sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Expalanção 7 - Resposta a um adepto

Budismo do Sol

Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda
Brasil Seikyo, Edição 2348, 19/11/2016, pág. B1-B3 / Encontro com o Mestre

Escrito 7 - Resposta a um Adepto

Prática da fé é a própria vida diária — vencer alegremente na sociedade

Se voltassem a me exilar, minha boa sorte seria cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior do que se meus ensinamentos fossem aceitos. Para mim, esse próximo exílio seria o terceiro. Se isso ocorresse, o Sutra do Lótus jamais poderia me acusar de ser um devoto negligente. Nesse caso, poderia herdar perfeitamente os benefícios de Shakyamuni, Muitos Tesouros, dos budas das dez direções e também dos incontáveis bodisatvas da terra. Que maravilhoso seria se isso ocorresse!

Seguirei o caminho do menino Montanhas de Neve e viverei como o bodisatva Jamais Desprezar. Em comparação com uma vida assim, quão deplorável e absurdo seria cair vítima de uma epidemia ou mesmo morrer de velhice! Prefiro mil vezes ser perseguido pelo soberano desta nação em benefício do Sutra do Lótus e, assim, libertar-me dos sofrimentos de nascimento e morte. Desse modo, eu poderia pôr à prova o juramento feito pela Deusa do Sol, pelo grande bodisatva Hachiman, pelas divindades do Sol e da Lua, por Shakra, Brahma e outros, na presença do Buda. Antes de tudo, eu os exortarei a proteger cada um dos senhores.

Se continuar vivendo do jeito que vive agora, não há dúvida de que estará praticando o Sutra do Lótus vinte e quatro horas por dia. Considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus. A isso se refere a frase: “Nenhum assunto secular, da vida ou do trabalho, difere de forma alguma da realidade fundamental”. (WND, v. I, p. 905)

Introdução

Ainda que nublado esteja o céu,
E embora soprem ventos pungentes,
O sol se levanta hoje também!
O jovem sol das 8 horas,
Encerrando vitalidade infinita,
Avança penetrando o céu azul.

Estes são os versos que abrem Ode à Juventude, um poema que compus em 5 de dezembro de 1970 em tributo aos membros da Divisão dos Jovens (DJ).

Como nos mantermos fiéis às nossas convicções em meio à turbulência que aflige a sociedade? Esse poema instiga os jovens a enfrentar bravamente os desafios que se encontram diante deles, a perseverar com força e tenacidade no caminho correto, a aplicar o budismo na sociedade e a pôr a fé em prática na vida cotidiana.

Foi isso que meu mestre, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, me ensinou. Ele afirmou: “O kosen-rufu é uma luta árdua empreendida no seio da sociedade. Quanto mais nosso movimento se arraigar na sociedade, obstáculos de todas as espécies surgirão para obstruir nosso progresso com uma intensidade cada vez maior. Esses obstáculos corroboram a validade dos ensinamentos de Daishonin, e não há absolutamente como escapar deles. Independentemente das dificuldades que possam surgir, não temos alternativa a não ser vencê-las”.

Desenvolver pessoas que prestem contribuições à sociedade

Quando a Soka Gakkai enfrentava uma avalanche de críticas e ataques na primavera de 1970,1 declarei: “Observe a Soka Gakkai e vejam como ela estará no século 21. A organização produzirá um número abundante de pessoas de notável talento e capacidade, que realizarão imensas contribuições à sociedade. Minha vitória se determinará nessa ocasião”.

E hoje, de forma incontestável, um número cada vez maior de jovens da SGI dedicados a efetuar préstimos positivos à sociedade e à humanidade está surgindo com total vigor e energia, e nossos jovens sucessores da Divisão dos Estudantes-Futuro estão se desenvolvendo de maneira esplêndida no mundo inteiro. Ingressamos na era em que o sol Soka está iluminando a sociedade de todos os cantos, por meio das contribuições dos membros como bons cidadãos do país onde vivem.

Nosso movimento em prol da paz, cultura e educação, fundamentado no budismo, conquistou ampla confiança por seu trabalho exemplar pelo bem da sociedade. O termo “Soka” hoje é sinônimo de “criação de seres humanos capazes e de dedicação em benefício da sociedade”.

Nichiren Daishonin incentivou reiteradamente seu discípulo Shijo Kingo, que lutava com os desafios de sua realidade, dizendo: “Que todos os habitantes... quando falarem do senhor, chamem-no [com louvor]...” (CEND, v. I, p. 336) e “Viva de modo que todos... [digam] louvando-o...” (WND, v. I, p. 851).2

Se cada associado da organização tomar a iniciativa e se tornar um exemplo radiante em sua comunidade e no local de trabalho, a confiança e o respeito em relação ao nosso movimento se ampliarão extensamente gerando mudanças drásticas que criarão um ambiente propício para o kosen-rufu.

Neste segmento, vamos estudar o escrito Resposta a um Adepto e aprender que a luz do Budismo do Sol de Daishonin brilha com máxima intensidade quando os praticantes se empenham ativamente pelo bem das pessoas com base nos princípios de aplicar o budismo na sociedade e de pôr a fé em prática na vida diária.

Trecho 1 do Gosho

Se voltassem a me exilar, minha boa sorte seria cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior do que se meus ensinamentos fossem aceitos. Para mim, esse próximo exílio seria o terceiro. Se isso ocorresse, o Sutra do Lótus jamais poderia me acusar de ser um devoto negligente. Nesse caso, poderia herdar perfeitamente os benefícios de Shakyamuni, Muitos Tesouros, dos budas das dez direções e também dos incontáveis bodisatvas da terra. Que maravilhoso seria se isso ocorresse!

Seguirei o caminho do menino Montanhas de Neve e viverei como o bodisatva Jamais Desprezar. Em comparação com uma vida assim, quão deplorável e absurdo seria cair vítima de uma epidemia ou mesmo morrer de velhice! Prefiro mil vezes ser perseguido pelo soberano desta nação em benefício do Sutra do Lótus e, assim, libertar-me dos sofrimentos de nascimento e morte. (WND, v. I, p. 905)

“Boa sorte cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior”

Nichiren Daishonin redigiu esta carta em 11 de abril de 1278, em sua residência no Monte Minobu.3 Como o título do escrito indica — Resposta a um Adepto —, o destinatário era um discípulo leigo de Daishonin. A identidade precisa da pessoa e as circunstâncias que envolvem a carta são desconhecidas. Contudo, com base no conteúdo e no fato de Daishonin empregar a frase “o serviço prestado a seu senhor feudal”, podemos presumir que a carta tenha sido endereçada a um samurai que ocupava uma posição que lhe facultava acesso a informações sobre as operações internas do governo militar.

A carta foi escrita pouco mais de quatro anos após Daishonin ter se mudado para o Monte Minobu (em maio de 1274), subsequentemente ao indulto do exílio em Sado e seu retorno a Kamakura (no fim de março de 1274). Apesar de os esforços para propagar seus ensinamentos tivessem êxito em muitas regiões do Japão, os discípulos de Daishonin também enfrentavam obstáculos e perseguições cada vez maiores.

Ao tomar conhecimento do teor da carta, seu recebedor aparentemente soubera da mobilização de forças malignas contra Nichiren Daishonin, e escrevera para alertá-lo de que poderia ser exilado pela terceira vez (o primeiro exílio foi em Izu4 e o segundo em Sado5). Em sua resposta, Daishonin escreve sobre tal possibilidade com muita placidez: “Minha boa sorte seria cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior do que se meus ensinamentos fossem aceitos” (WND, v. I, p. 905). Desse modo, ele declara que perseguições, por mais abjetas que possam ser, representam uma honra para aquele que defende o justo e verdadeiro.

“Não poderia desejar nada melhor!”. É possível imaginar claramente sua postura intrépida, sua disposição de encarar até mesmo a pior adversidade. Ele emite um poderoso rugido de leão, banindo definitivamente o medo e a covardia que poderiam facilmente corromper o estado de espírito e a decisão de seus discípulos, instilando neles uma convicção inabalável na fé.

Transformar perseguições em causa para o dinâmico progresso

Ao refletirmos sobre a vida de Daishonin, constatamos que cada perseguição possibilitou que abrisse novos caminhos, galgasse novo patamar e avançasse para a etapa seguinte de seus esforços para propagar seus ensinamentos.

No tratado Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra,6 ele expôs a causa fundamental da miséria do povo e revelou o caminho para a paz e felicidade perenes. Em decorrência disso, sofreu a Perseguição de Matsubagayatsu em 1260,7 o Exílio em Izu em 1261 e a Perseguição de Komatsubara em 1264.8 No entanto, essas perseguições serviram para demonstrar que ele era legítimo praticante e devoto do Sutra do Lótus, exatamente como o sutra descreve.

De modo semelhante, quando uma carta oficial chegou a Kamakura exigindo que o Japão se subordinasse ao império mongol e pagasse impostos, ameaçando um ataque militar, Daishonin enviou cartas ao governo e aos líderes religiosos solicitando um debate público9 — ação que resultou na Perseguição de Tatsunokuchi e no Exílio em Sado (de 1271 a 1274). Essas provações, porém, permitiram que ele abandonasse sua condição transitória e revelasse sua verdadeira identidade de Buda dos Últimos Dias da Lei, elucidando, por fim, o ensinamento das três grandes leis secretas,10 e assentasse firmemente os alicerces do kosen-rufu.

Grandes obstáculos surgem em virtude da oposição imposta pelas funções demoníacas com o intuito de obstruir a propagação do ensinamento correto. Enfrentar grandes dificuldades e contrariedades, portanto, constitui uma prova de que se está praticando o ensinamento correto; e ultrapassá-las acarreta um progresso dinâmico.

A mesma regra rege o desenvolvimento da Soka Gakkai, que vem mantendo fielmente os ensinamentos do Budismo de Nichiren Daishonin. A Soka Gakkai se expandiu, tornando-se uma organização religiosa de âmbito efetivamente mundial por ter se pronunciado destemidamente para esclarecer a verdade dos fatos, combatendo a calúnia e a difamação, subjugando assim as funções demoníacas que tentaram destruir o espírito e o legado de Daishonin.

Esse princípio também se aplica a nós como indivíduos. Podemos experimentar a fúria das tempestades do destino na vida. Quando isso acontecer, devemos desafiá-las bravamente, acatando-as como oportunidades para crescermos e conduzirmos uma existência mais profunda e realizada ou como adversidades a serem enfrentadas para que um dia ajudemos os que estiverem passando por problemas similares. Devemos fazer arder ainda mais intensamente a chama da fé em nosso coração.

O exemplo de nossa força inabalável diante desses obstáculos será uma fonte de coragem e inspiração para os membros e outras pessoas da comunidade. Além disso, a cada desafio para vencer obstáculos, nossa vida se expande drasticamente e o mundo ao redor se torna mais radiante e positivo.

Uma religião viva que conduz todas as pessoas à iluminação

Somente Daishonin enfrentou incalculáveis perseguições, exatamente como o sutra descreve, por propagar o Sutra do Lótus. Ele expressa [em Abertura dos Olhos]: “As adversidades e os obstáculos menores têm sido tantos que é impossível contá-los, mas as grandes perseguições se resumem em quatro. Dessas quatro, duas foram perpetradas pelos governantes da nação” (CEND, v. I, p. 250). Como demonstra a passagem, por duas vezes ele sofreu perseguições envolvendo exílio por ordem das autoridades dominantes que puseram sua vida em risco.

Essa é a razão que o leva a cogitar a possibilidade de um terceiro exílio. “Se isso ocorresse, o Sutra do Lótus jamais poderia me acusar de ser um devoto negligente. Nesse caso, poderia herdar perfeitamente os benefícios de Shakyamuni, Muitos Tesouros, dos budas das dez direções e também dos incontáveis bodisatvas da terra” (WND, v. I, p. 905).

As palavras dele são imbuídas de profunda convicção de que outro exílio representaria uma oportunidade ideal para provar que ele não era um “devoto negligente”, mas genuíno devoto do Sutra do Lótus, e de que as forças benevolentes do universo o protegeriam infalivelmente. Ao proclamar pela primeira vez seu ensinamento (em 1253), Daishonin iniciou uma luta solitária, munido do juramento inabalável de conduzir a humanidade à iluminação, totalmente pronto a enfrentar perseguições.

O budismo é uma religião viva dedicada à felicidade das pessoas. Uma religião que tenha abandonado esse compromisso é uma religião morta.

O Dr. Christopher Queen, professor de budismo da Escola de Extensão da Universidade Harvard (Extension School of Harvard University), afirmou: “O Buda respondeu à crise social e espiritual de sua época expressando-se com intrepidez, agindo de forma resoluta e criando valores na sociedade. Sem perspectiva de mudança social — materializadas em instituições novas e criativas como o Sangha [comunidade de praticantes] — a religião se torna alienada da vida das pessoas e entra num processo de 'morte espiritual'".11 Além disso, ele observou que Nichiren Daishonin, o manancial do pensamento e da prática da Soka Gakkai, empregou o poder das palavras para combater as autoridades políticas e religiosas de sua época, que tinham perdido de vista o empenho em prol da felicidade das pessoas.12

O propósito da vida

Nichiren Daishonin declara que persistirá em sua luta, assim como o menino Montanhas de Neve, que buscou avidamente os ensinamentos do budismo movido pelo esforço abnegado de auxiliar todos os seres vivos, e o bodisatva Jamais Desprezar, que perseverou na prática de respeitar e reverenciar todos que encontrava.

O menino Montanhas de Neve estava disposto a ofertar sua vida ao deus Shakra, que assumira a forma de um demônio, em troca de um ensinamento budista. Ele transmitiu esse ensinamento legando-o às gerações futuras e, numa existência posterior, tornou-se buda.

O bodisatva Jamais Desprezar também continuou seguindo o caminho do buda efetuando a prática de respeitar e reverenciar os outros, a despeito de ataques e perseguições, e renasceu como Shakyamuni numa existência futura.

Nossa vida é o tesouro mais precioso de todos, mais valioso que imensuráveis riquezas, capazes de cobrir o universo inteiro. Por isso o propósito ao qual consagramos a vida e o uso que fazemos dela têm tamanha importância.

Na época em que esta carta foi escrita, epidemias se disseminavam por todo o Japão e qualquer um poderia ser atingido por elas e morrer a qualquer momento. E mesmo que a pessoa conseguisse escapar das epidemias, sabemos que todos os que nascem estão destinados a morrer um dia. Que infelicidade seria, portanto, afirma Daishonin, deixar este mundo sem ter se dedicado ao propósito supremo da vida — trabalhar em prol da paz e felicidade de todos — ou cumprir sua missão e atingir o estado de buda.

Obviamente, ao expressar essa ideia, Daishonin não está fazendo pouco caso da vida. Dedicação abnegada significa prosseguir se devotando à Lei Mística — o propósito mais nobre ao qual podemos consagrar nossa vida —, que se reverterá em benefícios que não se restringirão apenas a esta existência, mas perdurarão por toda a eternidade.

Publicado em dezembro de 2015 na revista Daibyakurenge.

Notas

1. Trata-se de uma referência ao Incidente da Liberdade de Expressão, designação atribuída a uma controvérsia que surgiu em 1970, quando a Soka Gakkai tentou se defender de uma difamação. Para mais informações, consulte o capítulo “Vendaval” da Nova Revolução Humana, volume 14.

2. Em Desejos Mundanos São Iluminação, Daishonin escreve: “Evidencie o grande poder da fé para que todos os habitantes de Kamakura, de alta e de baixa posição social, e todo povo do Japão, quando falarem do senhor, chamem-no: ‘Shijo Kingo, Shijo Kingo da escola Lótus!’” (CEND, v. I, p. 336). E no escrito Os Três Tipos de Tesouros, ele expressa: “Viva de modo que todas as pessoas de Kamakura digam, louvando-o, que [Shijo Kingo] se dedica de forma diligente ao senhor feudal, ao budismo, e se preocupa com outras pessoas” (WND, v. I, p. 851).

3. Monte Minobu localiza-se na região atualmente denominada província de Yamanashi. Nichiren Daishonin viveu lá durante os últimos anos de sua vida, de maio de 1274 a setembro de 1282, período imediatamente anterior à sua morte. Lá, ele se devotou a instruir seus discípulos, coordenando os esforços de propagação e redigindo tratados doutrinais.

4. Exílio em Izu: Perseguição que resultou no exílio de Nichiren Daishonin em Ito, na província de Izu (parte da atual província de Shizuoka), de maio de 1261 a fevereiro de 1263. Quando Daishonin reapareceu em Kamakura na primavera de 1261 e retomou suas atividades de propagação, depois de curto período na província de Awa subsequentemente à Perseguição de Matsubagayatsu (consulte a nota 7 a seguir), o governo o prendeu e, sem investigação adequada, ordenou que fosse exilado em Ito na província de Izu. Depois de ficar exilado lá por dois anos, Daishonin recebeu indulto e voltou para Kamakura.

5. Exílio em Sado: Exílio de Nichiren Daishonin na ilha de Sado de outubro de 1271 a março de 1274. Quando o sacerdote Ryokan do templo Gokuraku-ji em Kamakura foi derrotado por Daishonin numa disputa de oração por chuva, espalhou falsos boatos a respeito de Daishonin, valendo-se de sua influência sobre as esposas e viúvas de importantes autoridades do governo. Daishonin então foi submetido a uma acareação com Hei no Saemon-no-jo, subchefe do Posto de Comando Militar, que o prendeu e realizou manobras para mandar executá-lo em Tatsunokuchi em setembro de 1271. Com o fracasso da tentativa de execução, as autoridades o sentenciaram, no mês seguinte, ao exílio na ilha de Sado, que equivalia a uma condenação à morte. Entretanto, quando as predições de Daishonin de invasão estrangeira e conflitos internos se concretizaram, o governo emitiu um indulto em março de 1274, e Daishonin retornou a Kamakura.

6. Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra: Tratado de advertência encaminhado por Nichiren Daishonin a Hojo Tokiyori — regente aposentado, que ainda continuava a ser uma figura mais poderosa do clã governante do Japão — no dia 16 de julho de 1260. No tratado, Daishonin prediz que, a menos que seguisse o ensinamento correto do Sutra do Lótus, o país sofreria num futuro breve, a calamidade do conflito dentro de seus domínios e a calamidade da invasão estrangeira — as duas únicas calamidades, dentre as “três calamidades e sete desastres”, que ainda não haviam assolado o Japão. Suas predições se materializaram quando a calamidade do conflito interno irrompeu na forma do Distúrbio de Fevereiro em 1272, e da calamidade da invasão estrangeira que sucedeu quando os mongóis atacaram o Japão em 1274, e, então, pela segunda vez, em 1281.

7. Perseguição de Matsubagayatsu: Atentado à vida de Daishonin, perpetrado pelos seguidores dos ensinamentos da Terra Pura (Nembutsu), em sua residência em Matsubagayatsu, Kamakura, Japão, em 1260.

8. Perseguição de Komatsubara: No dia 11 de novembro de 1264, Daishonin estava indo visitar um seguidor chamado Kudo, na província de Awa. Ao entardecer, ele e um grupo de seguidores sofreram emboscada armada pelo administrador Tojo Kagenobu, fervoroso adepto da Nembutsu, e seus homens num lugar chamado Matsubara, na vila de Tojo. Nichiren Daishonin sofreu um corte de espada na testa e fratura na mão esquerda; um de seus seguidores foi morto durante o incidente e outro faleceu posteriormente em decorrência dos ferimentos.

9. Em 1268, depois da chegada dos emissários mongóis e com a ameaça da invasão estrangeira assombrando o país, Daishonin redigiu onze cartas de admoestação, nas quais tentou esclarecer os erros das várias escolas budistas estabelecidas de sua época e clamou ao povo que abraçasse a fé no ensinamento correto do Sutra do Lótus. Entre os onze destinatários incluíam-se figuras centrais do governo e de influentes templos budistas.

10. Três grandes leis secretas: A recitação ou daimoku (de Nam-myoho-renge-kyo) do ensinamento essencial, o objeto de devoção (o Gohonzon), e o local de devoção (o santuário) [CEND, v. I p. 409].

11. Extraído de um artigo do Seikyo Shimbun, edição de 12 de agosto de 1994 (baseado no texto original do Dr. Queen em inglês).

12. Traduzido do japonês. Artigo do jornal Seikyo Shimbun, edição de 16 de setembro de 2012.




Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda
Brasil Seikyo, Edição 2349, 26/11/2016, pág. B1-B3 / Encontro com o Mestre

Resposta a um Adepto - Continuação do escrito 7


Trecho 2 do Gosho

Desse modo, eu poderia pôr à prova o juramento feito pela Deusa do Sol, pelo grande bodisatva Hachiman, pelas divindades do Sol e da Lua, por Shakra, Brahma e outros, na presença do Buda. Antes de tudo, eu os exortarei a proteger cada um dos senhores.

Se continuar vivendo do jeito que vive agora, não há dúvida de que estará praticando o Sutra do Lótus vinte e quatro horas por dia. Considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus. A isso se refere a frase: “Nenhum assunto secular, da vida ou do trabalho, difere de forma alguma da realidade fundamental”. (WND, v. I, p. 905)

A vida cotidiana é o palco de nossa prática

Por meio de seus próprios esforços incondicionais para propagar a Lei Mística, Nichiren Daishonin ensinou o caminho fundamental para se atingir o estado de buda nesta existência e “desfrutar paz e segurança na presente existência” (cf. LSO, cap. 5, p. 136).

Além disso, ele garante que está orando por seus discípulos, escrevendo: “Eu os exortarei [as divindades celestiais] a proteger cada um dos senhores" (WND, v. I, p. 905). Quão afortunados eram por possuir um mestre como esse!

Como observei anteriormente, o discípulo a quem esta carta se destina aparentemente ocupava uma posição que o permitia ter acesso a informações sobre a possibilidade de iminentes investidas contra Nichiren Daishonin. Talvez servisse algum alto oficial que estivesse planejando prejudicar Nichiren Daishonin.

Independentemente de quais fossem os detalhes precisos, podemos presumir que ele cumpria seus deveres diuturnamente com dedicação e integridade, apesar de se expor ao perigo constante pelo fato de ser discípulo de Daishonin.

Por essa razão, Nichiren Daishonin lhe disse: “Se continuar vivendo­ do jeito que vive agora, não há dúvida de que estará praticando o Sutra do Lótus vinte e quatro horas por dia” (Ibidem). Ele assegura ao destinatário que o empenho árduo no trabalho equivale a praticar o Sutra do Lótus dia e noite.

É vital que no cotidiano professemos a fé e apliquemos o budismo na sociedade. Além disso, o budismo consiste em vencer. Aqueles que se esforçam com total sinceridade na prática budista com certeza acabam, por fim, triunfando.

Devotem-se ao trabalho tal como ao Gohonzon

O Sr. Toda nos recomendou várias vezes que lêssemos Resposta a um Adepto não apenas com os olhos e a mente, mas com o nosso corpo; ou seja, que o puséssemos em prática na vida.

Quando jovem, trabalhei para Toda sensei, e ele me treinou com extremo rigor. Ele nunca permitiu que eu usasse as atividades da Soka Gakkai como desculpa para ser negligente no trabalho. Ensinou-se com severidade a atitude apropriada para um praticante do Budismo de Nichiren Daishonin, declarando: “Na fé, realize o trabalho de uma pessoa; no serviço, trabalhe por três”.

Gostaria de apresentar algumas orientações do Sr. Toda acerca da afirmação de Daishonin “considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus” (WND, v. I, p. 905):

“É um grande erro pressupor que simplesmente será bem-sucedido em virtude do benefício que receberá da prática budista sem se empenhar ainda com mais afinco do que qualquer outra pessoa no trabalho.”

***

“Não sentir alegria no trabalho é o mesmo que não sentir alegria na fé. Não importa quanto daimoku recite, não obterá êxito na sociedade.”

***

“Devem valorizar profundamente o seu trabalho, ponderando com afinco, e efetuem todos os esforço possíveis para serem bem-sucedidos nesse âmbito. No que se refere a vocês que trabalham em alguma empresa ou organização, é importante que agreguem um senso de satisfação àquilo que estiverem fazendo e continuem empreendendo esforços para se aprimorarem no trabalho, e tenham também a determinação de cumprir suas responsabilidades.”

***

“Como membros da Soka Gakkai, devem se devotar ao trabalho com a mesma consideração que teriam em relação ao Gohonzon, valorizando-o e respeitando-o profundamente. Aqueles que conseguem agir dessa forma estão procedendo de acordo com o intento de Nichiren Daishonin. Pode-se dizer que pessoas assim edificaram uma profunda fé.”

Obviamente, as circunstâncias que envolvem a vida profissional hoje diferem daquelas que remontam à década de 1950. Todavia, como praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin, a postura básica em relação à vida permanece inalterada — de fato, jamais deve mudar.

O caminho correto para se tornar buda

Durante a juventude, sempre dava o máximo de mim para conquistar a confiança dos outros onde quer que trabalhasse e independentemente de quais fossem minhas atribuições. Isso é algo de que me orgulho imensamente.

Depois do trecho “considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus” (WND, v. I, p. 905), Daishonin cita as palavras do grande mestre Tiantai1 esclarecendo o significado da passagem do Sutra do Lótus que elucida os benefícios desfrutados por aqueles que abraçam esse sutra: “Nenhum assunto secular, da vida ou do trabalho, difere de forma alguma da realidade fundamental” (Ibidem).

Nichiren Daishonin afirma também: “Todos os fenômenos são manifestações da Lei budista” (WND, v. II, p. 841) e “Sábio não é aquele que pratica o budismo isolado­ das questões mundanas, mas alguém que compreende integralmente os princípios pelos quais o mundo é governado” (WND, v. I, p. 1121). Ele quer dizer que os ideais do budismo são os mesmos dos propósitos corretos do governo e do comércio.

O bem-estar dos seres humanos deveria ser o desígnio do governo e dos negócios. A felicidade humana deve ser o propósito supremo e derradeiro de todas as atividades sociais.

A Lei Mística libera e extrai a coragem e a força interior de que cada pessoa necessita para construir tal felicidade. Todos possuem dentro de si a força infinita do Buda; a Lei Mística nos habilita a manifestá-la.

A fé na Lei Mística é a fonte fundamental de coragem, sabedoria e perseverança, imprescindíveis para se enfrentar os obstáculos da vida. Por essa razão, todas as nossas ações baseadas na fé, que são iluminadas pela Lei Mística, possibilitam que criemos valores que propiciem esperança e felicidade.

Espero que, independentemente de qual seja sua profissão ou ambiente de trabalho, você se esforce pelo bem-estar do próximo e pela melhoria da sociedade de um modo que é só seu, e conquiste o louvor das pessoas à sua volta por ser alguém positivo, digno de confiança e leal. Essa é a epítome da aplicação prática da fé na vida diária e do budismo na sociedade.

Desenvolvimento do kosen-rufu mundial

O Sr. Toda salientava a importância de se fincar firmemente as raízes da Lei Mística na sociedade, dizendo: “A religião é um princípio para a vida e deve existir no nosso dia a dia”.

Nos esforços que empreendemos em prol do kosen-rufu mundial, devemos nos lembrar sempre que língua, cultura e costumes diferem de um país para outro.

Em minha primeira viagem ao exterior há 56 anos (em 1960), propus três diretrizes para as mulheres japonesas que tinham se casado com americanos e estavam se empenhando como pioneiras do kosen-rufu nos Estados Unidos na época: (1) obter cidadania norte-americana e tornar-se cidadã exemplar do país; (2) obter carteira de habilitação para condução de veículos; e (3) dominar o idioma inglês.

À primeira vista, tais critérios talvez não pareçam ter relação com a fé e a prática budista, mas manter um modo de vida sólido e fincar raízes na comunidade constituem uma fórmula segura para se alcançar o kosen-rufu.

Hoje, no mundo todo, filhos, netos e membros que extraíram seu conhecimento por meio das lições ensinadas por aqueles pioneiros alcançaram um crescimento magnífico e atuam com toda a energia nas linhas de frente do kosen-rufu e da sociedade.

Aqueles membros dos primórdios da organização lutaram com máximo afinco tanto pela própria felicidade como pela felicidade das outras pessoas, recitando daimoku e propagando a Lei Mística — muitas vezes em meio a um contexto social de preconceito e incompreensão —, e a força deles é que abriu o caminho para a nova era do kosen-rufu mundial que presenciamos atualmente.

O filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883–1955), que atribuía máxima relevância à realidade da vida e investigou a verdadeira natureza da vida, escreveu: “A autêntica plenitude não consiste na satisfação, na posse, ou na chegada”.2 “Toda vida é luta, esforço para ser ela mesma. As dificuldades com as quais esbarro para realizar minha vida são, precisamente, as que despertam e instigam minhas ações, minhas habilidades”.3

Manifeste o “jovem sol das 8 horas”!

Recebo relatos diários sobre os bravos esforços de jovens do Japão e do mundo todo. A evidência do nosso progresso nesta nova era kosen-rufu mundial é mais clara a cada dia que passa.

Nosso vitorioso avanço não é obra de celebridade ou heróis, é façanha de um número incalculável de pessoas comuns e anônimas, algumas lutando contra doen­ças e outras, contra dolorosos obstáculos cármicos, dificuldades no trabalho ou para encontrar um novo emprego. Sei que muitos estão se engalfinhando com esses e outros problemas da vida no mundo real. São batalhas que eu também travei durante a juventude.

O importante é fazer o sol da Lei Mística se erguer poderosamente em seu próprio coração. Não culpe os outros nem o seu ambiente por seus problemas. Concentre-se em mudar a si mesmo. Ao fazer o sol da Lei Mística raiar em seu coração, poderá iluminar a sua vida com a radiância da infinita esperança e coragem, tão seguramente quanto os raios resplandecentes do astro-rei acabam conseguindo atravessar as nuvens mais escuras e ameaçadoras. A luz de sua revolução humana poderá iluminar a vida das outras pessoas, a comunidade, a sociedade, o mundo e até o nosso futuro.

Avancemos com energia, otimismo e alegria trilhando unicamente o caminho do sólido crescimento pessoal, com os versos de Ode à Juventude ecoando ardentemente em nosso coração!

O sol se levanta hoje também!
O jovem sol das 8 horas,
Ascende ao ritmo do
Vigoroso palpitar
do coração dos jovens!

Publicado em dezembro de 2015 na revista Daibyakurenge.

Notas

1. Tiantai (538–597): Também conhecido como grande mestre Tiantai ou Zhiyi. Fundador da escola Tiantai na China. Suas explanações foram compiladas em obras como Profundo Significado do Sutra do Lótus, Palavras e Frases do Sutra do Lótus e Grande Concentração e Discernimento. Ele propagou o Sutra do Lótus na China e estabeleceu a doutrina dos “três mil mundos num único momento da vida”.

2. ORTEGA y GASSET, José. The Revolt of the Masses [A Rebelião das Massas]. Nova York: W. W. Norton and Company, Inc., 1993. p. 32.


3. Ibidem, p. 99.

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