segunda-feira, 4 de julho de 2016

Explanação 3 - Aspiração à Terra do Buda

Budismo do Sol

Escrito 3: Aspiração à Terra do Buda

Brasil Seikyo, Edição 2328, 18/06/2016 / Encontro com o Mestre

Kosen-rufu e vida — dedicação a um nobre ideal


O kosen-rufu é o desejo do Buda e o grandioso caminho da esperança da humanidade.

Não há vida mais valiosa e gratificante que aquela devotada à concretização do nobre ideal da paz mundial e da felicidade de todas as pessoas. Este ano [2015] assinala o 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial.

Em julho de 1945, diante dos escombros do Japão devastado, pouco antes do término da guerra, meu mestre, Josei Toda [posteriormente, segundo presidente da Soka Gakkai], firmou veemente o juramento de livrar o mundo da miséria e do sofrimento e deu o primeiro passo em seus esforços para propagar a Lei Mística.

A chama desse juramento acendeu a luz da esperança no coração de nós, jovens, um após o outro, inspirando-nos a construir uma nova era de paz. Como discípulos, avançamos na estrada dos nobres ideais que ele havia aberto. Isso marcou o início do magnífico desenvolvimento do kosen-rufu que alcançamos hoje.

Trecho do Gosho

Como deve ter percebido nesses ensinamentos, [o advento da grande Lei] já está diante de nossos olhos. Nos mais de dois mil e duzentos anos desde a morte do Buda, na Índia, na China, no Japão, e em todo o Jambudvipa [o grande mestre Tiantai declarou]: “Vasubandhu e Nagarjuna perceberam claramente a verdade em seu coração, mas não a transmitiram aos outros. Em vez disso, eles empregaram os ensinamentos do Mahayana provisório, que eram adequados à época”. Tiantai e Dengyo fizeram comentários gerais sobre isso; porém, deixaram a propagação para o futuro. A Lei secreta – a única grande razão do advento dos budas – será propagada pela primeira vez nesta nação. Quem, a não ser Nichiren, poderia cumprir essa tarefa? (...) O senhor não deve, de forma alguma, lamentar meu exílio. Nos capítulos “Encorajamento à Devoção” e “Bodisatva Jamais Desprezar” consta [que o devoto do Sutra do Lótus enfrentará perseguições]. A vida é limitada; não devemos poupá-la. O que, afinal, devemos aspirar é à terra do buda. (CEND, v. I, p. 222 - 223)

Jovens constroem a nova era

Julho é o mês de fundação da Divisão dos Jovens (DJ). [Tanto a Divisão Masculina de Jovens (DMJ) como a Divisão Feminina de Jovens (DFJ) foram instituídas pelo presidente Josei Toda em julho de 1951.]

No dia 11, de 1951, na reunião de fundação da DMJ, o presidente Josei Toda declarou: “O kosen-rufu é a missão que devemos realizar sem falta. Gostaria também que cada um de vocês tivesse a consciência de sua nobre participação neste empreen­dimento. Na história recente do Japão, os jovens foram a força propulsora à Restauração Meiji [em 1868]. Durante a existência de Nichiren Daishonin também, a maioria de seus discípulos era de jovens”.1 Desse modo, ele salientou que os jovens sempre são motivadores e agentes, os autores de uma nova era.

Na reunião de fundação da DFJ no dia 19 de julho do mesmo ano, ele disse: “Desejo que cada uma de vocês, sem exceção, se torne feliz. Até hoje, a história da mulher se resume a infortúnio e sofrimento nas mãos do destino. Como tiveram a boa sorte de abraçar a fé no Budismo de Nichiren Daishonin na juventude, vocês não precisam mais aceitar esse destino”.

Atualmente, um fluxo constante de rapazes e moças que assumiram para si o grande juramento do kosen-rufu está surgindo ao redor do mundo. Quão maravilhado se sentiria o presidente Josei Toda ao observar os vibrantes esforços de tantos jovens bodisatvas da terra trabalhando para promover o nosso movimento em âmbito mundial! Também fico muito feliz por ter dedicado a vida à realização do grande sonho do meu mestre.

Com o espírito de estudar com os jovens, quero discutir alguns trechos do escrito de Nichiren Daishonin que acato com a mais profunda seriedade desde a época da Divisão dos Jovens.

A adversidade é uma honra — o grande caminho do juramento seigan

O trecho citado na página B1 é do escrito Aspiração à Terra do Buda, uma carta enviada a Toki Jonin.2

“A vida é limitada; não devemos poupá-la” (CEND, v. I, p. 223), de acordo com essas palavras, venho me empenhando incansavelmente pelo kosen-rufu, lutando e ultrapassando todas as formas de dificuldades imagináveis para concretizar os nobres ideais do meu mestre.

Trata-se da declaração veemente de Daishonin de que nem as mais implacáveis tempestades de adversidades podem extinguir a chama do grande juramento do Buda — ou melhor, a expressão de sua determinação inabalável de que assim fosse.

Daishonin redigiu essa carta logo depois de chegar a Tsukahara, na Ilha de Sado, onde ficou exilado após a Perseguição de Tatsunokuchi.3 Nela, ele tenta transmitir a seu discípulo que, mesmo em meio àquelas circunstâncias terríveis, seu espírito de luta ardia ainda mais intensamente, e que um momento crucial para o kosen-rufu havia despontado.

Resumindo os eventos que antecederam essa carta: tendo sido sentenciado ao exílio, Daishonin partiu de Echi, província de Sagami (atual cidade de Atsugi, Kanagawa), no dia 10 de outubro de 1271, para o porto de Teradomari, província de Echigo (atual cidade de Nagaoka, Niigata), uma viagem que durou doze dias. Ele então foi obrigado a permanecer por algum tempo aguardando ventos favoráveis para a travessia por mar até a ilha. Pôde finalmente partir no dia 28 de outubro, e chegou a Sanmai-do,4 um pequeno templo que foi seu abrigo em Tsukahara, em Sado, no dia 1º de novembro.

Daishonin escreveu esta carta no dia 23 de novembro — que incide no dia 26 de dezembro no calendário atual, em pleno inverno. Ele retrata as rigorosas condições climáticas de frio intenso do norte do Japão: “No entanto, nos dois últimos meses, desde que cheguei a este local, no norte de Sado, os ventos cortantes sopram sem parar e, embora tenha havido alguns momentos em que a geada e a neve cessaram, não vi a luz do Sol uma única vez aqui. Creio que estou vivenciando os oito infernos gelados”5 (Ibidem, p. 222).

Ele [Daishonin] estava sofrendo terrivelmente em virtude do frio cortante. Além disso, tratado como criminoso, não lhe forneciam alimento suficiente. Aos olhos dos habitantes locais, que não eram capazes de distinguir “o ensinamento budista correto do incorreto” (Ibidem), Daishonin era meramente um sacerdote perverso que criticava as escolas budistas. De fato, ele vivia sob constante risco de perder a vida nas mãos de prováveis assassinos.

No fim desta carta, Daishonin expressa: “É impossível descrever tais assuntos por escrito” (Ibidem, p. 223). Por isso, ele pede a seus discípulos que busquem informações mais detalhadas sobre a situação com os jovens sacerdotes que o acompanharam na viagem até Sado e que agora ele os mandava de volta.6 Podemos pressupor que as condições eram tão severas que Daishonin se viu obrigado a fazê-los retornarem.

Entretanto, a mente de Daishonin se mantinha serena pela imensa alegria de dedicar a vida à Lei Mística.

Para permitir que seus discípulos entendessem seu estado mental, Daishonin recomenda-lhes que ponderem profundamente o que ele escrevera numa correspondência anterior, Carta de Teradomari,7 redigida pouco antes de sua travessia para Sado. Nela, ele declara que é o devoto do Sutra do Lótus e, com certeza, receberia a proteção de incontáveis bodisatvas de todo o universo (cf. CEND, v. I, p. 218).

Daishonin considerava que adversidades eram uma honra para os praticantes do Sutra do Lótus. Ele se esforçou para desenvolver discípulos genuínos por meio do exemplo de sua própria conduta, convocando-os a devotar a vida à missão de concretizar do kosen-rufu.

A Lei secreta – a única grande razão do advento dos budas

Nesta carta, Daishonin examina a história do budismo e escreve que grandes mestres budistas dos Primeiros e Médios Dias da Lei como Nagarjuna, Vasubandhu, Tiantai e Dengyo8 expuseram e propagaram o ensinamento correto do budismo que se adequava às respectivas épocas. Nela o buda também explica que eles não ensinaram sobre “A Lei secreta – a única grande razão do advento dos budas [neste mundo]” (Ibidem, p. 222), o Nam-myoho-renge­-kyo, a Lei fundamental por meio da qual todas as pessoas podem atingir a iluminação.

Daishonin prossegue, afirmando: “A Lei secreta – a única grande razão do advento dos budas – será propagada pela primeira vez nesta nação. Quem, a não ser Daishonin, poderia cumprir essa tarefa?” (Ibidem). Trata-se de uma sublime afirmação de que ele é a pessoa que está propagando a grande Lei que poderá livrar todas as pessoas dos Últimos Dias da Lei do sofrimento em seu nível mais fundamental. Embora pudesse estar confinado pelas leis do país, espiritualmente era livre, de fato, um rei leão, um grande campeão da vida.

Como Buda dos Últimos Dias da Lei, Daishonin levantou-se só e iniciou a propagação do ensinamento correto, abrindo o caminho para que a Lei fosse amplamente aceita e praticada no futuro. O kosen-rufu se desenrolou exatamente como ele enunciou posteriormente em Saldar as Dívidas de Gratidão: “Se a compaixão de Nichiren for realmente grande e abrangente, o Nam-myoho-renge­-kyo se propagará por dez mil anos e mais, por toda a eternidade” (CEND, v. I, p. 770).

Quando os discípulos perceberam o majestoso estado de vida de Daishonin, qualquer ansiedade e incerteza que pudessem guardar no coração deve ter se dissipado e substituído pelo radiante sol da esperança do kosen-rufu.

Quando nos dedicamos ao grande juramento pelo kosen-rufu, nossa vida se expande ilimitadamente. Atingimos um estado de vida amplo, que nos permite avaliar claramente os problemas e as dificuldades que estamos enfrentando e vencer.

Por essa razão, Daishonin escreve na carta: “Não deve, de forma alguma, lamentar” (Ibidem, p. 223). Essas palavras de encorajamento se destinam a todos os seus discípulos, que, na época, enfrentavam perseguições tão ferozes a ponto de, posteriormente, ele escrever [em Resposta a Niiama] “entre as 999 pessoas de cada 1.000 que abandonaram a fé” (Ibidem, p. 490).

Prosseguindo, ele afirma em Aspiração à Terra do Buda: “Nos capítulos ‘Encorajamento à Devoção’ e ‘Bodisatva Jamais Desprezar’ consta [que o devoto do Sutra do Lótus enfrentará perseguições]” (Ibidem, p. 223). Sua inferência aqui é que, para um genuíno devoto, ou praticante, é um motivo de honra enfrentar a perseguição dos três poderosos inimigos (leigos arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos sábios arrogantes) e ser atacado com bastões e pedras (como o bodisatva Jamais Desprezar), conforme o que se descreve, respectivamente, nos capítulos “Encorajamento à Devoção” (13º) e “Jamais Desprezar” (20º) do Sutra do Lótus.

Desse modo, também estava louvando seus discípulos, que vivenciavam as mesmas atribulações e perseguições que ele, sugerindo que também eram devotos do Sutra do Lótus.

Haverá ocasiões em que nos depararemos com críticas ou ataques injustos por praticarmos o Budismo de Nichiren Daishonin, mas todas as adversidades que experimentamos em prol do kosen-rufu são provas de que estamos conduzindo a nossa vida de acordo com o Sutra do Lótus, ou seja, de que estamos seguindo o grandioso caminho para atingir o estado de buda.

As batalhas com as quais nos defrontamos na vida real fazem parte de nossa prática budista para o nosso desenvolvimento espiritual, possibilitando que realizemos nossa revolução humana e alcancemos o estado de buda. Se orarmos com esse espírito e convicção, a coragem de que necessitamos para enfrentar todos esses desafios emanará de dentro de nós. Isto, em si, é o significado de manifestar a condição de vida do estado de buda.

A dedicação ao kosen-rufu é o modo de vida mais nobre que existe como ser humano.

Publicadas em julho de 2015 na revista Daibyakurenge.

NOTAS:

1. Traduzido do japonês. Toda, Josei. Toda Josei Zenshu [Coletânea das Obras de Josei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, v. 3, p. 434, 1983.

2. Toki Jonin (1216–1299): Seguidor leigo de Daishonin. Morava em Wakamiya, no distrito Katsushika, na província de Shimosa (atualmente, parte da província de Chiba) e era um influente samurai a serviço do senhor feudal de Chiba, comandante militar da província. Ele se converteu ao ensinamento de Daishonin aproximadamente em 1254, ano subsequente ao qual Nichiren Daishonin estabeleceu o ensinamento do Nam-myoho-renge-kyo

no templo Seicho-ji, em Awa. Também conhecido como o sacerdote leigo Toki, ele foi destinatário de muitos escritos de Daishonin, entre os quais O Objeto de Devoção para Observar a Mente, a maior parte preservada com esmero.

3. Perseguição de Tatsunokuchi: Fracassada tentativa orquestrada por personalidades importantes do governo de decapitar Daishonin sob o manto da noite na praia de Tatsunokuchi, nas cercanias de Kamakura, no dia 12 de setembro de 1271.

4. Em As Ações do Devoto do Sutra do Lótus, Daishonin descreve Sanmai-do: “Era um único cômodo sustentado por quatro estacas, num terreno onde abandonavam cadáveres, semelhante a Rendaino, em Quioto. Nesse lugar, não havia sequer uma estátua do Buda. As tábuas do telhado eram muito separadas umas das outras, e as paredes, cheias de buracos. A neve se empilhava dentro da cabana e nunca derretia. Ali passei meus dias, cobrindo-me com um manto feito de palha e me deitando sobre uma pele de animal. À noite, chovia granizo, nevava e relampejava sem parar. Mesmo durante o dia, o sol raramente brilhava. Era um lugar desolador de se viver” (WND, v. I, p. 769).

5. Oito infernos gelados: Infernos que, segundo afirmava a antiga cosmologia indiana, situavam-se abaixo do continente de Jambudvipa, próximos aos oito infernos escaldantes. Aqueles que residem lá são atormentados pelo frio insuportável.

6. Daishonin escreve: “Estou enviando de volta alguns dos jovens sacerdotes. Eles poderão lhe contar sobre esta província e sobre as circunstâncias em que estou vivendo” (CEND, v. I, p.223).

7. Carta de Teradomari foi endereçada a Toki Jonin e escrita em 22 de outubro de 1271, enquanto Daishonin se encontrava em Teradomari, na província de Echigo, a caminho de seu local de exílio em Sado. Citando passagens dos Sutras do Lótus e do Nirvana, Daishonin descreve como Shakyamuni foi atacado e perseguido por não budistas durante sua existência, e traça um paralelo entre aqueles não budistas e os sacerdotes budistas de sua época, bem como entre Shakyamuni e ele próprio.

8. Nagarjuna foi um filósofo budista do Mahayana, que viveu na Índia entre os séculos 2 e 3. Seus textos exerceram forte influência sobre o budismo na China e no Japão. Vasubandhu foi outro grande filósofo budista indiano, atuante no século 4. Tiantai (538–597), também conhecido como Chih-i, propagou o Sutra do Lótus na China e estabeleceu a doutrina “três mil mundos num único momento da vida”. Suas preleções foram compiladas em obras como Profundo Significado do Sutra do Lótus, Palavras e Frases do Sutra do Lótus e Grande Concentração e Discernimento. Dengyo (767–822), também conhecido como Saicho, foi o fundador da escola Tendai (Tiantai) no Japão. Ele viajou para a China, onde dominou os ensinamentos de Tiantai.


Budismo do Sol

Escrito 3: Aspiração à Terra do Buda

Brasil Seikyo, Edição 2329, 25/06/2016 / Encontro com o Mestre

Kosen-rufu e vida — dedicação a um nobre ideal

Trecho do Gosho

Como deve ter percebido nesses ensinamentos, [o advento da grande Lei] já está diante de nossos olhos. Nos mais de dois mil e duzentos anos desde a morte do Buda, na Índia, na China, no Japão, e em todo o Jambudvipa [o grande mestre Tiantai declarou]: “Vasubandhu e Nagarjuna perceberam claramente a verdade em seu coração, mas não a transmitiram aos outros. Em vez disso, eles empregaram os ensinamentos do Mahayana provisório, que eram adequados à época”. Tiantai e Dengyo fizeram comentários gerais sobre isso; porém, deixaram a propagação para o futuro. A Lei secreta – a única grande razão do advento dos budas – será propagada pela primeira vez nesta nação. Quem, a não ser Nichiren, poderia cumprir essa tarefa? (...) O senhor não deve, de forma alguma, lamentar meu exílio. Nos capítulos “Encorajamento à Devoção” e “Bodisatva Jamais Desprezar” consta [que o devoto do Sutra do Lótus enfrentará perseguições]. A vida é limitada; não devemos poupá-la. O que, afinal, devemos aspirar é à terra do buda. (CEND, v. I, p. 222-223)

A importância de devotar a vida à Lei

No fim desta carta, dirigindo-se a seus discípulos que lutavam bravamente em meio a grandes adversidades, Daishonin lhes assegura: “A vida é limitada; não devemos poupá-la. O que, afinal, devemos aspirar é à terra do buda” (CEND, v. I, p. 223).

Tanto ele como seus discípulos enfrentavam uma situação de risco de perder a vida, então Daishonin clama a eles que vivam uma existência dedicada ao budismo e aspirem à terra eterna do buda [no contexto, indica o estado de buda] sem poupar a vida. Tais palavras não devem, portanto, ser interpretadas com o sentido de que Daishonin estivesse aconselhando seus discípulos a desperdiçar a vida deles.

Todos que nascem um dia têm de morrer. A que dedicaremos o limitado tempo de que dispomos neste mundo? Em Carta de Sado, Daishonin escreve: “[Os seres humanos] geralmente se sacrificam por questões superficiais e seculares; contudo, raramente o fazem pelos preciosos ensinamentos do Buda. Assim, é natural que não atinjam o estado de buda” (Ibidem, p. 317).

Pelo fato de nossa vida ser infinitamente preciosa, a maneira como vivemos possui extrema relevância.

A hora da morte chega para todos. Quando enfrentamos essa solene realidade, percebemos a importância de tornar cada momento de nossa vida o mais significativo e valioso possível.

O tesouro do coração brilha eternamente

Daishonin expressa [em Os Três Tipos de Tesouro]: “É muito raro nascer como ser humano” e “Viver como ser humano é difícil” (WND, v. I, p. 851). Precisamente por essa razão, ele nos ensina, por meio da metáfora dos três tipos de tesouros, a viver da maneira mais proveitosa e relevante possível. Ele explica que enquanto os tesouros do cofre (riqueza material) e do corpo (saúde e habilidades práticas) duram apenas uma única existência, o tesouro do coração é a fonte de riqueza genuína e indestrutível. Para agregarmos um significado eterno à nossa vida, é importante acumularmos o tesouro do coração. Conforme Daishonin nos indica: “O tesouro do coração é o mais valioso de todos” (Ibidem).1

Descobrindo o valor verdadeiro e duradouro, que está vinculado ao “eterno”, devemos viver nossa presente existência à plenitude. E a religião desempenha papel crucial para se desenvolver essa perspectiva.

No contexto da eternidade, uma simples existência humana pode representar apenas um momento efêmero, mas uma filosofia religiosa genuína nos permite criar valores eternos nesse simples instante.

“No fim, ninguém pode escapar da morte” (WND, v. I, p. 1003), afirma Daishonin [em O Portal do Dragão]. Essa é a realidade diante de todos nós. Assim sendo, por que não devotar nossa vida a criar valor ilimitadamente nos dedicando ao grande juramento pelo kosen-rufu e para assim fazermos parte de algo maior, como uma gota de orvalho que se junta ao oceano ou uma partícula de poeira que se funde com a terra?

Enfrentar os maus amigos pelo povo

Na carta O Problema a Ser Ponderado Dia e Noite enviada a Toki Jonin, Daishonin escreve a famosa expressão “se arrependerem durante os próximos dez mil anos”. Essas palavras fazem parte de um trecho, descrito a seguir, que o presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, sublinhou em seu exemplar dos escritos de Daishonin: “(...) Isso demonstra, meus seguidores, que seria melhor reduzirem seu sono durante a noite e suas diversões durante o dia para ponderarem sobre isso! Não passem a vida em vão para depois se arrependerem durante os próximos dez mil anos” (CEND, v. I, p. 650).

Daishonin brada: “Meus seguidores!”. E o que seria esse pedido para todos os seus discípulos “ponderarem reduzindo as horas de sono”? Sua mensagem, em suma, é para não se deixarem enganar pela aparência externa dos “sacerdotes de alta posição que, embora mantenham os preceitos, alimentam visões distorcidas” (Ibidem). Na realidade, esses sacerdotes, apesar de serem respeitados pelo público por seu comportamento aparentemente exemplar, são, de fato, corruptos e interesseiros. São “más companhias”2 ou influências negativas, que não conseguem compreender a verdade fundamental do budismo e estão, efetivamente, extraviando as pessoas.

Como exemplos concretos de “sacerdotes de alta posição que, embora mantenham os preceitos, alimentam visões distorcidas”, Daishonin cita Kobo,3 Jikaku4 e Chisho5 e os discípulos e sucessores deles. Em especial, Jikaku e Chisho, como sacerdotes priores da escola Tendai (Tiantai), no Japão [que originalmente se baseava­ no Sutra do Lótus], deveriam ter protegido os ensinamentos do fundador da escola — o grande mestre Dengyo —, os propagado e conduzido as pessoas à felicidade. Mas pouco tempo após a morte de Dengyo (em 822), eles abandonaram o ensinamento correto do budismo, desencaminharam as pessoas e fizeram com que a calúnia contra a Lei proliferasse pelo país todo.

Em contraste com essa conduta, Daishonin, seguindo a linhagem do devoto do Sutra do Lótus, Shakyamuni, Tiantai e Dengyo,6 dedicou-se, sem se poupar, para evitar que o ensinamento correto perecesse, para proteger a Lei e para saldar sua dívida de gratidão.

É possível sentir a força do rugido de leão de Nichiren Daishonin como se dissesse “se forem meus seguidores, ponderem profundamente sobre essa verdade e herdem esse coração de justiça!”.

A Soka Gakkai herdou o Budismo de Nichiren Daishonin

Se aqueles que deveriam proteger o ensinamento correto do budismo não o fizerem, ele será destruído e se perderá.

Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda, primeiro e segundo presidentes da Soka Gakkai, pronunciaram-se sobre o que era justo e correto no que se refere ao budismo, exatamente como Daishonin ensinou, e, em decorrência disso, foram presos pelas autoridades militaristas do Japão.

Em contrapartida, o clero da Nichiren Shoshu, temendo a perseguição do governo, cedeu, comprometendo-se a incorporar elementos do xintoísmo estatal. O Sr. Makiguchi, porém, sustentou o ensinamento e as doutrinas corretas do Budismo de Nichiren Daishonin até o fim, declarando: “O que lamento não é a ruína de uma escola, mas a destruição de um país inteiro diante de nossos olhos. Receio a tristeza terrível que isso traria a Daishonin”.

O espírito de Daishonin pulsa vibrantemente no coração dos mestres e discípulos Soka, que estão dando continuidade à disposição de proteger a Lei e à dedicação abnegada em prol do budismo.

Como mencionado na frase do escrito O Problema a Ser Ponderado Dia e Noite, “em vão”, como Daishonin adverte seus discípulos, neste contexto significa se esquecer da missão fundamental na vida e se deixar levar por questões irrelevantes, vivendo uma existência a esmo e sem um propósito.

“A vida é limitada; não devemos poupá-la”; “Não passem a vida em vão para depois se arrependerem durante os próximos dez mil anos!” — a profundidade com que acatamos essas palavras em nosso coração determina a profundidade de nossa existência.

Quando jovem, meu médico me disse que eu provavelmente não viveria para festejar meu aniversário de 30 anos. Eu tinha a clara consciência de como minha vida poderia ser limitada. Por isso, lutava com todas as minhas forças pelo kosen-rufu. Empenhava-me de corpo e alma, determinado a ser um exemplo para as gerações futuras, um discípulo autêntico em total união de espírito com meu mestre, de modo que não tivesse nenhum arrependimento, independentemente de quando a morte pudesse bater à minha porta.

Estou certo de que, por ter me devotado à minha prática budista com essa disposição, recebi o benefício de prolongar minha vida por meio da dedicação à Lei Mística. Incontáveis associados da SGI relatam alegres experiências de vitória sobre a doença e de êxito em prolongar a vida mediante a prática budista. Todos demonstraram provas de como é maravilhoso seguir de acordo com os ditos dourados de Daishonin.

Uma vida consagrada à missão de cumprir o grande juramento do kosen-rufu compartilhando compassivamente a Lei Mística com as pessoas, infalivelmente produzirá um estado de suprema alegria e contentamento.

O filósofo romano da antiguidade Marco Aurélio declarou: “Não vivas como se ainda tivesses 10 mil anos de vida. O destino está a um palmo; torne-se bom enquanto ainda possui vida e força”.7

Vivamos, portanto, este momento com a máxima plenitude. Se falharmos em agir negligenciando esforços, não deixaremos atrás de nós nada significativo. Continuemos nos esforçando vigorosamente em prol do kosen-rufu, valorizando a Lei e não poupando nenhum esforço. Se dedicarmos esta preciosa existência ao ato de compartilhar o budismo com as outras pessoas, jamais teremos motivo para “nos arrependermos durante os próximos dez mil anos” (cf. CEND, v. I, p. 650).

Naturalmente, não poupar nenhum esforço é diferente de cometer exageros. Devemos agir com sabedoria e cuidar de nossa saúde, para que possamos colocar nossa vida a serviço da propagação dos ideais do Budismo de Nichiren Daishonin. Viver mesmo um único dia a mais para que possamos contribuir para o kosen-rufu é o maior tesouro que pode existir.

Ter uma vida realmente realizada significa dar o máximo de si a cada dia em prol da inigualável Lei Mística, da felicidade das outras pessoas e pelo bem da sociedade.

Ampliando nossa rede pelo mundo

Cinquenta e cinco anos se passaram desde que sucedi ao presidente Josei Toda e passei a me empenhar como terceiro presidente da Soka Gakkai (em 3 de maio de 1960). Ao lado dos membros da organização, amigos do “tempo sem início”, espalhei no mundo as sementes da Lei Mística em prol da paz.

Bodisatvas da terra, todos abraçando o mesmo grande juramento pelo kosen-rufu, levantamo-nos um após o outro construindo a rede de felicidade e da paz da SGI, que hoje abrange 192 países e territórios.

Acalentando o sonho do kosen-rufu mundial, os pioneiros da nossa organização lutaram ao meu lado, seguindo em frente diante de incontáveis obstáculos. Hoje, esses membros expressam gratidão e satisfação por terem podido viver como integrantes da SGI e testemunhar o espetacular desenvolvimento de nosso movimento nesta existência. Eles afirmam não ter arrependimento algum e que nenhum de seus esforços foi em vão.

Entre os representantes que estiveram no Japão recentemente para participar do Curso de Aprimoramento de Primavera da SGI [em maio de 2015] havia vários filhos e filhas dos pioneiros com quem me encontrei em minha primeira viagem ao exterior. É muito gratificante saber que o juramento pelo kosen-rufu está sendo transmitido de uma geração para outra.

A vida de uma pessoa é limitada. Mas suas orações, seu juramento ou compromisso, seus esforços em prol do kosen-rufu fluem eternamente através das gerações. A boa sorte que acumulamos por meio da fé e o benefício que obtemos ensinando o budismo a outras pessoas são imperecíveis. Os esforços que efetuamos com base no grande juramento de nos dedicar ao kosen-rufu e à felicidade do próximo tornam-se fonte de infinita boa sorte e benefícios tanto para nós como para aqueles à nossa volta, com quem compartilhamos uma ligação profunda.

Uma vida nobre, experimentada com orgulho e satisfação de ter se dedicado à Lei Mística com certeza inspirará outras e iluminará o futuro. Um empreendimento ao qual devotamos toda a nossa energia e paixão continuará resplandecendo pela posteridade. Se consagrarmos nossa vida ao kosen-rufu, poderemos atingir um estado de felicidade que perdurará eternamente pelas “três existências” — passado, presente e futuro.

Nossa vida, dedicada ao kosen-rufu, é repleta da alegria proveniente do estado de buda, o supremo senso de orgulho de ser bodisatvas da terra e tomar parte na gloriosa façanha do kosen-rufu mundial. Ainda estamos nos estágios iniciais do magnífico empreendimento que prosseguirá pela eternidade. Nossa odisseia da esperança apenas começou. Contemplar o grandioso desenvolvimento que sucederá daqui a cinquenta ou cem anos é uma perspectiva emocionante.

Por essa razão, gostaria de dizer aos jovens: “Vençam os desafios de sua vida diária com coragem e perseverança. A maneira de fazer isso é se levantarem e agirem para cumprir sua missão de propagar a Lei Mística no local onde vocês se encontram neste exato instante”.

Uma existência
vitoriosa dedicada
ao grande juramento
pelo kosen-rufu

Quando despertamos para nossa missão como bodisatvas da terra, conseguimos desenvolver maior profundidade e força, somos capazes de disseminar livremente a compreensão sobre o budismo e produzir valores perenes.

Como membros da Divisão dos Jovens, é importante firmar o juramento de “o kosen-rufu é minha vida”, e, então seguir adiante em busca de seus ideais. Desse modo, poderão desfrutar uma existência significativa, livre de quaisquer arrependimentos.

O juramento selado na juventude será a luz interior que os guiará enquanto viverem. Portanto, jamais, em circunstância alguma, devem perder essa luz.

Concluindo esta explanação, gostaria de clamar aos jovens e a todos que se empenham ao lado deles: “Prossigamos avançando em luta conjunta, realizando a mais valiosa jornada da vida e do kosen-rufu, e tenhamos uma existência triunfante, dedicada à concretização de nobres ideais!”.

Publicadas em julho de 2015 na revista Daibyakurenge.

NOTAS:

1. Em Os Três Tipos de Tesouro, Daishonin escreve: “O tesouro do corpo é mais valioso que aquele guardado no cofre; e o tesouro acumulado no coração é muito mais valioso que o tesouro do corpo. A partir do momento em que o senhor ler esta carta, esforce-se para acumular o tesouro do coração” (WND, v. I, p. 851).

2. Más companhias: Também conhecidas como maus amigos ou maus mestres. Alguém que leva outras pessoas a cair nos maus caminhos, desviando-as em relação ao budismo. Má companhia ilude os demais com ensinamentos falsos para impedir que sigam a prática budista correta.

3. Kobo (jap. Kb; 774–835): Também conhecido como Kukai ou grande mestre Kobo. Fundador da escola japonesa Palavra Verdadeira. Em 804, viajou à China, onde estudou as doutrinas e os rituais dos ensinamentos esotéricos. Após retornar ao Japão, em 806, Kobo dedicou-se à propagação dos ensinamentos esotéricos da Palavra Verdadeira, e construiu vários templos no Monte Koya.

4. Jikaku (jap.; 794–864): Também conhecido como Ennin ou grande mestre Jikaku. Terceiro prior do templo Enryaku-ji. Em 838, viajou à China, onde estudou tanto os ensinamentos de Tiantai como o budismo esotérico. Após retornar ao Japão, assumiu a liderança da escola Tendai e, mais tarde, adicionou elementos esotéricos à doutrina.

5. Chisho (jap. Chish; 814–891) Também conhecido como Enchin ou “grande mestre Chisho”. O quinto prior do Enryaku-ji, principal templo da escola Tendai no Monte Hiei. Em 853, viajou para a China da dinastia Tang, onde estudou as doutrinas de Tiantai e os ensinamentos esotéricos. Quando retornou ao Japão, uniu ambas as doutrinas. Ele também construiu um salão no templo Onjo-ji para a realização da cerimônia esotérica de unção.

6. Em O Devoto do Sutra do Lótus Enfrentará Perseguições, Daishonin escreve: “Durante a época do Buda e nos dois mil anos dos Primeiros e Médios Dias da Lei que se seguiram após a morte dele, houve somente três devotos do Sutra do Lótus: o próprio Buda, Tiantai e Dengyo” (CEND, v. I, p. 468).

7. AURÉLIO, Marco. Tradução de Maxwell Staniforth. Londres: Penguin Books, 1964, p. 66-67.

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