segunda-feira, 4 de julho de 2016

Explanação 3 - Aspiração à Terra do Buda

Budismo do Sol

Escrito 3: Aspiração à Terra do Buda

Brasil Seikyo, Edição 2328, 18/06/2016 / Encontro com o Mestre

Kosen-rufu e vida — dedicação a um nobre ideal


O kosen-rufu é o desejo do Buda e o grandioso caminho da esperança da humanidade.

Não há vida mais valiosa e gratificante que aquela devotada à concretização do nobre ideal da paz mundial e da felicidade de todas as pessoas. Este ano [2015] assinala o 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial.

Em julho de 1945, diante dos escombros do Japão devastado, pouco antes do término da guerra, meu mestre, Josei Toda [posteriormente, segundo presidente da Soka Gakkai], firmou veemente o juramento de livrar o mundo da miséria e do sofrimento e deu o primeiro passo em seus esforços para propagar a Lei Mística.

A chama desse juramento acendeu a luz da esperança no coração de nós, jovens, um após o outro, inspirando-nos a construir uma nova era de paz. Como discípulos, avançamos na estrada dos nobres ideais que ele havia aberto. Isso marcou o início do magnífico desenvolvimento do kosen-rufu que alcançamos hoje.

Trecho do Gosho

Como deve ter percebido nesses ensinamentos, [o advento da grande Lei] já está diante de nossos olhos. Nos mais de dois mil e duzentos anos desde a morte do Buda, na Índia, na China, no Japão, e em todo o Jambudvipa [o grande mestre Tiantai declarou]: “Vasubandhu e Nagarjuna perceberam claramente a verdade em seu coração, mas não a transmitiram aos outros. Em vez disso, eles empregaram os ensinamentos do Mahayana provisório, que eram adequados à época”. Tiantai e Dengyo fizeram comentários gerais sobre isso; porém, deixaram a propagação para o futuro. A Lei secreta – a única grande razão do advento dos budas – será propagada pela primeira vez nesta nação. Quem, a não ser Nichiren, poderia cumprir essa tarefa? (...) O senhor não deve, de forma alguma, lamentar meu exílio. Nos capítulos “Encorajamento à Devoção” e “Bodisatva Jamais Desprezar” consta [que o devoto do Sutra do Lótus enfrentará perseguições]. A vida é limitada; não devemos poupá-la. O que, afinal, devemos aspirar é à terra do buda. (CEND, v. I, p. 222 - 223)

Jovens constroem a nova era

Julho é o mês de fundação da Divisão dos Jovens (DJ). [Tanto a Divisão Masculina de Jovens (DMJ) como a Divisão Feminina de Jovens (DFJ) foram instituídas pelo presidente Josei Toda em julho de 1951.]

No dia 11, de 1951, na reunião de fundação da DMJ, o presidente Josei Toda declarou: “O kosen-rufu é a missão que devemos realizar sem falta. Gostaria também que cada um de vocês tivesse a consciência de sua nobre participação neste empreen­dimento. Na história recente do Japão, os jovens foram a força propulsora à Restauração Meiji [em 1868]. Durante a existência de Nichiren Daishonin também, a maioria de seus discípulos era de jovens”.1 Desse modo, ele salientou que os jovens sempre são motivadores e agentes, os autores de uma nova era.

Na reunião de fundação da DFJ no dia 19 de julho do mesmo ano, ele disse: “Desejo que cada uma de vocês, sem exceção, se torne feliz. Até hoje, a história da mulher se resume a infortúnio e sofrimento nas mãos do destino. Como tiveram a boa sorte de abraçar a fé no Budismo de Nichiren Daishonin na juventude, vocês não precisam mais aceitar esse destino”.

Atualmente, um fluxo constante de rapazes e moças que assumiram para si o grande juramento do kosen-rufu está surgindo ao redor do mundo. Quão maravilhado se sentiria o presidente Josei Toda ao observar os vibrantes esforços de tantos jovens bodisatvas da terra trabalhando para promover o nosso movimento em âmbito mundial! Também fico muito feliz por ter dedicado a vida à realização do grande sonho do meu mestre.

Com o espírito de estudar com os jovens, quero discutir alguns trechos do escrito de Nichiren Daishonin que acato com a mais profunda seriedade desde a época da Divisão dos Jovens.

A adversidade é uma honra — o grande caminho do juramento seigan

O trecho citado na página B1 é do escrito Aspiração à Terra do Buda, uma carta enviada a Toki Jonin.2

“A vida é limitada; não devemos poupá-la” (CEND, v. I, p. 223), de acordo com essas palavras, venho me empenhando incansavelmente pelo kosen-rufu, lutando e ultrapassando todas as formas de dificuldades imagináveis para concretizar os nobres ideais do meu mestre.

Trata-se da declaração veemente de Daishonin de que nem as mais implacáveis tempestades de adversidades podem extinguir a chama do grande juramento do Buda — ou melhor, a expressão de sua determinação inabalável de que assim fosse.

Daishonin redigiu essa carta logo depois de chegar a Tsukahara, na Ilha de Sado, onde ficou exilado após a Perseguição de Tatsunokuchi.3 Nela, ele tenta transmitir a seu discípulo que, mesmo em meio àquelas circunstâncias terríveis, seu espírito de luta ardia ainda mais intensamente, e que um momento crucial para o kosen-rufu havia despontado.

Resumindo os eventos que antecederam essa carta: tendo sido sentenciado ao exílio, Daishonin partiu de Echi, província de Sagami (atual cidade de Atsugi, Kanagawa), no dia 10 de outubro de 1271, para o porto de Teradomari, província de Echigo (atual cidade de Nagaoka, Niigata), uma viagem que durou doze dias. Ele então foi obrigado a permanecer por algum tempo aguardando ventos favoráveis para a travessia por mar até a ilha. Pôde finalmente partir no dia 28 de outubro, e chegou a Sanmai-do,4 um pequeno templo que foi seu abrigo em Tsukahara, em Sado, no dia 1º de novembro.

Daishonin escreveu esta carta no dia 23 de novembro — que incide no dia 26 de dezembro no calendário atual, em pleno inverno. Ele retrata as rigorosas condições climáticas de frio intenso do norte do Japão: “No entanto, nos dois últimos meses, desde que cheguei a este local, no norte de Sado, os ventos cortantes sopram sem parar e, embora tenha havido alguns momentos em que a geada e a neve cessaram, não vi a luz do Sol uma única vez aqui. Creio que estou vivenciando os oito infernos gelados”5 (Ibidem, p. 222).

Ele [Daishonin] estava sofrendo terrivelmente em virtude do frio cortante. Além disso, tratado como criminoso, não lhe forneciam alimento suficiente. Aos olhos dos habitantes locais, que não eram capazes de distinguir “o ensinamento budista correto do incorreto” (Ibidem), Daishonin era meramente um sacerdote perverso que criticava as escolas budistas. De fato, ele vivia sob constante risco de perder a vida nas mãos de prováveis assassinos.

No fim desta carta, Daishonin expressa: “É impossível descrever tais assuntos por escrito” (Ibidem, p. 223). Por isso, ele pede a seus discípulos que busquem informações mais detalhadas sobre a situação com os jovens sacerdotes que o acompanharam na viagem até Sado e que agora ele os mandava de volta.6 Podemos pressupor que as condições eram tão severas que Daishonin se viu obrigado a fazê-los retornarem.

Entretanto, a mente de Daishonin se mantinha serena pela imensa alegria de dedicar a vida à Lei Mística.

Para permitir que seus discípulos entendessem seu estado mental, Daishonin recomenda-lhes que ponderem profundamente o que ele escrevera numa correspondência anterior, Carta de Teradomari,7 redigida pouco antes de sua travessia para Sado. Nela, ele declara que é o devoto do Sutra do Lótus e, com certeza, receberia a proteção de incontáveis bodisatvas de todo o universo (cf. CEND, v. I, p. 218).

Daishonin considerava que adversidades eram uma honra para os praticantes do Sutra do Lótus. Ele se esforçou para desenvolver discípulos genuínos por meio do exemplo de sua própria conduta, convocando-os a devotar a vida à missão de concretizar do kosen-rufu.

A Lei secreta – a única grande razão do advento dos budas

Nesta carta, Daishonin examina a história do budismo e escreve que grandes mestres budistas dos Primeiros e Médios Dias da Lei como Nagarjuna, Vasubandhu, Tiantai e Dengyo8 expuseram e propagaram o ensinamento correto do budismo que se adequava às respectivas épocas. Nela o buda também explica que eles não ensinaram sobre “A Lei secreta – a única grande razão do advento dos budas [neste mundo]” (Ibidem, p. 222), o Nam-myoho-renge­-kyo, a Lei fundamental por meio da qual todas as pessoas podem atingir a iluminação.

Daishonin prossegue, afirmando: “A Lei secreta – a única grande razão do advento dos budas – será propagada pela primeira vez nesta nação. Quem, a não ser Daishonin, poderia cumprir essa tarefa?” (Ibidem). Trata-se de uma sublime afirmação de que ele é a pessoa que está propagando a grande Lei que poderá livrar todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei do sofrimento em seu nível mais fundamental. Embora pudesse estar confinado pelas leis do país, espiritualmente era livre, de fato, um rei leão, um grande campeão da vida.

Como Buda dos Últimos Dias da Lei, Daishonin levantou-se só e iniciou a propagação do ensinamento correto, abrindo o caminho para que a Lei fosse amplamente aceita e praticada no futuro. O kosen-rufu se desenrolou exatamente como ele enunciou posteriormente em Saldar as Dívidas de Gratidão: “Se a compaixão de Nichiren for realmente grande e abrangente, o Nam-myoho-renge­-kyo se propagará por dez mil anos e mais, por toda a eternidade” (CEND, v. I, p. 770).

Quando os discípulos perceberam o majestoso estado de vida de Daishonin, qualquer ansiedade e incerteza que pudessem guardar no coração deve ter se dissipado e substituído pelo radiante sol da esperança do kosen-rufu.

Quando nos dedicamos ao grande juramento pelo kosen-rufu, nossa vida se expande ilimitadamente. Atingimos um estado de vida amplo, que nos permite avaliar claramente os problemas e as dificuldades que estamos enfrentando e vencer.

Por essa razão, Daishonin escreve na carta: “Não deve, de forma alguma, lamentar” (Ibidem, p. 223). Essas palavras de encorajamento se destinam a todos os seus discípulos, que, na época, enfrentavam perseguições tão ferozes a ponto de, posteriormente, ele escrever [em Resposta a Niiama] “entre as 999 pessoas de cada 1.000 que abandonaram a fé” (Ibidem, p. 490).

Prosseguindo, ele afirma em Aspiração à Terra do Buda: “Nos capítulos ‘Encorajamento à Devoção’ e ‘Bodisatva Jamais Desprezar’ consta [que o devoto do Sutra do Lótus enfrentará perseguições]” (Ibidem, p. 223). Sua inferência aqui é que, para um genuíno devoto, ou praticante, é um motivo de honra enfrentar a perseguição dos três poderosos inimigos (leigos arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos sábios arrogantes) e ser atacado com bastões e pedras (como o bodisatva Jamais Desprezar), conforme o que se descreve, respectivamente, nos capítulos “Encorajamento à Devoção” (13º) e “Jamais Desprezar” (20º) do Sutra do Lótus.

Desse modo, também estava louvando seus discípulos, que vivenciavam as mesmas atribulações e perseguições que ele, sugerindo que também eram devotos do Sutra do Lótus.

Haverá ocasiões em que nos depararemos com críticas ou ataques injustos por praticarmos o Budismo de Nichiren Daishonin, mas todas as adversidades que experimentamos em prol do kosen-rufu são provas de que estamos conduzindo a nossa vida de acordo com o Sutra do Lótus, ou seja, de que estamos seguindo o grandioso caminho para atingir o estado de buda.

As batalhas com as quais nos defrontamos na vida real fazem parte de nossa prática budista para o nosso desenvolvimento espiritual, possibilitando que realizemos nossa revolução humana e alcancemos o estado de buda. Se orarmos com esse espírito e convicção, a coragem de que necessitamos para enfrentar todos esses desafios emanará de dentro de nós. Isto, em si, é o significado de manifestar a condição de vida do estado de buda.

A dedicação ao kosen-rufu é o modo de vida mais nobre que existe como ser humano.

Publicadas em julho de 2015 na revista Daibyakurenge.

NOTAS:

1. Traduzido do japonês. Toda, Josei. Toda Josei Zenshu [Coletânea das Obras de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 3, p. 434, 1983.

2. Toki Jonin (1216–1299): Seguidor leigo de Daishonin. Morava em Wakamiya, no distrito Katsushika, na província de Shimosa (atualmente, parte da província de Chiba) e era um influente samurai a serviço do senhor feudal de Chiba, comandante militar da província. Ele se converteu ao ensinamento de Daishonin aproximadamente em 1254, ano subsequente ao qual Nichiren Daishonin estabeleceu o ensinamento do Nam-myoho-renge-kyo

no templo Seicho-ji, em Awa. Também conhecido como o sacerdote leigo Toki, ele foi destinatário de muitos escritos de Daishonin, entre os quais O Objeto de Devoção para Observar a Mente, a maior parte preservada com esmero.

3. Perseguição de Tatsunokuchi: Fracassada tentativa orquestrada por personalidades importantes do governo de decapitar Daishonin sob o manto da noite na praia de Tatsunokuchi, nas cercanias de Kamakura, no dia 12 de setembro de 1271.

4. Em As Ações do Devoto do Sutra do Lótus, Daishonin descreve Sanmai-do: “Era um único cômodo sustentado por quatro estacas, num terreno onde abandonavam cadáveres, semelhante a Rendaino, em Quioto. Nesse lugar, não havia sequer uma estátua do Buda. As tábuas do telhado eram muito separadas umas das outras, e as paredes, cheias de buracos. A neve se empilhava dentro da cabana e nunca derretia. Ali passei meus dias, cobrindo-me com um manto feito de palha e me deitando sobre uma pele de animal. À noite, chovia granizo, nevava e relampejava sem parar. Mesmo durante o dia, o sol raramente brilhava. Era um lugar desolador de se viver” (WND, v. I, p. 769).

5. Oito infernos gelados: Infernos que, segundo afirmava a antiga cosmologia indiana, situavam-se abaixo do continente de Jambudvipa, próximos aos oito infernos escaldantes. Aqueles que residem lá são atormentados pelo frio insuportável.

6. Daishonin escreve: “Estou enviando de volta alguns dos jovens sacerdotes. Eles poderão lhe contar sobre esta província e sobre as circunstâncias em que estou vivendo” (CEND, v. I, p.223).

7. Carta de Teradomari foi endereçada a Toki Jonin e escrita em 22 de outubro de 1271, enquanto Daishonin se encontrava em Teradomari, na província de Echigo, a caminho de seu local de exílio em Sado. Citando passagens dos Sutras do Lótus e do Nirvana, Daishonin descreve como Shakyamuni foi atacado e perseguido por não budistas durante sua existência, e traça um paralelo entre aqueles não budistas e os sacerdotes budistas de sua época, bem como entre Shakyamuni e ele próprio.

8. Nagarjuna foi um filósofo budista do Mahayana, que viveu na Índia entre os séculos 2 e 3. Seus textos exerceram forte influência sobre o budismo na China e no Japão. Vasubandhu foi outro grande filósofo budista indiano, atuante no século 4. Tiantai (538–597), também conhecido como Chih-i, propagou o Sutra do Lótus na China e estabeleceu a doutrina “três mil mundos num único momento da vida”. Suas preleções foram compiladas em obras como Profundo Significado do Sutra do Lótus, Palavras e Frases do Sutra do Lótus e Grande Concentração e Discernimento. Dengyo (767–822), também conhecido como Saicho, foi o fundador da escola Tendai (Tiantai) no Japão. Ele viajou para a China, onde dominou os ensinamentos de Tiantai.


Budismo do Sol

Escrito 3: Aspiração à Terra do Buda

Brasil Seikyo, Edição 2329, 25/06/2016 / Encontro com o Mestre

Kosen-rufu e vida — dedicação a um nobre ideal

Trecho do Gosho

Como deve ter percebido nesses ensinamentos, [o advento da grande Lei] já está diante de nossos olhos. Nos mais de dois mil e duzentos anos desde a morte do Buda, na Índia, na China, no Japão, e em todo o Jambudvipa [o grande mestre Tiantai declarou]: “Vasubandhu e Nagarjuna perceberam claramente a verdade em seu coração, mas não a transmitiram aos outros. Em vez disso, eles empregaram os ensinamentos do Mahayana provisório, que eram adequados à época”. Tiantai e Dengyo fizeram comentários gerais sobre isso; porém, deixaram a propagação para o futuro. A Lei secreta – a única grande razão do advento dos budas – será propagada pela primeira vez nesta nação. Quem, a não ser Nichiren, poderia cumprir essa tarefa? (...) O senhor não deve, de forma alguma, lamentar meu exílio. Nos capítulos “Encorajamento à Devoção” e “Bodisatva Jamais Desprezar” consta [que o devoto do Sutra do Lótus enfrentará perseguições]. A vida é limitada; não devemos poupá-la. O que, afinal, devemos aspirar é à terra do buda. (CEND, v. I, p. 222-223)

A importância de devotar a vida à Lei

No fim desta carta, dirigindo-se a seus discípulos que lutavam bravamente em meio a grandes adversidades, Daishonin lhes assegura: “A vida é limitada; não devemos poupá-la. O que, afinal, devemos aspirar é à terra do buda” (CEND, v. I, p. 223).

Tanto ele como seus discípulos enfrentavam uma situação de risco de perder a vida, então Daishonin clama a eles que vivam uma existência dedicada ao budismo e aspirem à terra eterna do buda [no contexto, indica o estado de buda] sem poupar a vida. Tais palavras não devem, portanto, ser interpretadas com o sentido de que Daishonin estivesse aconselhando seus discípulos a desperdiçar a vida deles.

Todos que nascem um dia têm de morrer. A que dedicaremos o limitado tempo de que dispomos neste mundo? Em Carta de Sado, Daishonin escreve: “[Os seres humanos] geralmente se sacrificam por questões superficiais e seculares; contudo, raramente o fazem pelos preciosos ensinamentos do Buda. Assim, é natural que não atinjam o estado de buda” (Ibidem, p. 317).

Pelo fato de nossa vida ser infinitamente preciosa, a maneira como vivemos possui extrema relevância.

A hora da morte chega para todos. Quando enfrentamos essa solene realidade, percebemos a importância de tornar cada momento de nossa vida o mais significativo e valioso possível.

O tesouro do coração brilha eternamente

Daishonin expressa [em Os Três Tipos de Tesouro]: “É muito raro nascer como ser humano” e “Viver como ser humano é difícil” (WND, v. I, p. 851). Precisamente por essa razão, ele nos ensina, por meio da metáfora dos três tipos de tesouros, a viver da maneira mais proveitosa e relevante possível. Ele explica que enquanto os tesouros do cofre (riqueza material) e do corpo (saúde e habilidades práticas) duram apenas uma única existência, o tesouro do coração é a fonte de riqueza genuína e indestrutível. Para agregarmos um significado eterno à nossa vida, é importante acumularmos o tesouro do coração. Conforme Daishonin nos indica: “O tesouro do coração é o mais valioso de todos” (Ibidem).1

Descobrindo o valor verdadeiro e duradouro, que está vinculado ao “eterno”, devemos viver nossa presente existência à plenitude. E a religião desempenha papel crucial para se desenvolver essa perspectiva.

No contexto da eternidade, uma simples existência humana pode representar apenas um momento efêmero, mas uma filosofia religiosa genuína nos permite criar valores eternos nesse simples instante.

“No fim, ninguém pode escapar da morte” (WND, v. I, p. 1003), afirma Daishonin [em O Portal do Dragão]. Essa é a realidade diante de todos nós. Assim sendo, por que não devotar nossa vida a criar valor ilimitadamente nos dedicando ao grande juramento pelo kosen-rufu e para assim fazermos parte de algo maior, como uma gota de orvalho que se junta ao oceano ou uma partícula de poeira que se funde com a terra?

Enfrentar os maus amigos pelo povo

Na carta O Problema a Ser Ponderado Dia e Noite enviada a Toki Jonin, Daishonin escreve a famosa expressão “se arrependerem durante os próximos dez mil anos”. Essas palavras fazem parte de um trecho, descrito a seguir, que o presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, sublinhou em seu exemplar dos escritos de Daishonin: “(...) Isso demonstra, meus seguidores, que seria melhor reduzirem seu sono durante a noite e suas diversões durante o dia para ponderarem sobre isso! Não passem a vida em vão para depois se arrependerem durante os próximos dez mil anos” (CEND, v. I, p. 650).

Daishonin brada: “Meus seguidores!”. E o que seria esse pedido para todos os seus discípulos “ponderarem reduzindo as horas de sono”? Sua mensagem, em suma, é para não se deixarem enganar pela aparência externa dos “sacerdotes de alta posição que, embora mantenham os preceitos, alimentam visões distorcidas” (Ibidem). Na realidade, esses sacerdotes, apesar de serem respeitados pelo público por seu comportamento aparentemente exemplar, são, de fato, corruptos e interesseiros. São “más companhias”2 ou influências negativas, que não conseguem compreender a verdade fundamental do budismo e estão, efetivamente, extraviando as pessoas.

Como exemplos concretos de “sacerdotes de alta posição que, embora mantenham os preceitos, alimentam visões distorcidas”, Daishonin cita Kobo,3 Jikaku4 e Chisho5 e os discípulos e sucessores deles. Em especial, Jikaku e Chisho, como sacerdotes priores da escola Tendai (Tiantai), no Japão [que originalmente se baseava­ no Sutra do Lótus], deveriam ter protegido os ensinamentos do fundador da escola — o grande mestre Dengyo —, os propagado e conduzido as pessoas à felicidade. Mas pouco tempo após a morte de Dengyo (em 822), eles abandonaram o ensinamento correto do budismo, desencaminharam as pessoas e fizeram com que a calúnia contra a Lei proliferasse pelo país todo.

Em contraste com essa conduta, Daishonin, seguindo a linhagem do devoto do Sutra do Lótus, Shakyamuni, Tiantai e Dengyo,6 dedicou-se, sem se poupar, para evitar que o ensinamento correto perecesse, para proteger a Lei e para saldar sua dívida de gratidão.

É possível sentir a força do rugido de leão de Nichiren Daishonin como se dissesse “se forem meus seguidores, ponderem profundamente sobre essa verdade e herdem esse coração de justiça!”.

A Soka Gakkai herdou o Budismo de Nichiren Daishonin

Se aqueles que deveriam proteger o ensinamento correto do budismo não o fizerem, ele será destruído e se perderá.

Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, primeiro e segundo presidentes da Soka Gakkai, pronunciaram-se sobre o que era justo e correto no que se refere ao budismo, exatamente como Daishonin ensinou, e, em decorrência disso, foram presos pelas autoridades militaristas do Japão.

Em contrapartida, o clero da Nichiren Shoshu, temendo a perseguição do governo, cedeu, comprometendo-se a incorporar elementos do xintoísmo estatal. O Sr. Makiguchi, porém, sustentou o ensinamento e as doutrinas corretas do Budismo de Nichiren Daishonin até o fim, declarando: “O que lamento não é a ruína de uma escola, mas a destruição de um país inteiro diante de nossos olhos. Receio a tristeza terrível que isso traria a Daishonin”.

O espírito de Daishonin pulsa vibrantemente no coração dos mestres e discípulos Soka, que estão dando continuidade à disposição de proteger a Lei e à dedicação abnegada em prol do budismo.

Como mencionado na frase do escrito O Problema a Ser Ponderado Dia e Noite, “em vão”, como Daishonin adverte seus discípulos, neste contexto significa se esquecer da missão fundamental na vida e se deixar levar por questões irrelevantes, vivendo uma existência a esmo e sem um propósito.

“A vida é limitada; não devemos poupá-la”; “Não passem a vida em vão para depois se arrependerem durante os próximos dez mil anos!” — a profundidade com que acatamos essas palavras em nosso coração determina a profundidade de nossa existência.

Quando jovem, meu médico me disse que eu provavelmente não viveria para festejar meu aniversário de 30 anos. Eu tinha a clara consciência de como minha vida poderia ser limitada. Por isso, lutava com todas as minhas forças pelo kosen-rufu. Empenhava-me de corpo e alma, determinado a ser um exemplo para as gerações futuras, um discípulo autêntico em total união de espírito com meu mestre, de modo que não tivesse nenhum arrependimento, independentemente de quando a morte pudesse bater à minha porta.

Estou certo de que, por ter me devotado à minha prática budista com essa disposição, recebi o benefício de prolongar minha vida por meio da dedicação à Lei Mística. Incontáveis associados da SGI relatam alegres experiências de vitória sobre a doença e de êxito em prolongar a vida mediante a prática budista. Todos demonstraram provas de como é maravilhoso seguir de acordo com os ditos dourados de Daishonin.

Uma vida consagrada à missão de cumprir o grande juramento do kosen-rufu compartilhando compassivamente a Lei Mística com as pessoas, infalivelmente produzirá um estado de suprema alegria e contentamento.

O filósofo romano da antiguidade Marco Aurélio declarou: “Não vivas como se ainda tivesses 10 mil anos de vida. O destino está a um palmo; torne-se bom enquanto ainda possui vida e força”.7

Vivamos, portanto, este momento com a máxima plenitude. Se falharmos em agir negligenciando esforços, não deixaremos atrás de nós nada significativo. Continuemos nos esforçando vigorosamente em prol do kosen-rufu, valorizando a Lei e não poupando nenhum esforço. Se dedicarmos esta preciosa existência ao ato de compartilhar o budismo com as outras pessoas, jamais teremos motivo para “nos arrependermos durante os próximos dez mil anos” (cf. CEND, v. I, p. 650).

Naturalmente, não poupar nenhum esforço é diferente de cometer exageros. Devemos agir com sabedoria e cuidar de nossa saúde, para que possamos colocar nossa vida a serviço da propagação dos ideais do Budismo de Nichiren Daishonin. Viver mesmo um único dia a mais para que possamos contribuir para o kosen-rufu é o maior tesouro que pode existir.

Ter uma vida realmente realizada significa dar o máximo de si a cada dia em prol da inigualável Lei Mística, da felicidade das outras pessoas e pelo bem da sociedade.

Ampliando nossa rede pelo mundo

Cinquenta e cinco anos se passaram desde que sucedi ao presidente Josei Toda e passei a me empenhar como terceiro presidente da Soka Gakkai (em 3 de maio de 1960). Ao lado dos membros da organização, amigos do “tempo sem início”, espalhei no mundo as sementes da Lei Mística em prol da paz.

Bodisatvas da terra, todos abraçando o mesmo grande juramento pelo kosen-rufu, levantamo-nos um após o outro construindo a rede de felicidade e da paz da SGI, que hoje abrange 192 países e territórios.

Acalentando o sonho do kosen-rufu mundial, os pioneiros da nossa organização lutaram ao meu lado, seguindo em frente diante de incontáveis obstáculos. Hoje, esses membros expressam gratidão e satisfação por terem podido viver como integrantes da SGI e testemunhar o espetacular desenvolvimento de nosso movimento nesta existência. Eles afirmam não ter arrependimento algum e que nenhum de seus esforços foi em vão.

Entre os representantes que estiveram no Japão recentemente para participar do Curso de Aprimoramento de Primavera da SGI [em maio de 2015] havia vários filhos e filhas dos pioneiros com quem me encontrei em minha primeira viagem ao exterior. É muito gratificante saber que o juramento pelo kosen-rufu está sendo transmitido de uma geração para outra.

A vida de uma pessoa é limitada. Mas suas orações, seu juramento ou compromisso, seus esforços em prol do kosen-rufu fluem eternamente através das gerações. A boa sorte que acumulamos por meio da fé e o benefício que obtemos ensinando o budismo a outras pessoas são imperecíveis. Os esforços que efetuamos com base no grande juramento de nos dedicar ao kosen-rufu e à felicidade do próximo tornam-se fonte de infinita boa sorte e benefícios tanto para nós como para aqueles à nossa volta, com quem compartilhamos uma ligação profunda.

Uma vida nobre, experimentada com orgulho e satisfação de ter se dedicado à Lei Mística com certeza inspirará outras e iluminará o futuro. Um empreendimento ao qual devotamos toda a nossa energia e paixão continuará resplandecendo pela posteridade. Se consagrarmos nossa vida ao kosen-rufu, poderemos atingir um estado de felicidade que perdurará eternamente pelas “três existências” — passado, presente e futuro.

Nossa vida, dedicada ao kosen-rufu, é repleta da alegria proveniente do estado de buda, o supremo senso de orgulho de ser bodisatvas da terra e tomar parte na gloriosa façanha do kosen-rufu mundial. Ainda estamos nos estágios iniciais do magnífico empreendimento que prosseguirá pela eternidade. Nossa odisseia da esperança apenas começou. Contemplar o grandioso desenvolvimento que sucederá daqui a cinquenta ou cem anos é uma perspectiva emocionante.

Por essa razão, gostaria de dizer aos jovens: “Vençam os desafios de sua vida diária com coragem e perseverança. A maneira de fazer isso é se levantarem e agirem para cumprir sua missão de propagar a Lei Mística no local onde vocês se encontram neste exato instante”.

Uma existência
vitoriosa dedicada
ao grande juramento
pelo kosen-rufu

Quando despertamos para nossa missão como bodisatvas da terra, conseguimos desenvolver maior profundidade e força, somos capazes de disseminar livremente a compreensão sobre o budismo e produzir valores perenes.

Como membros da Divisão dos Jovens, é importante firmar o juramento de “o kosen-rufu é minha vida”, e, então seguir adiante em busca de seus ideais. Desse modo, poderão desfrutar uma existência significativa, livre de quaisquer arrependimentos.

O juramento selado na juventude será a luz interior que os guiará enquanto viverem. Portanto, jamais, em circunstância alguma, devem perder essa luz.

Concluindo esta explanação, gostaria de clamar aos jovens e a todos que se empenham ao lado deles: “Prossigamos avançando em luta conjunta, realizando a mais valiosa jornada da vida e do kosen-rufu, e tenhamos uma existência triunfante, dedicada à concretização de nobres ideais!”.

Publicadas em julho de 2015 na revista Daibyakurenge.

NOTAS:

1. Em Os Três Tipos de Tesouro, Daishonin escreve: “O tesouro do corpo é mais valioso que aquele guardado no cofre; e o tesouro acumulado no coração é muito mais valioso que o tesouro do corpo. A partir do momento em que o senhor ler esta carta, esforce-se para acumular o tesouro do coração” (WND, v. I, p. 851).

2. Más companhias: Também conhecidas como maus amigos ou maus mestres. Alguém que leva outras pessoas a cair nos maus caminhos, desviando-as em relação ao budismo. Má companhia ilude os demais com ensinamentos falsos para impedir que sigam a prática budista correta.

3. Kobo (jap. Kb; 774–835): Também conhecido como Kukai ou grande mestre Kobo. Fundador da escola japonesa Palavra Verdadeira. Em 804, viajou à China, onde estudou as doutrinas e os rituais dos ensinamentos esotéricos. Após retornar ao Japão, em 806, Kobo dedicou-se à propagação dos ensinamentos esotéricos da Palavra Verdadeira, e construiu vários templos no Monte Koya.

4. Jikaku (jap.; 794–864): Também conhecido como Ennin ou grande mestre Jikaku. Terceiro prior do templo Enryaku-ji. Em 838, viajou à China, onde estudou tanto os ensinamentos de Tiantai como o budismo esotérico. Após retornar ao Japão, assumiu a liderança da escola Tendai e, mais tarde, adicionou elementos esotéricos à doutrina.

5. Chisho (jap. Chish; 814–891) Também conhecido como Enchin ou “grande mestre Chisho”. O quinto prior do Enryaku-ji, principal templo da escola Tendai no Monte Hiei. Em 853, viajou para a China da dinastia Tang, onde estudou as doutrinas de Tiantai e os ensinamentos esotéricos. Quando retornou ao Japão, uniu ambas as doutrinas. Ele também construiu um salão no templo Onjo-ji para a realização da cerimônia esotérica de unção.

6. Em O Devoto do Sutra do Lótus Enfrentará Perseguições, Daishonin escreve: “Durante a época do Buda e nos dois mil anos dos Primeiros e Médios Dias da Lei que se seguiram após a morte dele, houve somente três devotos do Sutra do Lótus: o próprio Buda, Tiantai e Dengyo” (CEND, v. I, p. 468).

7. AURÉLIO, Marco. Tradução de Maxwell Staniforth. Londres: Penguin Books, 1964, p. 66-67.

Explanação 2 - Carta para Shimoyama

Budismo do Sol
Iluminando o mundo

Brasil Seikyo, Edição 2324, 21/05/2016 / Encontro com o Mestre

Escrito 2: Carta para Shimoyama

A religião existe para a felicidade das pessoas

Introdução

Junho é o mês do nascimento do presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi. E também este é o ano [2015] do 85º aniversário da publicação de sua teoria pedagógica da criação de valor [que assinala a fundação da Soka Gakkai].

Proeminente educador, o professor Makiguchi devotou a vida à educação humanista, com o foco na felicidade das crianças e na consolidação de uma sociedade que realmente valorize a educação. O espírito budista de prezar cada indivíduo e de acreditar no potencial positivo de todas as pessoas compôs a base de seus esforços.

O ser humano é o
ponto de partida, e
a felicidade, o objetivo

Nas escolas Soka e Universidade Soka — a cristalização do grande desejo do professor Makiguchi —, estabeleceu-se a tradição de se valorizar o propósito da educação. Tenho certeza de que tanto Makiguchi como seu discípulo, o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, ficariam encantados em ver como as instituições de “criação de valor” estão se desenvolvendo a cada ano.

Em todos os empreendimentos, o propósito é uma questão muito importante. Aqueles que o possuem como ponto de partida são fortes. Eles conseguem manter seu curso, mesmo quando se deparam com os problemas mais complexos.

Shakyamuni, o fundador do budismo, e Nichiren Daishonin, que surgiu nos Últimos Dias da Lei, também travaram batalhas contínuas em busca do propósito da religião.

Em última análise, a religião deve existir em prol da paz e da felicidade de todos os seres humanos. Essa também é a essência do Sutra do Lótus e dos escritos de Nichiren Daishonin, os quais podem ser considerados escritos para toda a humanidade. A filosofia que brada a suprema dignidade e valor de todas as pessoas é o grande tesouro da humanidade.

Os seres humanos sempre devem ser o ponto inicial, e sua felicidade, o objetivo.

O professor Makiguchi, educador que buscava a felicidade das crianças, encontrou-se com o Budismo Nichiren aos 57 anos. A partir desse momento, levantou-se com o grande juramento pela felicidade de cada pessoa, travando uma luta incansável como praticante do Sutra do Lótus.

A felicidade de todas as pessoas, ou seja, o estabelecimento de uma religião em prol do bem-estar dos seres humanos, é uma linhagem desde Shakyamuni, Sutra do Lótus, Nichiren Daishonin, Makiguchi sensei até a Soka Gakkai atualmente. Essa é também a linhagem da revolução religiosa — o combate à natureza demoníaca que causa o sofrimento humano.

Nesta parte, estudando o escrito de Nichiren Daishonin Carta para Shimoyama, ratifiquemos essa relação, a linhagem do humanismo budista que pulsa na Soka Gakkai.

Escrito 2: Carta para Shimoyama

Esses grandes eruditos [como Maitreya, Manjushri, Ashvaghosha­, Nagarjuna, Asanga e Vasubandhu do segundo período de quinhentos anos dos Primeiros Dias da Lei] não somente compreendiam o significado profundo do Sutra do Lótus, mas também sabiam que a época da propagação do Sutra do Lótus ainda não havia chegado. E como ainda não tinham recebido a ordem do Buda para expor essas doutrinas grandiosas, apesar de as preservarem em sua mente, não permitiam que sua boca as proferissem. (...)

Com o início dos mil anos dos Médios Dias da Lei, o budismo gradativamente se propagou da Índia para a China e o Japão. O Buda, o Mundialmente Reverenciado, confiara expressamente a primeira parte do Sutra do Lótus, os catorze capítulos que compõem o ensinamento teórico, aos bodisatvas do ensinamento teórico, como o bodisatva Rei dos Remédios, e aos bodisatvas de mundos diferentes deste nosso. Esses atos foram uma espécie de prelúdio do surgimento dos grandes bodisatvas que emergem da terra no início dos Últimos Dias da Lei para ensinar todos os seres vivos deste continente de Jambudvipa [o mundo inteiro] a recitar os cinco ideogramas do Nam-myoho-renge-kyo, o âmago do capítulo “A Extensão da Vida” do ensinamento essencial.

Os designados para propagar o ensinamento teórico eram pessoas como Nanyue, Tiantai, Miaole e Dengyo.

Agora, o mundo entrou na era em que o bodisatva Práticas Superiores e os outros de seu grupo estão destinados a realizar seu advento. Até mesmo eu, com meus olhos incultos, percebo os sinais de que isto está prestes a acontecer. (WND, v. II, p. 687-688)

O Sutra do Lótus é o ensinamento para os Últimos Dias da Lei

Trecho 1 do Gosho

Esses grandes eruditos [como Maitreya, Manjushri, Ashvaghosha, Nagarjuna, Asanga e Vasubandhu do segundo período de quinhentos anos dos Primeiros Dias da Lei] não somente compreendiam o significado profundo do Sutra do Lótus, mas também sabiam que a época da propagação do Sutra do Lótus ainda não havia chegado. E como ainda não tinham recebido a ordem do Buda para expor essas doutrinas grandiosas, apesar de as preservarem em sua mente, não permitiam que sua boca as proferissem. (WND, v. II, p. 687-688)

Nichiren Daishonin redigiu a presente carta em nome de seu discípulo Inaba-bo Nichiei em junho de 1277, e a endereçou a Shimoyama Hyogo Goro Mitsumoto, administrador do distrito de Shimoyama [próximo ao Monte Minobu], na província de Kai (atual província de Yamanashi).

Na época, o Japão enfrentava a ameaça iminente de um segundo ataque do exército mongol. Num período tenso e incerto como aquele, Daishonin enfatizou reiteradamente a importância de se despertar para o correto ensinamento do budismo.

Nichiei, sacerdote budista do templo Heisen-ji [o templo da família Shimoyama no distrito de Shimoyama], tornou-se discípulo de Daishonin por meio dos esforços de propagação de Nikko Shonin,1 e [em vez de recitar o Sutra Amida do ensinamento Nembu­tsu como fizera anteriormente] começou a recitar a parte em verso do capítulo “A Extensão da Vida” (16º) do Sutra do Lótus. Isso enfureceu Shimoyama Mitsumoto, patrono do templo e adepto fervoroso da Nembutsu, que expulsou Nichiei de Heisen-ji. Daishonin redigiu esta carta como uma petição para Nichiei apresentar ao administrador. Afirma-se que, em decorrência do esclarecimento prestado, Shimoyama Mitsumoto aceitou os ensinamentos de Daishonin, assim como o restante de sua família.

Quase no fim desta carta, Daishonin descreve-se como “Nichiren, devoto do Sutra do Lótus, mais importante que Shakyamuni, o senhor dos ensinamentos” (WND, v. II, p. 710). Isso representa uma das afirmações mais significativas da vida de Daishonin e é a razão pela qual a Carta para Shimoyama consta entre seus dez principais escritos.2 Nem é necessário dizer que ninguém reverenciava Shakyamuni mais altamente do que Daishonin. Entretanto, levando-se em conta o desafio de propagar o Sutra do Lótus na era posterior à a morte do Buda, o devoto do Sutra do Lótus possuía extrema importância.

Embora este escrito tenha o formato de um relato de Nichiei sobre uma preleção feita por Daishonin em sua residência em Minobu, Daishonin na verdade toma emprestada a voz de Nichiei para expor o significado essencial de se propagar o Sutra do Lótus nos Últimos Dias da Lei.

Nesta carta, Daishonin retrata a história da disseminação do budismo nos Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei, e segue confirmando a excelência do Sutra do Lótus. Além disso, apresentando provas documentais, teóricas e reais, demonstra claramente que, nos Últimos Dias — na condição de alguém que leu o Sutra do Lótus com a própria vida, enfrentando as várias perseguições preditas nele — sua presença tem importância vital muito mais que a de Shakyamuni.

Propagação nos Últimos Dias da Lei — missão dos bodisatvas da terra

Os trechos da Carta para Shimoyama que escolhi como tema nesta parte discutem a propagação do budismo durante os Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei e o surgimento do bodisatva Práticas Superiores [o líder dos bodisatvas da terra].

Para especificar em que ordem seus ensinamentos deveriam ser propagados depois de sua morte, Shakyamuni estabeleceu os três períodos — Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei — e identificou quais ensinamentos deveriam ser propagados e por quem em cada período.

Portanto, na metade inicial dos mil anos dos Primeiros Dias da Lei, os ouvintes da voz Mahakashyapa, Ananda e outros propagaram os ensinamentos Hinayana, ao passo que na segunda metade daquele período de mil anos, Ashvaghosha, Nagarjuna e outros grandes bodisatvas difundiram os ensinamentos Mahayana provisórios. Esses eminentes eruditos budistas de épocas posteriores efetuaram esse trabalho empregando os sutras Mahayana para refutar os sutras Hinayana. Embora possam ter mencionado o Sutra do Lótus em seus tratados filosóficos, mantiveram no coração e não falaram diretamente sobre o ensinamento dos “três mil mundos num único momento da vida”3 — a profunda doutrina exposta no Sutra do Lótus e a verdadeira essência do ensinamento do Buda.

Por que esses grandes eruditos não propagaram o Sutra do Lótus? Nesta carta, Daishonin indica duas grandes razões: (1) Eles “sabiam que a época da propagação do Sutra do Lótus ainda não havia chegado”; e (2) Eles “não tinham recebido a ordem do Buda para expor essas doutrinas grandiosas” (WND, v. II, p. 687).

Em primeiro lugar, não era o tempo propício para que propagassem o Sutra do Lótus, pois este ensinamento fora exposto basicamente para aqueles que vivem nos Últimos Dias da Lei. Nam-myoho-renge-kyo, o âmago do Sutra do Lótus, é o grande ensinamento que habilita todos os seres vivos a atingir a iluminação, até mesmo aqueles aos quais os ensinamentos anteriores do Buda negavam tal possibilidade.

Em segundo lugar, esses bodisatvas não receberam do Buda a instrução para propagar o Sutra do Lótus, pois propagar esse grande ensinamento na era maléfica posterior à sua morte significaria enfrentar dura oposição e perseguição [que eles não conseguiriam suportar]. Essa tarefa foi confiada somente aos verdadeiros discípulos de Shakyamuni do tempo sem início, os bodisatvas da terra.4

Há dois pontos importantes a se observar aqui. Primeiro, o Sutra do Lótus é o escrito para todos os seres vivos da era maléfica dos Últimos Dias da Lei atingirem a iluminação — ou, simplificando, o ensinamento que possibilita aqueles que mais estão sofrendo se tornem felizes. Segundo, é fundamental que não se perca de vista quem possui a missão de propagar o Sutra do Lótus.

Notas

1. Nikko Shonin (1246–1333): discípulo direto e sucessor de Nichiren Daishonin, além de ser o único dos seis sacerdotes seniores que se manteve fiel ao espírito do mestre. Ele se tornou discípulo de Daishonin ainda bem jovem, servindo-o devotadamente e o acompanhando até mesmo no exílio à Ilha de Sado. Quando Daishonin se retirou para o Monte Minobu, Nikko canalizou suas energias nas atividades de propagação na província de Suruga (atual província de Shizuoka), e regiões adjacentes, como a província de Kai (atual província de Yamanashi). Após o falecimento de Daishonin, os outros cinco sacerdotes seniores começaram a se distanciar gradativamente dos ensinamentos de seu mestre. Por essa razão, Nikko decidiu se separar deles. Estabeleceu-se no distrito Fuji em Suruga, onde dedicou o resto de sua vida a proteger e propagar o ensinamento de Daishonin e a instruir e desenvolver os discípulos.

2. Dez principais escritos: tratados formulados por Nichiren Daishonin e posteriormente classificados por Nikko Shonin como seus escritos mais importantes. Em ordem cronológica de elaboração, são: (1) A Recitação do Daimoku do Sutra do Lótus, (2) Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra, (3) Abertura dos Olhos, (4) O Objeto de Devoção para Observar a Mente, (5) A Escolha da Essência do Sutra do Lótus, (6) A Seleção do Tempo, (7) Saldar as Dívidas de Gratidão, (8) Os Quatro Estágios da Fé e os Cinco Estágios da Prática, (9) Carta para Shimoyama, e (10) Perguntas e Respostas sobre o Objeto de Devoção.

3. “Três mil mundos num único momento da vida” (ichinen sanzen, em japonês): sistema filosófico estabelecido por Tiantai da China com base no Sutra do Lótus. Os “três mil mundos” indicam os vários aspectos e fases que a vida assume a cada momento. A cada instante, a vida manifesta um dos dez mundos. Cada um desses mundos possui o potencial para todos os dez dentro de si, perfazendo cem possíveis mundos. Cada um desses cem mundos possui os dez fatores e opera dentro de cada um dos três domínios da existência, totalizando, assim, três mil mundos. Em outras palavras, todos os fenômenos estão contidos dentro de um único momento de vida, e um único momento de vida permeia os três mil mundos da existência, ou a totalidade do mundo dos fenômenos.

4. Bodisatvas da terra: enorme multidão de bodisatvas que emergem da terra, a quem o buda Shakyamuni confia a propagação da Lei Mística, ou a essência do Sutra do Lótus nos Últimos Dias da Lei. São descritos no capítulo “Emergindo da Terra” (15º) do Sutra do Lótus, o primeiro capítulo do ensinamento essencial do sutra (os últimos 14 capítulos). Nesse capítulo, incontáveis bodisatvas de outros mundos pedem permissão para propagar o sutra no mundo saha depois da morte do Buda, mas Shakyamuni rejeita a oferta, dizendo que já existem bodisatvas que realizarão essa tarefa no mundo saha. Nesse momento, a terra treme e se abre, e de dentro dela surge uma multidão de bodisatvas numa quantidade equivalente aos grãos de areia de sessenta mil rios Ganges, cada qual respectivamente acompanhado por um vasto séquito. No capítulo “Os Poderes Sobrenaturais” (21º), Shakyamuni transfere a essência do Sutra do Lótus aos bodisatvas da terra, liderados pelo bodisatva Práticas Superiores, confiando-lhes a missão de propagá-la nos Últimos Dias da Lei.



Budismo do Sol
Iluminando o mundo

Brasil Seikyo, Edição 2325, 28/05/2016 / Encontro com o Mestre

Escrito 2: Carta para Shimoyama

A religião existe para a felicidade das pessoas

Uma era maléfica de calúnia a Lei

Trecho 2 do Gosho

Com o início dos mil anos dos Médios Dias da Lei, o budismo gradativamente se propagou da Índia para a China e o Japão. O Buda, o Mundialmente Reverenciado, confiara expressamente a primeira parte do Sutra do Lótus, os catorze capítulos que compõem o ensinamento teórico, aos bodisatvas do ensinamento teórico, como o bodisatva Rei dos Remédios, e aos bodisatvas de mundos diferentes deste nosso. Esses atos foram uma espécie de prelúdio do surgimento dos grandes bodisatvas que emergem da terra no início dos Últimos Dias da Lei para ensinar todos os seres vivos deste continente de Jambudvipa [o mundo inteiro] a recitar os cinco ideogramas do Nam-myoho-renge-kyo, o âmago do capítulo “A Extensão da Vida” do ensinamento essencial.

Os designados para propagar o ensinamento teórico eram pessoas como Nanyue, Tiantai, Miaole e Dengyo. Agora, o mundo entrou na era em que o bodisatva Práticas Superiores e os outros de seu grupo estão destinados a realizar seu advento. Até mesmo eu, com meus olhos incultos, percebo os sinais de que isto está prestes a acontecer. (WND, v. II, p. 688)

Embora as doutrinas não fossem tão profundas como as contidas no Sutra do Lótus, os ensinamentos provisórios anteriores ao Sutra do Lótus que foram propagados durante os mil anos dos Primeiros Dias da Lei ainda beneficiavam as pessoas. Do mesmo modo, nos mil anos dos Médios Dias da Lei, o ensinamento teórico (primeira metade) do Sutra do Lótus era suficiente para aquela época. Considerava-se que os grandes mestres Tiantai e Dengyo, que surgiram, respectivamente, na China e no Japão, cumpriam as funções de bodisatvas do ensinamento teórico como o bodisatva Rei dos Remédios citados na passagem ao lado. Com base no Sutra do Lótus, Tiantai expôs o princípio dos “três mil mundos num único momento da vida” e estabeleceu uma prática para a pessoa ativar a sabedoria do buda e atingir a iluminação. E Dengyo disseminou os ensinamentos e a prática de Tiantai no Japão. Daishonin descreve esses fatos como um “prelúdio” para o surgimento dos bodisatvas da terra nos Últimos Dias da Lei para ensinar às pessoas o Nam-myoho-renge-kyo, “âmago do capítulo ‘A Extensão da Vida’ do ensinamento essencial” (WND, v. II, p. 688).

Em contraste com os Primeiros e Médios Dias da Lei, os Últimos Dias são o período para o bodisatva Práticas Superiores surgir e propagar o ensinamento essencial (segunda metade) do Sutra do Lótus, e eram evidentes os sinais indicando isso, como afirma Daishonin.

Ele estava se referindo ao fato de que a imensa desordem no mundo do budismo, que caracteriza esse período, já estava em curso. As escolas budistas estabelecidas no Japão haviam perdido de vista completamente o verdadeiro propósito dos ensinamentos do Buda, tinham se esquecido do bem-estar do povo e se voltaram para disputas e rivalidades que efetivamente indicavam “uma era de conflitos e disputas”.1

Os sacerdotes das várias escolas budistas tornaram-se confusos acerca da profundidade e eficácia relativas dos diferentes sutras, e, esquecendo-se da intenção original do Buda, estabeleceram novas escolas conforme seus próprios planos ou inclinações, sem levar em conta a época e a capacidade das pessoas de acreditar e aceitar o budismo. Como se não bastasse, denigriram o Sutra do Lótus, o ensinamento da iluminação universal, levando a Lei pura a se tornar obscura e se perder.2

Mas este é o período no qual a grande Lei pura deve florescer e o bodisatva Práticas Superiores, surgir.

Quem, então, está atuando hoje como o bodisatva Práticas Superiores que prega esta grande Lei pura e conduz todos os seres dos Últimos Dias da Lei a atingir a iluminação? Isso está ligado diretamente à questão sobre quem é o verdadeiro devoto, o praticante genuíno, do Sutra do Lótus nos Últimos Dias da Lei.

Propagar a Lei suportando as dificuldades na era de calúnias

Como se observou anteriormente, o Sutra do Lótus é o ensinamento que possibilita a iluminação de todas as pessoas nos Últimos Dias da Lei. Isso significa que o devoto do Sutra do Lótus deve ser alguém que possui a coragem de se levantar sozinho e continuar se empenhando para propagar o ensinamento correto, sem se deixar abater pela perseguição e outras adversidades, nessa era caluniosa caracterizada por conflitos e disputas. A presença desse devoto é essencial para se abrir o caminho da felicidade para toda a humanidade nos Últimos Dias.

Quando examinamos a reali­dade da propagação do ensinamento correto nessa era, podemos apreciar plenamente a intenção de Daishonin ao descrever a pessoa que se empenha abnegadamente a propagar a Lei Mística como “devoto do Sutra do Lótus, mais importante que Shakyamuni, o senhor dos ensinamentos” (WND, v. II, p. 710).

Embora esta carta em alguns aspectos constitua uma introdução ao budismo e ao Sutra do Lótus, endereçada a Shimoyama Mitsu­moto por intermédio de Nichiei, também nos diz que, a menos que saibamos quem é o devoto do Sutra do Lótus que luta pelo bem das pessoas, não compreenderemos o verdadeiro significado do budismo ou deste sutra. Esse é o motivo pelo qual Daishonin busca esclarecer a questão crucial da identidade dos “sacerdotes arrogantes respeitados como sábios” — o terceiro dos “três poderosos inimigos”3 — que se opõem ao devoto do Sutra do Lótus, bem como a identidade do devoto que desencadeou os ataques de todos esses três inimigos.

Em Carta para Shimoyama, Daishonin aponta os erros não só dos ensinamentos da Terra Pura (Nembutsu), mas também das escolas Zen, Palavra Verdadeira e Tendai no Japão, refutando claramente as asserções equivocadas de cada uma delas. Em particular, ele utilizou um grande trecho da carta para denunciar o sacerdote Ryokan4 da escola Preceitos-Palavra Verdadeira, do templo Gokuraku-ji, em Kamakura. Daishonin descreve em detalhes seu desafio a Ryokan referente às orações pela chuva,5 e citando passagens relevantes das escrituras,6 revela por que as orações de Ryokan fracassaram. Ele discerniu e apontou a verdadeira natureza de Ryokan, oculta por trás da imagem pública de sábio que mantinha os preceitos.

Por que Daishonin foi tão duro em suas críticas a Ryokan? Pelo fato de Ryokan ser o principal responsável pela destruição dos ensinamentos do budismo no Japão, enganando continuamente as pessoas vestindo a máscara de santidade. Vendo-o como real­mente era, Daishonin lhe diz [em Carta para Ryokan do Templo Gokuraku-ji]: “Falso sábio, pessoa de arrogância desmedida, nesta existência com certeza será identificado como um traidor da nação e, na próxima, cairá na região do inferno” (WND, v. II, p. 324). “Falso sábio, pessoa de arrogância desmedida” é a figura religiosa de alta posição, reverenciada pelas pessoas, mas que na verdade só se importa com seu próprio benefício e, por maldade, tenta prejudicar o devoto do Sutra do Lótus. “Sacerdotes arrogantes respeitados como sábios” são os mais perniciosos dos três poderosos inimigos e os mais difíceis de detectar.

Apesar de ostentarem uma aparência de compaixão, essas pessoas na realidade desprezam os outros e distorcem a verdade intencionalmente por interesse pessoal, causando a infelicidade das demais pessoas sem remorso algum. Elas se ressentem dos justos e corretos e, de fato, os perseguem. Não há nada mais maléfico.

A luta do devoto do Sutra do Lótus contra a grande maldade

Daishonin combateu impetuo­samente o mal fundamental que engana e confunde as pessoas em relação à verdade. Ele agiu desse modo para esclarecer quem está propagando e praticando o ensinamento correto exatamente de acordo com o Sutra do Lótus, movido pelo desejo de levar a verdadeira felicidade às pessoas. O único caminho para se construir uma sociedade na qual as pessoas consigam discernir a verdadeira natureza daqueles que fingem ser santos e virtuosos e não ser desencaminhadas por artifícios e simulacros é encorajar cada indivíduo a elevar sua própria condição espiritual.

O Sr. Makiguchi certa vez observou que, se não fosse Daishonin, alguém como Ryokan teria terminado a existência sendo considerado um buda vivo.

Sem a presença de pessoas de sabedoria capazes de enxergar a verdade, os valores se tornam distorcidos, os padrões do bem e do mal se perdem, e a sociedade, manipulada por falsos veneráveis arrogantes, decai.

Citando uma passagem de Carta para Shimoyama,7 o Sr. Makiguchi também declarou que o Sutra do Lótus é um ensinamento que leva as pessoas ao bem máximo, revelando a verdadeira natureza das funções demoníacas que aparentam estar realizando atos de bem menor, mas na realidade constituem fontes de grande mal.8

Como ele aponta, funções demoníacas assumem a aparência de bem menor, o que dificulta para as pessoas discernir sua verdadeira natureza. Essa é a razão pela qual as influências negativas só podem ser vencidas pelo bem maior.

A pessoa que pratica e ensina a verdade do sutra a todos é o devoto do Sutra do Lótus. Carta para Shimoyama oferece um relato detalhado dos esforços de Daishonin como devoto do Sutra do Lótus, narrando acontecimentos de sua vida, como encaminhar o tratado Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra às autoridades, a Perseguição de Matsubagayatsu, sofrer o Exílio em Izu, a Perseguição de Tatsunokuchi e o Exílio em Sado, e ainda seu encontro com Hei no Saemon-no-jo9 após ter sido perdoado.

Essa descrição mostra que ninguém se empenhou mais arduamente em prol da felicidade das pessoas do que Daishonin, e essa é a prova de que ele é o devoto do Sutra do Lótus que lutou contra os poderosos inimigos, inclusive os sacerdotes arrogantes respeitados como sábios.

Ser um verdadeiro praticante, não apenas um crente

Na época atual, a Soka Gakkai está dando continuidade à linhagem de devoto do Sutra do Lótus exatamente de acordo com os escritos de Daishonin.

Na quinta convenção da Soka Kyoiku Gakkai (Sociedade Educacional de Criação de Valor, precursora da Soka Gakkai), em 22 de novembro de 1942, o Sr. Makiguchi declarou:

Devemos traçar uma clara distinção entre crentes e praticantes. Embora seja incontestável que alguém que creia [na Lei Mística] terá suas orações respondidas e muitos benefícios, isso isoladamente não constitui a prática de bodisatva. Não existe algo como um buda egocêntrico que simplesmente acumula benefícios pessoais e não trabalha para o bem-estar do próximo. A menos que realizemos a prática de bodisatva, não poderemos atingir o estado de buda. Dedicar-se a fazer o bem às pessoas com o sentimento de um pai é o que distingue o verdadeiro crente e o verdadeiro praticante.10

Esta passagem revela o discernimento penetrante do Sr. Makiguchi de que a prática do Budismo Nichiren consiste inerentemente na prática de bodisatva, a do devoto do Sutra do Lótus.

Por ter vivenciado o benefício profundo da fé no Budismo de Nichiren Daishonin, o Sr. Makiguchi canalizava intensos esforços nas reuniões de palestra. Ao participar desses encontros, descritos por ele como “reuniões de palestra que oferecem provas experimentais da validade de uma vida de bem maior”, assumia a liderança no trabalho de compartilhar a Lei com as pessoas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, segundo um documento oficial com as acusações que levaram o primeiro presidente, Tsunesaburo Makiguchi, a ser preso, mais de 240 reu­niões de palestra foram realizadas pela Soka Kyoiku Gakkai entre maio de 1941 e junho de 1943, apesar da opressão das autoridades militares japonesas à organização.

Na quarta convenção da Soka Kyoiku Gakkai, no dia 17 de maio de 1942, ele afirmou enfaticamente:

Devemos guiar o país em direção ao bem maior.11 Isso é comparável a aterrissar na frente do inimigo. Em contraste com a forma ineficaz que os outros grupos religiosos­ efetuam as campanhas de propagação — diri­gindo-se a grandes multidões, sem que alguém se torne um praticante sério — o movimento que iniciei com um único aliado [Josei Toda] há dez anos cresceu extraordinariamente. A razão disso é o fato de termos nos baseado completamente na fé e demonstrado provas reais do benefício de nossa prática budista mutuamente. Observando o progresso que edificamos até agora, acredito que, no futuro, mediante nossos dedicados esforços, poderemos contribuir positivamente para o bem-estar de nossa família e da sociedade e inclusive alcançar o kosen-rufu.12

Em meio a um período turbulento, o Sr. Makiguchi nunca parou de empreender ações em prol do kosen-rufu. Além disso, seu ponto de partida sempre consistia em concentrar esforços em cada pessoa. As reuniões de palestra compõem o único caminho para desenvolver pessoas com um sólido compromisso em relação à fé.

A Soka Gakkai é a organização para o kosen-rufu

Inspirados pela profunda compaixão de Daishonin de conduzir todas as pessoas à iluminação, associados da Soka Gakkai no mundo inteiro estão se empenhando incansavelmente pelo kosen-rufu para ajudar a todos a se tornarem felizes. Cada membro, portanto, é um devoto do Sutra do Lótus dos Últimos Dias da Lei e um bodisatva da terra.

Hoje, nossa rede Soka se estendeu para 192 países e territórios precisamente porque nossos integrantes estão, fielmente, dando continuidade à grandiosa luta dos bodisatvas da terra pela qual Daishonin se levantou só para concretizar o desígnio do Sutra do Lótus, o juramento original de Shakyamuni.

Os diálogos de pessoa a pessoa, de coração a coração, que se iniciaram com a proposta do Sr. Makiguchi de se promover “reuniões­ de palestra que oferecem provas experimentais da validade de uma vida de bem maior”, agora são realizados alegremente nas reuniões de palestra da SGI espalhadas pelo mundo todo.

Em 2013, o Auditório do Grande Juramento pelo Kosen-rufu Mundial foi concluído [em Shinanomachi, Tóquio, Japão]. Um fluxo constante de jovens conscientes de sua missão como bodisatvas da terra prossegue emergindo, e o som da recitação do Nam-myoho­-renge-kyo imbuída do espírito de união de “diferentes em corpo, unos em mente” ecoa por todo o planeta azul. Diálogos de amizade, espalhando as sementes da Lei Mística, se desenrolam por todos os cantos.

A Soka Gakkai será, para todo o sempre, uma organização dedicada ao kosen-rufu, um grupo que compartilha e propaga amplamente o ensinamento correto.

O Sutra do Lótus afirma: “As sementes do estado de buda brotam como resultado da relação [entre as pessoas] e, por essa razão, eles [os budas] pregam o veí­culo único [a Lei Mística]” [LSOC, cap. 2, p. 75] (cf. WND, v. I, p. 1117).

Com o ato de falar aos outros sobre a Lei Mística, plantamos a semente da felicidade em sua vida, uma causa que ativa a natureza de buda dentro deles. Não existe prática budista mais nobre do que essa.

O Dr. Karel Dobbelaere, ex-presidente da Sociedade Internacional para a Sociologia da Religião, expressou: “O Budismo Nichiren define-se como o ‘Budismo da Semeadura’, indicando ser sempre possível realizar uma nova causa que produzirá um novo efeito. Graças à prática, os seguidores podem ‘transformar veneno em remédio’ — ou seja criar valor, não obstante qual seja o seu carma”.13

Compartilhar experiências da fé e convicção na prática budista

O kosen-rufu se inicia mediante o ato de cada membro se dedicar ao diálogo. É importante que compartilhemos honestamente nossas experiências da fé e nossa convicção na prática budista. Com palavras sinceras, provenientes do nosso sentimento mais profundo, estamos plantando as sementes da esperança e da felicidade no coração dos nossos amigos. Aqueles com quem conversamos podem não ter consciência dessas sementes que estão sendo plantadas. Contudo, se continuarmos respeitando-os e valorizando-os, orando pela felicidade deles, nossas orações com certeza produzirão frutos. Quando se depararem com alguma encruzilhada na vida, talvez se recordem do que lhes dissemos. Lembro-me de uma orientação eternamente válida do meu mestre: “Quando compartilhamos o Budismo Nichiren com alguém, [mesmo que a pessoa não venha a abraçar a fé] a confiança permanece”.

A fé na Lei Mística é a bússola que nos mostra o rumo certo na vida.

Em junho deste ano [2015], serão realizadas animadas reuniões em pequenos grupos da Divisão Feminina (DF) por todo o Japão. A filosofia Soka é propagada mediante diálogos de coração a coração, por diálogos que promovem a compreensão e a confiança. Esses encontros em pequenos grupos organizados por integrantes da DF são microcosmos de harmonia humana.

Somos todos bodisatvas da terra que nasceram juntos nesta época para plantar as sementes da Lei Mística no coração de uma pessoa após a outra e consolidar a nossa própria felicidade, bem como a de outras pessoas.

Com o orgulho de ser protagonistas do kosen-rufu dos Últimos Dias da Lei, cumpramos corajosa e convictamente nossa missão como bodisatvas da terra.

Publicadas em junho de 2015 na revista Daibyakurenge.

NOTAS:

1. Refere-se à era de “conflitos e disputas em que a Lei pura se tornará obscura e se perderá”; uma descrição que consta originalmente no Sutra da Grande Compilação. O sutra prediz que no quinto período de quinhentos anos após a morte do Buda — a era correspondente aos Últimos Dias da Lei — escolas budistas rivais brigarão interminavelmente entre si e o ensinamento correto de Shakyamuni se tornará obscuro e se perderá.

2. Consulte a nota imediatamente anterior.

3. “Três poderosos inimigos”: Três tipos de pessoas arrogantes que perseguem aqueles que propagam o Sutra do Lótus na era maléfica após a morte do buda Shakyamuni, descritos na parte em versos que conclui o capítulo “Encorajamento à Devoção” (13º) do Sutra do Lótus. O grande mestre Miaole da China os resumiu como: 1) leigos arrogantes; 2) sacerdotes arrogantes e presunçosos; e 3) sacerdotes arrogantes respeitados como sábios.

4. Ryokan (1217–1303): Também conhecido como Ninsho. Um sacerdote da escola Preceitos-Palavra Verdadeira no Japão. Sob tutela do clã Hojo, Ryokan tornou-se prior do templo Gokuraku-ji em Kamakura. Ele implementou vários projetos de bem-estar social, entre os quais a construção de hospitais e estradas, e detinha enorme influência tanto entre as autoridades do governo como da população em geral. Ele era hostil a Daishonin e conspirava ativamente com as autoridades para que ele e seus seguidores fossem perseguidos.

5. Em Carta de Petição de Yorimoto, Daishonin escreve: “[Enviei uma mensagem a Ryokan dizendo:] ‘Decidiremos qual ensinamento é o correto mediante esta oração por chuva. Se chover dentro de sete dias, podem acreditar que nascerão na Terra Pura pela virtude dos oito preceitos e da Nembutsu, a qual os senhores já praticam. Porém, se não chover, devem abraçar unicamente o Sutra do Lótus’. Felizes por ouvir isso, os dois entregaram a mensagem ao sacerdote Ryokan no templo Gokuraku-ji. O sacerdote Ryokan chorou de alegria e se pôs a orar...” (WND, v. I, p. 808). Ao fracassar nesse desafio, seu antagonismo em relação a Daishonin se intensificou e ele incitou os líderes do governo militar de Kamakura a perseguirem-no, o que acarretou a subsequente Perseguição de Tatsunokuchi e o exílio em Sado.

6. Em Carta para Shimoyama, citando os cinco fatores listados nas escrituras budistas como as razões pelas quais as orações por chuva não são respondidas, Daishonin escreve: “Com essas passagens das escrituras como nosso espelho, vejamos o que elas nos mostram sobre a verdadeira natureza do sacerdote Dois Fogos [Ryokan]. Elas revelam claramente aquilo que ele é. 1) Embora tenha reputação de ser um cumpridor dos preceitos, na verdade, a conduta dele é promíscua; 2) é ganancioso e avarento; 3) é invejoso; 4) nutre visões errôneas; e 5) é lascivo e desregrado. Todos os cinco fatores se aplicam a ele” (WND, v. II, p. 693-694).

7. A passagem de Carta para Shimoyama citada por ele afirma: “Aqueles que são vistos pelo mundo como pessoas de sabedoria estão convencidos de que dominam profundamente os conceitos de tempo e capacidade. No entanto, optam pelo bem menor e põe de lado o bem maior; confiam em sutras provisórios e desprezam o sutra verdadeiro [o Sutra do Lótus]. Consequentemente, o bem menor deles se torna, ao contrário, um grande mal, o remédio deles se transforma em veneno, quando deveriam agir como um parente próximo, comportam-se como inimigos mortais. Tal procedimento é, de fato, difícil de remediar” (WND, v. II, p. 685).

8. Traduzido do japonês. MAKIGUCHI, Tsunesaburo. Makiguchi Tsunesaburo Zenshu [Coletânea das Obras de Tsunesaburo Makiguchi]. Tóquio: Daisanbunmei-sha, v. 10, p. 41, 2000.

9. Hei no Saemon-no-jo (m. 1293): Também conhecido como Hei no Saemon-no-jo Yoritsuna. Importante oficial no clã Hojo, o governo de fato do Japão durante o período Kamakura. Ele serviu a dois sucessivos regentes — Hojo Tokimune e Hojo Sadatoki — e detinha enorme influência, como subchefe do Posto de Comando Militar (sendo o chefe o próprio regente). Colaborou com Ryokan, o sacerdote prior do templo Gokuraku-ji, e outros sacerdotes influentes das escolas budistas estabelecidas da época, para perseguir Daishonin e seus seguidores.

10. Traduzido do japonês. MAKIGUCHI, Tsunesaburo. Makiguchi Tsunesaburo Zenshu [Coletânea das Obras de Tsunesaburo Makiguchi]. Tóquio: Daisanbunmei-sha, v. 10, p. 151, 2000.

11. “Bem maior” indica o valor mais elevado na teoria do valor de Makiguchi, fundamentada no belo, no benefício e no bem.

12. Traduzido do japonês. MAKIGUCHI, Tsunesaburo. Makiguchi Tsunesaburo Zenshu [Coletânea das Obras de Tsunesaburo Makiguchi]. Tóquio: Daisanbunmei-sha, v. 10, p. 147-148, 2000.

13. Extraído de uma palestra do Dr. Karel Dobbelaere intitulada “Some Thoughts on Soka Gakkai, with a Special Reference to SGI” [Algumas Considerações sobre a Soka Gakkai e, em especial, sobre a SGI”, em tradução livre], proferida durante a Série de Palestras Culturais Seikyo, realizada no Centro Internacional Josei Toda, em Tóquio, em 10 de dezembro de 1999.

Explanação 1 - Admoestação a Hachiman

Budismo do Sol
Iluminando o mundo

Brasil Seikyo, Edição 2319, 16/04/2016 / Encontro com o Mestre
Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda, publicadas mensalmente na revista Daibyakurenge.


A transmissão do budismo para o oeste

Juramento abnegado de concretizar a felicidade de toda a humanidade

Escrito: Admoestação a Hachiman

Terra da Lua é outro nome para a Índia, local em que o Buda surgiu neste mundo. Terra do Sol é outro nome para o Japão. Então, haveria algum motivo para que o venerável não surgisse nesse local? A lua se move do oeste em direção ao leste, tal como o budismo da Índia se propagou rumo ao leste. O sol se levanta no leste, prenúncio auspicioso de que o budismo do Japão retornará à Terra da Lua.

A luz da Lua não é tão brilhante, pois o Buda ensinou [o Sutra do Lótus na Índia] durante apenas oito anos. A luz do Sol é muito mais reluzente, um auspicioso sinal de como o budismo do Japão iluminará a longa escuridão do quinto período de quinhentos anos [Últimos Dias da Lei].

O Buda não precisou corrigir os caluniadores do Sutra do Lótus, pois na época em que viveu não havia pessoas desse tipo. Porém, nos Últimos Dias da Lei, os inimigos do veículo único estão em toda parte. Agora é a época para beneficiar o mundo assim como fez o bodisatva Jamais Desprezar. Da mesma maneira, vocês, meus discípulos, devem se empenhar diligentemente! (WND, v. II, p. 936)

Introdução

O sol nasce no leste hoje novamente­. Todas as manhãs ele rompe a escuridão e ilumina a terra com uma radiância maior a cada momento que se passa. Sua luz e seu calor despertam e nutrem tudo o que tem vida. O Sol simboliza esperança sem limites e paixão infinita. Está em constante movimento, nunca para, envolvendo calorosamente tudo com seus raios compassivos.

O Budismo Nichiren é o Budismo do Sol. Estendamos a grandiosa luz da sabedoria e da compaixão do Sutra do Lótus às pessoas de todos os cantos. Vamos emitir a luz do humanismo budista ao nosso planeta, que ainda se encontra profundamente envolto pela escuridão do sofrimento e da miséria, e ampliar alegremente o círculo de “flores humanas” (LSOC, cap. 5, ­p. 142­),­ que ilustra a vitória do povo.

***

Três de maio é o dia em que meu mestre, Josei Toda, tomou posse como segundo presidente da Soka Gakkai em 1951. Nesse dia também, como discípulo unido a ele em espírito e propósito, eu me levantei como o terceiro presidente da organização em 1960.

Ao superar com êxito os problemas nos negócios, o Sr. Toda finalmente decidiu aceitar a presidência da Soka Gakkai na primavera de 1951. Lembro-me da grande seriedade com que ele explanou para mim, em março daquele ano, o escrito de Daishonin Admoestação a Hachiman.

Na época, uma guerra cruel estava dividindo a península coreana­. O povo da Ásia, que já havia suportado terrível agonia na Segunda Guerra Mundial, mais uma vez era atormentado por conflitos. Meu mestre, sentindo empatia pelo sofrimento deles, declarou intrepidamente que havia chegado a hora do kosen-rufu e se pôs a agir. Não foi coincidência ter citado, durante esse período, uma passagem de Admoestação a Hachiman num ensaio intitulado “O Kosen-rufu e a Guerra da Coreia”, publicado na revista mensal de estudo da Soka Gakkai, Daibyakurenge (em maio de 1951).

Faz cinquenta e cinco anos que assumi a liderança do nosso movimento, para cumprir minha missão nesta existência — dar continuidade à luta do meu mestre para transformar uma era de guerras numa era de paz e construir um mundo onde as pessoas pudessem viver de forma segura e feliz. Durante esse tempo, jamais, nem por uma única vez, me esqueci do meu juramento.

Nesta primeira parte da nova série “O Budismo do Sol — Iluminando o Mundo”, estudaremos o trecho conclusivo de Admoestação a Hachiman, que contém a predição de Daishonin da transmissão do budismo para o oeste.1

Sempre que leio essa passagem, ela me faz lembrar pungentemente que o humanismo do Budismo Nichiren é o Sol que pode iluminar o mundo todo e que finalmente o momento para isso chegou. Essa parte me inspira a renovar a minha determinação em relação ao kosen-rufu mundial, enchendo-me de coragem para prosseguir com a luta.

Chegou a época do kosen-rufu mundial

Trecho do Gosho:

Terra da Lua2 é outro nome para a Índia, local em que o Buda surgiu neste mundo. Terra do Sol é outro nome para o Japão. Então, haveria algum motivo para que o venerável não surgisse nesse local? A lua se move do oeste em direção ao leste,3 tal como o budismo da Índia se propagou rumo ao leste. O sol se levanta no leste, prenúncio auspicioso de que o budismo do Japão retornará à Terra da Lua. (WND, v. II, p. 936)

Nichiren Daishonin redigiu a carta Admoestação a Hachiman em dezembro de 1280 enquanto residia em Minobu.4 Trata-se de um escrito profundamente significativo, endereçado a todos os seus seguidores.

Era um momento turbulento na história do Japão. O país enfrentava a ameaça de uma segunda invasão das forças mongóis e, no mês anterior, o santuário do grande bodisatva Hachiman, considerado uma divindade protetora do governo militar de Kamakura, havia se incendiado.

Além disso, como se tornara evidente na Perseguição de ­Atsuhara5 [que atingira o auge no ano anterior, 1279], os seguidores de Daishonin estavam sendo oprimidos de maneira impiedosa. Em meio a essas circunstâncias adversas, Daishonin continuou liderando intrepidamente a grandiosa luta em prol do kosen-rufu.

Neste escrito, ele equipara os movimentos da Lua e do Sol, respectivamente, à propagação gradual do budismo para o leste a partir da Índia, no passado, e sua transmissão para o oeste a partir do Japão, no futuro.

Quando se observa a posição da Lua, no momento em que ela começa a brilhar no céu todas as noites, tem-se a impressão de que ela gradativamente se move do oeste para o leste. Em outras palavras, a Lua Nova aparece na parte oeste do céu antes de se pôr rapidamente, a Quarto Crescente é vista na parte sul do céu, e a Lua Cheia brilha intensamente no leste.

Com a afirmação “A lua se move do oeste em direção ao leste” (WND, v. II, p. 936), Daishonin compara o aparente movimento da Lua à propagação gradual do budismo da Índia para o leste.

O budismo de Shakyamuni, que surgiu no oeste, na distante terra da Índia, também conhecida como a Terra da Lua, passou pela Ásia Central, China e península coreana antes de, finalmente, alcançar o Japão, num grande movimento de intercâmbio cultural, indo do oeste para o leste através da Eurásia.

No que se refere aos três períodos — Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei –, essa transmissão dos ensinamentos budistas ocorreu nos Primeiros e Médios Dias da Lei.

Nos Últimos Dias da Lei, entretanto, assim como o sol nasce no leste e cruza o céu em direção ao oeste, o Budismo do Sol de Nichiren Daishonin retornará para o oeste.

Daishonin já havia escrito sobre essa mudança de direção do fluxo da transmissão e sua visão sobre a ampla propagação ao mundo inteiro nos Últimos Dias da Lei em seu escrito A Profecia do Buda, o qual redigiu em 1273 durante o exílio em Sado:

“A Lua surge no oeste e ilumina o lado leste, enquanto o Sol nasce no leste e irradia seus raios para o oeste. O mesmo se aplica ao budismo. Nos Primeiros e nos Médios Dias da Lei, o budismo propagou-se do oeste para o leste, mas, nos Últimos Dias, percorrerá do leste para o oeste. (...) Digo que o budismo infalivelmente se levantará e se propagará a partir do leste, das terras do Japão” (CEND, v. I, p. 420-421).

A atribuição de propagar o budismo no mundo saha

Gostaria de ressaltar aqui, em primeiro lugar, que na Admoestação a Hachiman é o Sutra do Lótus que está sendo comparado com a Lua, quando Shakyamuni estava vivo, e com o Sol, após a sua morte.

Nenhum outro texto dentre os vários Sutras Mahayana se concentra tão intensamente em habilitar todas as pessoas deste “mundo saha”, ou de “todo o Jambudvipa” [o mundo inteiro], a atingir a iluminação como faz o Sutra do Lótus.

Que tipo de mundo é o saha? Significa “mundo da resignação”, um lugar onde devemos suportar os sofrimentos. Os habitantes do mundo saha, atormentados pelos desejos mundanos, são vistos de forma desfavorável como pessoas­ “inclinadas à corrupção e ao mal, assoladas por arrogância desmedida, superficiais em sua bondade, irascíveis, confusas, bajuladoras e desonestas, e com um coração insincero” (LSOC, cap. 13, p. 230).

Outro nome para o Buda é Aquele que Consegue Suportar, porque ele é uma pessoa de coragem capaz de avançar firme e continuamente, com grande resistência, para ajudar as pessoas deste mundo abarrotado de sofrimentos a atingir a iluminação. Os bodisatvas da terra descritos no Sutra do Lótus são discípulos diretos de Shakyamuni. Eles fazem seu advento intrepidamente para dar continuidade ao trabalho dele, repletos de alegria por poder propagar o Sutra do Lótus neste mundo saha.

Em Admoestação a Hachiman, Daishonin descreve com que espírito ele se devotou à luta da propagação da Lei Mística desde que estabelecera seu ensinamento para aqueles que vivem no mundo saha:

“Durante vinte e oito anos, desde o vigésimo oitavo dia do quarto mês [28 de abril] do quinto ano da era Kencho [1253], desde o signo cíclico mizunoto-ushi até o presente momento, décimo segundo mês do terceiro ano da era Koan [dezembro de 1280], desde o signo cíclico kanoe-tatsu, eu, Nichiren, não fiz nada além de labutar exclusivamente para pôr os cinco ou sete ideogramas do Myoho-renge-kyo6 na boca de todos os seres vivos deste país, Japão. Ao fazer isso, tenho demonstrado a mesma compaixão de uma mãe quando se esforça para pôr o leite na boca de seu bebê” (WND, v. II, p. 931).

A Soka Gakkai é a organização que, em conformidade com a intenção e o decreto do Buda, promove o kosen-rufu no mundo real, com o juramento de dar continuidade à grande compaixão de Daishonin. Tsunesaburo Makiguchi, fundador do nosso movimento Soka, sublinhou a passagem acima em seu exemplar pessoal da Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin.

Em fevereiro de 1961, em minha primeira viagem à Índia, visitei Bodh Gaya, lugar onde Shakyamuni atingiu a iluminação. Na oportunidade, deixei uma placa de pedra simbolizando o início da transmissão do budismo para o oeste, e renovei meu juramento de propagar o Budismo Nichiren para toda a Ásia e para o mundo inteiro.7 Mais de meio século se passou a partir de então, e a Lei Mística agora se expandiu para 192 países e territórios e está envolvendo pessoas de todo o planeta com a luz de sua compaixão.

O Dr. Lokesh Chandra, diretor da International Academy of Indian Culture [Academia Internacional de Cultura Indiana] observou que, por meio dos esforços da SGI, o Sutra do Lótus se difundiu do Japão para o mundo. (...) Assim como o sol se move do leste para o oeste, o Sutra do Lótus está empreendendo uma “jornada” do leste para o oeste, viajando para todos os países. Isto é realmente maravilhoso. Um dos principais pensadores da Índia ratifica, desse modo, a relevância de nossos esforços, bem como no Sutra do Lótus o buda Muitos Tesouros atesta a validade dos ensinamentos de Shakyamuni.


1- Transmissão do budismo para o oeste: Nichiren Daishonin predisse que Budismo do Sol seguiria do Japão para o oeste, retornando para os países através dos quais o budismo havia sido transmitido originalmente e se propagaria para o mundo inteiro.

2- Terra da Lua (Yueh-chih, em chinês), nome que se dava à Índia na China e no Japão. No fim do século 3 a.E.C., uma tribo da Ásia Central chamada Yueh-chih governava uma parte da Índia. Como o budismo foi levado à China através desse território, os chineses consideravam a terra de Yueh-chih (Tribo da Lua) como a própria Índia.

3- Refere-se à aparente direção do movimento da Lua. Embora a lua nasça no leste e se ponha no oeste, assim como o sol, em virtude da direção de sua órbita em torno da Terra, cada noite ela aparente estar um pouco mais para o leste em relação à sua posição na noite anterior.

4- O Monte Minobu situa-se na atual província de Yamanashi. Nichiren Daishonin viveu lá durante os anos finais de sua vida, de maio de 1274 a setembro de 1282, pouco antes de sua morte. Naquele lugar, devotou-se a instruir seus discípulos, a coordenar os esforços de propagação e a redigir tratados doutrinais.

5- Perseguição de Atsuhara: Uma série de ameaças e atos de violência contra os seguidores de Nichiren Daishonin ocorridas na Vila Atsuhara, no distrito Fuji da província de Suruga (atual região central da província de Shizuoka, Japão) a partir de 1275, estendendo-se até mais ou menos 1283. Em 1279, vinte camponeses seguidores foram presos sob falsa acusação. Foram interrogados por Hei no Saemon-no-jo, subchefe do Posto de Comando Militar, que exigiu que eles renunciassem à fé. Entretanto, nenhum deles cedeu. Hei no Saemon-no-jo então mandou executar três deles.

6- Myoho-renge-kyo é escrito com cinco ideogramas chineses, ao passo que Nam-myoho-renge-kyo é escrito com sete (nam, ou namu, é composto por dois ideogramas). Em seus escritos, Daishonin frequentemente emprega Myoho-renge-kyo como sinônimo de Nam-myoho-renge-kyo.

7- Para mais detalhes, consulte o capítulo “Transmissão para o Oeste” do volume 3 da Nova Revolução Humana.



Iluminando a longa escuridão dos Últimos Dias da Lei

Trecho do Gosho

A luz da Lua não é tão brilhante, pois o Buda ensinou [o Sutra do Lótus na Índia] durante apenas oito anos. A luz do Sol é muito mais reluzente, um auspicioso sinal de como o budismo do Japão iluminará a longa escuridão do quinto período de quinhentos anos [Últimos Dias da Lei].
O Buda não precisou corrigir os caluniadores do Sutra do Lótus, pois na época em que viveu não havia pessoas desse tipo. Porém, nos Últimos Dias da Lei, os inimigos do veículo único estão em toda parte. Agora é a época para beneficiar o mundo assim como fez o bodisatva Jamais Desprezar. Da mesma maneira, vocês, meus discípulos, devem se empenhar diligentemente! (WND, v. II, p. 936)

Aqui, o Sutra do Lótus é comparado à Lua, pois “o Buda ensinou [o Sutra do Lótus na Índia] durante apenas oito anos” (WND, v. II, p. 936). O Sol, que está destinado a iluminar a “longa escuridão” dos Últimos Dias da Lei (cf. WND, v. II, p. 936), também é o Sutra do Lótus. Tanto o Sol como a Lua são símbolos do Sutra do Lótus, prestando-se ao mesmo intento, e incorporam o desejo de possibilitar a iluminação a todos os seres vivos do mundo saha.

A comparação da diferença na luminosidade do Sol e da Lua neste escrito reflete a consciência de Daishonin de que, infelizmente, o budismo já se perdera na Índia, terra do advento de Shakyamuni no mundo e berço do Sutra do Lótus.

Em A Profecia do Buda, ele explica que, durante a dinastia Tang da China, já não era possível encontrar o budismo na Índia; portanto, tinha de buscá-lo na China. Ele destaca ainda que, mesmo na China, as invasões praticadas por um povo não chinês do norte durante a dinastia Song resultaram tanto na extinção da dinastia Song do norte como também do budismo.1

Para os japoneses da época de Daishonin, a Índia, a China e o Japão representavam o mundo inteiro, e reconhecia-se que o budismo já havia desaparecido dos dois primeiros países.

Por isso era crucial, mais uma vez, levar de volta a grande luz da sabedoria do Sutra do Lótus àqueles países, banindo a escuridão do sofrimento de todos os seres vivos como um resplandecente sol. A transmissão do budismo para o oeste refere-se a uma revitalização do humanismo budista para nutrir o coração de todas as pessoas eternamente.

Dissipar a escuridão da falta de confiança na humanidade

Em Admoestação a Hachiman, Daishonin declara que “temíveis inimigos do veículo único” (WND, v. II, p. 936) são abundantes nos Últimos Dias da Lei.

O Sutra do Lótus ensina que todas as pessoas são infinitamente dignas de respeito, possuindo originalmente dentro delas a natureza de buda, a sublime condição de vida do estado de buda. Cada uma é preciosa e nobre. A ignorância, ou escuridão, que a torna incapaz de acreditar no brilho inerente e no potencial ilimitado de sua vida é a característica essencial da calúnia contra o Sutra do Lótus.

Daishonin afirma que, se ele, ao reconhecer essa verdade sobre a calúnia contra a Lei e ignorasse ou não fizesse nada a respeito, também seria culpado do mesmo grave crime de calúnia, incorrendo desse modo num carma extraordinariamente negativo que o destinaria a uma eternidade no inferno de incessantes sofrimentos. Como, então, ele poderia deixar de se pronunciar contra tal erro, mesmo que isso significasse pôr a sua vida em risco? (cf. WND, v. II, p. 934).2

Ele também explica que os sofrimentos aparentemente diferentes que as pessoas experimentam derivam fundamentalmente de uma única causa, que é a calúnia contra os ensinamentos do Sutra do Lótus.

“O Sutra do Nirvana afirma: ‘Os diversos sofrimentos que todos os seres vivenciam são, todos, sofrimentos do próprio Aquele que Assim Chega’. E Daishonin declara que os sofrimentos de todos os seres humanos — que brotam de uma única causa — são os próprios sofrimentos de Nichiren” (WND, v. II, p. 934).

Ensinar aos outros sobre a Lei Mística consiste em uma luta contra o desrespeito fundamental à vida e contra a falta de fé na humanidade, que compõem a essência da calúnia contra o Sutra do Lótus. Esse é o ato de compaixão suprema, decorrente do compromisso de eliminar a causa básica do sofrimento. Ao mesmo tempo, por dissipar a escuridão ou a ignorância que residem na vida também desencadeia uma reação que assume a forma de “três obstáculos e quatro maldades”3 e dos “três poderosos inimigos”.4

No Sutra do Lótus, o bodisatva Jamais Desprezar personifica esse compromisso abnegado de compartilhar o âmago do Sutra do Lótus com os outros. Em virtude de seus esforços, despejam maldições e insultos sobre ele e o atacam com paus e pedras; mas ajudando aqueles que o perseguem a estabelecer um vínculo com o budismo, no fim, ele consegue conduzir todos à iluminação.

Em seu escrito, Daishonin conclama seus discípulos a “beneficiar o mundo assim como fez o bodisatva Jamais Desprezar” (WND, v. II, p. 936). Por meio do ato de empreender esforços para compartilhar o budismo imbuídos do mesmo espírito do bodisatva Jamais Desprezar, concretizemos infalivelmente o kosen-rufu nos Últimos Dias da Lei.

Concretizar a paz com a força do diálogo

Vamos aprender mais alguns pontos sobre a prática do bodisatva Jamais Desprezar. Ele reconhecia e se curvava em reverência à natureza de buda supremamente nobre em cada um com quem se encontrava. Sua prática, portanto, implicava demonstrar o mais elevado respeito a todos os seres humanos, com base na profunda convicção na dignidade da própria vida, bem como na dos outros.

A prática dele era pautada pela total não violência e mantinha o compromisso integral com a busca do diálogo. Mesmo que sofresse ataques físicos com paus e pedras, nunca reagia com violência.

Quando parecia que ia ser alvo de ataques físicos dessa espécie, corria para longe, pondo-se fora de perigo, e declarava: “Jamais ousaria desprezá-los, pois todos vocês com certeza atingirão o estado de buda!” (LSOC, cap. 20, p. 309). Evitando sabiamente a violência, ele continuou perseverando em seus esforços para despertar as pessoas.

Em uma discussão sobre a não violência com o renomado cientista político Glenn Paige, que se dedicou à busca de uma nonkilling society ou “sociedade na qual não se pratique o ato de matar”, mencionei o exemplo do bodisatva Jamais Desprezar. Expliquei que ele suportava violência física e verbal e, com fé na natureza de buda inerente aos seres, respeitava todos e se recusava a desprezar quem quer que fosse.5

O Dr. Paige, aliás, expressou admiração e afirmou depositar grande expectativa em nosso movimento pela paz.

Em um antigo texto budista, Shakyamuni elucida que seus seguidores não deveriam “destruir a vida nem levar outros a destruírem-na e, também, não deveriam aprovar que os outros matem”.6

Ele diz que não devemos permitir, nem nós próprios nem os outros acumular o carma negativo decorrente do ato de matar. Acredito que a filosofia budista, como ilustram a prática do bodisatva Jamais Desprezar e esses ditos dourados de Shakyamuni, constitua poderosa fonte de iluminação para movimentos de não violência e paz em nosso mundo atual.

Daishonin escreve [em Os Três Tipos de Tesouro]: “A essência dos ensinamentos expostos por Sakyamuni ao longo de toda a sua existência é o Sutra do Lótus, e a essência da prática do Sutra do Lótus está no capítulo ‘Bodisatva Jamais Desprezar’. O que significa o profundo respeito que o bodisatva Jamais Desprezar demonstrava pelas pessoas? O propósito do advento do buda Shakyamuni, o senhor dos ensinamentos, neste mundo reside em seu comportamento como ser humano” (WND, v. I, p. 851-852).

Falando sobre o significado sublime e vasto do nosso movimento em prol do kosen-rufu, o Sr. Toda disse que se trata de uma luta para elevar o estado de vida da humanidade. A prática do bodisatva Jamais Desprezar — de demonstrar respeito a cada um — assenta os alicerces desse grandioso empreendimento.

O avanço corajoso na nova era do kosen-rufu mundial

A nova era do kosen-rufu mundial hoje se encontra realmente em curso, e esse fato se reveste de extraordinário significado.

Em primeiro lugar, a consciência de ser um bodisatva da terra propagou-se em âmbito mundial entre os membros da organização. Com esse discernimento, eles atuam em todos os lugares dinamicamente para assumir a responsabilidade pelo kosen-rufu em sua comunidade e respectivo país.

Em novembro do ano passado (2014), encontrei-me com um grupo desses bodisatvas da terra, líderes da SGI de todas as partes do mundo, no Auditório do Grande Juramento pelo Kosen-rufu, no complexo de edifícios da sede da Soka Gakkai [em Shinanomachi, Tóquio, Japão].

Todos exalavam esperança. O rosto radiante deles era repleto de determinação, deixando transparecer o ávido desejo de assumir a responsabilidade pelo kosen-rufu em seu país. Transcendendo todas as diferenças de nacionalidade, etnia, idioma e cultura, emanava deles o brilho do orgulho de serem bodisatvas da terra. Nada me deixa mais feliz.

Possuímos legiões de pessoas corajosas ao redor do mundo, unidas na luta conjunta de mestre e discípulo. Os jovens, em particular, estão se levantando. Essa extraordinária expansão da consciência da missão como bodisatvas da terra entre os associados indica o “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro” da SGI.

Em segundo, os membros da SGI estão construindo, em cada região do nosso planeta, redes baseadas no humanismo que transcendem diferenças de credos e filiações religiosas. Eles se dedicam a consolidar elos de solidariedade que estimulem a bondade humana. As reuniões de palestra da SGI — um congraçamento de “flores humanas” — são realizadas no mundo todo. São encontros que fazem florescer, no século 21, um mundo de paz e harmonia imbuído de respeito à vida e a todas as pessoas, exatamente como o Sutra do Lótus descreve.

Cada membro, individualmente, estreita incontáveis laços de respeito mútuo com aqueles que o cercam, construindo assim uma sólida fortaleza da paz seguida de outra.

Em terceiro, o movimento da SGI está criando uma nova esperança no planeta. Em incontáveis partes do mundo atual, a miséria e o sofrimento proliferam, e se veem sinais de uma era maligna e impura em todos os lugares. À medida que a desconfiança nos seres humanos se intensifica, as condições que caracterizam os Últimos Dias da Lei se expandem em âmbito mundial.

Movidas por esse contexto, pessoas sensatas e preocupadas têm buscado uma religião capaz de inspirar esperança, que promova a revitalização e o desenvolvimento positivo em face de qualquer tipo de adversidade, uma filosofia que possibilite que elas revelem seu potencial inerente.

Chegou o momento de os companheiros da SGI demonstrarem seu verdadeiro potencial como bodisatvas da terra. O mundo anseia celebrar o surgimento de um grupo de pessoas que “ilumine a longa escuridão” dos Últimos Dias da Lei (cf. WND, v. II, p. 936). O palco para os membros da SGI desempenharem papel ativo e criarem uma nova cultura mundial está pronto. Como um testemunho poderoso da transmissão do budismo para o oeste, as atividades transbordantes de ânimo e energia dos bodisatvas da terra originaram uma nova era na qual o budismo do sol ilumina o mundo.

Herdando a sublime visão de Daishonin

O segredo para se criar uma nova era é a ação.

Em última análise, o budismo do sol reside nos esforços para encorajar e revitalizar todos aqueles que estão sofrendo, independentemente da época ou do lugar.

O capítulo “Os Poderes Sobrenaturais d’Aquele que Assim Chega” (21º) descreve a conduta do bodisatva Práticas Superiores e de outros bodisatvas:

Assim como a luz do sol e da lua
consegue banir toda obscuridade e trevas,
essa pessoa, ao avançar
pelo mundo,
consegue dissipar a escuridão dos seres vivos.

(LSOC, cap. 21, p. 318)

Tanto o Sr. Makiguchi como o Sr. Toda viam um grande significado nessa passagem.

“Avançar pelo mundo” (nos versos acima) indica andar pelo país, ser ativo na sociedade. Os bodisatvas da terra atuam no mundo real, construindo vínculos com uma pessoa após outra, dissipando a escuridão do sofrimento, e transmitindo a força para viver e a luz da alegria de viver.

Nikko Shonin,7 que herdou a sublime visão de Daishonin sobre a transmissão do budismo para o oeste, declarou: “Assim como os textos em sânscrito foram traduzidos para o chinês e o japonês quando o budismo da Índia seguiu para o leste, as escrituras sagradas deste país [Japão] devem ser traduzidas do japonês para o chinês e o sânscrito quando chegar a época da ampla propagação”.8 Essas palavras expressam o seu desejo ardente e solene, como discípulo, de que os escritos de Daishonin sejam traduzidos e transmitidos para o mundo inteiro.

A Soka Gakkai herdou esse espírito de mestre e discípulo. No prefácio da edição de Nichiren Daishonin Gosho Zenshu [Coletânea de Escritos de Nichiren Daishonin] da Soka Gakkai, o Sr. Toda escreveu: “É meu eterno desejo e oração que este precioso escrito se difunda aos povos da Ásia e do mundo todo”.

Hoje, os escritos de Daishonin foram traduzidos para o inglês, chinês, espanhol e diversas outras línguas. Os bodisatvas da terra estão surgindo em todas as partes do mundo e realizando diálogos budistas em seu respectivo idioma.

Retornando à passagem que estamos estudando, Daishonin escreve como uma conclusão de sua profecia de transmissão do budismo para o oeste: “Da mesma maneira, vocês, meus discípulos, devem se empenhar diligentemente!” (WND, v. II, p. 936).

Possuímos uma importante missão. O que fizermos a partir de agora será crucial.


Protagonistas da propagação do budismo do sol

A futurista americana Hazel Henderson, que formulou o conceito da “era da luz”, defende a criação de um “win-win world” (um mundo onde todos ganham, em tradução livre). Para que um mundo assim se concretize, salientou ela, é essencial não apenas expandirmos nossa rede de solidariedade, mas também que tenhamos como base inicial o despertar espiritual de cada indivíduo. Essa é a razão pela qual, conclui Hazel Henderson, ela deposita grande esperança na SGI, que, em seu trabalho pela paz, cultura e educação, se baseia numa revolução do espírito humano.9

A luz para iluminar o futuro reside em nosso coração. Cada um de nós é o protagonista do kosen-rufu mundial.

Como praticantes do budismo do sol, firmemos juntos o juramento de nos esforçar cada vez mais para iluminar a sociedade, o mundo e o futuro com a luz da revolução humana, e dar vigorosamente uma nova partida em nossa jornada do kosen-rufu e na luta conjunta de mestre e discípulo.

Publicado em maio de 2015 na revista Daibyakurenge.

Notas

1- Em A Profecia do Buda, Nichiren escreve: “O grande mestre Miaole [da China] declara: ‘Isso não significa que o budismo se perdeu na Índia, seu país de origem, e agora deve ser buscado nas regiões vizinhas? Dessa maneira, o budismo deixou de existir na Índia. Tanto o budismo como a autoridade imperial se extinguiram na China durante os aproximadamente cento e cinquenta anos transcorridos desde que os bárbaros do norte invadiram a capital do leste, na época do imperador Gaozong” (CEND, v. I, p. 420).

2- Em Admoestação a Hachiman, Daishonin escreve: “E se eu, Nichiren, observasse a situação com meus próprios olhos e mesmo assim fingisse ignorância e me abstivesse de me manifestar, então, também deveria me juntar àqueles que caíram no inferno. Apesar de eu próprio não ser culpado de nenhum erro, deveria ser condenado a transitar por todos os grandes infernos Avichi [infernos de incessantes sofrimentos] dos mundos das dez direções. Sendo essa a situação, como, então, posso deixar de falar, mesmo que isso possa me custar a vida ou um braço ou uma perna?” (WND, v. II, p. 934).

3- “Três obstáculos e quatro maldades”: Diversos obstáculos e impedimentos à prática do budismo. Os três obstáculos são (1) obstáculo dos desejos mundanos; (2) obstáculo do carma; e (3) obstáculo da punição. As quatro maldades são (1) impedimento dos cinco componentes; (2) impedimento dos desejos mundanos; (3) impedimento da morte; e (4) impedimento do rei demônio.

4- “Três poderosos inimigos”: Três tipos de pessoas arrogantes que perseguem aqueles que propagam o Sutra do Lótus na era maléfica após a morte do buda Shakyamuni, descritos na parte em verso que conclui o capítulo “Encorajamento à Devoção” (13º) do Sutra do Lótus. O grande mestre Miaole da China os resume a leigos arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos veneráveis arrogantes.

5- Durante o encontro que mantiveram no prédio do Seikyo Shimbun em Shinanomachi, Tóquio, Japão, em 13 de dezembro de 1989.

6- Dhammika Sutta [O Capítulo Menor (14º)]. The Sutta-Nipata. Tradução de H. Saddhatissa. Surrey, Reino Unido: Curzon Press, 1994. p. 44.

7- Nikko Shonin (1246 - 1333): Discípulo direto e sucessor de Nichiren Daishonin, sendo o único dos seis sacerdotes seniores a permanecer fiel ao espírito de Daishonin. Ele se tornou discípulo de Daishonin muito jovem, servindo-o com devoção, acompanhando-o até mesmo no exílio na Ilha de Sado. Quando Daishonin se mudou para o Monte Minobu, Nikko Shonin devotou sua energia às atividades de propagação na província de Suruga e em regiões adjacentes. Depois do falecimento de Daishonin, os outros sacerdotes seniores pouco a pouco começaram a se distanciar dos ensinamentos do seu mestre. Em virtude disso, Nikko Shonin decidiu separar-se deles. Estabeleceu-se no distrito Fuji em Suruga, onde dedicou o resto de sua vida a proteger e propagar os ensinamentos de Daishonin e a desenvolver os discípulos.

8- Gonin Shoha Sho [Sobre a Refutação dos Cinco Sacerdotes]. Gosho Zenshu, p. 1613.

9- HENDERSON, Hazel; IKEDA, Daisaku. Cidadania Planetária: Seus Valores, Suas Crenças e Suas Ações Podem Criar um Mundo Sustentável. São Paulo, Editora Brasil Seikyo, 2005