segunda-feira, 4 de julho de 2016

Explanação 1 - Admoestação a Hachiman

Budismo do Sol
Iluminando o mundo

Brasil Seikyo, Edição 2319, 16/04/2016 / Encontro com o Mestre
Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda, publicadas mensalmente na revista Daibyakurenge.


A transmissão do budismo para o oeste

Juramento abnegado de concretizar a felicidade de toda a humanidade

Escrito: Admoestação a Hachiman

Terra da Lua é outro nome para a Índia, local em que o Buda surgiu neste mundo. Terra do Sol é outro nome para o Japão. Então, haveria algum motivo para que o venerável não surgisse nesse local? A lua se move do oeste em direção ao leste, tal como o budismo da Índia se propagou rumo ao leste. O sol se levanta no leste, prenúncio auspicioso de que o budismo do Japão retornará à Terra da Lua.

A luz da Lua não é tão brilhante, pois o Buda ensinou [o Sutra do Lótus na Índia] durante apenas oito anos. A luz do Sol é muito mais reluzente, um auspicioso sinal de como o budismo do Japão iluminará a longa escuridão do quinto período de quinhentos anos [Últimos Dias da Lei].

O Buda não precisou corrigir os caluniadores do Sutra do Lótus, pois na época em que viveu não havia pessoas desse tipo. Porém, nos Últimos Dias da Lei, os inimigos do veículo único estão em toda parte. Agora é a época para beneficiar o mundo assim como fez o bodisatva Jamais Desprezar. Da mesma maneira, vocês, meus discípulos, devem se empenhar diligentemente! (WND, v. II, p. 936)

Introdução

O sol nasce no leste hoje novamente­. Todas as manhãs ele rompe a escuridão e ilumina a terra com uma radiância maior a cada momento que se passa. Sua luz e seu calor despertam e nutrem tudo o que tem vida. O Sol simboliza esperança sem limites e paixão infinita. Está em constante movimento, nunca para, envolvendo calorosamente tudo com seus raios compassivos.

O Budismo Nichiren é o Budismo do Sol. Estendamos a grandiosa luz da sabedoria e da compaixão do Sutra do Lótus às pessoas de todos os cantos. Vamos emitir a luz do humanismo budista ao nosso planeta, que ainda se encontra profundamente envolto pela escuridão do sofrimento e da miséria, e ampliar alegremente o círculo de “flores humanas” (LSOC, cap. 5, ­p. 142­),­ que ilustra a vitória do povo.

***

Três de maio é o dia em que meu mestre, Josei Toda, tomou posse como segundo presidente da Soka Gakkai em 1951. Nesse dia também, como discípulo unido a ele em espírito e propósito, eu me levantei como o terceiro presidente da organização em 1960.

Ao superar com êxito os problemas nos negócios, o Sr. Toda finalmente decidiu aceitar a presidência da Soka Gakkai na primavera de 1951. Lembro-me da grande seriedade com que ele explanou para mim, em março daquele ano, o escrito de Daishonin Admoestação a Hachiman.

Na época, uma guerra cruel estava dividindo a península coreana­. O povo da Ásia, que já havia suportado terrível agonia na Segunda Guerra Mundial, mais uma vez era atormentado por conflitos. Meu mestre, sentindo empatia pelo sofrimento deles, declarou intrepidamente que havia chegado a hora do kosen-rufu e se pôs a agir. Não foi coincidência ter citado, durante esse período, uma passagem de Admoestação a Hachiman num ensaio intitulado “O Kosen-rufu e a Guerra da Coreia”, publicado na revista mensal de estudo da Soka Gakkai, Daibyakurenge (em maio de 1951).

Faz cinquenta e cinco anos que assumi a liderança do nosso movimento, para cumprir minha missão nesta existência — dar continuidade à luta do meu mestre para transformar uma era de guerras numa era de paz e construir um mundo onde as pessoas pudessem viver de forma segura e feliz. Durante esse tempo, jamais, nem por uma única vez, me esqueci do meu juramento.

Nesta primeira parte da nova série “O Budismo do Sol — Iluminando o Mundo”, estudaremos o trecho conclusivo de Admoestação a Hachiman, que contém a predição de Daishonin da transmissão do budismo para o oeste.1

Sempre que leio essa passagem, ela me faz lembrar pungentemente que o humanismo do Budismo Nichiren é o Sol que pode iluminar o mundo todo e que finalmente o momento para isso chegou. Essa parte me inspira a renovar a minha determinação em relação ao kosen-rufu mundial, enchendo-me de coragem para prosseguir com a luta.

Chegou a época do kosen-rufu mundial

Trecho do Gosho:

Terra da Lua2 é outro nome para a Índia, local em que o Buda surgiu neste mundo. Terra do Sol é outro nome para o Japão. Então, haveria algum motivo para que o venerável não surgisse nesse local? A lua se move do oeste em direção ao leste,3 tal como o budismo da Índia se propagou rumo ao leste. O sol se levanta no leste, prenúncio auspicioso de que o budismo do Japão retornará à Terra da Lua. (WND, v. II, p. 936)

Nichiren Daishonin redigiu a carta Admoestação a Hachiman em dezembro de 1280 enquanto residia em Minobu.4 Trata-se de um escrito profundamente significativo, endereçado a todos os seus seguidores.

Era um momento turbulento na história do Japão. O país enfrentava a ameaça de uma segunda invasão das forças mongóis e, no mês anterior, o santuário do grande bodisatva Hachiman, considerado uma divindade protetora do governo militar de Kamakura, havia se incendiado.

Além disso, como se tornara evidente na Perseguição de ­Atsuhara5 [que atingira o auge no ano anterior, 1279], os seguidores de Daishonin estavam sendo oprimidos de maneira impiedosa. Em meio a essas circunstâncias adversas, Daishonin continuou liderando intrepidamente a grandiosa luta em prol do kosen-rufu.

Neste escrito, ele equipara os movimentos da Lua e do Sol, respectivamente, à propagação gradual do budismo para o leste a partir da Índia, no passado, e sua transmissão para o oeste a partir do Japão, no futuro.

Quando se observa a posição da Lua, no momento em que ela começa a brilhar no céu todas as noites, tem-se a impressão de que ela gradativamente se move do oeste para o leste. Em outras palavras, a Lua Nova aparece na parte oeste do céu antes de se pôr rapidamente, a Quarto Crescente é vista na parte sul do céu, e a Lua Cheia brilha intensamente no leste.

Com a afirmação “A lua se move do oeste em direção ao leste” (WND, v. II, p. 936), Daishonin compara o aparente movimento da Lua à propagação gradual do budismo da Índia para o leste.

O budismo de Shakyamuni, que surgiu no oeste, na distante terra da Índia, também conhecida como a Terra da Lua, passou pela Ásia Central, China e península coreana antes de, finalmente, alcançar o Japão, num grande movimento de intercâmbio cultural, indo do oeste para o leste através da Eurásia.

No que se refere aos três períodos — Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei –, essa transmissão dos ensinamentos budistas ocorreu nos Primeiros e Médios Dias da Lei.

Nos Últimos Dias da Lei, entretanto, assim como o sol nasce no leste e cruza o céu em direção ao oeste, o Budismo do Sol de Nichiren Daishonin retornará para o oeste.

Daishonin já havia escrito sobre essa mudança de direção do fluxo da transmissão e sua visão sobre a ampla propagação ao mundo inteiro nos Últimos Dias da Lei em seu escrito A Profecia do Buda, o qual redigiu em 1273 durante o exílio em Sado:

“A Lua surge no oeste e ilumina o lado leste, enquanto o Sol nasce no leste e irradia seus raios para o oeste. O mesmo se aplica ao budismo. Nos Primeiros e nos Médios Dias da Lei, o budismo propagou-se do oeste para o leste, mas, nos Últimos Dias, percorrerá do leste para o oeste. (...) Digo que o budismo infalivelmente se levantará e se propagará a partir do leste, das terras do Japão” (CEND, v. I, p. 420-421).

A atribuição de propagar o budismo no mundo saha

Gostaria de ressaltar aqui, em primeiro lugar, que na Admoestação a Hachiman é o Sutra do Lótus que está sendo comparado com a Lua, quando Shakyamuni estava vivo, e com o Sol, após a sua morte.

Nenhum outro texto dentre os vários Sutras Mahayana se concentra tão intensamente em habilitar todas as pessoas deste “mundo saha”, ou de “todo o Jambudvipa” [o mundo inteiro], a atingir a iluminação como faz o Sutra do Lótus.

Que tipo de mundo é o saha? Significa “mundo da resignação”, um lugar onde devemos suportar os sofrimentos. Os habitantes do mundo saha, atormentados pelos desejos mundanos, são vistos de forma desfavorável como pessoas­ “inclinadas à corrupção e ao mal, assoladas por arrogância desmedida, superficiais em sua bondade, irascíveis, confusas, bajuladoras e desonestas, e com um coração insincero” (LSOC, cap. 13, p. 230).

Outro nome para o Buda é Aquele que Consegue Suportar, porque ele é uma pessoa de coragem capaz de avançar firme e continuamente, com grande resistência, para ajudar as pessoas deste mundo abarrotado de sofrimentos a atingir a iluminação. Os bodisatvas da terra descritos no Sutra do Lótus são discípulos diretos de Shakyamuni. Eles fazem seu advento intrepidamente para dar continuidade ao trabalho dele, repletos de alegria por poder propagar o Sutra do Lótus neste mundo saha.

Em Admoestação a Hachiman, Daishonin descreve com que espírito ele se devotou à luta da propagação da Lei Mística desde que estabelecera seu ensinamento para aqueles que vivem no mundo saha:

“Durante vinte e oito anos, desde o vigésimo oitavo dia do quarto mês [28 de abril] do quinto ano da era Kencho [1253], desde o signo cíclico mizunoto-ushi até o presente momento, décimo segundo mês do terceiro ano da era Koan [dezembro de 1280], desde o signo cíclico kanoe-tatsu, eu, Nichiren, não fiz nada além de labutar exclusivamente para pôr os cinco ou sete ideogramas do Myoho-renge-kyo6 na boca de todos os seres vivos deste país, Japão. Ao fazer isso, tenho demonstrado a mesma compaixão de uma mãe quando se esforça para pôr o leite na boca de seu bebê” (WND, v. II, p. 931).

A Soka Gakkai é a organização que, em conformidade com a intenção e o decreto do Buda, promove o kosen-rufu no mundo real, com o juramento de dar continuidade à grande compaixão de Daishonin. Tsunesaburo Makiguchi, fundador do nosso movimento Soka, sublinhou a passagem acima em seu exemplar pessoal da Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin.

Em fevereiro de 1961, em minha primeira viagem à Índia, visitei Bodh Gaya, lugar onde Shakyamuni atingiu a iluminação. Na oportunidade, deixei uma placa de pedra simbolizando o início da transmissão do budismo para o oeste, e renovei meu juramento de propagar o Budismo Nichiren para toda a Ásia e para o mundo inteiro.7 Mais de meio século se passou a partir de então, e a Lei Mística agora se expandiu para 192 países e territórios e está envolvendo pessoas de todo o planeta com a luz de sua compaixão.

O Dr. Lokesh Chandra, diretor da International Academy of Indian Culture [Academia Internacional de Cultura Indiana] observou que, por meio dos esforços da SGI, o Sutra do Lótus se difundiu do Japão para o mundo. (...) Assim como o sol se move do leste para o oeste, o Sutra do Lótus está empreendendo uma “jornada” do leste para o oeste, viajando para todos os países. Isto é realmente maravilhoso. Um dos principais pensadores da Índia ratifica, desse modo, a relevância de nossos esforços, bem como no Sutra do Lótus o buda Muitos Tesouros atesta a validade dos ensinamentos de Shakyamuni.


1- Transmissão do budismo para o oeste: Nichiren Daishonin predisse que Budismo do Sol seguiria do Japão para o oeste, retornando para os países através dos quais o budismo havia sido transmitido originalmente e se propagaria para o mundo inteiro.

2- Terra da Lua (Yueh-chih, em chinês), nome que se dava à Índia na China e no Japão. No fim do século 3 a.E.C., uma tribo da Ásia Central chamada Yueh-chih governava uma parte da Índia. Como o budismo foi levado à China através desse território, os chineses consideravam a terra de Yueh-chih (Tribo da Lua) como a própria Índia.

3- Refere-se à aparente direção do movimento da Lua. Embora a lua nasça no leste e se ponha no oeste, assim como o sol, em virtude da direção de sua órbita em torno da Terra, cada noite ela aparente estar um pouco mais para o leste em relação à sua posição na noite anterior.

4- O Monte Minobu situa-se na atual província de Yamanashi. Nichiren Daishonin viveu lá durante os anos finais de sua vida, de maio de 1274 a setembro de 1282, pouco antes de sua morte. Naquele lugar, devotou-se a instruir seus discípulos, a coordenar os esforços de propagação e a redigir tratados doutrinais.

5- Perseguição de Atsuhara: Uma série de ameaças e atos de violência contra os seguidores de Nichiren Daishonin ocorridas na Vila Atsuhara, no distrito Fuji da província de Suruga (atual região central da província de Shizuoka, Japão) a partir de 1275, estendendo-se até mais ou menos 1283. Em 1279, vinte camponeses seguidores foram presos sob falsa acusação. Foram interrogados por Hei no Saemon-no-jo, subchefe do Posto de Comando Militar, que exigiu que eles renunciassem à fé. Entretanto, nenhum deles cedeu. Hei no Saemon-no-jo então mandou executar três deles.

6- Myoho-renge-kyo é escrito com cinco ideogramas chineses, ao passo que Nam-myoho-renge-kyo é escrito com sete (nam, ou namu, é composto por dois ideogramas). Em seus escritos, Daishonin frequentemente emprega Myoho-renge-kyo como sinônimo de Nam-myoho-renge-kyo.

7- Para mais detalhes, consulte o capítulo “Transmissão para o Oeste” do volume 3 da Nova Revolução Humana.



Iluminando a longa escuridão dos Últimos Dias da Lei

Trecho do Gosho

A luz da Lua não é tão brilhante, pois o Buda ensinou [o Sutra do Lótus na Índia] durante apenas oito anos. A luz do Sol é muito mais reluzente, um auspicioso sinal de como o budismo do Japão iluminará a longa escuridão do quinto período de quinhentos anos [Últimos Dias da Lei].
O Buda não precisou corrigir os caluniadores do Sutra do Lótus, pois na época em que viveu não havia pessoas desse tipo. Porém, nos Últimos Dias da Lei, os inimigos do veículo único estão em toda parte. Agora é a época para beneficiar o mundo assim como fez o bodisatva Jamais Desprezar. Da mesma maneira, vocês, meus discípulos, devem se empenhar diligentemente! (WND, v. II, p. 936)

Aqui, o Sutra do Lótus é comparado à Lua, pois “o Buda ensinou [o Sutra do Lótus na Índia] durante apenas oito anos” (WND, v. II, p. 936). O Sol, que está destinado a iluminar a “longa escuridão” dos Últimos Dias da Lei (cf. WND, v. II, p. 936), também é o Sutra do Lótus. Tanto o Sol como a Lua são símbolos do Sutra do Lótus, prestando-se ao mesmo intento, e incorporam o desejo de possibilitar a iluminação a todos os seres vivos do mundo saha.

A comparação da diferença na luminosidade do Sol e da Lua neste escrito reflete a consciência de Daishonin de que, infelizmente, o budismo já se perdera na Índia, terra do advento de Shakyamuni no mundo e berço do Sutra do Lótus.

Em A Profecia do Buda, ele explica que, durante a dinastia Tang da China, já não era possível encontrar o budismo na Índia; portanto, tinha de buscá-lo na China. Ele destaca ainda que, mesmo na China, as invasões praticadas por um povo não chinês do norte durante a dinastia Song resultaram tanto na extinção da dinastia Song do norte como também do budismo.1

Para os japoneses da época de Daishonin, a Índia, a China e o Japão representavam o mundo inteiro, e reconhecia-se que o budismo já havia desaparecido dos dois primeiros países.

Por isso era crucial, mais uma vez, levar de volta a grande luz da sabedoria do Sutra do Lótus àqueles países, banindo a escuridão do sofrimento de todos os seres vivos como um resplandecente sol. A transmissão do budismo para o oeste refere-se a uma revitalização do humanismo budista para nutrir o coração de todas as pessoas eternamente.

Dissipar a escuridão da falta de confiança na humanidade

Em Admoestação a Hachiman, Daishonin declara que “temíveis inimigos do veículo único” (WND, v. II, p. 936) são abundantes nos Últimos Dias da Lei.

O Sutra do Lótus ensina que todas as pessoas são infinitamente dignas de respeito, possuindo originalmente dentro delas a natureza de buda, a sublime condição de vida do estado de buda. Cada uma é preciosa e nobre. A ignorância, ou escuridão, que a torna incapaz de acreditar no brilho inerente e no potencial ilimitado de sua vida é a característica essencial da calúnia contra o Sutra do Lótus.

Daishonin afirma que, se ele, ao reconhecer essa verdade sobre a calúnia contra a Lei e ignorasse ou não fizesse nada a respeito, também seria culpado do mesmo grave crime de calúnia, incorrendo desse modo num carma extraordinariamente negativo que o destinaria a uma eternidade no inferno de incessantes sofrimentos. Como, então, ele poderia deixar de se pronunciar contra tal erro, mesmo que isso significasse pôr a sua vida em risco? (cf. WND, v. II, p. 934).2

Ele também explica que os sofrimentos aparentemente diferentes que as pessoas experimentam derivam fundamentalmente de uma única causa, que é a calúnia contra os ensinamentos do Sutra do Lótus.

“O Sutra do Nirvana afirma: ‘Os diversos sofrimentos que todos os seres vivenciam são, todos, sofrimentos do próprio Aquele que Assim Chega’. E Daishonin declara que os sofrimentos de todos os seres humanos — que brotam de uma única causa — são os próprios sofrimentos de Nichiren” (WND, v. II, p. 934).

Ensinar aos outros sobre a Lei Mística consiste em uma luta contra o desrespeito fundamental à vida e contra a falta de fé na humanidade, que compõem a essência da calúnia contra o Sutra do Lótus. Esse é o ato de compaixão suprema, decorrente do compromisso de eliminar a causa básica do sofrimento. Ao mesmo tempo, por dissipar a escuridão ou a ignorância que residem na vida também desencadeia uma reação que assume a forma de “três obstáculos e quatro maldades”3 e dos “três poderosos inimigos”.4

No Sutra do Lótus, o bodisatva Jamais Desprezar personifica esse compromisso abnegado de compartilhar o âmago do Sutra do Lótus com os outros. Em virtude de seus esforços, despejam maldições e insultos sobre ele e o atacam com paus e pedras; mas ajudando aqueles que o perseguem a estabelecer um vínculo com o budismo, no fim, ele consegue conduzir todos à iluminação.

Em seu escrito, Daishonin conclama seus discípulos a “beneficiar o mundo assim como fez o bodisatva Jamais Desprezar” (WND, v. II, p. 936). Por meio do ato de empreender esforços para compartilhar o budismo imbuídos do mesmo espírito do bodisatva Jamais Desprezar, concretizemos infalivelmente o kosen-rufu nos Últimos Dias da Lei.

Concretizar a paz com a força do diálogo

Vamos aprender mais alguns pontos sobre a prática do bodisatva Jamais Desprezar. Ele reconhecia e se curvava em reverência à natureza de buda supremamente nobre em cada um com quem se encontrava. Sua prática, portanto, implicava demonstrar o mais elevado respeito a todos os seres humanos, com base na profunda convicção na dignidade da própria vida, bem como na dos outros.

A prática dele era pautada pela total não violência e mantinha o compromisso integral com a busca do diálogo. Mesmo que sofresse ataques físicos com paus e pedras, nunca reagia com violência.

Quando parecia que ia ser alvo de ataques físicos dessa espécie, corria para longe, pondo-se fora de perigo, e declarava: “Jamais ousaria desprezá-los, pois todos vocês com certeza atingirão o estado de buda!” (LSOC, cap. 20, p. 309). Evitando sabiamente a violência, ele continuou perseverando em seus esforços para despertar as pessoas.

Em uma discussão sobre a não violência com o renomado cientista político Glenn Paige, que se dedicou à busca de uma nonkilling society ou “sociedade na qual não se pratique o ato de matar”, mencionei o exemplo do bodisatva Jamais Desprezar. Expliquei que ele suportava violência física e verbal e, com fé na natureza de buda inerente aos seres, respeitava todos e se recusava a desprezar quem quer que fosse.5

O Dr. Paige, aliás, expressou admiração e afirmou depositar grande expectativa em nosso movimento pela paz.

Em um antigo texto budista, Shakyamuni elucida que seus seguidores não deveriam “destruir a vida nem levar outros a destruírem-na e, também, não deveriam aprovar que os outros matem”.6

Ele diz que não devemos permitir, nem nós próprios nem os outros acumular o carma negativo decorrente do ato de matar. Acredito que a filosofia budista, como ilustram a prática do bodisatva Jamais Desprezar e esses ditos dourados de Shakyamuni, constitua poderosa fonte de iluminação para movimentos de não violência e paz em nosso mundo atual.

Daishonin escreve [em Os Três Tipos de Tesouro]: “A essência dos ensinamentos expostos por Sakyamuni ao longo de toda a sua existência é o Sutra do Lótus, e a essência da prática do Sutra do Lótus está no capítulo ‘Bodisatva Jamais Desprezar’. O que significa o profundo respeito que o bodisatva Jamais Desprezar demonstrava pelas pessoas? O propósito do advento do buda Shakyamuni, o senhor dos ensinamentos, neste mundo reside em seu comportamento como ser humano” (WND, v. I, p. 851-852).

Falando sobre o significado sublime e vasto do nosso movimento em prol do kosen-rufu, o Sr. Toda disse que se trata de uma luta para elevar o estado de vida da humanidade. A prática do bodisatva Jamais Desprezar — de demonstrar respeito a cada um — assenta os alicerces desse grandioso empreendimento.

O avanço corajoso na nova era do kosen-rufu mundial

A nova era do kosen-rufu mundial hoje se encontra realmente em curso, e esse fato se reveste de extraordinário significado.

Em primeiro lugar, a consciência de ser um bodisatva da terra propagou-se em âmbito mundial entre os membros da organização. Com esse discernimento, eles atuam em todos os lugares dinamicamente para assumir a responsabilidade pelo kosen-rufu em sua comunidade e respectivo país.

Em novembro do ano passado (2014), encontrei-me com um grupo desses bodisatvas da terra, líderes da SGI de todas as partes do mundo, no Auditório do Grande Juramento pelo Kosen-rufu, no complexo de edifícios da sede da Soka Gakkai [em Shinanomachi, Tóquio, Japão].

Todos exalavam esperança. O rosto radiante deles era repleto de determinação, deixando transparecer o ávido desejo de assumir a responsabilidade pelo kosen-rufu em seu país. Transcendendo todas as diferenças de nacionalidade, etnia, idioma e cultura, emanava deles o brilho do orgulho de serem bodisatvas da terra. Nada me deixa mais feliz.

Possuímos legiões de pessoas corajosas ao redor do mundo, unidas na luta conjunta de mestre e discípulo. Os jovens, em particular, estão se levantando. Essa extraordinária expansão da consciência da missão como bodisatvas da terra entre os associados indica o “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro” da SGI.

Em segundo, os membros da SGI estão construindo, em cada região do nosso planeta, redes baseadas no humanismo que transcendem diferenças de credos e filiações religiosas. Eles se dedicam a consolidar elos de solidariedade que estimulem a bondade humana. As reuniões de palestra da SGI — um congraçamento de “flores humanas” — são realizadas no mundo todo. São encontros que fazem florescer, no século 21, um mundo de paz e harmonia imbuído de respeito à vida e a todas as pessoas, exatamente como o Sutra do Lótus descreve.

Cada membro, individualmente, estreita incontáveis laços de respeito mútuo com aqueles que o cercam, construindo assim uma sólida fortaleza da paz seguida de outra.

Em terceiro, o movimento da SGI está criando uma nova esperança no planeta. Em incontáveis partes do mundo atual, a miséria e o sofrimento proliferam, e se veem sinais de uma era maligna e impura em todos os lugares. À medida que a desconfiança nos seres humanos se intensifica, as condições que caracterizam os Últimos Dias da Lei se expandem em âmbito mundial.

Movidas por esse contexto, pessoas sensatas e preocupadas têm buscado uma religião capaz de inspirar esperança, que promova a revitalização e o desenvolvimento positivo em face de qualquer tipo de adversidade, uma filosofia que possibilite que elas revelem seu potencial inerente.

Chegou o momento de os companheiros da SGI demonstrarem seu verdadeiro potencial como bodisatvas da terra. O mundo anseia celebrar o surgimento de um grupo de pessoas que “ilumine a longa escuridão” dos Últimos Dias da Lei (cf. WND, v. II, p. 936). O palco para os membros da SGI desempenharem papel ativo e criarem uma nova cultura mundial está pronto. Como um testemunho poderoso da transmissão do budismo para o oeste, as atividades transbordantes de ânimo e energia dos bodisatvas da terra originaram uma nova era na qual o budismo do sol ilumina o mundo.

Herdando a sublime visão de Daishonin

O segredo para se criar uma nova era é a ação.

Em última análise, o budismo do sol reside nos esforços para encorajar e revitalizar todos aqueles que estão sofrendo, independentemente da época ou do lugar.

O capítulo “Os Poderes Sobrenaturais d’Aquele que Assim Chega” (21º) descreve a conduta do bodisatva Práticas Superiores e de outros bodisatvas:

Assim como a luz do sol e da lua
consegue banir toda obscuridade e trevas,
essa pessoa, ao avançar
pelo mundo,
consegue dissipar a escuridão dos seres vivos.

(LSOC, cap. 21, p. 318)

Tanto o Sr. Makiguchi como o Sr. Toda viam um grande significado nessa passagem.

“Avançar pelo mundo” (nos versos acima) indica andar pelo país, ser ativo na sociedade. Os bodisatvas da terra atuam no mundo real, construindo vínculos com uma pessoa após outra, dissipando a escuridão do sofrimento, e transmitindo a força para viver e a luz da alegria de viver.

Nikko Shonin,7 que herdou a sublime visão de Daishonin sobre a transmissão do budismo para o oeste, declarou: “Assim como os textos em sânscrito foram traduzidos para o chinês e o japonês quando o budismo da Índia seguiu para o leste, as escrituras sagradas deste país [Japão] devem ser traduzidas do japonês para o chinês e o sânscrito quando chegar a época da ampla propagação”.8 Essas palavras expressam o seu desejo ardente e solene, como discípulo, de que os escritos de Daishonin sejam traduzidos e transmitidos para o mundo inteiro.

A Soka Gakkai herdou esse espírito de mestre e discípulo. No prefácio da edição de Nichiren Daishonin Gosho Zenshu [Coletânea de Escritos de Nichiren Daishonin] da Soka Gakkai, o Sr. Toda escreveu: “É meu eterno desejo e oração que este precioso escrito se difunda aos povos da Ásia e do mundo todo”.

Hoje, os escritos de Daishonin foram traduzidos para o inglês, chinês, espanhol e diversas outras línguas. Os bodisatvas da terra estão surgindo em todas as partes do mundo e realizando diálogos budistas em seu respectivo idioma.

Retornando à passagem que estamos estudando, Daishonin escreve como uma conclusão de sua profecia de transmissão do budismo para o oeste: “Da mesma maneira, vocês, meus discípulos, devem se empenhar diligentemente!” (WND, v. II, p. 936).

Possuímos uma importante missão. O que fizermos a partir de agora será crucial.


Protagonistas da propagação do budismo do sol

A futurista americana Hazel Henderson, que formulou o conceito da “era da luz”, defende a criação de um “win-win world” (um mundo onde todos ganham, em tradução livre). Para que um mundo assim se concretize, salientou ela, é essencial não apenas expandirmos nossa rede de solidariedade, mas também que tenhamos como base inicial o despertar espiritual de cada indivíduo. Essa é a razão pela qual, conclui Hazel Henderson, ela deposita grande esperança na SGI, que, em seu trabalho pela paz, cultura e educação, se baseia numa revolução do espírito humano.9

A luz para iluminar o futuro reside em nosso coração. Cada um de nós é o protagonista do kosen-rufu mundial.

Como praticantes do budismo do sol, firmemos juntos o juramento de nos esforçar cada vez mais para iluminar a sociedade, o mundo e o futuro com a luz da revolução humana, e dar vigorosamente uma nova partida em nossa jornada do kosen-rufu e na luta conjunta de mestre e discípulo.

Publicado em maio de 2015 na revista Daibyakurenge.

Notas

1- Em A Profecia do Buda, Nichiren escreve: “O grande mestre Miaole [da China] declara: ‘Isso não significa que o budismo se perdeu na Índia, seu país de origem, e agora deve ser buscado nas regiões vizinhas? Dessa maneira, o budismo deixou de existir na Índia. Tanto o budismo como a autoridade imperial se extinguiram na China durante os aproximadamente cento e cinquenta anos transcorridos desde que os bárbaros do norte invadiram a capital do leste, na época do imperador Gaozong” (CEND, v. I, p. 420).

2- Em Admoestação a Hachiman, Daishonin escreve: “E se eu, Nichiren, observasse a situação com meus próprios olhos e mesmo assim fingisse ignorância e me abstivesse de me manifestar, então, também deveria me juntar àqueles que caíram no inferno. Apesar de eu próprio não ser culpado de nenhum erro, deveria ser condenado a transitar por todos os grandes infernos Avichi [infernos de incessantes sofrimentos] dos mundos das dez direções. Sendo essa a situação, como, então, posso deixar de falar, mesmo que isso possa me custar a vida ou um braço ou uma perna?” (WND, v. II, p. 934).

3- “Três obstáculos e quatro maldades”: Diversos obstáculos e impedimentos à prática do budismo. Os três obstáculos são (1) obstáculo dos desejos mundanos; (2) obstáculo do carma; e (3) obstáculo da punição. As quatro maldades são (1) impedimento dos cinco componentes; (2) impedimento dos desejos mundanos; (3) impedimento da morte; e (4) impedimento do rei demônio.

4- “Três poderosos inimigos”: Três tipos de pessoas arrogantes que perseguem aqueles que propagam o Sutra do Lótus na era maléfica após a morte do buda Shakyamuni, descritos na parte em verso que conclui o capítulo “Encorajamento à Devoção” (13º) do Sutra do Lótus. O grande mestre Miaole da China os resume a leigos arrogantes, sacerdotes arrogantes e falsos veneráveis arrogantes.

5- Durante o encontro que mantiveram no prédio do Seikyo Shimbun em Shinanomachi, Tóquio, Japão, em 13 de dezembro de 1989.

6- Dhammika Sutta [O Capítulo Menor (14º)]. The Sutta-Nipata. Tradução de H. Saddhatissa. Surrey, Reino Unido: Curzon Press, 1994. p. 44.

7- Nikko Shonin (1246 - 1333): Discípulo direto e sucessor de Nichiren Daishonin, sendo o único dos seis sacerdotes seniores a permanecer fiel ao espírito de Daishonin. Ele se tornou discípulo de Daishonin muito jovem, servindo-o com devoção, acompanhando-o até mesmo no exílio na Ilha de Sado. Quando Daishonin se mudou para o Monte Minobu, Nikko Shonin devotou sua energia às atividades de propagação na província de Suruga e em regiões adjacentes. Depois do falecimento de Daishonin, os outros sacerdotes seniores pouco a pouco começaram a se distanciar dos ensinamentos do seu mestre. Em virtude disso, Nikko Shonin decidiu separar-se deles. Estabeleceu-se no distrito Fuji em Suruga, onde dedicou o resto de sua vida a proteger e propagar os ensinamentos de Daishonin e a desenvolver os discípulos.

8- Gonin Shoha Sho [Sobre a Refutação dos Cinco Sacerdotes]. Gosho Zenshu, p. 1613.

9- HENDERSON, Hazel; IKEDA, Daisaku. Cidadania Planetária: Seus Valores, Suas Crenças e Suas Ações Podem Criar um Mundo Sustentável. São Paulo, Editora Brasil Seikyo, 2005

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