Sutra do Lótus, a menina-dragão manifestou o desejo de atingir a iluminação após ouvir o bodisatva Manjushri pregar esse sutra no palácio do rei dragão. Mais tarde, quando ela se apresentou diante da assembleia do Sutra do Lótus, e jurou: “Revelo as doutrinas do grande veículo para resgatar os seres vivos do sofrimento” (LSOC, cap. 12, p. 227) [CEND, v. I, p. 158], atinge imediatamente o estado de buda na forma que se apresenta. A iluminação da menina-dragão é um modelo para a iluminação das mulheres e revela o poder do Sutra do Lótus para habilitar todas as pessoas, igualmente, a atingir o estado de buda exatamente como elas são [cf. CEND, v. I, p. 934].

8. Atingir o estado de buda na forma que se apresenta: Significa atingir o estado de buda nesta existência, assim como a pessoa é, sem ter de se submeter a infindáveis éons de prática budista.

9. Escuridão ou ignorância fundamental: Ilusão inerente à vida mais profundamente arraigada, que dá origem a todas as demais ilusões. Incapacidade de ver ou reconhecer a verdade, em especial a verdadeira natureza da vida.

10. A analogia “azul mais intenso que o das próprias folhas da planta (do índigo)” deriva de um texto do filósofo chinês Hsun Tzu. O sumo extraído da planta índigo é usada como tinta. Embora o sumo da planta não tenha uma coloração tão intensa, mergulhando-se o tecido nele, ao se repetir o tingimento, produz-se um tom muito mais escuro. Desse modo, a analogia refere-se a aprofundar o conhecimento por meio do estudo.

11. Os “quatro poderes”: O poder do Buda, o poder da Lei, o poder da fé e o poder da prática. No Budismo de Nichiren Daishonin, os “quatro poderes” são conhecidos como os “quatro poderes da Lei Mística”, cuja interação permite que a pessoa tenha suas orações respondidas e atinja o estado de buda. O poder do Buda representa a compaixão do Buda de salvar a todos. O poder da Lei indica a ilimitada capacidade da Lei Mística de conduzir as pessoas à iluminação. O poder da fé consiste em acreditar no Gohonzon, o objeto de devoção que incorpora o poder do Buda e o poder da Lei, e o poder da prática significa recitar Nam-myoho-renge-kyo e ensinar outros a fazer o mesmo. Na medida em que a pessoa evidenciar os poderes da fé e da prática, manifestará os poderes do Buda e da Lei em sua própria vida.

12. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Coletânea de Obras de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 4, p. 42, 1989.

13. Redigido em maio de 1273, o escrito O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos foi endereçado ao sacerdote discípulo de Nichiren Daishonin, Sairen-bo. Respondendo à pergunta dele sobre “o verdadeiro aspecto de todos os fenômenos”, Daishonin expôs um dos ensinamentos mais profundos do budismo. Ele declarou que todos os seus discípulos que possuíam a mesma mente que ele eram bodisatvas da terra, e reiterou sua convicção de que o kosen-rufu seria alcançado infalivelmente.

14. Kumarajiva (344–413): Tradutor do Sutra do Lótus para o chinês.

15. Referem-se às “três categorias de ação”; também conhecidas como “três tipos de ação”. Atividades efetuadas com nossa mente, boca e corpo, ou seja, por meio de pensamentos, palavras e ações. O budismo sustenta que o carma — tanto o bom como o mau — é criado por meio desses três tipos de ação: mental, verbal ou física. Nesse contexto, “ação” é a tradução do termo sânscrito karman.

16. Gohonzon do “Grande Desejo pela Concretização do Kosen-rufu, a Propagação Benevolente da Grande Lei”, “a ser consagrado permanentemente na Soka Gakkai”. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Soka Gakkai no Rekishi to Kakushin [História e Convicção da Soka Gakkai]. In: Toda Josei Zenshu [Coletânea das Obras de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 3, p. 120-121, 1983.

17. ROLLAND, Romain. Beethoven. Tradução de B. Constance Hull. Londres: Kegan Paul, Trench, Trubner and Co., Ltd., 1919. p. 49.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Expalanção 7 - Resposta a um adepto

Budismo do Sol

Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda
Brasil Seikyo, Edição 2348, 19/11/2016, pág. B1-B3 / Encontro com o Mestre

Escrito 7 - Resposta a um Adepto

Prática da fé é a própria vida diária — vencer alegremente na sociedade

Se voltassem a me exilar, minha boa sorte seria cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior do que se meus ensinamentos fossem aceitos. Para mim, esse próximo exílio seria o terceiro. Se isso ocorresse, o Sutra do Lótus jamais poderia me acusar de ser um devoto negligente. Nesse caso, poderia herdar perfeitamente os benefícios de Shakyamuni, Muitos Tesouros, dos budas das dez direções e também dos incontáveis bodisatvas da terra. Que maravilhoso seria se isso ocorresse!

Seguirei o caminho do menino Montanhas de Neve e viverei como o bodisatva Jamais Desprezar. Em comparação com uma vida assim, quão deplorável e absurdo seria cair vítima de uma epidemia ou mesmo morrer de velhice! Prefiro mil vezes ser perseguido pelo soberano desta nação em benefício do Sutra do Lótus e, assim, libertar-me dos sofrimentos de nascimento e morte. Desse modo, eu poderia pôr à prova o juramento feito pela Deusa do Sol, pelo grande bodisatva Hachiman, pelas divindades do Sol e da Lua, por Shakra, Brahma e outros, na presença do Buda. Antes de tudo, eu os exortarei a proteger cada um dos senhores.

Se continuar vivendo do jeito que vive agora, não há dúvida de que estará praticando o Sutra do Lótus vinte e quatro horas por dia. Considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus. A isso se refere a frase: “Nenhum assunto secular, da vida ou do trabalho, difere de forma alguma da realidade fundamental”. (WND, v. I, p. 905)

Introdução

Ainda que nublado esteja o céu,
E embora soprem ventos pungentes,
O sol se levanta hoje também!
O jovem sol das 8 horas,
Encerrando vitalidade infinita,
Avança penetrando o céu azul.

Estes são os versos que abrem Ode à Juventude, um poema que compus em 5 de dezembro de 1970 em tributo aos membros da Divisão dos Jovens (DJ).

Como nos mantermos fiéis às nossas convicções em meio à turbulência que aflige a sociedade? Esse poema instiga os jovens a enfrentar bravamente os desafios que se encontram diante deles, a perseverar com força e tenacidade no caminho correto, a aplicar o budismo na sociedade e a pôr a fé em prática na vida cotidiana.

Foi isso que meu mestre, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, me ensinou. Ele afirmou: “O kosen-rufu é uma luta árdua empreendida no seio da sociedade. Quanto mais nosso movimento se arraigar na sociedade, obstáculos de todas as espécies surgirão para obstruir nosso progresso com uma intensidade cada vez maior. Esses obstáculos corroboram a validade dos ensinamentos de Daishonin, e não há absolutamente como escapar deles. Independentemente das dificuldades que possam surgir, não temos alternativa a não ser vencê-las”.

Desenvolver pessoas que prestem contribuições à sociedade

Quando a Soka Gakkai enfrentava uma avalanche de críticas e ataques na primavera de 1970,1 declarei: “Observe a Soka Gakkai e vejam como ela estará no século 21. A organização produzirá um número abundante de pessoas de notável talento e capacidade, que realizarão imensas contribuições à sociedade. Minha vitória se determinará nessa ocasião”.

E hoje, de forma incontestável, um número cada vez maior de jovens da SGI dedicados a efetuar préstimos positivos à sociedade e à humanidade está surgindo com total vigor e energia, e nossos jovens sucessores da Divisão dos Estudantes-Futuro estão se desenvolvendo de maneira esplêndida no mundo inteiro. Ingressamos na era em que o sol Soka está iluminando a sociedade de todos os cantos, por meio das contribuições dos membros como bons cidadãos do país onde vivem.

Nosso movimento em prol da paz, cultura e educação, fundamentado no budismo, conquistou ampla confiança por seu trabalho exemplar pelo bem da sociedade. O termo “Soka” hoje é sinônimo de “criação de seres humanos capazes e de dedicação em benefício da sociedade”.

Nichiren Daishonin incentivou reiteradamente seu discípulo Shijo Kingo, que lutava com os desafios de sua realidade, dizendo: “Que todos os habitantes... quando falarem do senhor, chamem-no [com louvor]...” (CEND, v. I, p. 336) e “Viva de modo que todos... [digam] louvando-o...” (WND, v. I, p. 851).2

Se cada associado da organização tomar a iniciativa e se tornar um exemplo radiante em sua comunidade e no local de trabalho, a confiança e o respeito em relação ao nosso movimento se ampliarão extensamente gerando mudanças drásticas que criarão um ambiente propício para o kosen-rufu.

Neste segmento, vamos estudar o escrito Resposta a um Adepto e aprender que a luz do Budismo do Sol de Daishonin brilha com máxima intensidade quando os praticantes se empenham ativamente pelo bem das pessoas com base nos princípios de aplicar o budismo na sociedade e de pôr a fé em prática na vida diária.

Trecho 1 do Gosho

Se voltassem a me exilar, minha boa sorte seria cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior do que se meus ensinamentos fossem aceitos. Para mim, esse próximo exílio seria o terceiro. Se isso ocorresse, o Sutra do Lótus jamais poderia me acusar de ser um devoto negligente. Nesse caso, poderia herdar perfeitamente os benefícios de Shakyamuni, Muitos Tesouros, dos budas das dez direções e também dos incontáveis bodisatvas da terra. Que maravilhoso seria se isso ocorresse!

Seguirei o caminho do menino Montanhas de Neve e viverei como o bodisatva Jamais Desprezar. Em comparação com uma vida assim, quão deplorável e absurdo seria cair vítima de uma epidemia ou mesmo morrer de velhice! Prefiro mil vezes ser perseguido pelo soberano desta nação em benefício do Sutra do Lótus e, assim, libertar-me dos sofrimentos de nascimento e morte. (WND, v. I, p. 905)

“Boa sorte cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior”

Nichiren Daishonin redigiu esta carta em 11 de abril de 1278, em sua residência no Monte Minobu.3 Como o título do escrito indica — Resposta a um Adepto —, o destinatário era um discípulo leigo de Daishonin. A identidade precisa da pessoa e as circunstâncias que envolvem a carta são desconhecidas. Contudo, com base no conteúdo e no fato de Daishonin empregar a frase “o serviço prestado a seu senhor feudal”, podemos presumir que a carta tenha sido endereçada a um samurai que ocupava uma posição que lhe facultava acesso a informações sobre as operações internas do governo militar.

A carta foi escrita pouco mais de quatro anos após Daishonin ter se mudado para o Monte Minobu (em maio de 1274), subsequentemente ao indulto do exílio em Sado e seu retorno a Kamakura (no fim de março de 1274). Apesar de os esforços para propagar seus ensinamentos tivessem êxito em muitas regiões do Japão, os discípulos de Daishonin também enfrentavam obstáculos e perseguições cada vez maiores.

Ao tomar conhecimento do teor da carta, seu recebedor aparentemente soubera da mobilização de forças malignas contra Nichiren Daishonin, e escrevera para alertá-lo de que poderia ser exilado pela terceira vez (o primeiro exílio foi em Izu4 e o segundo em Sado5). Em sua resposta, Daishonin escreve sobre tal possibilidade com muita placidez: “Minha boa sorte seria cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior do que se meus ensinamentos fossem aceitos” (WND, v. I, p. 905). Desse modo, ele declara que perseguições, por mais abjetas que possam ser, representam uma honra para aquele que defende o justo e verdadeiro.

“Não poderia desejar nada melhor!”. É possível imaginar claramente sua postura intrépida, sua disposição de encarar até mesmo a pior adversidade. Ele emite um poderoso rugido de leão, banindo definitivamente o medo e a covardia que poderiam facilmente corromper o estado de espírito e a decisão de seus discípulos, instilando neles uma convicção inabalável na fé.

Transformar perseguições em causa para o dinâmico progresso

Ao refletirmos sobre a vida de Daishonin, constatamos que cada perseguição possibilitou que abrisse novos caminhos, galgasse novo patamar e avançasse para a etapa seguinte de seus esforços para propagar seus ensinamentos.

No tratado Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra,6 ele expôs a causa fundamental da miséria do povo e revelou o caminho para a paz e felicidade perenes. Em decorrência disso, sofreu a Perseguição de Matsubagayatsu em 1260,7 o Exílio em Izu em 1261 e a Perseguição de Komatsubara em 1264.8 No entanto, essas perseguições serviram para demonstrar que ele era legítimo praticante e devoto do Sutra do Lótus, exatamente como o sutra descreve.

De modo semelhante, quando uma carta oficial chegou a Kamakura exigindo que o Japão se subordinasse ao império mongol e pagasse impostos, ameaçando um ataque militar, Daishonin enviou cartas ao governo e aos líderes religiosos solicitando um debate público9 — ação que resultou na Perseguição de Tatsunokuchi e no Exílio em Sado (de 1271 a 1274). Essas provações, porém, permitiram que ele abandonasse sua condição transitória e revelasse sua verdadeira identidade de Buda dos Últimos Dias da Lei, elucidando, por fim, o ensinamento das três grandes leis secretas,10 e assentasse firmemente os alicerces do kosen-rufu.

Grandes obstáculos surgem em virtude da oposição imposta pelas funções demoníacas com o intuito de obstruir a propagação do ensinamento correto. Enfrentar grandes dificuldades e contrariedades, portanto, constitui uma prova de que se está praticando o ensinamento correto; e ultrapassá-las acarreta um progresso dinâmico.

A mesma regra rege o desenvolvimento da Soka Gakkai, que vem mantendo fielmente os ensinamentos do Budismo de Nichiren Daishonin. A Soka Gakkai se expandiu, tornando-se uma organização religiosa de âmbito efetivamente mundial por ter se pronunciado destemidamente para esclarecer a verdade dos fatos, combatendo a calúnia e a difamação, subjugando assim as funções demoníacas que tentaram destruir o espírito e o legado de Daishonin.

Esse princípio também se aplica a nós como indivíduos. Podemos experimentar a fúria das tempestades do destino na vida. Quando isso acontecer, devemos desafiá-las bravamente, acatando-as como oportunidades para crescermos e conduzirmos uma existência mais profunda e realizada ou como adversidades a serem enfrentadas para que um dia ajudemos os que estiverem passando por problemas similares. Devemos fazer arder ainda mais intensamente a chama da fé em nosso coração.

O exemplo de nossa força inabalável diante desses obstáculos será uma fonte de coragem e inspiração para os membros e outras pessoas da comunidade. Além disso, a cada desafio para vencer obstáculos, nossa vida se expande drasticamente e o mundo ao redor se torna mais radiante e positivo.

Uma religião viva que conduz todas as pessoas à iluminação

Somente Daishonin enfrentou incalculáveis perseguições, exatamente como o sutra descreve, por propagar o Sutra do Lótus. Ele expressa [em Abertura dos Olhos]: “As adversidades e os obstáculos menores têm sido tantos que é impossível contá-los, mas as grandes perseguições se resumem em quatro. Dessas quatro, duas foram perpetradas pelos governantes da nação” (CEND, v. I, p. 250). Como demonstra a passagem, por duas vezes ele sofreu perseguições envolvendo exílio por ordem das autoridades dominantes que puseram sua vida em risco.

Essa é a razão que o leva a cogitar a possibilidade de um terceiro exílio. “Se isso ocorresse, o Sutra do Lótus jamais poderia me acusar de ser um devoto negligente. Nesse caso, poderia herdar perfeitamente os benefícios de Shakyamuni, Muitos Tesouros, dos budas das dez direções e também dos incontáveis bodisatvas da terra” (WND, v. I, p. 905).

As palavras dele são imbuídas de profunda convicção de que outro exílio representaria uma oportunidade ideal para provar que ele não era um “devoto negligente”, mas genuíno devoto do Sutra do Lótus, e de que as forças benevolentes do universo o protegeriam infalivelmente. Ao proclamar pela primeira vez seu ensinamento (em 1253), Daishonin iniciou uma luta solitária, munido do juramento inabalável de conduzir a humanidade à iluminação, totalmente pronto a enfrentar perseguições.

O budismo é uma religião viva dedicada à felicidade das pessoas. Uma religião que tenha abandonado esse compromisso é uma religião morta.

O Dr. Christopher Queen, professor de budismo da Escola de Extensão da Universidade Harvard (Extension School of Harvard University), afirmou: “O Buda respondeu à crise social e espiritual de sua época expressando-se com intrepidez, agindo de forma resoluta e criando valores na sociedade. Sem perspectiva de mudança social — materializadas em instituições novas e criativas como o Sangha [comunidade de praticantes] — a religião se torna alienada da vida das pessoas e entra num processo de 'morte espiritual'".11 Além disso, ele observou que Nichiren Daishonin, o manancial do pensamento e da prática da Soka Gakkai, empregou o poder das palavras para combater as autoridades políticas e religiosas de sua época, que tinham perdido de vista o empenho em prol da felicidade das pessoas.12

O propósito da vida

Nichiren Daishonin declara que persistirá em sua luta, assim como o menino Montanhas de Neve, que buscou avidamente os ensinamentos do budismo movido pelo esforço abnegado de auxiliar todos os seres vivos, e o bodisatva Jamais Desprezar, que perseverou na prática de respeitar e reverenciar todos que encontrava.

O menino Montanhas de Neve estava disposto a ofertar sua vida ao deus Shakra, que assumira a forma de um demônio, em troca de um ensinamento budista. Ele transmitiu esse ensinamento legando-o às gerações futuras e, numa existência posterior, tornou-se buda.

O bodisatva Jamais Desprezar também continuou seguindo o caminho do buda efetuando a prática de respeitar e reverenciar os outros, a despeito de ataques e perseguições, e renasceu como Shakyamuni numa existência futura.

Nossa vida é o tesouro mais precioso de todos, mais valioso que imensuráveis riquezas, capazes de cobrir o universo inteiro. Por isso o propósito ao qual consagramos a vida e o uso que fazemos dela têm tamanha importância.

Na época em que esta carta foi escrita, epidemias se disseminavam por todo o Japão e qualquer um poderia ser atingido por elas e morrer a qualquer momento. E mesmo que a pessoa conseguisse escapar das epidemias, sabemos que todos os que nascem estão destinados a morrer um dia. Que infelicidade seria, portanto, afirma Daishonin, deixar este mundo sem ter se dedicado ao propósito supremo da vida — trabalhar em prol da paz e felicidade de todos — ou cumprir sua missão e atingir o estado de buda.

Obviamente, ao expressar essa ideia, Daishonin não está fazendo pouco caso da vida. Dedicação abnegada significa prosseguir se devotando à Lei Mística — o propósito mais nobre ao qual podemos consagrar nossa vida —, que se reverterá em benefícios que não se restringirão apenas a esta existência, mas perdurarão por toda a eternidade.

Publicado em dezembro de 2015 na revista Daibyakurenge.

Notas

1. Trata-se de uma referência ao Incidente da Liberdade de Expressão, designação atribuída a uma controvérsia que surgiu em 1970, quando a Soka Gakkai tentou se defender de uma difamação. Para mais informações, consulte o capítulo “Vendaval” da Nova Revolução Humana, volume 14.

2. Em Desejos Mundanos São Iluminação, Daishonin escreve: “Evidencie o grande poder da fé para que todos os habitantes de Kamakura, de alta e de baixa posição social, e todo povo do Japão, quando falarem do senhor, chamem-no: ‘Shijo Kingo, Shijo Kingo da escola Lótus!’” (CEND, v. I, p. 336). E no escrito Os Três Tipos de Tesouros, ele expressa: “Viva de modo que todas as pessoas de Kamakura digam, louvando-o, que [Shijo Kingo] se dedica de forma diligente ao senhor feudal, ao budismo, e se preocupa com outras pessoas” (WND, v. I, p. 851).

3. Monte Minobu localiza-se na região atualmente denominada província de Yamanashi. Nichiren Daishonin viveu lá durante os últimos anos de sua vida, de maio de 1274 a setembro de 1282, período imediatamente anterior à sua morte. Lá, ele se devotou a instruir seus discípulos, coordenando os esforços de propagação e redigindo tratados doutrinais.

4. Exílio em Izu: Perseguição que resultou no exílio de Nichiren Daishonin em Ito, na província de Izu (parte da atual província de Shizuoka), de maio de 1261 a fevereiro de 1263. Quando Daishonin reapareceu em Kamakura na primavera de 1261 e retomou suas atividades de propagação, depois de curto período na província de Awa subsequentemente à Perseguição de Matsubagayatsu (consulte a nota 7 a seguir), o governo o prendeu e, sem investigação adequada, ordenou que fosse exilado em Ito na província de Izu. Depois de ficar exilado lá por dois anos, Daishonin recebeu indulto e voltou para Kamakura.

5. Exílio em Sado: Exílio de Nichiren Daishonin na ilha de Sado de outubro de 1271 a março de 1274. Quando o sacerdote Ryokan do templo Gokuraku-ji em Kamakura foi derrotado por Daishonin numa disputa de oração por chuva, espalhou falsos boatos a respeito de Daishonin, valendo-se de sua influência sobre as esposas e viúvas de importantes autoridades do governo. Daishonin então foi submetido a uma acareação com Hei no Saemon-no-jo, subchefe do Posto de Comando Militar, que o prendeu e realizou manobras para mandar executá-lo em Tatsunokuchi em setembro de 1271. Com o fracasso da tentativa de execução, as autoridades o sentenciaram, no mês seguinte, ao exílio na ilha de Sado, que equivalia a uma condenação à morte. Entretanto, quando as predições de Daishonin de invasão estrangeira e conflitos internos se concretizaram, o governo emitiu um indulto em março de 1274, e Daishonin retornou a Kamakura.

6. Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra: Tratado de advertência encaminhado por Nichiren Daishonin a Hojo Tokiyori — regente aposentado, que ainda continuava a ser uma figura mais poderosa do clã governante do Japão — no dia 16 de julho de 1260. No tratado, Daishonin prediz que, a menos que seguisse o ensinamento correto do Sutra do Lótus, o país sofreria num futuro breve, a calamidade do conflito dentro de seus domínios e a calamidade da invasão estrangeira — as duas únicas calamidades, dentre as “três calamidades e sete desastres”, que ainda não haviam assolado o Japão. Suas predições se materializaram quando a calamidade do conflito interno irrompeu na forma do Distúrbio de Fevereiro em 1272, e da calamidade da invasão estrangeira que sucedeu quando os mongóis atacaram o Japão em 1274, e, então, pela segunda vez, em 1281.

7. Perseguição de Matsubagayatsu: Atentado à vida de Daishonin, perpetrado pelos seguidores dos ensinamentos da Terra Pura (Nembutsu), em sua residência em Matsubagayatsu, Kamakura, Japão, em 1260.

8. Perseguição de Komatsubara: No dia 11 de novembro de 1264, Daishonin estava indo visitar um seguidor chamado Kudo, na província de Awa. Ao entardecer, ele e um grupo de seguidores sofreram emboscada armada pelo administrador Tojo Kagenobu, fervoroso adepto da Nembutsu, e seus homens num lugar chamado Matsubara, na vila de Tojo. Nichiren Daishonin sofreu um corte de espada na testa e fratura na mão esquerda; um de seus seguidores foi morto durante o incidente e outro faleceu posteriormente em decorrência dos ferimentos.

9. Em 1268, depois da chegada dos emissários mongóis e com a ameaça da invasão estrangeira assombrando o país, Daishonin redigiu onze cartas de admoestação, nas quais tentou esclarecer os erros das várias escolas budistas estabelecidas de sua época e clamou ao povo que abraçasse a fé no ensinamento correto do Sutra do Lótus. Entre os onze destinatários incluíam-se figuras centrais do governo e de influentes templos budistas.

10. Três grandes leis secretas: A recitação ou daimoku (de Nam-myoho-renge-kyo) do ensinamento essencial, o objeto de devoção (o Gohonzon), e o local de devoção (o santuário) [CEND, v. I p. 409].

11. Extraído de um artigo do Seikyo Shimbun, edição de 12 de agosto de 1994 (baseado no texto original do Dr. Queen em inglês).

12. Traduzido do japonês. Artigo do jornal Seikyo Shimbun, edição de 16 de setembro de 2012.




Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda
Brasil Seikyo, Edição 2349, 26/11/2016, pág. B1-B3 / Encontro com o Mestre

Resposta a um Adepto - Continuação do escrito 7


Trecho 2 do Gosho

Desse modo, eu poderia pôr à prova o juramento feito pela Deusa do Sol, pelo grande bodisatva Hachiman, pelas divindades do Sol e da Lua, por Shakra, Brahma e outros, na presença do Buda. Antes de tudo, eu os exortarei a proteger cada um dos senhores.

Se continuar vivendo do jeito que vive agora, não há dúvida de que estará praticando o Sutra do Lótus vinte e quatro horas por dia. Considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus. A isso se refere a frase: “Nenhum assunto secular, da vida ou do trabalho, difere de forma alguma da realidade fundamental”. (WND, v. I, p. 905)

A vida cotidiana é o palco de nossa prática

Por meio de seus próprios esforços incondicionais para propagar a Lei Mística, Nichiren Daishonin ensinou o caminho fundamental para se atingir o estado de buda nesta existência e “desfrutar paz e segurança na presente existência” (cf. LSO, cap. 5, p. 136).

Além disso, ele garante que está orando por seus discípulos, escrevendo: “Eu os exortarei [as divindades celestiais] a proteger cada um dos senhores" (WND, v. I, p. 905). Quão afortunados eram por possuir um mestre como esse!

Como observei anteriormente, o discípulo a quem esta carta se destina aparentemente ocupava uma posição que o permitia ter acesso a informações sobre a possibilidade de iminentes investidas contra Nichiren Daishonin. Talvez servisse algum alto oficial que estivesse planejando prejudicar Nichiren Daishonin.

Independentemente de quais fossem os detalhes precisos, podemos presumir que ele cumpria seus deveres diuturnamente com dedicação e integridade, apesar de se expor ao perigo constante pelo fato de ser discípulo de Daishonin.

Por essa razão, Nichiren Daishonin lhe disse: “Se continuar vivendo­ do jeito que vive agora, não há dúvida de que estará praticando o Sutra do Lótus vinte e quatro horas por dia” (Ibidem). Ele assegura ao destinatário que o empenho árduo no trabalho equivale a praticar o Sutra do Lótus dia e noite.

É vital que no cotidiano professemos a fé e apliquemos o budismo na sociedade. Além disso, o budismo consiste em vencer. Aqueles que se esforçam com total sinceridade na prática budista com certeza acabam, por fim, triunfando.

Devotem-se ao trabalho tal como ao Gohonzon

O Sr. Toda nos recomendou várias vezes que lêssemos Resposta a um Adepto não apenas com os olhos e a mente, mas com o nosso corpo; ou seja, que o puséssemos em prática na vida.

Quando jovem, trabalhei para Toda sensei, e ele me treinou com extremo rigor. Ele nunca permitiu que eu usasse as atividades da Soka Gakkai como desculpa para ser negligente no trabalho. Ensinou-se com severidade a atitude apropriada para um praticante do Budismo de Nichiren Daishonin, declarando: “Na fé, realize o trabalho de uma pessoa; no serviço, trabalhe por três”.

Gostaria de apresentar algumas orientações do Sr. Toda acerca da afirmação de Daishonin “considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus” (WND, v. I, p. 905):

“É um grande erro pressupor que simplesmente será bem-sucedido em virtude do benefício que receberá da prática budista sem se empenhar ainda com mais afinco do que qualquer outra pessoa no trabalho.”

***

“Não sentir alegria no trabalho é o mesmo que não sentir alegria na fé. Não importa quanto daimoku recite, não obterá êxito na sociedade.”

***

“Devem valorizar profundamente o seu trabalho, ponderando com afinco, e efetuem todos os esforço possíveis para serem bem-sucedidos nesse âmbito. No que se refere a vocês que trabalham em alguma empresa ou organização, é importante que agreguem um senso de satisfação àquilo que estiverem fazendo e continuem empreendendo esforços para se aprimorarem no trabalho, e tenham também a determinação de cumprir suas responsabilidades.”

***

“Como membros da Soka Gakkai, devem se devotar ao trabalho com a mesma consideração que teriam em relação ao Gohonzon, valorizando-o e respeitando-o profundamente. Aqueles que conseguem agir dessa forma estão procedendo de acordo com o intento de Nichiren Daishonin. Pode-se dizer que pessoas assim edificaram uma profunda fé.”

Obviamente, as circunstâncias que envolvem a vida profissional hoje diferem daquelas que remontam à década de 1950. Todavia, como praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin, a postura básica em relação à vida permanece inalterada — de fato, jamais deve mudar.

O caminho correto para se tornar buda

Durante a juventude, sempre dava o máximo de mim para conquistar a confiança dos outros onde quer que trabalhasse e independentemente de quais fossem minhas atribuições. Isso é algo de que me orgulho imensamente.

Depois do trecho “considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus” (WND, v. I, p. 905), Daishonin cita as palavras do grande mestre Tiantai1 esclarecendo o significado da passagem do Sutra do Lótus que elucida os benefícios desfrutados por aqueles que abraçam esse sutra: “Nenhum assunto secular, da vida ou do trabalho, difere de forma alguma da realidade fundamental” (Ibidem).

Nichiren Daishonin afirma também: “Todos os fenômenos são manifestações da Lei budista” (WND, v. II, p. 841) e “Sábio não é aquele que pratica o budismo isolado­ das questões mundanas, mas alguém que compreende integralmente os princípios pelos quais o mundo é governado” (WND, v. I, p. 1121). Ele quer dizer que os ideais do budismo são os mesmos dos propósitos corretos do governo e do comércio.

O bem-estar dos seres humanos deveria ser o desígnio do governo e dos negócios. A felicidade humana deve ser o propósito supremo e derradeiro de todas as atividades sociais.

A Lei Mística libera e extrai a coragem e a força interior de que cada pessoa necessita para construir tal felicidade. Todos possuem dentro de si a força infinita do Buda; a Lei Mística nos habilita a manifestá-la.

A fé na Lei Mística é a fonte fundamental de coragem, sabedoria e perseverança, imprescindíveis para se enfrentar os obstáculos da vida. Por essa razão, todas as nossas ações baseadas na fé, que são iluminadas pela Lei Mística, possibilitam que criemos valores que propiciem esperança e felicidade.

Espero que, independentemente de qual seja sua profissão ou ambiente de trabalho, você se esforce pelo bem-estar do próximo e pela melhoria da sociedade de um modo que é só seu, e conquiste o louvor das pessoas à sua volta por ser alguém positivo, digno de confiança e leal. Essa é a epítome da aplicação prática da fé na vida diária e do budismo na sociedade.

Desenvolvimento do kosen-rufu mundial

O Sr. Toda salientava a importância de se fincar firmemente as raízes da Lei Mística na sociedade, dizendo: “A religião é um princípio para a vida e deve existir no nosso dia a dia”.

Nos esforços que empreendemos em prol do kosen-rufu mundial, devemos nos lembrar sempre que língua, cultura e costumes diferem de um país para outro.

Em minha primeira viagem ao exterior há 56 anos (em 1960), propus três diretrizes para as mulheres japonesas que tinham se casado com americanos e estavam se empenhando como pioneiras do kosen-rufu nos Estados Unidos na época: (1) obter cidadania norte-americana e tornar-se cidadã exemplar do país; (2) obter carteira de habilitação para condução de veículos; e (3) dominar o idioma inglês.

À primeira vista, tais critérios talvez não pareçam ter relação com a fé e a prática budista, mas manter um modo de vida sólido e fincar raízes na comunidade constituem uma fórmula segura para se alcançar o kosen-rufu.

Hoje, no mundo todo, filhos, netos e membros que extraíram seu conhecimento por meio das lições ensinadas por aqueles pioneiros alcançaram um crescimento magnífico e atuam com toda a energia nas linhas de frente do kosen-rufu e da sociedade.

Aqueles membros dos primórdios da organização lutaram com máximo afinco tanto pela própria felicidade como pela felicidade das outras pessoas, recitando daimoku e propagando a Lei Mística — muitas vezes em meio a um contexto social de preconceito e incompreensão —, e a força deles é que abriu o caminho para a nova era do kosen-rufu mundial que presenciamos atualmente.

O filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883–1955), que atribuía máxima relevância à realidade da vida e investigou a verdadeira natureza da vida, escreveu: “A autêntica plenitude não consiste na satisfação, na posse, ou na chegada”.2 “Toda vida é luta, esforço para ser ela mesma. As dificuldades com as quais esbarro para realizar minha vida são, precisamente, as que despertam e instigam minhas ações, minhas habilidades”.3

Manifeste o “jovem sol das 8 horas”!

Recebo relatos diários sobre os bravos esforços de jovens do Japão e do mundo todo. A evidência do nosso progresso nesta nova era kosen-rufu mundial é mais clara a cada dia que passa.

Nosso vitorioso avanço não é obra de celebridade ou heróis, é façanha de um número incalculável de pessoas comuns e anônimas, algumas lutando contra doen­ças e outras, contra dolorosos obstáculos cármicos, dificuldades no trabalho ou para encontrar um novo emprego. Sei que muitos estão se engalfinhando com esses e outros problemas da vida no mundo real. São batalhas que eu também travei durante a juventude.

O importante é fazer o sol da Lei Mística se erguer poderosamente em seu próprio coração. Não culpe os outros nem o seu ambiente por seus problemas. Concentre-se em mudar a si mesmo. Ao fazer o sol da Lei Mística raiar em seu coração, poderá iluminar a sua vida com a radiância da infinita esperança e coragem, tão seguramente quanto os raios resplandecentes do astro-rei acabam conseguindo atravessar as nuvens mais escuras e ameaçadoras. A luz de sua revolução humana poderá iluminar a vida das outras pessoas, a comunidade, a sociedade, o mundo e até o nosso futuro.

Avancemos com energia, otimismo e alegria trilhando unicamente o caminho do sólido crescimento pessoal, com os versos de Ode à Juventude ecoando ardentemente em nosso coração!

O sol se levanta hoje também!
O jovem sol das 8 horas,
Ascende ao ritmo do
Vigoroso palpitar
do coração dos jovens!

Publicado em dezembro de 2015 na revista Daibyakurenge.

Notas

1. Tiantai (538–597): Também conhecido como grande mestre Tiantai ou Zhiyi. Fundador da escola Tiantai na China. Suas explanações foram compiladas em obras como Profundo Significado do Sutra do Lótus, Palavras e Frases do Sutra do Lótus e Grande Concentração e Discernimento. Ele propagou o Sutra do Lótus na China e estabeleceu a doutrina dos “três mil mundos num único momento da vida”.

2. ORTEGA y GASSET, José. The Revolt of the Masses [A Rebelião das Massas]. Nova York: W. W. Norton and Company, Inc., 1993. p. 32.


3. Ibidem, p. 99.