sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Expalanção 7 - Resposta a um adepto

Budismo do Sol

Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda
Brasil Seikyo, Edição 2348, 19/11/2016, pág. B1-B3 / Encontro com o Mestre

Escrito 7 - Resposta a um Adepto

Prática da fé é a própria vida diária — vencer alegremente na sociedade

Se voltassem a me exilar, minha boa sorte seria cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior do que se meus ensinamentos fossem aceitos. Para mim, esse próximo exílio seria o terceiro. Se isso ocorresse, o Sutra do Lótus jamais poderia me acusar de ser um devoto negligente. Nesse caso, poderia herdar perfeitamente os benefícios de Shakyamuni, Muitos Tesouros, dos budas das dez direções e também dos incontáveis bodisatvas da terra. Que maravilhoso seria se isso ocorresse!

Seguirei o caminho do menino Montanhas de Neve e viverei como o bodisatva Jamais Desprezar. Em comparação com uma vida assim, quão deplorável e absurdo seria cair vítima de uma epidemia ou mesmo morrer de velhice! Prefiro mil vezes ser perseguido pelo soberano desta nação em benefício do Sutra do Lótus e, assim, libertar-me dos sofrimentos de nascimento e morte. Desse modo, eu poderia pôr à prova o juramento feito pela Deusa do Sol, pelo grande bodisatva Hachiman, pelas divindades do Sol e da Lua, por Shakra, Brahma e outros, na presença do Buda. Antes de tudo, eu os exortarei a proteger cada um dos senhores.

Se continuar vivendo do jeito que vive agora, não há dúvida de que estará praticando o Sutra do Lótus vinte e quatro horas por dia. Considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus. A isso se refere a frase: “Nenhum assunto secular, da vida ou do trabalho, difere de forma alguma da realidade fundamental”. (WND, v. I, p. 905)

Introdução

Ainda que nublado esteja o céu,
E embora soprem ventos pungentes,
O sol se levanta hoje também!
O jovem sol das 8 horas,
Encerrando vitalidade infinita,
Avança penetrando o céu azul.

Estes são os versos que abrem Ode à Juventude, um poema que compus em 5 de dezembro de 1970 em tributo aos membros da Divisão dos Jovens (DJ).

Como nos mantermos fiéis às nossas convicções em meio à turbulência que aflige a sociedade? Esse poema instiga os jovens a enfrentar bravamente os desafios que se encontram diante deles, a perseverar com força e tenacidade no caminho correto, a aplicar o budismo na sociedade e a pôr a fé em prática na vida cotidiana.

Foi isso que meu mestre, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, me ensinou. Ele afirmou: “O kosen-rufu é uma luta árdua empreendida no seio da sociedade. Quanto mais nosso movimento se arraigar na sociedade, obstáculos de todas as espécies surgirão para obstruir nosso progresso com uma intensidade cada vez maior. Esses obstáculos corroboram a validade dos ensinamentos de Daishonin, e não há absolutamente como escapar deles. Independentemente das dificuldades que possam surgir, não temos alternativa a não ser vencê-las”.

Desenvolver pessoas que prestem contribuições à sociedade

Quando a Soka Gakkai enfrentava uma avalanche de críticas e ataques na primavera de 1970,1 declarei: “Observe a Soka Gakkai e vejam como ela estará no século 21. A organização produzirá um número abundante de pessoas de notável talento e capacidade, que realizarão imensas contribuições à sociedade. Minha vitória se determinará nessa ocasião”.

E hoje, de forma incontestável, um número cada vez maior de jovens da SGI dedicados a efetuar préstimos positivos à sociedade e à humanidade está surgindo com total vigor e energia, e nossos jovens sucessores da Divisão dos Estudantes-Futuro estão se desenvolvendo de maneira esplêndida no mundo inteiro. Ingressamos na era em que o sol Soka está iluminando a sociedade de todos os cantos, por meio das contribuições dos membros como bons cidadãos do país onde vivem.

Nosso movimento em prol da paz, cultura e educação, fundamentado no budismo, conquistou ampla confiança por seu trabalho exemplar pelo bem da sociedade. O termo “Soka” hoje é sinônimo de “criação de seres humanos capazes e de dedicação em benefício da sociedade”.

Nichiren Daishonin incentivou reiteradamente seu discípulo Shijo Kingo, que lutava com os desafios de sua realidade, dizendo: “Que todos os habitantes... quando falarem do senhor, chamem-no [com louvor]...” (CEND, v. I, p. 336) e “Viva de modo que todos... [digam] louvando-o...” (WND, v. I, p. 851).2

Se cada associado da organização tomar a iniciativa e se tornar um exemplo radiante em sua comunidade e no local de trabalho, a confiança e o respeito em relação ao nosso movimento se ampliarão extensamente gerando mudanças drásticas que criarão um ambiente propício para o kosen-rufu.

Neste segmento, vamos estudar o escrito Resposta a um Adepto e aprender que a luz do Budismo do Sol de Daishonin brilha com máxima intensidade quando os praticantes se empenham ativamente pelo bem das pessoas com base nos princípios de aplicar o budismo na sociedade e de pôr a fé em prática na vida diária.

Trecho 1 do Gosho

Se voltassem a me exilar, minha boa sorte seria cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior do que se meus ensinamentos fossem aceitos. Para mim, esse próximo exílio seria o terceiro. Se isso ocorresse, o Sutra do Lótus jamais poderia me acusar de ser um devoto negligente. Nesse caso, poderia herdar perfeitamente os benefícios de Shakyamuni, Muitos Tesouros, dos budas das dez direções e também dos incontáveis bodisatvas da terra. Que maravilhoso seria se isso ocorresse!

Seguirei o caminho do menino Montanhas de Neve e viverei como o bodisatva Jamais Desprezar. Em comparação com uma vida assim, quão deplorável e absurdo seria cair vítima de uma epidemia ou mesmo morrer de velhice! Prefiro mil vezes ser perseguido pelo soberano desta nação em benefício do Sutra do Lótus e, assim, libertar-me dos sofrimentos de nascimento e morte. (WND, v. I, p. 905)

“Boa sorte cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior”

Nichiren Daishonin redigiu esta carta em 11 de abril de 1278, em sua residência no Monte Minobu.3 Como o título do escrito indica — Resposta a um Adepto —, o destinatário era um discípulo leigo de Daishonin. A identidade precisa da pessoa e as circunstâncias que envolvem a carta são desconhecidas. Contudo, com base no conteúdo e no fato de Daishonin empregar a frase “o serviço prestado a seu senhor feudal”, podemos presumir que a carta tenha sido endereçada a um samurai que ocupava uma posição que lhe facultava acesso a informações sobre as operações internas do governo militar.

A carta foi escrita pouco mais de quatro anos após Daishonin ter se mudado para o Monte Minobu (em maio de 1274), subsequentemente ao indulto do exílio em Sado e seu retorno a Kamakura (no fim de março de 1274). Apesar de os esforços para propagar seus ensinamentos tivessem êxito em muitas regiões do Japão, os discípulos de Daishonin também enfrentavam obstáculos e perseguições cada vez maiores.

Ao tomar conhecimento do teor da carta, seu recebedor aparentemente soubera da mobilização de forças malignas contra Nichiren Daishonin, e escrevera para alertá-lo de que poderia ser exilado pela terceira vez (o primeiro exílio foi em Izu4 e o segundo em Sado5). Em sua resposta, Daishonin escreve sobre tal possibilidade com muita placidez: “Minha boa sorte seria cem, mil, dez mil, um milhão de vezes maior do que se meus ensinamentos fossem aceitos” (WND, v. I, p. 905). Desse modo, ele declara que perseguições, por mais abjetas que possam ser, representam uma honra para aquele que defende o justo e verdadeiro.

“Não poderia desejar nada melhor!”. É possível imaginar claramente sua postura intrépida, sua disposição de encarar até mesmo a pior adversidade. Ele emite um poderoso rugido de leão, banindo definitivamente o medo e a covardia que poderiam facilmente corromper o estado de espírito e a decisão de seus discípulos, instilando neles uma convicção inabalável na fé.

Transformar perseguições em causa para o dinâmico progresso

Ao refletirmos sobre a vida de Daishonin, constatamos que cada perseguição possibilitou que abrisse novos caminhos, galgasse novo patamar e avançasse para a etapa seguinte de seus esforços para propagar seus ensinamentos.

No tratado Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra,6 ele expôs a causa fundamental da miséria do povo e revelou o caminho para a paz e felicidade perenes. Em decorrência disso, sofreu a Perseguição de Matsubagayatsu em 1260,7 o Exílio em Izu em 1261 e a Perseguição de Komatsubara em 1264.8 No entanto, essas perseguições serviram para demonstrar que ele era legítimo praticante e devoto do Sutra do Lótus, exatamente como o sutra descreve.

De modo semelhante, quando uma carta oficial chegou a Kamakura exigindo que o Japão se subordinasse ao império mongol e pagasse impostos, ameaçando um ataque militar, Daishonin enviou cartas ao governo e aos líderes religiosos solicitando um debate público9 — ação que resultou na Perseguição de Tatsunokuchi e no Exílio em Sado (de 1271 a 1274). Essas provações, porém, permitiram que ele abandonasse sua condição transitória e revelasse sua verdadeira identidade de Buda dos Últimos Dias da Lei, elucidando, por fim, o ensinamento das três grandes leis secretas,10 e assentasse firmemente os alicerces do kosen-rufu.

Grandes obstáculos surgem em virtude da oposição imposta pelas funções demoníacas com o intuito de obstruir a propagação do ensinamento correto. Enfrentar grandes dificuldades e contrariedades, portanto, constitui uma prova de que se está praticando o ensinamento correto; e ultrapassá-las acarreta um progresso dinâmico.

A mesma regra rege o desenvolvimento da Soka Gakkai, que vem mantendo fielmente os ensinamentos do Budismo de Nichiren Daishonin. A Soka Gakkai se expandiu, tornando-se uma organização religiosa de âmbito efetivamente mundial por ter se pronunciado destemidamente para esclarecer a verdade dos fatos, combatendo a calúnia e a difamação, subjugando assim as funções demoníacas que tentaram destruir o espírito e o legado de Daishonin.

Esse princípio também se aplica a nós como indivíduos. Podemos experimentar a fúria das tempestades do destino na vida. Quando isso acontecer, devemos desafiá-las bravamente, acatando-as como oportunidades para crescermos e conduzirmos uma existência mais profunda e realizada ou como adversidades a serem enfrentadas para que um dia ajudemos os que estiverem passando por problemas similares. Devemos fazer arder ainda mais intensamente a chama da fé em nosso coração.

O exemplo de nossa força inabalável diante desses obstáculos será uma fonte de coragem e inspiração para os membros e outras pessoas da comunidade. Além disso, a cada desafio para vencer obstáculos, nossa vida se expande drasticamente e o mundo ao redor se torna mais radiante e positivo.

Uma religião viva que conduz todas as pessoas à iluminação

Somente Daishonin enfrentou incalculáveis perseguições, exatamente como o sutra descreve, por propagar o Sutra do Lótus. Ele expressa [em Abertura dos Olhos]: “As adversidades e os obstáculos menores têm sido tantos que é impossível contá-los, mas as grandes perseguições se resumem em quatro. Dessas quatro, duas foram perpetradas pelos governantes da nação” (CEND, v. I, p. 250). Como demonstra a passagem, por duas vezes ele sofreu perseguições envolvendo exílio por ordem das autoridades dominantes que puseram sua vida em risco.

Essa é a razão que o leva a cogitar a possibilidade de um terceiro exílio. “Se isso ocorresse, o Sutra do Lótus jamais poderia me acusar de ser um devoto negligente. Nesse caso, poderia herdar perfeitamente os benefícios de Shakyamuni, Muitos Tesouros, dos budas das dez direções e também dos incontáveis bodisatvas da terra” (WND, v. I, p. 905).

As palavras dele são imbuídas de profunda convicção de que outro exílio representaria uma oportunidade ideal para provar que ele não era um “devoto negligente”, mas genuíno devoto do Sutra do Lótus, e de que as forças benevolentes do universo o protegeriam infalivelmente. Ao proclamar pela primeira vez seu ensinamento (em 1253), Daishonin iniciou uma luta solitária, munido do juramento inabalável de conduzir a humanidade à iluminação, totalmente pronto a enfrentar perseguições.

O budismo é uma religião viva dedicada à felicidade das pessoas. Uma religião que tenha abandonado esse compromisso é uma religião morta.

O Dr. Christopher Queen, professor de budismo da Escola de Extensão da Universidade Harvard (Extension School of Harvard University), afirmou: “O Buda respondeu à crise social e espiritual de sua época expressando-se com intrepidez, agindo de forma resoluta e criando valores na sociedade. Sem perspectiva de mudança social — materializadas em instituições novas e criativas como o Sangha [comunidade de praticantes] — a religião se torna alienada da vida das pessoas e entra num processo de 'morte espiritual'".11 Além disso, ele observou que Nichiren Daishonin, o manancial do pensamento e da prática da Soka Gakkai, empregou o poder das palavras para combater as autoridades políticas e religiosas de sua época, que tinham perdido de vista o empenho em prol da felicidade das pessoas.12

O propósito da vida

Nichiren Daishonin declara que persistirá em sua luta, assim como o menino Montanhas de Neve, que buscou avidamente os ensinamentos do budismo movido pelo esforço abnegado de auxiliar todos os seres vivos, e o bodisatva Jamais Desprezar, que perseverou na prática de respeitar e reverenciar todos que encontrava.

O menino Montanhas de Neve estava disposto a ofertar sua vida ao deus Shakra, que assumira a forma de um demônio, em troca de um ensinamento budista. Ele transmitiu esse ensinamento legando-o às gerações futuras e, numa existência posterior, tornou-se buda.

O bodisatva Jamais Desprezar também continuou seguindo o caminho do buda efetuando a prática de respeitar e reverenciar os outros, a despeito de ataques e perseguições, e renasceu como Shakyamuni numa existência futura.

Nossa vida é o tesouro mais precioso de todos, mais valioso que imensuráveis riquezas, capazes de cobrir o universo inteiro. Por isso o propósito ao qual consagramos a vida e o uso que fazemos dela têm tamanha importância.

Na época em que esta carta foi escrita, epidemias se disseminavam por todo o Japão e qualquer um poderia ser atingido por elas e morrer a qualquer momento. E mesmo que a pessoa conseguisse escapar das epidemias, sabemos que todos os que nascem estão destinados a morrer um dia. Que infelicidade seria, portanto, afirma Daishonin, deixar este mundo sem ter se dedicado ao propósito supremo da vida — trabalhar em prol da paz e felicidade de todos — ou cumprir sua missão e atingir o estado de buda.

Obviamente, ao expressar essa ideia, Daishonin não está fazendo pouco caso da vida. Dedicação abnegada significa prosseguir se devotando à Lei Mística — o propósito mais nobre ao qual podemos consagrar nossa vida —, que se reverterá em benefícios que não se restringirão apenas a esta existência, mas perdurarão por toda a eternidade.

Publicado em dezembro de 2015 na revista Daibyakurenge.

Notas

1. Trata-se de uma referência ao Incidente da Liberdade de Expressão, designação atribuída a uma controvérsia que surgiu em 1970, quando a Soka Gakkai tentou se defender de uma difamação. Para mais informações, consulte o capítulo “Vendaval” da Nova Revolução Humana, volume 14.

2. Em Desejos Mundanos São Iluminação, Daishonin escreve: “Evidencie o grande poder da fé para que todos os habitantes de Kamakura, de alta e de baixa posição social, e todo povo do Japão, quando falarem do senhor, chamem-no: ‘Shijo Kingo, Shijo Kingo da escola Lótus!’” (CEND, v. I, p. 336). E no escrito Os Três Tipos de Tesouros, ele expressa: “Viva de modo que todas as pessoas de Kamakura digam, louvando-o, que [Shijo Kingo] se dedica de forma diligente ao senhor feudal, ao budismo, e se preocupa com outras pessoas” (WND, v. I, p. 851).

3. Monte Minobu localiza-se na região atualmente denominada província de Yamanashi. Nichiren Daishonin viveu lá durante os últimos anos de sua vida, de maio de 1274 a setembro de 1282, período imediatamente anterior à sua morte. Lá, ele se devotou a instruir seus discípulos, coordenando os esforços de propagação e redigindo tratados doutrinais.

4. Exílio em Izu: Perseguição que resultou no exílio de Nichiren Daishonin em Ito, na província de Izu (parte da atual província de Shizuoka), de maio de 1261 a fevereiro de 1263. Quando Daishonin reapareceu em Kamakura na primavera de 1261 e retomou suas atividades de propagação, depois de curto período na província de Awa subsequentemente à Perseguição de Matsubagayatsu (consulte a nota 7 a seguir), o governo o prendeu e, sem investigação adequada, ordenou que fosse exilado em Ito na província de Izu. Depois de ficar exilado lá por dois anos, Daishonin recebeu indulto e voltou para Kamakura.

5. Exílio em Sado: Exílio de Nichiren Daishonin na ilha de Sado de outubro de 1271 a março de 1274. Quando o sacerdote Ryokan do templo Gokuraku-ji em Kamakura foi derrotado por Daishonin numa disputa de oração por chuva, espalhou falsos boatos a respeito de Daishonin, valendo-se de sua influência sobre as esposas e viúvas de importantes autoridades do governo. Daishonin então foi submetido a uma acareação com Hei no Saemon-no-jo, subchefe do Posto de Comando Militar, que o prendeu e realizou manobras para mandar executá-lo em Tatsunokuchi em setembro de 1271. Com o fracasso da tentativa de execução, as autoridades o sentenciaram, no mês seguinte, ao exílio na ilha de Sado, que equivalia a uma condenação à morte. Entretanto, quando as predições de Daishonin de invasão estrangeira e conflitos internos se concretizaram, o governo emitiu um indulto em março de 1274, e Daishonin retornou a Kamakura.

6. Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra: Tratado de advertência encaminhado por Nichiren Daishonin a Hojo Tokiyori — regente aposentado, que ainda continuava a ser uma figura mais poderosa do clã governante do Japão — no dia 16 de julho de 1260. No tratado, Daishonin prediz que, a menos que seguisse o ensinamento correto do Sutra do Lótus, o país sofreria num futuro breve, a calamidade do conflito dentro de seus domínios e a calamidade da invasão estrangeira — as duas únicas calamidades, dentre as “três calamidades e sete desastres”, que ainda não haviam assolado o Japão. Suas predições se materializaram quando a calamidade do conflito interno irrompeu na forma do Distúrbio de Fevereiro em 1272, e da calamidade da invasão estrangeira que sucedeu quando os mongóis atacaram o Japão em 1274, e, então, pela segunda vez, em 1281.

7. Perseguição de Matsubagayatsu: Atentado à vida de Daishonin, perpetrado pelos seguidores dos ensinamentos da Terra Pura (Nembutsu), em sua residência em Matsubagayatsu, Kamakura, Japão, em 1260.

8. Perseguição de Komatsubara: No dia 11 de novembro de 1264, Daishonin estava indo visitar um seguidor chamado Kudo, na província de Awa. Ao entardecer, ele e um grupo de seguidores sofreram emboscada armada pelo administrador Tojo Kagenobu, fervoroso adepto da Nembutsu, e seus homens num lugar chamado Matsubara, na vila de Tojo. Nichiren Daishonin sofreu um corte de espada na testa e fratura na mão esquerda; um de seus seguidores foi morto durante o incidente e outro faleceu posteriormente em decorrência dos ferimentos.

9. Em 1268, depois da chegada dos emissários mongóis e com a ameaça da invasão estrangeira assombrando o país, Daishonin redigiu onze cartas de admoestação, nas quais tentou esclarecer os erros das várias escolas budistas estabelecidas de sua época e clamou ao povo que abraçasse a fé no ensinamento correto do Sutra do Lótus. Entre os onze destinatários incluíam-se figuras centrais do governo e de influentes templos budistas.

10. Três grandes leis secretas: A recitação ou daimoku (de Nam-myoho-renge-kyo) do ensinamento essencial, o objeto de devoção (o Gohonzon), e o local de devoção (o santuário) [CEND, v. I p. 409].

11. Extraído de um artigo do Seikyo Shimbun, edição de 12 de agosto de 1994 (baseado no texto original do Dr. Queen em inglês).

12. Traduzido do japonês. Artigo do jornal Seikyo Shimbun, edição de 16 de setembro de 2012.




Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda
Brasil Seikyo, Edição 2349, 26/11/2016, pág. B1-B3 / Encontro com o Mestre

Resposta a um Adepto - Continuação do escrito 7


Trecho 2 do Gosho

Desse modo, eu poderia pôr à prova o juramento feito pela Deusa do Sol, pelo grande bodisatva Hachiman, pelas divindades do Sol e da Lua, por Shakra, Brahma e outros, na presença do Buda. Antes de tudo, eu os exortarei a proteger cada um dos senhores.

Se continuar vivendo do jeito que vive agora, não há dúvida de que estará praticando o Sutra do Lótus vinte e quatro horas por dia. Considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus. A isso se refere a frase: “Nenhum assunto secular, da vida ou do trabalho, difere de forma alguma da realidade fundamental”. (WND, v. I, p. 905)

A vida cotidiana é o palco de nossa prática

Por meio de seus próprios esforços incondicionais para propagar a Lei Mística, Nichiren Daishonin ensinou o caminho fundamental para se atingir o estado de buda nesta existência e “desfrutar paz e segurança na presente existência” (cf. LSO, cap. 5, p. 136).

Além disso, ele garante que está orando por seus discípulos, escrevendo: “Eu os exortarei [as divindades celestiais] a proteger cada um dos senhores" (WND, v. I, p. 905). Quão afortunados eram por possuir um mestre como esse!

Como observei anteriormente, o discípulo a quem esta carta se destina aparentemente ocupava uma posição que o permitia ter acesso a informações sobre a possibilidade de iminentes investidas contra Nichiren Daishonin. Talvez servisse algum alto oficial que estivesse planejando prejudicar Nichiren Daishonin.

Independentemente de quais fossem os detalhes precisos, podemos presumir que ele cumpria seus deveres diuturnamente com dedicação e integridade, apesar de se expor ao perigo constante pelo fato de ser discípulo de Daishonin.

Por essa razão, Nichiren Daishonin lhe disse: “Se continuar vivendo­ do jeito que vive agora, não há dúvida de que estará praticando o Sutra do Lótus vinte e quatro horas por dia” (Ibidem). Ele assegura ao destinatário que o empenho árduo no trabalho equivale a praticar o Sutra do Lótus dia e noite.

É vital que no cotidiano professemos a fé e apliquemos o budismo na sociedade. Além disso, o budismo consiste em vencer. Aqueles que se esforçam com total sinceridade na prática budista com certeza acabam, por fim, triunfando.

Devotem-se ao trabalho tal como ao Gohonzon

O Sr. Toda nos recomendou várias vezes que lêssemos Resposta a um Adepto não apenas com os olhos e a mente, mas com o nosso corpo; ou seja, que o puséssemos em prática na vida.

Quando jovem, trabalhei para Toda sensei, e ele me treinou com extremo rigor. Ele nunca permitiu que eu usasse as atividades da Soka Gakkai como desculpa para ser negligente no trabalho. Ensinou-se com severidade a atitude apropriada para um praticante do Budismo de Nichiren Daishonin, declarando: “Na fé, realize o trabalho de uma pessoa; no serviço, trabalhe por três”.

Gostaria de apresentar algumas orientações do Sr. Toda acerca da afirmação de Daishonin “considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus” (WND, v. I, p. 905):

“É um grande erro pressupor que simplesmente será bem-sucedido em virtude do benefício que receberá da prática budista sem se empenhar ainda com mais afinco do que qualquer outra pessoa no trabalho.”

***

“Não sentir alegria no trabalho é o mesmo que não sentir alegria na fé. Não importa quanto daimoku recite, não obterá êxito na sociedade.”

***

“Devem valorizar profundamente o seu trabalho, ponderando com afinco, e efetuem todos os esforço possíveis para serem bem-sucedidos nesse âmbito. No que se refere a vocês que trabalham em alguma empresa ou organização, é importante que agreguem um senso de satisfação àquilo que estiverem fazendo e continuem empreendendo esforços para se aprimorarem no trabalho, e tenham também a determinação de cumprir suas responsabilidades.”

***

“Como membros da Soka Gakkai, devem se devotar ao trabalho com a mesma consideração que teriam em relação ao Gohonzon, valorizando-o e respeitando-o profundamente. Aqueles que conseguem agir dessa forma estão procedendo de acordo com o intento de Nichiren Daishonin. Pode-se dizer que pessoas assim edificaram uma profunda fé.”

Obviamente, as circunstâncias que envolvem a vida profissional hoje diferem daquelas que remontam à década de 1950. Todavia, como praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin, a postura básica em relação à vida permanece inalterada — de fato, jamais deve mudar.

O caminho correto para se tornar buda

Durante a juventude, sempre dava o máximo de mim para conquistar a confiança dos outros onde quer que trabalhasse e independentemente de quais fossem minhas atribuições. Isso é algo de que me orgulho imensamente.

Depois do trecho “considere o serviço prestado a seu senhor feudal como a prática do Sutra do Lótus” (WND, v. I, p. 905), Daishonin cita as palavras do grande mestre Tiantai1 esclarecendo o significado da passagem do Sutra do Lótus que elucida os benefícios desfrutados por aqueles que abraçam esse sutra: “Nenhum assunto secular, da vida ou do trabalho, difere de forma alguma da realidade fundamental” (Ibidem).

Nichiren Daishonin afirma também: “Todos os fenômenos são manifestações da Lei budista” (WND, v. II, p. 841) e “Sábio não é aquele que pratica o budismo isolado­ das questões mundanas, mas alguém que compreende integralmente os princípios pelos quais o mundo é governado” (WND, v. I, p. 1121). Ele quer dizer que os ideais do budismo são os mesmos dos propósitos corretos do governo e do comércio.

O bem-estar dos seres humanos deveria ser o desígnio do governo e dos negócios. A felicidade humana deve ser o propósito supremo e derradeiro de todas as atividades sociais.

A Lei Mística libera e extrai a coragem e a força interior de que cada pessoa necessita para construir tal felicidade. Todos possuem dentro de si a força infinita do Buda; a Lei Mística nos habilita a manifestá-la.

A fé na Lei Mística é a fonte fundamental de coragem, sabedoria e perseverança, imprescindíveis para se enfrentar os obstáculos da vida. Por essa razão, todas as nossas ações baseadas na fé, que são iluminadas pela Lei Mística, possibilitam que criemos valores que propiciem esperança e felicidade.

Espero que, independentemente de qual seja sua profissão ou ambiente de trabalho, você se esforce pelo bem-estar do próximo e pela melhoria da sociedade de um modo que é só seu, e conquiste o louvor das pessoas à sua volta por ser alguém positivo, digno de confiança e leal. Essa é a epítome da aplicação prática da fé na vida diária e do budismo na sociedade.

Desenvolvimento do kosen-rufu mundial

O Sr. Toda salientava a importância de se fincar firmemente as raízes da Lei Mística na sociedade, dizendo: “A religião é um princípio para a vida e deve existir no nosso dia a dia”.

Nos esforços que empreendemos em prol do kosen-rufu mundial, devemos nos lembrar sempre que língua, cultura e costumes diferem de um país para outro.

Em minha primeira viagem ao exterior há 56 anos (em 1960), propus três diretrizes para as mulheres japonesas que tinham se casado com americanos e estavam se empenhando como pioneiras do kosen-rufu nos Estados Unidos na época: (1) obter cidadania norte-americana e tornar-se cidadã exemplar do país; (2) obter carteira de habilitação para condução de veículos; e (3) dominar o idioma inglês.

À primeira vista, tais critérios talvez não pareçam ter relação com a fé e a prática budista, mas manter um modo de vida sólido e fincar raízes na comunidade constituem uma fórmula segura para se alcançar o kosen-rufu.

Hoje, no mundo todo, filhos, netos e membros que extraíram seu conhecimento por meio das lições ensinadas por aqueles pioneiros alcançaram um crescimento magnífico e atuam com toda a energia nas linhas de frente do kosen-rufu e da sociedade.

Aqueles membros dos primórdios da organização lutaram com máximo afinco tanto pela própria felicidade como pela felicidade das outras pessoas, recitando daimoku e propagando a Lei Mística — muitas vezes em meio a um contexto social de preconceito e incompreensão —, e a força deles é que abriu o caminho para a nova era do kosen-rufu mundial que presenciamos atualmente.

O filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883–1955), que atribuía máxima relevância à realidade da vida e investigou a verdadeira natureza da vida, escreveu: “A autêntica plenitude não consiste na satisfação, na posse, ou na chegada”.2 “Toda vida é luta, esforço para ser ela mesma. As dificuldades com as quais esbarro para realizar minha vida são, precisamente, as que despertam e instigam minhas ações, minhas habilidades”.3

Manifeste o “jovem sol das 8 horas”!

Recebo relatos diários sobre os bravos esforços de jovens do Japão e do mundo todo. A evidência do nosso progresso nesta nova era kosen-rufu mundial é mais clara a cada dia que passa.

Nosso vitorioso avanço não é obra de celebridade ou heróis, é façanha de um número incalculável de pessoas comuns e anônimas, algumas lutando contra doen­ças e outras, contra dolorosos obstáculos cármicos, dificuldades no trabalho ou para encontrar um novo emprego. Sei que muitos estão se engalfinhando com esses e outros problemas da vida no mundo real. São batalhas que eu também travei durante a juventude.

O importante é fazer o sol da Lei Mística se erguer poderosamente em seu próprio coração. Não culpe os outros nem o seu ambiente por seus problemas. Concentre-se em mudar a si mesmo. Ao fazer o sol da Lei Mística raiar em seu coração, poderá iluminar a sua vida com a radiância da infinita esperança e coragem, tão seguramente quanto os raios resplandecentes do astro-rei acabam conseguindo atravessar as nuvens mais escuras e ameaçadoras. A luz de sua revolução humana poderá iluminar a vida das outras pessoas, a comunidade, a sociedade, o mundo e até o nosso futuro.

Avancemos com energia, otimismo e alegria trilhando unicamente o caminho do sólido crescimento pessoal, com os versos de Ode à Juventude ecoando ardentemente em nosso coração!

O sol se levanta hoje também!
O jovem sol das 8 horas,
Ascende ao ritmo do
Vigoroso palpitar
do coração dos jovens!

Publicado em dezembro de 2015 na revista Daibyakurenge.

Notas

1. Tiantai (538–597): Também conhecido como grande mestre Tiantai ou Zhiyi. Fundador da escola Tiantai na China. Suas explanações foram compiladas em obras como Profundo Significado do Sutra do Lótus, Palavras e Frases do Sutra do Lótus e Grande Concentração e Discernimento. Ele propagou o Sutra do Lótus na China e estabeleceu a doutrina dos “três mil mundos num único momento da vida”.

2. ORTEGA y GASSET, José. The Revolt of the Masses [A Rebelião das Massas]. Nova York: W. W. Norton and Company, Inc., 1993. p. 32.


3. Ibidem, p. 99.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Explanação 6 - As perseguições ao venerável

Budismo do Sol - parte 6

Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda
Brasil Seikyo, Edição 2344, 22/10/2016, pág. B1aB3 / Encontro com o Mestre

Escrito 6: As Perseguições ao Venerável

Budismo do povo — descortinando a era da religião humanística

As Perseguições ao Venerável

Hoje, no segundo ano de Koan (1279), signo cíclico tsuchinoto-u, já se passaram vinte e sete anos desde que proclamei este ensinamento no templo Seicho-ji. Foi na hora do cavalo [meio-dia], do vigésimo oitavo dia do quarto mês do quinto ano de Kencho (1253), signo cíclico mizunoto-ushi, no lado sul do salão das imagens, no Shobutsu-bo do templo Seicho-ji, na vila de Tojo. Atualmente, Tojo é um distrito, mas na época era parte do distrito Nagasa, na província de Awa. Aqui se encontra o que antes era considerado o segundo, porém hoje é o centro mais importante de todo o país, fundado por Minamoto no Yoritomo, general da direita, para fornecer provisões ao santuário da Deusa do Sol. O Buda cumpriu o propósito de seu advento em pouco mais de quarenta anos; o grande mestre Tiantai levou aproximadamente trinta anos; e o grande mestre Dengyo, cerca de vinte anos. Tenho falado repetidas vezes das perseguições indescritíveis que eles sofreram ao longo desse tempo. Eu levei vinte e sete anos, e as grandes perseguições que enfrentei durante esse período são bem conhecidas de todos os senhores.

O Sutra do Lótus afirma: “Como o ódio e a inveja por este sutra proliferam mesmo quando Aquele que Assim Chega vive neste mundo, quão piores serão depois de sua morte!” […]

Nestes vinte e sete anos, no entanto, Nichiren foi exilado na província de Izu, no décimo segundo dia do quinto mês, no primeiro ano de Kocho (1261), signo cíclico kanoto-tori; foi ferido na testa e sofreu uma fratura na mão esquerda no décimo primeiro dia do décimo primeiro mês do primeiro ano de Bun’ei (1264), signo cíclico kinoe-ne. Foi conduzido ao local de execução no décimo segundo dia do nono mês no oitavo ano de Bun’ei (1271), signo cíclico kanoto-hitsuji, e, por fim, foi exilado na província de Sado. Além disso, incontáveis discípulos seus foram assassinados, feridos, banidos ou então sofreram pesadas sanções. Não sei se essas provações se igualam ou superam as do Buda. Porém, Nagarjuna, Vasubandhu, Tiantai e Dengyo não podem se comparar a mim nesse sentido. Se não fosse pelo advento de Nichiren nos Últimos Dias da Lei, o Buda teria sido um grande mentiroso, e o testemunho dado por Muitos Tesouros e pelos budas das dez direções hoje seria falso. Nos mais de 2.230 anos transcorridos desde a morte do Buda, Nichiren é a única pessoa, em todo o território de Jambudvipa, que tem cumprido as palavras do Buda.

(WND, v. I, p. 996-997)

Introdução

Em 2 de outubro de 1960, embarquei do Aeroporto de Haneda, em Tóquio, para minha primeira viagem de orientações fora do Japão.

Eu havia decidido partir no segundo dia do mês por ter sido nessa data que meu mestre, Josei Toda, faleceu em abril de 1958. Levei uma fotografia dele comigo, conservando-a no bolso interno do meu paletó. Passaram-se 55 anos [2015] desde que dei meu primeiro passo nos Estados Unidos em prol do kosen-rufu mundial. Minha jornada em busca desse ideal tem sido uma luta que venho compartilhando com meu mestre, conversando com ele constantemente em meu coração.

Pouco antes de morrer, o Sr. Toda me contou que sonhara que tinha ido ao México. “Todos estavam esperando”, disse ele. “Todos estavam à procura do Budismo de Nichiren Daishonin. Quero ir — percorrer o mundo numa jornada pelo kosen-rufu. Daisaku, o mundo é seu desafio; é seu verdadeiro palco.”

Gravei na minha vida essas palavras do meu mestre e, logo após assumir como o terceiro presidente da Soka Gakkai, dei início à luta pela paz mundial.

Kosen-rufu mundial — desejo acalentado por meu mestre

Naquela época, tínhamos apenas um pequeno número de membros fora do Japão, espalhados pela América do Norte, América do Sul e Ásia, e não existiam organizações locais para apoiá-los.

Mas eu tinha certeza de que o tempo do kosen-rufu mundial, o desejo de Nichiren Daishonin, havia chegado. Ou melhor, estava determinado a converter o presente em momento oportuno para isso, que era o desejo acalentado por meu mestre e meu juramento como discípulo dele.

Nas décadas subsequentes, visitei 54 países e territórios e continuei incentivando uma pessoa após outra. Orei sinceramente para que incontáveis bodisatvas da terra surgissem em nosso planeta.

Empenhei-me também em profusos diálogos sobre a paz, a cultura e a educação com líderes e pensadores de diversos campos, com o intuito de abrir caminhos para a harmonia e a cooperação para toda a humanidade.

Hoje, mediante a força de pessoas comuns trabalhando juntas na linha de frente da sociedade, a SGI se expandiu para 192 países e territórios, e uma nova era do kosen-­rufu mundial chegou.

Nessa nova era, um fluxo consistente de indivíduos capazes, que despertaram para a missão de propagar a Lei Mística, está surgindo em todos os países e regiões. Essas pessoas estão expandindo a rede do bem em escala global e dando expressão à essência do Budismo de Nichiren Daishonin, o budismo do povo.

Agora, no momento em que se abrem as cortinas de uma nova era do humanismo budista, gostaria de discorrer sobre duas passagens do escrito de Nichiren Daishonin As Perseguições ao Venerável. Esse escrito proclama de forma triunfante o estabelecimento de um ensinamento budista para todas as pessoas por meio dos esforços de discípulos que estavam prontos a arriscar a própria vida em defesa de sua crença.

Trecho 1 do Gosho

Hoje, no segundo ano de Koan (1279), signo cíclico tsuchinoto-u, já se passaram vinte e sete anos desde que proclamei este ensinamento no templo Seicho-ji. Foi na hora do cavalo [meio-dia], do vigésimo oitavo dia do quarto mês do quinto ano de Kencho (1253), signo cíclico mizunoto-ushi, no lado sul do salão das imagens, no Shobutsu-bo do templo Seicho-ji, na vila de Tojo. Atualmente, Tojo é um distrito, mas na época era parte do distrito Nagasa, na província de Awa. Aqui se encontra o que antes era considerado o segundo, porém hoje é o centro mais importante de todo o país, fundado por Minamoto no Yoritomo, general da direita, para fornecer provisões ao santuário da Deusa do Sol. O Buda cumpriu o propósito de seu advento em pouco mais de quarenta anos; o grande mestre Tiantai levou aproximadamente trinta anos; e o grande mestre Dengyo, cerca de vinte anos. Tenho falado repetidas vezes das perseguições indescritíveis que eles sofreram ao longo desse tempo. Eu levei vinte e sete anos, e as grandes perseguições que enfrentei durante esse período são bem conhecidas de todos os senhores.

O Sutra do Lótus afirma: “Como o ódio e a inveja por este sutra proliferam mesmo quando Aquele que Assim Chega vive neste mundo, quão piores serão depois de sua morte!” […] [LSO, cap. 10, p. 203]. (WND. v. I, p. 996)

A voz das pessoas conscientes de sua missão

Autoridades arrogantes que tencionam subjugar as pessoas temem, acima de tudo, uma população consciente que exige a verdade e a justiça. Daishonin redigiu As Perseguições ao Venerável no dia 1º de outubro de 1279, em meio ao tumulto da Perseguição de Atsuhara.1

Essa perseguição envolveu pessoas que despertaram para a nobre missão e travavam uma grande batalha contra a natureza demoníaca do poder.

Uma famosa passagem do tratado de Daishonin A Seleção do Tempo afirma: “Pode parecer que, por ter nascido nos domínios do governante, eu deva segui-lo em minhas ações. Porém, jamais o seguirei em meu coração” (CEND, v. I, p. 605). Essas foram as palavras que Nichiren Daishonin dirigiu a Hei no Saemon-no-jo,2 ao se encontrarem após Daishonin ter sido perdoado do exílio na Ilha de Sado e retornado a Kamakura.

As palavras de Daishonin foram como o rugido do leão. Na verdade, ele estava afirmando para Hei no Saemon, líder que exercia poder absoluto: “Você pode me condenar à morte ou me exilar, mas não pode destituir minha liberdade interior. Jamais serei derrotado!”. Essa liberdade de espírito e de crença religiosa são direitos humanos fundamentais e eternamente invioláveis. Nesse sentido, as palavras de Daishonin são uma expressão imponente de sua grande luta pelos direitos humanos, uma declaração de que o espírito humano não pode ser cerceado por nenhuma autoridade.

Nem mesmo a tirania absoluta pode subjugar o espírito humano. Os camponeses de Atsuhara, que se recusaram ferrenhamente a abandonar a fé no Sutra do Lótus, a despeito de serem intimidados e ameaçados pelas autoridades, são um exemplo perfeito dessa verdade. Eles lutaram até o fim, fiéis­ ao espírito da passagem de A Seleção do Tempo. A Perseguição de Atsuhara foi um episódio em que os discípulos, abraçando essa veemente mensagem de Nichiren Daishonin, alcançaram uma notável vitória espiritual por meio de sua luta pela verdade e pela justiça.

Fé corajosa é o fator fundamental

Aproveitando o ensejo, recapitulemos os desdobramentos da Perseguição de Atsuhara.

Na época, Nikko Shonin3 liderava as atividades de propagação na área de Fuji, província de Suruga (atualmente, parte da província de Shizuoka), e, em decorrência disso, muitos camponeses aderiram à fé na Lei Mística. Gyochi, o vice-prior do templo Ryusen-ji,4 e outros na área, sentindo-se ameaçados pelo número crescente de conversões rea­lizadas por Nikko Shonin, vinham intimidando e perseguindo os seguidores de Daishonin por anos.

A maior perseguição ocorreu em 21 de setembro de 1279, quando vinte camponeses, discípulos de Daishonin, foram presos sob falsas acusações. Levados para Kamakura, foram submetidos a um cruel interrogatório e torturados por Hei no Saemon-no-jo, pressionados a abandonar suas crenças. Nenhum deles sucumbiu a essa perseguição, e continuaram recitando Nam-myoho-renge-kyo.5 Eles lutaram incondicionalmente contra a injusta opressão que estavam sofrendo nas mãos das autoridades.

Mais tarde, três líderes entre os camponeses — os irmãos Jinshiro, Yagoro e Yarokuro6 — foram executados, tornando-se mártires por morrerem defendendo sua fé. Apesar disso, nenhum dos camponeses que permaneceram presos renegou a fé; todos se mantiveram fiéis à Lei Mística.

Como mencionei anteriormente, a carta As Perseguições ao Venerável foi escrita no dia 1º de outubro, antes de os Três Mártires de Atsu­hara terem dado a vida por suas convicções. Sem dúvida, Daishonin recebera informações detalhadas dos acontecimentos posteriores à prisão de seus discípulos, ocorrida no dia 21 de setembro.

Acredita-se que os Três Mártires de Atsuhara e os outros discípulos camponeses eram todos recém-convertidos ao Budismo de Nichiren Daishonin. Pensando na angústia e no sofrimento deles, Daishonin lhes enviou seu mais sincero encorajamento. Ele também incutiu em seus discípulos de Kamakura e de outros lugares a importância de manter uma fé resoluta.

Seus discípulos em Atsuhara estavam à beira do abismo. Buscando ardentemente as orientações e instruções de Daishonin, eles suportaram a perseguição e se dedicaram até o fim à missão de propagar a Lei Mística.

Referindo-se ao fato de os três irmãos de Atsuhara estarem dispostos a dar a vida pelas suas crenças, o Sr. Toda certa vez comentou: “Não se avalia a fé pela quantidade de anos que uma pessoa praticou, mas por sua coragem. As pessoas de fé intrépida são as mais dignas de admiração”.

A fé corajosa é demonstrada pelos discípulos que se empenham com o mesmo espírito do mestre.

Monte Minobu, palco da criação de genuínos discípulos

No início desta carta, Daishonin diz que declarou o ensinamento pela primeira vez no vigésimo oitavo dia do quarto mês de 1253 (cf. WND, v. I, p. 996). Naquela data, aos 32 anos, estabeleceu seu ensinamento, elucidando que o Nam-myoho-renge-kyo é a Lei fundamental para a iluminação de todas as pessoas na era maléfica posterior à morte do Buda.

Em seguida, ele afirma que nos 27 anos subsequentes perseverou em sua luta para propagar a Lei Mística, apesar de enfrentar várias perseguições, entre elas a Perseguição de Tatsunokuchi 7 (Ibidem).

A fé que a pessoa demonstra no momento crucial é decisiva. Imediatamente após a Perseguição de Tatsunokuchi, os discípulos de Nichiren se viram diante de uma tempestade de perseguições tão intensas a ponto de ele registrar: “999 pessoas de cada 1.000 (…) abandonaram a fé” (CEND, v. I, p. 490). Também ponderou: “Caso não tenham desistido da prática, já o fizeram no coração. Ou caso não tenham desistido no coração, já o fizeram em sua prática” (WND, v. I, p. 941).

Contudo, mesmo naquela época, um número considerável de discípulos ainda continuou a trilhar o caminho correto de mestre e discípulo, mantendo a fé corajosa de outrora.

Daishonin dedicou o restante de sua vida, o período após a Perseguição de Tatsunokuchi e o Exílio em Sado,8 à formação de genuínos discípulos que, assim como ele, estivessem dispostos a enfrentar e a lutar contra as perseguições e a reconstruir a comunidade de praticantes do ensinamento correto. Ele canalizou ainda mais energia nesses esforços depois de se mudar para Minobu.9

Foi Nikko Shonin, seu legítimo discípulo e sucessor, quem atendeu à determinação de Daishonin nesse sentido e empreendeu bravamente as atividades de propagação. Os discípulos camponeses de Atsuhara talvez não tenham tido a oportunidade de se encontrar com Daishonin pessoalmente, mas conheciam o espírito dele por meio das palavras e ações diárias de Nikko Shonin.

A partir do Exílio em Sado, Daishonin passou a recomendar com veemência a seus seguidores que se unissem a ele e lutassem, empenhando-se com o mesmo espírito que ele. Em seus escritos, verificamos a recorrência de frases como “pratique como eu” (WND, v. I, p. 978), “[empenhe-se] assim como eu” (cf. CEND, v. I, p. 329) e “como Nichiren” (WND, v. II, p. 909). Não há dúvida de que essas frases despertaram nos discípulos uma forte consciência e compromisso.

Inspirados pelo exemplo de Daishonin e pelo brado para que “praticassem de acordo com o ensinamento do Buda”, eles se ergueram resolutamente para agir em consonância com ele. Lutaram vigorosamente contra os “três obstáculos e quatro maldades”,10 que surgem para obstruir as forças do bem. Ao mesmo tempo, impulsionadas pela natureza demoníaca, que abominava a possibilidade de que o ensinamento correto prosperasse, as autoridades intensificaram a opressão. A Perseguição de Atsuhara ocorreu em meio a essa luta.

Continua na próxima edição.

Notas.

1. Perseguição de Atsuhara: Série de ameaças e ações violentas contra os seguidores de Nichiren Daishonin na vila de Atsuhara, distrito de Fuji, província de Suruga, que se iniciou por volta de 1275 e continuou até aproximadamente 1283. Em 1279, camponeses (seguidores de Nichiren) foram presos sob falsas acusações. Foram interrogados por Hei no Saemon-no-jo, subchefe do Posto de Comando Militar, que exigiu que renunciassem sua fé. Entretanto, nenhum deles cedeu. Por fim, Hei no Saemon-no-jo mandou executar três deles.

2. Hei no Saemon-no-jo (+1293): Também conhecido como Hei no Saemon-no-jo e Taira no Yoritsuna. Importante autoridade da regência Hojo; controlou o xogunato de Kamakura e governou o Japão no século 13. Serviu a dois sucessivos regentes, Hojo Tokimune e Hojo Sadatoki, e exerceu forte influência como subchefe do Posto de Comando Militar (o chefe era o próprio regente). Colaborou com Ryokan, prior do templo Gokuraku-ji da escola Preceitos-Palavra Verdadeira em Kamakura, e com outros sacerdotes de escolas budistas estabelecidas na época para perseguir Daishonin e seus seguidores.

3. Nikko Shonin (1246–1333): Também chamado Hoki-bo. Discípulo mais próximo e sucessor imediato de Nichiren Daishonin. Adotou Daishonin como mestre em 1258, aos 13 anos. Acompanhou-o a dois exílios: na Península de Izu e na Ilha de Sado. Mais tarde, os esforços de propagação empreendidos por Nikko Shonin provocaram a Perseguição de Atsuhara. Em Minobu, registrou as explanações sobre o Sutra do Lótus proferidas por Daishonin aos discípulos, intitulando-as Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente (Ongi Kuden). Após a morte de Daishonin, Nikko Shonin coletou e transcreveu os escritos do mestre, denominando-os Gosho (escritos honoráveis).

4. Gyochi (n.d.): Sacerdote leigo e membro do clã dominante Hojo. Apesar de não ser ordenado, atuava como vice-prior do templo Ryusen-ji, da escola Tendai, na vila de Atsuhara, distrito de Fuji. Seu nome completo e título eram Hei no Sakon Nyudo Gyochi.

5. Em Resposta aos Veneráveis, Nichiren Daishonin afirma: “Soube que quando os acusados foram submetidos à ira dos oficiais, eles recitaram Nam-myoho-renge-kyo, Nam-myoho-renge-kyo. Isso não foi algo comum! Estou certo de que as dez filhas demônio se apossaram do corpo de Hei no Saemon e o induziram a testar a fé desses devotos do Sutra do Lótus” (WND, v. II, p. 831).

6. Jinshiro, Yagoro e Yarokuro: Também conhecidos como os Três Mártires de Atsuhara. Camponeses de Atsuhara se converteram aos ensinamentos de Nichiren Daishonin em 1278, quando a propagação estava progredindo rapidamente na área sob a liderança de Nikko Shonin.

7. Perseguição de Tatsunokuchi: Instigada por figuras poderosas do governo, essa perseguição configurou uma tentativa fracassada de decapitar Nichiren Daishonin na calada da noite na Praia de Tatsunokuchi, localizada nos arredores de Kamakura, em 12 de setembro de 1271.

8. Exílio em Sado: Exílio de Nichiren na Ilha de Sado, localizada no Mar do Japão, de outubro de 1271 a março de 1274. Após fracassar na tentativa de executá-lo em Tatsunokuchi, as autoridades o condenaram ao exílio na Ilha de Sado, que equivalia à sentença de morte. Entretanto, quando as predições de Daishonin se concretizaram (invasão estrangeira e conflitos internos), o governo emitiu um indulto em março de 1274, e Daishonin retornou a Kamakura.

9. Monte Minobu: Localiza-se na atual prefeitura de Yamanashi. Nichiren Daishonin passou os últimos anos de sua vida no Monte Minobu, de maio de 1274 a setembro de 1282, antes de seu falecimento. Em Minobu, ele se dedicou a instruir seus discípulos, direcionando esforços de propagação e redigindo tratados doutrinários.

10. “Três obstáculos e quatro maldades”: Vários obstáculos e adversidades que tentam impedir a prática budista. Os “três obstáculos” são: (1) obstáculo dos desejos mundanos; (2) obstáculo do carma; e (3) obstáculo da retribuição. As “quatro maldades” são: (1) maldade dos cinco componentes; (2) maldade dos desejos mundanos; (3) maldade morte; e (4) maldade do rei demônio do sexto céu.



Budismo do Sol

Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda
Brasil Seikyo, Edição 2345, 29/10/2016, pág. B1aB3 / Encontro com o Mestre
Continuação do escrito 6 - As Perseguições ao Venerável

Budismo do povo — descortinando a era da religião humanística

Continuação do escrito 6

O propósito do Buda é a felicidade do povo

Ao ver seus discípulos se levantarem na fé com a união de “diferentes em corpo, unos em mente”, resolutos diante da mais dura repressão e perseguição praticadas pelas autoridades, Daishonin sentiu que o tempo para o kosen-rufu havia chegado. Esse é o contexto ao qual ele se refere neste escrito ao afirmar “o propósito de seu advento” neste mundo (cf. WND, v. I, p. 996).

O propósito do advento (ou surgimento) de uma pessoa consiste no desígnio máximo e verdadeiro pelo qual ela nasceu neste mundo. No capítulo “Meios Apropriados” (2º) do Sutra do Lótus, Shakyamuni declara: “Os budas, os Mundialmente Reverenciados, aparecem no mundo por uma única grande razão” (LSO, cap. 2, p. 64).

A única grande razão pela qual os budas surgem neste mundo é para ensinar o Sutra do Lótus, revelando que todos os seres vivos possuem inerente a sabedoria do buda e estabelecendo o caminho para que todas as pessoas alcancem o estado de buda.1

O propósito do advento dos budas — todos eles — é atingir o grande objetivo de conduzir as pessoas, sem exceção, à iluminação. O único meio que lhes possibilita fazer isso é pregar o Sutra do Lótus, que ensina que o estado de buda pode ser alcançado por todos.

Os verdadeiros devotos ou genuínos praticantes do Sutra do Lótus são aqueles que explicam e propagam o ensinamento correto sem poupar a própria vida, nunca recuam diante das perseguições e fazem seu o desejo do Buda.

Neste escrito, Nichiren Daishonin descreve que Shakyamuni, Tiantai e Dengyo perseveraram na propagação dos ensinamentos durante décadas, mesmo suportando perseguições, cumprindo o propósito de seu aparecimento no mundo. Cada um desses legítimos devotos do Sutra do Lótus, após longos anos de empenho em meio a perseguições, ensinou a Lei fundamental para se atingir o estado de buda de maneira apropriada à sua época.2

Nichiren Daishonin deu continuidade à linhagem direta desses três mestres de três países que propagaram o Sutra do Lótus. Nas linhas finais de A Profecia do Buda, ele se declara como um dos “quatro mestres das três nações”3 (CEND, v. I, p. 422).

Portanto, o propósito do surgimento de Nichiren Daishonin neste mundo, nesta era dos Últimos Dias da Lei, é revelar a Lei que conduz todas as pessoas à iluminação e estabelecer os meios para que atinjam a iluminação. Daishonin despertou para essa Lei e revelou que se trata do Nam-myoho-renge-kyo, implícito no capítulo “Extensão da Vida” (16º) do ensinamento essencial (segunda metade) do Sutra do Lótus.

Cumprir o juramento seigan de conduzir as pessoas à iluminação

O principal objetivo de vida de Nichiren Daishonin era cumprir o juramento que firmara na juventude — salvar todas as pessoas do sofrimento. Ele o fez revelando a Lei fundamental da iluminação universal — ou seja, o Nam-myoho-renge-kyo das três grandes leis secretas,4 e estabelecendo a base eterna para o kosen-rufu.

Nesta carta, Daishonin afirma: “Eu levei vinte e sete anos, e as grandes perseguições que enfrentei durante esse período são bem conhecidas de todos os senhores” (WND, v. I, p. 996). Desse modo, ele enfatiza que, no curso de 27 anos, suportou perseguições mais severas que as vivenciadas por Shakyamuni, exatamente como predizia o Sutra do Lótus. O Sr. Makiguchi também sublinhou esse trecho em seu exemplar dos escritos de Nichiren Daishonin.

Empenhar-se na propagação da Lei Mística é, apesar de enfrentar perseguições como Daishonin afirmou em Abertura dos Olhos, prova da “enorme compaixão pelas pessoas” (CEND, v. I, p. 252). Movido por sua ilimitada compaixão para ajudar as outras pessoas­ a atingir o estado de buda, ele suscitou perseguições, e em meio a elas incorporou a grande Lei da iluminação universal, as quais colaboraram para que ele cumprisse o seu juramento.

Como Buda dos Últimos Dias da Lei inspirado por seu grandioso e compassivo juramento de libertar para sempre a humanidade do sofrimento, Daishonin devotou a vida a conduzir as pessoas à iluminação, transformando a perseguição em um catalisador para a realização do kosen-rufu.

O surgimento de discípulos abnegados, determinados a herdar o grande juramento pelo kosen-rufu

Assumindo como seu o grande juramento de Nichiren Daishonin, com pureza na fé e no coração, seus discípulos entre os camponeses de Atsuhara enfrentaram a perseguição imposta pelas autoridades tirânicas. O comprometimento inabalável deles diante da mais severa perseguição é um exemplo de dedicação altruística à propagação da Lei, alicerçada na fé solidamente unida ao seu mestre. Foi um feito incomparável, proclamando a vitória do budismo do povo para as futuras gerações.

O budismo do povo é uma filosofia fundamentada no ensinamento da iluminação universal apresentada no Sutra do Lótus, que expõe a dignidade, a igualdade e o valor incomparável de todas as pessoas­. Os protagonistas dessa filosofia não possuem habilidades ou atributos especiais além daqueles dos seres humanos comuns. São os mestres e discípulos que praticam e propagam a essência do Sutra do Lótus no mundo real, na sociedade e na comunidade. Os discípulos realizam a mesma prática que o mestre empenhando-se para despertar o máximo de pessoas possível. O budismo do povo é uma religião humanística, na qual pessoas conscientes de sua missão desempenham papel principal e abrem o caminho para a vitória de todos.

Perseguidos em virtude de sua fé no ensinamento correto, os desconhecidos camponeses de Atsu­hara travaram batalha para conquistar a vitória espiritual­ eterna. Eles representaram o surgimento de uma grande força constituída por pessoas que acreditam no Nam-myoho-renge-kyo das três grandes leis secretas, a essência do Sutra do Lótus, e o praticam e lutam pelo kosen-rufu ao lado de Daishonin. Os alicerces do budismo do povo foram, portanto, firmemente estabelecidos. Esse fato assinalou o cumprimento do propósito do advento de Nichiren Daishonin no mundo. A essência do Budismo de Nichiren Daishonin é o surgimento de pessoas, bodisatvas da terra, detentoras de profunda missão e que se espelham no bodisatva Jamais Desprezar5 como modelo.

Para os seguidores de Daishonin, o surgimento de discípulos entre os camponeses de Atsuhara, que não pouparam a vida em prol do budismo, tornou-se a base imortal para o kosen-rufu, que continua­rá a brilhar por toda a eternidade.

Trecho 2 do Gosho

Nestes vinte e sete anos, no entanto, Nichiren foi exilado na província de Izu, no décimo segundo dia do quinto mês, no primeiro ano de Kocho (1261), signo cíclico kanoto-tori; foi ferido na testa e sofreu uma fratura na mão esquerda no décimo primeiro dia do décimo primeiro mês do primeiro ano de Bun’ei (1264), signo cíclico kinoe-ne. Foi conduzido ao local de execução no décimo segundo dia do nono mês no oitavo ano de Bun’ei (1271), signo cíclico kanoto-hitsuji, e, por fim, foi exilado na província de Sado. Além disso, incontáveis discípulos seus foram assassinados, feridos, banidos ou então sofreram pesadas sanções. Não sei se essas provações se igualam ou superam as do Buda. Porém, Nagarjuna, Vasubandhu, Tiantai e Dengyo não podem se comparar a mim nesse sentido. Se não fosse pelo advento de Nichiren nos Últimos Dias da Lei, o Buda teria sido um grande mentiroso, e o testemunho dado por Muitos Tesouros e pelos budas das dez direções hoje seria falso. Nos mais de 2.230 anos transcorridos desde a morte do Buda, Nichiren é a única pessoa, em todo o território de Jambudvipa, que tem cumprido as palavras do Buda. (WND, v. I, p. 997)

As grandes perseguições revelam o devoto do Sutra do Lótus

Nas passagens seguintes, Daishonin discorre sobre o fato de ter ultrapassado numerosas perseguições ao longo dos 27 anos desde que estabeleceu seus ensinamentos, e reitera que “Nichiren é a única pessoa” no mundo todo que tem cumprido as palavras do buda Shakyamuni após a sua morte (cf. WND, v. I, p. 997).

As perseguições que ele enumera nesta carta referem-se, respectivamente, ao Exílio em Izu, à Perseguição de Komatsubara, à Perseguição de Tatsunokuchi e ao Exílio em Sado.

Quem foi perseguido por lutar em prol da Lei? Quem é o devoto do Sutra do Lótus que luta contra os “três poderosos inimigos”?6 O budismo ensina que devemos buscar alguém assim para tê-lo como nosso verdadeiro mestre.

Daishonin reafirma que “Nichiren é a única pessoa […] que tem cumprido as palavras do Buda” (Ibidem) porque em meio a grandes perseguições que punham em risco a sua vida, ele permaneceu fiel a seu compromisso de capacitar todos os seres vivos a atingir a iluminação.

É digno de nota o fato de Nichiren Daishonin também mencionar as perseguições que seus discípulos enfrentaram. Ele afirma: “Além disso, vários de seus discípulos foram assassinados, feridos, banidos ou então sofreram pesadas sanções” (Ibidem). Não somente ele sofreu perseguições pessoalmente, mas os ataques estenderam-se também a seus seguidores. A opressão não provinha só dos líderes da facção central do governo militar de Kamakura e dos sacerdotes perversos coniventes com eles mas também dos senhores feudais e serviçais locais e da família e clã dos próprios discípulos.

Nesta carta, Daishonin expressa sua poderosa convicção de que todas as incalculáveis perseguições vivenciadas por seus seguidores servem para comprovar as palavras do Buda.

Aqueles que propagam a lei correta e lutam contra perseguições são realmente dignos de respeito. Para aqueles que dedicam a vida à verdade e à justiça, perseguições são um distintivo de honra e uma prova de que o ensinamento que abraçam é correto.

A Soka Gakkai herdou o espírito de luta de Nichiren Daishonin

Do prisma dos escritos de Nichiren Daishonin, certamente surgirão perseguições no curso da luta pelo kosen-rufu.

Shakyamuni também foi perseguido, assim como o grande mestre Tiantai. Daishonin e os discípulos que compartilhavam o mesmo espírito demonstraram a veracidade da predição do Sutra do Lótus: “Como o ódio e a inveja por este sutra proliferam mesmo quando Aquele que Assim Chega vive neste mundo, quão piores serão depois de sua morte!” (LSO, cap. 10, p. 203).

A grande batalha de Daishonin e seus discípulos, praticando exatamente como o Buda ensinou e propagando o ensinamento sem poupar a própria vida, provou a veracidade do Sutra do Lótus e abriu o caminho para o kosen-rufu pelo eterno futuro dos Últimos Dias da Lei.

Criar discípulos genuínos tem um significado especialmente profundo.

Por meio da luta conjunta de mestre e discípulo, o budismo do povo foi transmitido às gerações futuras, culminando no surgimento da Soka Gakkai na época atual. Nesse sentido, a missão e o papel da SGI, organização do povo e que herdou o propósito fundamental de Nichiren Daishonin e o disseminou pelo mundo todo, revestem-se de uma importância ainda maior.

Expandir a rede Soka é edificar a paz

O respeitado filósofo indiano Lokesh Chandra, com quem mantenho longa e terna amizade, manifestou sua ilimitada confiança e expectativa em relação à Soka Gakkai, dizendo: “A filosofia de criação de valor estabelecida pelo Sr. Makiguchi e desenvolvida ainda mais pelo Sr. Toda se difundiu pelo mundo todo por intermédio do presidente Ikeda conquistando um alcance global”. Também afirmou: “No que se refere à criação de valores essenciais na vida, a Soka Gakkai é uma presença rara em nosso mundo atual”.7

Quando pessoas conscientes de sua missão em prol do kosen-rufu se levantarem e a filosofia do respeito à vida baseada na Lei Mística for transmitida de pessoa a pessoa e incutida profundamente na vida delas, então a sociedade e a época passarão por uma transformação em um âmbito fundamental.

A expansão de nossa rede Soka é o passo infalível para a construção da paz.

O sol do budismo do povo está raiando, brilhando cada vez mais como fonte de esperança.

Avancemos rumo à era dourada da vitória da humanidade! Chegou a hora de dar início à verdadeira luta de genuínos discípulos.

Adornemos o 85º aniversário de fundação da Soka Gakkai (em novembro de 2015) com um magnífico sucesso e sigamos em frente unidos, com alegria e coragem, na triunfante luta conjunta de mestre e discípulo, para expandir ainda mais nosso movimento pelo kosen-­rufu mundial.

Continua na próxima edição.

Notas

1. Uma passagem inteira do Sutra do Lótus afirma: “Os budas, os Mundialmente Reverenciados, desejam abrir o portal da sabedoria do buda para todos os seres vivos, permitindo que alcancem a pureza. É por esse motivo que eles aparecem no mundo. Desejam mostrar a sabedoria do buda para os seres vivos e, portanto, aparecem no mundo. Além disso, desejam induzir os seres vivos a entrar no caminho da sabedoria do buda, portanto, aparecem no mundo. Shariputra, esta é a única grande razão pela qual os budas aparecem no mundo” (LSO, cap. 2, p. 64). Essa passagem revela os quatro aspectos da sabedoria do buda — abrir, mostrar, despertar e ajudar as pessoas a entrar no caminho da sabedoria.

2. Shakyamuni pregou os 28 capítulos do Sutra do Lótus, Tiantai deixou seu tratado Grande Concentração e Discernimento, e Dengyo estabeleceu o santuário do ensinamento teórico construindo um local para a ordenação Mahayana no Monte Hiei. Segundo Daishonin, estes constituem, respectivamente, o propósito de seu advento neste mundo.

3. Refere-se aos quatro mestres que surgiram na Índia, na China e no Japão para propagar o Sutra do Lótus — Shakyamuni na Índia, grande mestre Tiantai na China, grande mestre Dengyo e Nichiren Daishonin no Japão. Em A Profecia do Buda, Daishonin afirma: “O grande mestre Dengyo declara: ‘Shakyamuni ensinou que o superficial é fácil de abraçar, mas o profundo é difícil. Descartar o superficial e buscar o profundo é próprio de uma pessoa de coragem. O grande mestre Tiantai acreditou em Shakyamuni e o seguiu. Empenhou-se em proteger a escola Lótus propagando seus ensinamentos para toda a China. Nós, do Monte Hiei, herdamos a doutrina de Tiantai e nos empenhamos em proteger a escola Lótus e propagar os ensinamentos desta por todo o Japão’. Eu, Nichiren, da província de Awa, certamente herdei os ensinamentos da Lei desses três mestres e, nesta era dos Últimos Dias da Lei, dedico-me a proteger a escola Lótus e propagar a Lei. Juntos, deveríamos ser chamados ‘os quatro mestres das três nações’” (CEND, v. I, p. 422).

4. Três grandes leis secretas: A recitação ou daimoku (de Nam-myoho-renge-kyo) do ensinamento essencial, o objeto de devoção (o Gohonzon), e o local de devoção (o santuário) [CEND, v. I, p. 409].

5. Bodisatva Jamais Desprezar: É descrito no 20º capítulo do Sutra do Lótus, “Bodisatva Jamais Desprezar”. Esse bodisatva foi Shakyamuni numa existência passada. Reverenciando todas as pessoas que encontrava, dizia: “Reverencio-o profundamente, jamais ousaria tratar-lhe com arrogância ou menosprezo. Por quê? Porque todos vocês praticarão o caminho do bodisatva e serão capazes de atingir o estado de buda” (LSO, cap. 20, p. 308). Entretanto, ele era atacado por pessoas arrogantes que lhe jogavam pedras e o agrediam com varas e bastões. Os sutras explanam que essa prática se tornou a causa para que o bodisatva Jamais Desprezar atingisse a iluminação.

6. “Três poderosos inimigos”: Três categorias de pessoas arrogantes que perseguem aqueles que propagam o Sutra do Lótus na era maléfica após a morte do buda Shakyamuni, descritos nos versos conclusivos do capítulo “Encorajamento à Devoção” (13º) do Sutra do Lótus. O grande mestre Miaole, da China, resume-os como pessoas leigas arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos sábios arrogantes.

7. Traduzido do japonês. IKEDA, Daisaku. Ikeda Daisaku Zenshu [Coletâneas de Obras de Daisaku Ikeda]. Tóquio: Seikyo Shimbun, v. 115.


Budismo do Sol
Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda

Brasil Seikyo, Edição 2346, 05/11/2016, pág. B1-B4 / Encontro com o Mestre
Continuação do escrito 6 - As Perseguições ao Venerável
Coração de rei leão é o espírito fundamental da Soka Gakkai

As Perseguições ao Venerável - Continuação da edição 2.345

Escrito 6

Cada um dos senhores deve reunir a coragem do rei leão e jamais sucumbir às ameaças de ninguém. O rei leão não teme outros animais, e da mesma forma agem seus filhotes. Os caluniadores são como raposas que uivam, mas os seguidores de Nichiren são como leões que rugem. O sacerdote leigo do [templo] Saimyo-ji, já falecido, e o regente atual permitiram que eu retornasse de meus exílios quando descobriram que eu era inocente das acusações atribuídas a mim. O governante atual não mais tomará medidas em resposta a qualquer acusação sem antes ter confirmado a veracidade dos fatos. Os senhores podem ter certeza de que nada, nem mesmo alguém possuído por um poderoso demônio, poderá fazer mal a Nichiren, pois Brahma, Shakra, as divindades do Sol e da Lua, os quatro reis celestiais, a Deusa do Sol e Hachiman estão me protegendo a todo o momento. Fortaleça sua fé dia após dia, mês após mês. Se enfraquecer na determinação ainda que um pouco, demônios se aproveitarão. [...]

Encorajem, mas não atemorizem, as pessoas de Atsuhara que são ignorantes do budismo. Digam a elas que se preparem para o pior; que não esperem bons tempos, mas tenham os maus como certos. Se reclamarem da fome, contem-lhes sobre os sofrimentos no mundo dos espíritos famintos. Se lamentarem do frio, explique a elas sobre os oito infernos gelados. Se demonstrarem que estão com medo, diga-lhes que um faisão avistado por um falcão ou um rato perseguido por um gato sentem o mesmo desespero que elas. (WND, v. I, p. 997-998)

Introdução

A Soka Gakkai é um agrupamento de leões. Se cada um de nós nos tornarmos um leão, podemos vencer qualquer forma de adversidade. Leões são fortes, nada temem.

Se recitarmos Nam-myoho-renge-kyo do rugido do leão, aniquilaremos todas as funções demoníacas. Nada consegue impedir o caminho dos leões.

Hoje, por todo o planeta, jovens leões­ Soka estão empreendendo ações impregnadas de um novo vigor, com o espírito de levantar-se só, movidos pelo desejo de promover nosso movimento pelo kosen-rufu em seu respectivo país e comunidade.

Ingressamos num período em que os jovens estão dando continuidade e desenvolvendo ainda mais o legado de vitória em prol do povo, construído pelos mestres e discípulos Soka e oriundo do histórico e abnegado empenho do primeiro e segundo presidentes, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda. Esses jovens, extraordinários líderes cidadãos do mundo, estão se esforçando com a coragem de leões para criar uma sociedade pacífica.

Nosso movimento pela revolução humana, fundamentado nos princípios do Budismo de Nichiren Daishonin, está ganhando reconhecimento no mundo inteiro. A Soka Gakkai reluz como um farol de esperança para a humanidade no século 21.

Neste ensejo em que celebramos o 85º aniversário de fundação da Soka Gakkai (18 de novembro de 2015), consolidamos uma rede mundial de bravos leões. Vamos todos juntos bradar com orgulho nossa esplêndida vitória!

“Prefiro um único leão a
mil ovelhas!”

O Sr. Makiguchi costumava dizer: “Prefiro um único leão a mil ovelhas!”. Com o espírito do rei leão, ele e seu discípulo, Josei Toda, empreenderam incessantes esforços contra a perseguição que enfrentaram pela causa do budismo durante a Segunda Guerra Mundial. Daí se originou o espírito da Soka Gakkai.

Na época, as autoridades militaristas do Japão forçavam as pessoas a abraçar o xintoísmo como religião do Estado, com o propósito de convertê-lo no pilar espiritual para unir o povo em torno de seus planos de guerra. Makiguchi e Josei Toda opuseram resistência às exigências do governo. Insistiram com firmeza em defender seu direito à liberdade de crença religiosa e o ideal de Nichiren Daishonin de “estabelecer o ensinamento correto para a pacificação da terra”. No dia 18 de novembro de 1944 — exatamente no mesmo dia em que catorze anos antes (1930) sua revolucionária obra Soka Kyoikugaku Taikei [Sistema Pedagógico de Criação de Valor]1 havia sido publicada —, Makiguchi morreu na prisão dando a vida por suas convicções.

Josei Toda só soube da morte do seu mestre dois meses depois, em 8 de janeiro do ano seguinte (1945). Naquele momento, ele jurou: “Esperem e verão! Se sair da prisão com vida, eu me tornarei o conde de Monte Cristo e provarei a inocência do meu mestre, sem falta!”.

O espírito do rei leão é, de fato, o espírito fundamental da Soka Gakkai e o ponto primordial do nosso movimento. Herdando esse espírito, conduzimos a luta pelo kosen-rufu até os dias atuais. Nesta oportunidade, daremos sequência ao estudo do escrito As Perseguições ao Venerável, aprendendo um pouco mais a respeito do espírito do rei leão demonstrado pelos presidentes Makiguchi e Josei Toda, que eu também venho me empenhando para evidenciar com a mesma força.

Fé Soka é outro nome para coragem

Trecho 1 do Gosho

Cada um dos senhores deve reunir a coragem do rei leão e jamais sucumbir às ameaças de ninguém. O rei leão não teme outros animais, e da mesma forma agem seus filhotes. Os caluniadores são como raposas que uivam, mas os seguidores de Nichiren são como leões que rugem. (WND, v. I, p. 997)

Nas edições anteriores, estudamos a primeira metade de As Perseguições ao Venerável e verificamos que a base para o budismo do povo foi estabelecida por meio da luta obstinada dos três mártires de Atsuhara2 e dos outros discípulos camponeses de Nichiren Daishonin durante a Perseguição de Atsu­hara.3 Na segunda metade deste escrito que estudaremos neste segmento, Daishonin descreve detalhadamente a postura que seus discípulos, que enfrentavam perseguições intensas, deveriam adotar como praticantes da Lei Mística.

Na parte imediatamente anterior a esta passagem, Nichiren Daishonin declara: “No passado e na era atual dos Últimos Dias da Lei, os governantes, os altos ministros e as pessoas que desprezaram os devotos do Sutra do Lótus pareciam estar livres de punição no início, mas, com o tempo, todos se condenarão à queda” (WND, v. I, p. 997). Aqueles que perseguem os devotos ou praticantes do Sutra do Lótus, independentemente da época, não têm como escapar da rigorosa ação da lei de causa e efeito.

Além disso, Daishonin afirma que as divindades que juraram proteger o Sutra do Lótus — como Bhrama, Shakra, as divindades do Sol e da Lua, e os quatro reis celestiais — agora se empenham para cumprir seu juramento e, portanto, trabalhando mais do que nunca para proteger Nichiren Daishonin, o devoto do Sutra do Lótus (cf. WND, v. I, p. 997). Como, à luz da Lei Mística, as consequências dos bons e maus atos são evidentes, não há motivo para temer a perseguição.

Todos possuem dentro de si a coragem do rei leão

Após esse esclarecimento, Daishonin encoraja seus discípulos: “Cada um dos senhores deve reunir a coragem do rei leão” (Ibidem).

O Sr. Makiguchi sublinhou esse trecho em seu exemplar dos escritos de Nichiren Daishonin.

Essa frase encerra a essência do Budismo de Nichiren Daishonin. Como a passagem indica ao assinalar “Cada um dos senhores”, todos nós, sem exceção, possuímos dentro de nós a coragem do rei leão. O fator essencial para fazer despertar essa coragem é a fé fundamentada no espírito de unicidade com o nosso mestre.

A coragem do rei leão é o espírito do mestre que abriu destemidamente o caminho do kosen-rufu. Quando fazemos nosso esse espírito, infalivelmente ativamos a coragem de um rei leão em nossa própria vida.

No período em que eu trabalhava arduamente para apoiar o Sr. Toda, fiz uma profunda decisão. Para proteger meu mestre — um rei leão —, decidi como seu discípulo reunir, eu mesmo, a coragem de um rei leão e suplantar todos os obstáculos.

Quando nos empenhamos com o mesmo espírito do nosso mestre, nunca ficamos num beco sem saída. Ao nos perguntar o que o mestre faria, reunimos nossa sabedoria e força para corresponder às expectativas dele — é esse espírito que desperta a força do rei leão dentro de nós e faz surgir a coragem para vencer as dificuldades e os desafios.

O Sr. Toda costumava dizer que aqueles que continuam a se esforçar corajosamente pelo kosen-rufu — o desejo acalentado por Nichiren Daishonin — são bodisatvas e budas.

O espírito do rei leão consiste em abraçar um compromisso inabalável — um espírito invencível, o espírito da Soka Gakkai. É lutando contra as dificuldades e vencendo-as que atingimos o estado de buda. Por isso, devemos reunir a coragem do rei leão. Fé é outro nome para a coragem de continuar seguindo sempre em frente.

Nossos associados vêm se dedicando incansavelmente desde os primórdios da Soka Gakkai, recusando-se a se deixar derrotar por injúrias e críticas infundadas, agindo de acordo com a admoestação de Daishonin de “Jamais sucumbir às ameaças de ninguém” (Ibidem). Eles cerraram os dentes e não re­cuaram um pouco sequer. Aqueles que avançam, um passo que seja, ou um simples milímetro, são vitoriosos. Não ceder à derrota é o meio para se acumular tesouros do coração imperecíveis e, assim, realizar a revolução humana e transformar o destino. No âmbito da fé, aqueles que perseveram sinceramente na prática budista colherão, sem falta, os louros de vitória brilhante no final.

O filhote do leão também é um rei leão

Nichiren Daishonin prossegue, afirmando: “O rei leão não teme outros animais, e da mesma forma agem seus filhotes. Os caluniadores são como raposas que uivam, mas os seguidores de Nichiren são como leões que rugem” (WND, v. I, p. 997).

Há inúmeras referências ao rei leão nos escritos de Nichiren Daishonin. Ele compara seu estado de vida iluminado ao do rei leão para facilitar a compreensão de seus discípulos. Nas escrituras budistas, o rei leão também é empregado para simbolizar o Buda.

Daishonin também equipara o Sutra do Lótus — o rei dos sutras — ao rei leão. Aqueles que abraçam este sutra alcançarão o estado de vida de um rei leão, intrépido e confiante, como ele indica ao assegurar: “Será corajosa como o rei leão” (cf. CEND, v. I, p. 431). Por essa razão, quando recitamos Nam-myoho-renge­-kyo do rugido do leão, escreve ele, “Que doença pode, portanto, ser um obstáculo?” (Ibidem).

Em As Perseguições ao Venerável, Daishonin salienta que o rei leão não teme outros animais, e da mesma forma agem seus filhotes (cf. WND, v. I, p. 997). As “raposas que uivam” são as que fogem de medo ao ouvirem o rugido do leão.

O fator fundamental para combater os obstáculos ou forças negativas reside em nosso próprio coração. Por mais colossal possa se mostrar o obstáculo ou função demoníaca, não há motivo para temê-lo. Antes, o que deveríamos temer é ceder à fraqueza que existe em nosso coração e ser influenciados ou nos deixar amedrontar por tais funções4 (cf. CEND, v. I, p. 524).

O segredo da vitória se encontra em permanecer invicto no espírito. “O que importa é o coração” (WND, v. I, p. 1000). Vencedores no espírito são vencedores na vida.

Nesta passagem, Daishonin utiliza a expressão “seguidores de Nichiren” (Ibidem, p. 997). É uma referência àqueles que fizeram um profundo laço de mestre e discípulo com Daishonin que, nos 27 anos desde o estabelecimento de seu ensinamento (em 1253), conforme se relata no início da carta, lutou e venceu todos os tipos de poderosos inimigos e as mais severas perseguições.

Interpreto a utilização da expressão “seguidores de Nichiren” aqui como um poderoso incentivo aos seus discípulos, como se ele lhes assegurasse: “Todos vocês são meus discípulos! Desse modo, se vocês se empenharem assim como eu, vencerão infalivelmente!”.

Discípulos que abraçam o grandioso objetivo do kosen-rufu e seguem o exemplo de um excelente mestre, repleto de compaixão, coragem e sabedoria, jamais serão derrotados. O rei leão é sempre vitorioso. Os filhotes de leão devem decidir se tornar reis leões também. É o momento exato para isso. Os discípulos de Nichiren Daishonin devem se encorajar mutuamente e se lembrar de que chegou a hora de se levantarem resolutamente como reis leões. Essa é a mensagem de Daishonin aos seus discípulos.

Trecho 2 do Gosho

O sacerdote leigo do Saimyo-ji, já falecido, e o regente atual permitiram que eu retornasse de meus exílios quando descobriram que eu era inocente das acusações atribuídas a mim. O governante atual não mais tomará medidas em resposta a qualquer acusação sem antes ter confirmado a veracidade dos fatos. Os senhores podem ter certeza de que nada, nem mesmo alguém possuído por um poderoso demônio, poderá fazer mal a Nichiren, pois Brahma, Shakra, as divindades do Sol e da Lua, os quatro reis celestiais, a Deusa do Sol e Hachiman estão me protegendo a todo o momento. Fortaleça sua fé dia após dia, mês após mês. Se enfraquecer na determinação ainda que um pouco, demônios se aproveitarão. (WND, v. I, p. 997)

A proteção das divindades celestiais é certa

Nichiren Daishonin menciona o fato de o antigo regente Hojo Tokiyori permitir que ele retornasse do exílio em Izu,5 e o atual governante, Hojo Tokimune, consentiu que regressasse do exílio em Sado.6 Em ambos os casos, ele foi condenado ao exílio em decorrência de mentiras disseminadas por seus inimigos, motivados pela inveja e a mordaz animosidade. Daishonin afirma que os governantes do país, tendo percebido esse fato, provavelmente não incorreriam no mesmo erro outra vez.

Neste trecho, Nichiren Daishonin assegura a seus discípulos que enfrentavam severas perseguições que, se lutassem com o espírito do rei leão contra as conspirações e intrigas infligidas a eles, a verdade seria revelada sem falta.

É mais que natural as divindades celestiais protegerem aqueles que abraçam a Lei — que é tão vasta quanto o próprio universo —, mesmo que alguém com imensa autoridade secular, “possuído por um poderoso demônio” (WND, v. I, p. 997), tente persegui-los. A declaração de Nichiren Daishonin é repleta de compaixão e convicção.

Esta passagem estava sublinhada em vermelho no exemplar do Gosho do presidente Josei Toda, apreendido pelas autoridades durante a guerra.

A amplitude da proteção que recebemos das divindades celestiais depende da força da nossa fé. Se formos preguiçosos, apáticos ou negligentes, as funções demoníacas ou influências negativas poderão se aproveitar disso, achar um meio de penetrar em nossa vida e destruir tanto nosso corpo como nossa mente. Por essa razão, Nichiren Daishonin enfatiza: “Fortaleça sua fé dia após dia, mês após mês. Se enfraquecer na determinação ainda que um pouco, demônios se aproveitarão” (Ibidem).

Recordações das explanações de Gosho em Saitama

Durante a juventude, explanei este Gosho como representante do presidente Josei Toda para os membros da Comunidade Kawagoe, da província de Saitama, Japão. Na época, discorri sobre a passagem “Fortaleça sua fé dia após dia, mês após mês. Se enfraquecer na determinação ainda que um pouco, demônios se aproveitarão”, e reiterei aos associados de Kawagoe que o kosen-rufu constitui uma luta incessante contra as forças demoníacas.

Aos membros que lutavam ao meu lado, eu disse: “Não importando quão arduamente tenhamos nos empenhado até hoje, se nos tornarmos arrogantes ou presunçosos, abriremos uma brecha para as funções demoníacas penetrarem. Essas influências estão sempre em busca de uma oportunidade para impedir nosso crescimento e barrar e destruir o fluxo do kosen-rufu. A única maneira de suplantar as funções demoníacas é continuar avançando, desafiando a nós mesmos e nos desenvolvendo dia após dia”.

Esforços persistentes na fé são o segredo da vitória na vida. Shakyamuni afirmou que, desde que atingira a iluminação, ele “nem por um momento negligenciou [o trabalho de um buda]”7 (LSO, cap. 16, p. 267). Daishonin transmite a mesma mensagem, dizendo: “Jamais, nem uma única vez, pensei em retroceder”8 (WND, v. II, p. 465).

Que função demoníaca Shakyamuni e Nichiren Daishonin combateram durante toda sua vida? A escuridão fundamental ou ignorância9 inerente à vida humana.

Funções demoníacas são essencialmente “ladrões de vida” e “ladrões de benefícios” (cf. CEND, v. I, p. 89). O segredo para dominá-las reside em possuir um coração ou espírito que se fortalece cada vez mais “dia após dia e mês após mês”. Incessantes esforços para avançar na prática budista ativa o estado de buda.

As funções demoníacas não conseguem penetrar na vida daqueles que se empenham com afinco na prática budista — aqueles que constantemente ativam o estado de buda a partir de dentro deles. As pessoas que avançam de forma contínua edificam uma condição de vida vasta e abrangente. Esse é o propósito do budismo.

“Fortaleça sua fé dia após dia, mês após mês” é a base para a vitória absoluta, que nos capacita a vencer os “três obstáculos e quatro maldades”10 e a transformar o nosso destino.

Trecho 3 do Gosho

Encorajem, mas não atemorizem, as pessoas de Atsuhara que são ignorantes do budismo. Digam a elas que se preparem para o pior; que não esperem bons tempos, mas tenham os maus como certos. Se reclamarem da fome, contem-lhes sobre os sofrimentos no mundo dos espíritos famintos. Se lamentarem do frio, explique a elas sobre os oito infernos gelados. Se demonstrarem que estão com medo, diga-lhes que um faisão avistado por um falcão ou um rato perseguido por um gato sentem o mesmo desespero que elas. (WND, v. I, p. 998)

Enfrentar desafios com dedicada fé

Quando praticamos corretamente a Lei Mística, obstáculos e oposições ocorrem invariavelmente. Porém, as grandes dificuldades enfrentadas no decorrer de nossos esforços em prol do kosen-rufu nos capacitam a atingir o estado de buda. Tal como a moxibustão,11 que fere ao ser aplicada, mas é necessária para curar a doença,12 (cf. WND, v. I, p. 998), como Nichiren aponta neste escrito, pôr nossa fé em prática para ultrapassar os obstáculos e dificuldades nos permite transformar o destino.

Os benefícios da fé surgem de diversas formas. Uma situação, ou obstáculo, que no momento talvez pareça injusta e incabível poderá, ao fazermos uma retrospectiva no futuro, ser apreciada como um acontecimento que abriu o caminho para a felicidade. Até mesmo a situação aparentemente terrível e desesperadora ao extremo, quando enfrentada com forte fé, poderá propiciar uma oportunidade para se alcançar um benefício imensurável e genuíno. Daishonin elucida neste trecho esse profundo princípio.

Na perspectiva das três existências da vida, que abrange passado, presente e futuro, a morte do presidente Makiguchi na prisão em defesa de suas convicções produziu uma causa para a magnífica expansão e desenvolvimento da Soka Gakkai pelo eterno futuro, e abriu o caminho para o kosen-rufu mundial e a criação da nossa rede dedicada à felicidade das pessoas e à paz mundial.

Daishonin salienta a seus seguidores que se esforcem com uma fé imbuída de forte compromisso, encorajando-os a estar prontos para qualquer coisa. “Não esperem bons tempos, mas tenham os maus como certos” (Ibidem).

Mesmo antes de proclamar seu ensinamento pela primeira vez, Daishonin estava mais consciente do que ninguém de que, se expusesse o ensinamento correto, perseguições intensas ocorreriam. Contudo, mantendo-se calmo e imperturbável diante da série infindável de perseguições que enfrentou subsequentemente, continuou a lutar, afirmando em outros escritos que “Aguardava este momento há muito tempo” (WND, v. I, p. 764) e “Não estou sofrendo, pois desde o começo eu já sabia que isso ocorreria” (CEND, v. I, p. 202).

As palavras de Nichiren Daishonin “Não esperem bons tempos, mas tenham os maus como certos” (WND, v. I, p. 998) descrevem perfeitamente sua pronta disposição de enfrentar o que quer que fosse.

Se tivermos a fé resoluta que nos habilite a não ser influenciados por circunstância alguma e a seguir em frente pelo caminho que escolhemos, ilimitada coragem e infinita sabedoria brotarão de dentro de nós, e se abrirá o caminho para a vitória em todos os campos. Poderemos transformar infalivelmente nossos problemas e nosso destino.

Como Daishonin afirma: “Dificuldades surgirão, e deverão ser encaradas como [paz e tranquilidade]” (cf. OTT, p. 115). Quando nos virmos assolados por árduas provações, devemos enfrentar a situação com alegria e coragem, encarando-a como uma oportunidade para nos tornarmos mais fortes. Esse é o espírito da Soka Gakkai e a essência do modo de vida budista.

A adversidade nos faz crescer. É o forte vento contrário que nos permite transformar o destino e ascender ao céu da felicidade e vitória.

Características comuns àqueles que abandonam a fé

O trecho seguinte “Se reclamarem da fome” (WND, v. I, p. 998) explica que aqueles que abandonam a fé por temerem a fome e o frio,ou por medo da perseguição cairão nos estados de vida dos “três maus caminhos” — os mundos do inferno, da fome e da animalidade — nas três existências.

Só é possível compreender a essência do budismo da perspectiva da eternidade — frequentemente expressa no budismo como as três existências — passado, presente e futuro. Por acreditarmos na eternidade da vida, nossos esforços nesta existência possuem um profundo significado. O sofrimento das dificuldades que estamos vivenciando agora propicia a consecução do estado de buda. É como a moxibustão, que é dolorosa ao ser aplicada, mas depois produz um efeito benéfico.

No trecho seguinte, Daishonin aponta quatro características daqueles que abandonaram a fé, como Sammi-bo13 e outros (cf. WND, v. I, p. 998).14

1. São covardes. Fingem ter firmeza no coração, mas quando a perseguição de fato acontece, esquecem as instruções do seu mestre e fogem apavorados.

2. São insensíveis ou descuidados. Ouvem as importantes orientações oferecidas por seu mestre, acatando-as como se aplicassem aos outros, não a eles, e se esquecem delas rapidamente. Isso ocorre porque carecem de fé para buscar a orientação do seu mestre com sinceridade.

3. São gananciosos. Anseiam avidamente por prazeres mundanos, poder e aclamação. Esquecendo-se do grandioso juramento de mestre e discípulo pelo kosen-rufu e concentrando-se somente em seus interesses imediatos, desviam-se do correto caminho da fé.

4. São desconfiados. Duvidam das instruções do seu mestre e não conseguem compreendê-las apropriadamente.

Em síntese, o traço comum a todos que abandonam a fé é o fato de não terem como o eixo de sua vida a fé — que deveria ser o alicerce deles — ou o mestre que os instrui sobre essa Lei. Em vez disso, são centrados em si mesmos. São egoisticamente arrogantes e ingratos. Essa é a essência daqueles que abandonam a fé na Lei Mística.

O Gohonzon é o “estandarte da propagação do Sutra do Lótus”

Durante o período em que estava se dedicando à reconstrução da Soka Gakkai após a Segunda Guerra Mundial, meu mestre, Josei Toda, declarou: “Nossa vida é eterna, sem começo nem fim. Agora tenho consciência de que todos nós surgimos neste mundo com a grande missão de propagar o Nam-myoho-renge-kyo, ou o Sutra do Lótus de sete ideogramas,15 nos Últimos Dias da Lei. Se definirmos nossa condição de acordo com esta convicção, nós todos somos bodisatvas da terra”.16

O Sr. Toda prosseguiu afirmando que, em virtude do fato de, ora, essa consciência e essa determinação direcionada para a realização do kosen-rufu terem se difundido por toda a organização como sua filosofia central, a Soka Gakkai havia recebido o Gohonzon do “Grande Desejo pela Concretização do Kosen-rufu, a Propagação Benevolente da Grande Lei”, “a ser consagrado permanentemente na Soka Gakkai” (em japonês, Soka Gakkai Joju). Com isso, disse ele, a Soka Gakkai havia “abandonado o transitório e revelado o verdadeiro”.17

O Gohonzon é o “estandarte da propagação do Sutra do Lótus” (WND, v. I, p. 831). É o objeto de devoção para realizar o tão acalentado intento de Nichiren Daishonin — o kosen-rufu mundial — e levar felicidade a todas as pessoas. Entretanto, durante mais de 700 anos, não surgiu nenhum discípulo que pudesse cumprir genuinamente esse grande juramento de relevância tão primordial.

No século 20, Makiguchi e Josei Toda despertaram para a sua missão como bodisatvas da terra e, pela primeira vez, efetuaram o trabalho compassivo de propagar amplamente o budismo entre as pessoas e deram início ao grande progresso do kosen-rufu, em exata conformidade com os ensinamentos de Daishonin. A partir de então, a Lei Mística se expandiu para 192 países e territórios, e hoje os benefícios do Budismo de Nichiren Daishonin estão sendo vivenciados no mundo todo.

Dia após dia empreendemos ações com base no juramento de realizar o kosen-rufu. Na época atual, a Soka Gakkai é a única organização que está concretizando o grande propósito de Nichiren Daishonin — o kosen-rufu mundial.

Dedicar a vida ao caminho Soka de mestre e discípulo

A unicidade de mestre e discípulo é a expressão suprema de fé. O presidente Josei Toda declarou com a máxima convicção: “Simplesmente dediquem a vida ao caminho Soka de mestre e discípulo. Jamais se arrependerão disso. Poderão ter uma vida em que reine a alegria da vitória”.

Trilhei o caminho da unicidade de mestre e discípulo com toda a determinação. É minha maior honra e meu orgulho na vida. Hoje, incontáveis companheiros bodisatvas da terra também avançam por esse nobre caminho e atuam em comunidades do mundo inteiro.

Marco Antônio Laffranchi (1936–2015), falecido fundador da Universidade Norte do Paraná, no Brasil, disse-me que concordava sobre a importância da relação de mestre e discípulo. O mestre traça os planos, afirmou ele, e os discípulos os executam. O mestre aponta o caminho para o sucesso, e os discípulos dedicam a vida a trilhá-lo. O Dr. Laffranchi manifestou concordância com a nossa convicção de que uma grandiosa revolução humana de um único indivíduo ajudará a propiciar a mudança do destino de uma nação.

A nova era do kosen-rufu mundial é aquela na qual os bodisatvas da terra avançam pelo grande caminho de mestre e discípulo em todos os cantos do planeta.

Uma nova era despontou.
O mundo todo está à espera do
budismo dos reis leões.
Abriram-se as cortinas do
verdadeiro palco de mestre e
discípulos Soka.

Reunindo ainda mais a coragem de um rei leão, trabalhemos com orgulho e confiança para expandir, consolidar e desenvolver ainda mais nosso maravilhoso movimento, que é unido pelos laços de mestre e discípulo e dedicado a consolidar a felicidade e vitória para todos.

Publicado em novembro de 2015 na revista Daibyakurenge.

Notas

1. A data da publicação de sua obra, 18 de novembro de 1930, posteriormente se tornou a data que marca a fundação da Soka Gakkai.

2. Três mártires de Atsuhara: Três irmãos — Jinshiro, Yagoro e Yarokuro — que foram presos e decapitados durante a Perseguição de Atsuhara

3. Perseguição de Atsuhara: Série de ameaças e ações violentas contra os seguidores de Nichiren Daishonin na vila de Atsuhara, distrito de Fuji, província de Suruga, que se iniciou por volta de 1275 e continuou até aproximadamente 1283. Em 1279, camponeses (seguidores de Nichiren) foram presos sob falsas acusações. Eles foram interrogados por Hei no Saemon-no-jo, subchefe do Posto de Comando Militar, que exigiu que renunciassem à sua fé. Entretanto, nenhum deles cedeu. Por isso, Hei no Saemon-no-jo mandou executar três deles.

4. Em Carta para os Irmãos, Daishonin cita a passagem de Grande Concentração e Discernimento, de Tiantai, que afirma: “À medida que a prática avança e a compreensão aumenta, os três obstáculos e as quatro maldades surgem de forma desconcertante disputando entre si para interferir. (...) Uma pessoa não deve ser influenciada nem amedrontada por essas ações. Aquela que cai na influência dessas ações é desviada para os maus caminhos. E aquela que as teme será impedida de praticar o ensinamento correto” (CEND, v. I, p. 524).

5. Exílio de Izu: Perseguição na qual Nichiren Daishonin foi exilado em Ito, província de Izu (atual parte da prefeitura de Shizuoka), de maio de 1261 a fevereiro de 1263. Em agosto de 1260, um grupo de crentes da Nembutsu, enfurecidos com Daishonin devido às suas críticas aos ensinamentos da Terra Pura (Nembutsu), contidas no tratado Estabelecer o Ensinamento Correto para Pacificação da Terra, atacaram a moradia dele em Matsubagayatsu, Kamakura, na tentativa de assassiná-lo. Daishonin consegue escapar por pouco e se abriga na casa de Toki Jonin, na província de Shimosa. Quando ele reaparece em Kamakura na primavera de 1261 e retoma às suas atividades de propagação, o governo o prende sem a devida investigação e o sentencia ao exílio em Ito, pertencente a Izu. Aproximadamente dois anos após chegar a Izu, Daishonin é perdoado e retorna a Kamakura.

6. Exílio em Sado: Exílio de Nichiren Nichiren na Ilha de Sado, localizada no Mar do Japão, de outubro de 1271 a março de 1274. Após fracassar na tentativa de tomar sua vida em Tatsunokuchi, as autoridades o sentenciaram ao exílio na Ilha de Sado, que equivalia à sentença de morte. Entretanto, quando as predições de Daishonin se concretizaram (conflitos internos e invasão estrangeira), o governo emitiu o indulto em março de 1274, quando Daishonin retorna a Kamakura.

7. Nesta passagem do 16º capítulo do Sutra do Lótus, “A Extensão da Vida”, Shakyamuni, que havia revelado que, na verdade, atingira a iluminação no passado infinitamente remoto, afirma nunca ter cessado seus esforços para ajudar outros a atingir o estado de buda.

8. Em A Grande Batalha, Nichiren Daishonin afirma: “O rei demônio do sexto céu convocou os dez tipos de tropas, e no meio do mar de sofrimentos de nascimento e morte está em guerra com o devoto do Sutra do Lótus para impedi-lo de arrancar e tomar dele a posse desta terra impura onde habitam tanto as pessoas comuns como os sábios. Faz vinte anos ou mais que me encontro nessa situação e dei início à grande batalha. Jamais, nem uma única vez, pensei em retroceder” (WND, v. II, p. 465).

9. Escuridão fundamental ou ignorância fundamental: Ilusão inerente à vida mais profundamente arraigada, que dá origem a todas as demais ilusões e desejos mundanos. Inabilidade para ver ou reconhecer a verdade, particularmente, a verdadeira natureza da própria vida.

10. “Três obstáculos e quatro maldades”: Vários obstáculos e adversidades que tentam impedir a prática budista. Os “três obstáculos” são: (1) obstáculo dos desejos mundanos; (2) obstáculo do carma; e (3) obstáculo da retribuição. As “quatro maldades” são: (1) maldade dos cinco componentes; (2) maldade dos desejos mundanos; (3) maldade da morte; e (4) maldade do rei demônio do sexto céu.

11. Moxibustão: Queima de uma mistura de ervas sobre a pele; é um remédio popular no Leste Asiático para o tratamento de vários males.

12. Daishonin escreveu: “Nossas tribulações atuais são como o tratamento com moxa; no momento da aplicação é doloroso, mas como seus efeitos são benéficos, no fim a dor não é, na realidade, um sofrimento” (WND, v. I, p. 998).

13. Sammi-bo [n.d.]: Um dos primeiros discípulos de Nichiren Daishonin. Embora fosse altamente reconhecido por suas habilidades no aprendizado e no debate e tivesse auxiliado Nikko Shonin em seus esforços de propagação na área de Fuji, era arrogante com relação ao seu conhecimento e desejoso por reconhecimento e posição. Daishonin achou necessário adverti-lo sobre essa questão em diversas ocasiões. Durante a Perseguição de Atsuhara, Sammi-bo renunciou à sua crença nos ensinamentos de Daishonin e se voltou contra Nichiren Daishonin e seus defensores. Em várias cartas, Daishonin faz referência à morte trágica e prematura de Sammi-bo, apesar dos detalhes serem desconhecidos.

14. Nichiren Daishonin escreve: “Venho repetindo essas coisas com insistência, dia após dia, mês após mês e ano após ano. Não obstante, no caso da monja leiga de Nagoe, Sho-bo, Noto-bo, Sammi-bo e outros, ou seja, covardes, irracionais, gananciosos e incrédulos, minhas palavras têm sido tão improdutivas quanto despejar água na laca fresca, ou tentar cortar o ar” (WND, v. I, p. 998).

15. O Sutra do Lótus de sete ideogramas se refere ao Nam-myoho-renge-kyo, que é escrito com sete ideogramas chineses (nam ou namu englobam dois ideogramas) e representam a suprema essência dos 28 capítulos do Sutra do Lótus.

16. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Soka Gakkai no Rekishi to Kakushin [História e Convicção da Soka Gakkai]. In: Toda Josei Zenshu [Coletânea das Obras de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 3, p. 119-120, 1983.

17. Ibidem, p. 120–121.